S.O.S. Coração escrita por Anatomia do Conto


Capítulo 2
Proposta




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Maggie e Harold Watson, pais de Verônica e Annie, estavam em sua sala de estar, assistindo um programa que costumava passar diariamente, quando Verônica desceu as escadas. A garota sentou-se no sofá, mas manteve uma distância de seus pais. Passou um tempo assistindo TV e algum instante depois não deixou de prestar atenção ao casal. Eles estavam rindo, muito felizes, abraçados, juntinhos e a garota começou a se perguntar: Se Nick não a tivesse deixado, eles estariam hoje ali, daquele jeito, assistindo TV. Isso a entristeceu de tal forma que ficou a ponto de chorar, mas mesmo assim não saiu dali. Seu pai riu de uma piada do programa junto com a esposa e então olhou para a filha. A garota percebeu então que seu pai começou a se assustar com sua reação.
– Verônica, você está bem? - Perguntou Harold, preocupado. – Está sentindo alguma coisa?
Verônica deu as costas aos pais.
– Nada, pai. - Mentiu.
Maggie agora se desgrudou de Harold para ver a filha.
– Como "nada"? Você está parecendo que quer chorar.
– Chorar? - Perguntou Maggie intrigada. - Verônica você está chorando? Mas porquê, filha?
– Não é nada, já disse! - Respondeu Verônica, saindo apressada da sala.
Maggie e Harold se olharam um momento.
– Isso é um programa humorístico! A intenção é sorrir, e não chorar. Pelo menos não de tristeza. - Harold falou para a mulher, que estava indo em direção a janela.
– Harold, tem algo de errado com essa menina! - Maggie se voltou para o marido. - Verônica só é vista triste, solitária, sem amigas, eu quero saber o que há de errado com ela.
– Ah, Maggie, a garota é adolescente. Os adolescentes tem esse tipo de comportamento.
– Harold, a Verônica tem 16 anos. Nem Annie que tem 15 tem esse tipo de comportamento. A Verônica não fala muito comigo faz tempo. Ela quase reprovou ano passado na escola. E ela costumava ser mais alegre, se socializar mais, conversar mais, sorrir mais. - Maggie pousou a mão na testa. - Será que essa menina está usando drogas?
– Maggie, a garota nem sai de casa. Por favor! - Harold agora se levantou, indo até a mulher. - O lugar mais longe que ela foi esse ano todo, e olha que estamos em julho, foi na escola.
– E será se ela não pôde ter pego drogas na escola? - Maggie continuou.
– Usar drogas na escola? Por favor! E mesmo se tivesse usando, logo saberíamos, porque ela teria de arrumar dinheiro para conseguir mais drogas, aí ela teria de vender suas coisas, e quando não tivesse mais nada teria de roubar nosso dinheiro. - Explicou Harold, abraçando a mulher assustada com a ideia de sua filha ser usuária de drogas. - Eu nunca dei por falta dos objetos de valor dela e nem as minhas não sumiram. E as suas?
Maggie ficou um pouco quieta, pensando melhor.
– É. Minhas coisas ainda estão no mesmo lugar. Verdade. - Falou a mulher, parecendo um pouco mais aliviada. – Parece então que ela não está usando drogas!
– Quem está usando drogas?
O casal se virou para ver quem havia feito a pergunta. Era uma garota que se diferenciava de Verônica por não ser pálida e parecer ser alegre. A garota era bonita, e tinha os cabelos castanhos como os de Verônica.
– Annie, preciso te fazer uma pergunta. - Maggie foi ao encontro da garota e a levou até o sofá. - Você sabe o que está acontecendo com a sua irmã?
– Como assim, mãe? - Annie olhou para a mãe meio sem entender.
– Sua mãe acha que Verônica está usando drogas. - Harold informou a garota.
– Drogas? Não. Verônica não está usando drogas. - Respondeu Annie. - Vocês podem me dizer o porquê dessa pergunta?
– O comportamento dela! Ela está estranha há muito tempo. Quando ela era uma criança ela não era assim, lembro que conversávamos mais, assim como você e eu, Annie.
Annie ficou calada. Sabia o porquê do comportamento da irmã. Mas mentiu aos pais.
– É o jeito dela, mãe. Ela é assim. E tem as matérias da escola que ela tem dificuldade, e o ensino daqui que está cada vez mais fraco. Acho que ela está que nem eu, com vontade de se mandar daqui. Toda pessoa sente vontade de viajar, ter um ensino melhor, eu acho. Os pais da garota a olharam desconfiados. A garota percebeu, e logo continuou. – Eu acho é que ela se sente sufocada com esse lugar. A gente vive praticamente num vilarejo!
– Não fale isso, Annie! Vivemos em Surrey. - Falou Maggie.
– Mas queremos algo maior, melhor... - A garota pensou mais um pouco, e em seguida olhou para os pais. - Londres, talvez!
– Londres? – Harold, assim como Maggie, boquiabriram-se.
– É, pai. Londres! A gente já passou tempo suficiente aqui nesse lugar. Eu e Verônica merecemos coisa melhor, não é? E nossos primos Ryan, James e Lionel moram lá, não é? Eles até já haviam nos convidado. Poderíamos morar lá. O que acham?
– E ficar longe das minhas filhas? Não! - Maggie contestou.
– Mãe, mas lá é muito melhor, e é perto daqui. Pensem nisso, no futuro de suas filhas. Eu vou lá no quarto me arrumar, porque as minhas amigas e eu vamos àquela festa que eu falei ontem.
– Está bem! Mas chame Verônica para ir com você. - Disse Harold, ainda pensativo com a proposta de Annie. Virando em seguida para a esposa. – Rumm. Londres? Essa menina ainda nem saiu das fraldas e já quer ganhar o mundo.. Ora, Londres...

Verônica estava floresta. Já havia parado de chorar, mas sofrendo silenciosamente. Foi como se ela ainda pudesse ver Nick correndo até ela. Sorrindo para ela. A garota sentou-se no balanço. Então perguntou para si mesma.
– Será que Nick pensa em mim?
Olhou tristemente para a lua que agora estava começando a aparecer.
Ficou mais um instante pensando. Então decidiu voltar para casa.
Quando a garota entrou em casa, seus pais já não estavam na sala. Subiu as escadas para seu quarto. E ao abrir a porta, encontrou Annie lendo seu novo diário.
– Annie! - A garota gritou, assustando a irmã. Correu e tomou o diário de suas mãos. - Porque você está lendo meu diário?
– Verônica! Que susto! Não precisa haver segredo entre mim e você, né? - Respondeu Annie. - Eu sei por que você está, ou melhor, é assim. É por causa do Nick.
Verônica ficou calada. Sempre contou tudo para a irmã. Annie era sua única amiga.
– Mas isso não te dá o direito de ler meu diário ou xeretar minhas coisas.
– Está bem, desculpa! Mas você poderia ser menos antissocial, não é?
– Você tem de entender que não consigo!
– Você tem de entender que você tem uma vida pela frente. Qual foi, Verônica? Ok! Você viveu um lindo amor com o Nick, ele foi embora, você sofreu... Mas não pode ficar assim a vida toda. Você tem de encontrar algum cara que te ame...
– Nunca vou encontrar algum cara que me ame mais do que Nick meu amou. - Respondeu Verônica sentando-se na cama.
– Como você sabe? - Annie foi até a irmã. Verônica ficou sem saber o que responder. As duas ficaram um tempo sem falar, então Annie quebrou o silêncio. - Vou a uma festa com umas amigas. Vamos! Vai ser divertido!
– Não quero! Tenho... - Verônica pensou em algo pra dizer. - Tenho lição de casa.
– Sofrer por um amor é lição de casa?
– Annie, não quero ir, ok? Respeita minha decisão. - Verônica começou a ficar chateada com a irmã.
– Está bem. Mas muda essa cara. Só queria que sua vida tivesse mais emoção, porque até sua voz parece de alguém que está pra morrer. Você podia sair e se divertir. Ah, e por falar em diversão, adivinha?
– O que? - Verônica realmente perguntou sem emoção alguma.
– Vamos morar em Londres! - Annie anunciou muito animada.
– O QUE? - Verônica se levantou e caminhou até sua janela, avistou a antiga casa de Nick e a floresta.

– Assim... Falei pra o papai e pra mamãe sobre Londres. Você sabe que eu sempre quis morar em cidade grande. E tem o Lion, James e Ryan que moram lá. Enfim... Coloquei a ideia na cabeça dos nossos velhos, depois é só falar mais vezes e com jeito, que a gente consegue dobrar papai e mamãe e ir pra Londres!

– Não! – Então Verônica se virou para a irmã. - Não podemos ir! Não posso deixar esse lugar!
Annie revirou os olhos.
– Não podemos porque, Verônica? Porque você ainda espera o Nick voltar? - Annie olhou nos olhos da irmã. - Vamos porque não vou deixar você destruir sua vida por alguém que está em qualquer lugar do mundo, possivelmente com uma namorada, e não te telefona ou escreve cartas há anos, e quem sabe talvez nem se lembre mais de você!
As palavras de Annie machucaram o coração de Verônica, como se uma espada o tivesse transpassado. Verônica rompeu-se em lágrimas. Mesmo que achasse, ou pensasse, ou pedisse a Deus, que Nick voltasse, a garota não podia negar que o que Annie disse podia ser verdade.
Annie olhou para a irmã e se arrependeu de ter dito aquilo. E abraçou-a.
– Desculpa! Desculpa mesmo, Verônica! Mas... Você tem de deixar esse lugar. Aqui não está te fazendo bem. Tenho medo de um dia você ficar louca, e se matar. Não faz isso com você. Não faz isso conosco. A mamãe, o papai e eu te amamos. - Annie deu um beijo na bochecha da irmã. - Vou tomar um banho e sair, ok? Amanhã você dá sua resposta.
E então a garota saiu deixando Verônica sozinha no quarto. Ela limpou as lágrimas, ligou o rádio, começou a ouvir “A bad dream” da banda Keane e começou a escrever no seu diário sobre a proposta de deixar o lugar onde viveu os melhores momentos de sua vida, sobre se teria a coragem de conhecer outras pessoas, sobre se poderia algum dia deixar Nick no passado e viver a sua vida. E da sua grande dúvida.

Querido diário...

Ir ou não ir à Londres: Eis a questão.


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