Sai do quarto, era sábado. Podia acordar a hora que quisesse, mas meu corpo decidiu que 3 e poucas da manha era o horário ideal. Fiquei andando pela casa esperando o sono vir mas, pelo jeito ele tinha me abandonado. Estava sozinha naquela noite. Minha tia tinha saído às 23 dizendo que havia dado algo errado na delegacia. Deitei no sofá. Estava entediada e vi os canais de teve passarem rapidamente enquanto eu não largava o controle por fim, me dei por vencida e deixei a teve ligada num canal que falava "1000 motivos para você comprar algo que você não precisa", deixei assim e continuei andando por ai. Fui até a janela proxima e abri-a. Respirar o ar de fora da casa podia me fazer bem.

Ou não. De longe pude ver algumas pessoas fumando uns cigarros que logo me fizeram lembrar de meu avô. Ele morreu de câncer e mesmo em seus dias finais, ele insistia em querer fuma-los. Ele era uma boa pessoa mesmo assim. Fechei a janela e me concentrei no barulho da teve. Pensei um pouco no porque de eu haver ligado-a.

"Eu estava entediada."- A resposta veio logo em minha cabeça.

Não. Aquilo não era uma resposta. Aquilo era uma desculpa. O verdadeiro motivo é que o silencio me incomodava.

Subi em para o meu quarto certa de que algumas minutos (ou horas?) no computador me fariam cair no sono rapidinho. Olhei para a tela inicial do Google e então procurei pelo YouTube, havia varios videos de uns canais que eu era inscrita que já estavam acumulando. Videos de aparições alienígenas,fantasmas, pegadinhas e essas coisa. Devo admitir que naquela hora da madrugada não me pareceu muito interessante ver aquele tipo de video, mudei a pagina e coloquei no Facebook mas parei na hora que estava colocando a minha senha. Que tipo de coisas eu esperaria ver? Fotos dos meus amigos se divertindo sem mim? Mensagens sobre coisas inúteis? Amigos que me esqueceram? Senti uma pontada de ciumes. Aquilo definitivamente não iria ajudar a passar a noite. Decidi conferi o E-mail. Alguns spans, mensagens de confirmação de compra de coisas aleatórias e em seguida, três e-mails de Emma. Meu coração parou em seguida. Eles tinham sido enviados alguns dias depois do que aconteceu na praia.

Dake...

Fechei meus olhos e juntei coragem para abrir a primeira mensagem.

De: emma_vikk@...

Para: dev.vy12@...

Assunto: Onde você está?

"Olha Dê, eu realmente estou assustada. Tanto quanto você mas você tem que nos dizer o que aconteceu lá. Tipo, como ele... Morreu...? Não vimos marcas de tiros ou marca de cortes ou o que quer que seja. Você sabe o que aconteceu? Estava escuro, de fato, não vimos quase nada. A iluminação da Lua não era suficiente mas vimos aquela... Aquela coisa grotesca. O que era aquilo Dê? Por favor, me diga! Sthepany insiste em dizer que quem o matou foi você, de algum jeito. Ela está assustada também. Tenho certeza que você não o matou. Quero dizer, você não o matou não é? Não o matou?! A gente se desesperou depois que você foi embora, foi um caos. Não somos assassinas e você também não. O que eu quero dizer é que... O corpo dele ainda está lá. Naquela água. Devvy... Por favor... Responda esse E-mail... Você não me atende... O que faremos...? Onde você está...?"

Lágrimas escorreram do meu rosto. Não consigo imaginar o panico dela. Ela era tão insegura e medrosa. Deus, o que foi que eu fiz?

Passei a seta do mouse no outro e-mail. E sem hesitar cliquei.

De: emma_vikk@...

Para: dev.vy12@...

Assunto: Responda! Por favor!

"Devvy, eu sei que as coisas estão terríveis para você mas, você tem que voltar... Explique as coisas para os policiais... Eles... Eles encontram o corpo de Dake...

Não contamos o que aconteceu naquela noite. Ficamos com medo. Eles perguntaram se seu desaparecimento teve algo haver com a morte dele... E eu menti. Devvy, eu menti para aqueles policiais... Disse que você estava planejando fugir já à algum tempo e que a morte dele foi só uma coincidência já que você está conosco... Stephany está desesperada. Ela está furiosa. Ela quer contar a verdade mas tem medo.Nunca vi ela agir assim. Ela está sobre tanta pressão essa semana. Sua mãe veio hoje perguntar sobre você eu não consegui falar nada, ficou tudo entalado na garganta e eu apenas comecei a chorar. Eu não sei mais o que eu posso fazer... Por favor me responda. Nos ajude!"

E enfim, o ultimo E-mail. Tive medo de lê-lo, de descobrir o que aconteceu para ele ser o ultimo. Já havia passado um ano do acidente, mas aquilo tudo me perturbava como se não tivesse passado um minuto. Meu coração estava acelerado ainda. Cliquei no ultimo ele era mais curto que os outros.

De: emma_vikk@...

Para: dev.vy12@...

Assunto: (Sem assunto)

"Dê... A Stephany foi internada num hospital psiquiátrico. Ela tentou se suicidar... Duas vezes. Eles acham que ela é louca. Acham que ela é louca! Acho que você nunca soube mas, ela sempre gostou dele. Sempre. Mas quando ela viu que ele só tinha olhos para você ajudou vocês a se juntarem. Devvy... Se você não me responder, saberei que não devo mais mandar nenhum e-mail. Mas, por favor. Responda-me!"

Meu coração estava em pedaços. Eu devia ter lido esses e-mails antes. Talvez... Talvez eu pudesse ter feito alguma coisa. Droga. Por que? Por que tudo teve que ser desse jeito? Encolhi-me encostando o rosto no joelho e comecei a chorar. Primeiro foi baixinho, mas depois fui soluçando alto, tão alto quanto a tevê.

Não sei por quanto tempo chorei, só sei que acordei na cadeira, minhas costas doiam. Olhei para o relógio: 04:32

Eu acordado com alguma coisa. Algum barulho. Disso, eu tinha certeza. Não seria a tevê, ela ainda falava sobre os produtos. Não havia um som direto para me acordar, abri a porta do meu quarto e fui descendo as escadas devagar, olhei para a tevê, era um homem falando sobre algum tipo de cortador de legumes.

"Você nunca pensou que seria tão fácil assim não é?! Adquira já o seu!"- Ele falava

Deixei meus olhos se acostumarem com a luz da tevê e a sonolência passar um pouco para me mexer para a cozinha.

Escutei algo de novo.

Era meu celular tocando.

Mas, o barulho não vinha do meu quarto, vinha do porão.

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