S.O.S. Coração escrita por Anatomia do Conto


Capítulo 1
Lembranças e Lágrimas.




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Ano de 2006. Ao entardecer de um dia de julho, quando tudo está calmo, uma garota que aparenta 17 anos, e parece estar doente, isso a julgar por sua palidez, entra no seu quarto. Antes de sentar-se em uma das camas do quarto muito bem organizado, a garota liga o rádio e coloca um CD. Ela seleciona uma música, "One last breath" da banda Creed, e então finalmente senta na cama. Então apanha um diário, que está escondido debaixo do travesseiro. O diário, logo nota-se, é novo. A garota pega uma caneta e começa a escrever.

Querido diário,

como sinto saudades da minha completa felicidade. De quando eu tinha 9 anos e achava a vida a coisa mais bela do mundo. Como sinto saudade de brincar no parquinho e na pequena floresta em frente a minha casa, na cidade Surrey. Eu era feliz. Brincava com Annie, minha irmã, era uma das melhores alunas da classe, conversava mais com meus pais. Eu ria, brincava, estudava, me divertia. Tudo era melhor. Também foi com 9 anos anos que conheci Nicholas McGroff. Nunca vou me esquecer do dia que nos conhecemos. Ele chegou com os pais e a irmãzinha pequena na cidade, e foi morar na casa de frente a minha. Estava olhando da minha janela aquele menino: Pele branca, olhos azuis e de jeito engraçado. Ele olhou para minha janela, como se soubesse que estava sendo observado e acenou, sorrindo para mim. Lembro que fiquei escarlate, mas sorri, envergonhada. De noite ficamos, Annie e eu, espiando pela janela a casa da frente, a noite toda, e rindo uma para a outra. No dia seguinte as crianças da rua foram brincar no parque e eu ia correndo para a gangorra, mas o Nick sentou-se primeiro. Fiquei olhando para ele, já tinha até me conformado de que eu teria de escolher outro brinquedo. Então ele olhou para mim, e viu que não conseguia tirar os olhos dele. Então sem pensar muito, ele me deu seu lugar. Annie abafou um risinho. Aceitei e até disse obrigada. Depois ele começou a conversar comigo. Logo notei que ele era muito bem educado. E me perguntou se eu morava a muito tempo nesse lugar, em qual escola eu estudava, como era a vida aqui, das pessoas da vizinhança, e me contou que vinha de Cambridge, porque o seu pai, que trabalhava no banco, tinha recebido uma proposta de emprego melhor por aqui, em Surrey. Conversamos muito, até que Annie, que estava conosco, pedir para irmos, porque estava com sede. Percebi que estava conversando com ele fazia umas 2 horas, e as muitas crianças que estavam no parque já haviam se dispersado. Incrível como o tempo passa rápido quando estamos nos divertindo, né??. Nós três então voltamos para casa. E ele perguntou da pequena floresta que ficava aos fundos de sua casa, se nós já estiveramos lá, e o que costumávamos fazer por lá. Eu respondi que adorava brincar, correr por entre as árvores. Falei até do balanço que lá havia, e só deixei de ir porque Annie tinha medo de ir na tal floresta. Então ele perguntou se eu poderia mostrá-la. Respondi SIM ligeiramente. Passei a noite toda sonhando com ele. Ria bobamente. Mamãe perguntava porque eu estava daquele jeito porque costumava ser alegre mas daquele jeito nem ela nem papai tinham me visto algum dia. Passamos dias, semanas, meses, nos vendo direto, e Annie ficava brincando com Jessica, a irmãzinha de Nick, ambas tinham 7 anos. Lembro-me de um dos dias mais felizes da minha vida. Eu e Nick estávamos correndo na floresta, e nessa brincadeira caí e machuquei meu joelho. Nick assustou-se e correu até mim. Perguntou se eu estava bem. Eu respondi que sim e me sentei direito no chão da floresta. Ele pegou um lencinho que estava no seu bolso e amarrou no meu joelho. Percebi que ele estava tremendo. Perguntei o porquê do nervosismo. Ele me respondeu que temia que eu tivesse me machucado sério. Sorri meigamente para ele e disse que não precisava se preocupar. Ele de repente ficou me olhando com uma certa seriedade. Perguntei um "O que foi?". E então ele se aproximou devagar. O rosto dele foi ficando cada vez mais perto do meu... Então nossos lábios se encontraram.

Confesso que naquele momento tremi dos pés a cabeça. Parecia que não havia nada mais no mundo além de mim e ele. Meu coração quase saiu da boca de tão acelerado. Estava mesmo tendo meu primeiro beijo? Então passado alguns segundos ele se afastou, olhando para mim. Saí correndo. Melhor dizendo... Saí mancando para minha casa, mas ao mesmo tempo queria ficar ali. Mas o machucado começou realmente a doer. Chegando em casa minha mãe cuidou de meu machucado e eu fiquei quieta, sem falar nada. Meu pai até achou estranho uma criança não falar nada ou até chorar. Até quando cheguei no meu quarto e falei a Annie tudo o que aconteceu. Ela começou fazer brincadeiras, rir, mas não me importava. Sonhei a noite toda com aquilo. E no dia seguinte voltei ao local e o encontrei no balanço. Ele me perguntou timidamente se joelho estava melhor. Respondi que sim. Ficamos olhando para o céu, para as árvores, por muito tempo, até ele romper todo aquele silêncio e me pedir em namoro. Lembro que olhei para ele boquiaberta. E ele então olhou para o chão por mais algum tempo e brincou com uma pedrinha. Respondi que ele era a pessoa com que mais me importava no mundo, e que estar com ele me fazia sentir coisas que na minha idade não sabia o que eram. Mas eu ria com ele, brincava, pensava muito nele, e só uma simples lembrança de seu sorriso me deixava de bochechas vermelhas. Enfim, tudo parecia bom quando estávamos juntos. Então ele me abraçou. Acho que ele entendeu que aquilo era um SIM para sua pergunta.

Os dias que se seguiram foram os mais lindos possíveis, até íamos mais a casa um do outro. Passeávamos na floresta.Fomos um dia, nossos pais, nossas irmãs, Nick e eu, juntos a um parque, e nós dois fomos dar uma volta na roda-gigante, rimos muito, mas ele riu um pouco nervoso por algum motivo desconhecido por mim, e foi quando estávamos lá em cima, que senti sua mão sobre a minha, estava suada, nos olhamos e ele riu carinhosamente para mim. Correspondi sorrindo um sorriso tímido, mas meu coração pulava fortemente. Até que chegou a hora de descermos, e soltamos as mãos. Nunca senti sensação melhor do que estar ao seu lado.

Mas tudo o que começa tem um fim.

Num dia, ao pôr do sol, estava na minha cama, lendo, quando vejo Nick através da minha janela. Ele estava um pouco sério, mas mesmo assim sorri para ele. Ele me chamou e apontou para a floresta. Entendi que queria falar comigo e desci. Cheguei na floresta. Ele estava tão bonito, me deu uma louca vontade de abraçá-lo. Mas antes que pudesse realizar meu desejo ele começou a falar que...

Uma lágrima cai no meio da página do diário em que a garota está escrevendo.

Ainda lembro com uma tamanha tristeza quando ele me disse, confuso:

– Verônica... Tenho que te dar uma notícia... Mas não sei como vou te dizer isso.

Eu apenas olhei para ele intrigada, e respondi:

– Apenas diga, Nick! Falamos tudo um para o outro.

Ele se mexeu nervosamente, mordeu os lábios por um tempão, e disse:

– Minha família e eu... Vamos nos mudar amanhã!

Eu o olhei sem entender nada. Perplexa.

– Vão se mudar de casa, de rua...

– De cidade, estado, talvez até de país. Eu não sei!

Fiquei parada, boquiaberta, sem saber o que falar. Parece que aquela informação não estava querendo processar, sei lá. Percebi que minhas mãos estavam suadas e trêmulas.

– Porquê? - Foi a única coisa, depois de muito silêncio, que pôde sair de minha boca.

– Meu pai recebeu uma proposta de trabalho.

– Onde? - Perguntei com um misto de raiva e tristeza por causa dessa tal proposta de emprego. Estava começando então chorar. - Quer saber, não precisa me dizer! Você vai embora mesmo! Vai me deixar aqui! Seu idiota! Como você pôde fazer isso comigo? Vai e não fala mais comigo, Nicholas!

Dei as costas a ele, mas percebi que ele cobriu o rosto com as mãos.

– Não é culpa minha, Verônica!

Cheguei em casa chorando, e falei tudo a Annie, ela ficou quieta, porque nessa idade não sabíamos lidar com situação como esta. Nessa noite tive muitos pesadelos.

E quando amanheceu, acordei finalmente, pensando que nem tudo estava perdido. Annie veio de sua cama falar comigo.

– Dá o telefone daqui para ele... Ou então o endereço. Quem sabe ainda há alguma forma de um dia vocês se verem.

Olhei pela minha janela a família McGroff saindo de casa, e Nick, ao entrar no carro, olhar para minha janela. Pensando bem, teria algum jeito de continuarmos nos comunicando. Pensei rápido. Ele me viu da janela, vi aquele rosto lindo, e saí correndo. Peguei um papel e anotei o endereço e o telefone de minha casa. Corri o mais rápido que pude e quando saí na rua vi que o carro estava dobrando a esquina.

Mais uma lágrima caiu no diário.

Senti uma dor que nunca havia sentido. Era como se nunca mais pudesse ser feliz. Senti como se não conseguisse respirar. Tinha perdido o primeiro, e hoje sei que foi o grande amor da minha vida.

Estou condenada. Sem um telefonema dele, ou uma carta, sem notícias há anos, apenas com lembranças. Depois disso, minha vida nunca mais foi a mesma... Ah, desculpa, não consigo mais escrever.

Verônica deixou de escrever no diário. Estava chorando descontroladamente. Fechou-o e foi até o espelho.

A Verônica que o espelho refletia nem de longe parecia uma Verônica jovem, feliz. Ela estava, apesar de bonita, mal arrumada, de cabelos bagunçados e de aparência triste.

– Essa é você Verônica Watson! - Falou a garota para seu reflexo no espelho.

Será que um dia encontrarei ele de novo? Pensou enxugando uma lágrima. Sempre, pelo menos 30 vezes ao dia, lhe ocorria este pensamento.

Então a garota saiu do quarto.


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