Quem os visse diriam que eram loucos, maníacos, mas aquela era a forma de amar que aprenderam na adolescência. Sasuke recordava-se a cada apontada de dor os castigos que eles sofreram juntos. Os malditos militares que sabiam dos sentimentos que eles tinham um pelo o outro, obrigavam-nos a se encarar enquanto as torturas, isto é, os castigos aconteciam seguidamente, sem interrupções.

O gosto azedo do metal contra sua boca lhe fazia lembrar-se das mordaças que usava para que os outros alunos não ouvissem seus gritos. O ranger de seus dentes contra a peça era assustador e desumano. Sasuke segurou firmemente no cabelo loiro de Naruto e lhe jogou outra vez contra o asfalto quente, obrigando-a a largar o cano de ferro ao pisar em sua pequena mão de menina.

–Naruto – chamou ao desviar de um chute – Você lembra os dias no reformatório?

–O castigo do dia 1, dia 2, dia 3... – ela riu colocando-se de pé – Como me esquecer do treinamento para suportar a dor corporal?

–É verdade...

Os dois riram e voltaram a trocar socos e chutes, para desespero da maioria presentes.

Naruto subiu no corpo de Sasuke e conseguiu derrubá-lo em menos de dois segundos usando o próprio peso. O baque oco assustou a todos. Ela o estrangulava com uma perigosa chave de pernas, Sasuke batia com toda força nos joelhos de Naruto para que cedesse, mas ela não soltava, mantendo-se firme apesar da dor.

Sasuke girou o corpo no asfalto e fez o rosto da loira acertar com força o meio fio. Ela o soltou com o impacto e gemeu de dor. O Uchiha deu uma chave de pescoço na garota e a manteve ali, querendo submetê-la, mas sem grandes êxitos, pois logo haviam se soltado e colocado de pé para iniciar novamente o combate.

A briga durara cinco minutos, mas para os combatentes parecia uma eternidade. Caíram pela exaustão, sentindo-se fracos, cansados e sem forças para mover um único dedo. Foram levados para a enfermaria as pressas e lá receberam primeiros socorros, alguns imaginavam que os ossos de ambos poderiam estar esmagados dados os golpes severos que receberam, no entanto, segundo a médica, o máximo de grave que tinham era cortes nos lábios e escoriações nos braços, nada que poucos cuidados não resolvessem.

–Se você simplesmente aceitasse o fato – Naruto falava assistindo ao atendimento de Sasuke – Não teríamos esses problemas, sabe disso.

–Você que não tem coragem para enfrentar o mundo por mim. Desisti muito rápido – rebateu o outro, sem olhá-la – Eu luto por você, mas você não por mim.

Naruto baixou rosto, permitindo-se chorar, mas não por causa das dores corporais, mas por causa das dores da alma.

–Eu só estou cansada... – ela sussurrou – Cansada desse sofrimento... Eu já não aguento mais... Você sabe o que eu tenho suportado para ficar ao seu lado. – ela sentou-se no piso frio – São sete anos, Sasuke, não sete dias.

Assim que a médica terminou, o moreno colocou-se abaixado diante de Naruto querendo abraçá-la carinhosamente, mas do jeito que ela estava não havia como algo do tipo se suceder. Kakashi se aproximou devagar, ainda filmando os dois apesar de sentir um enorme pesar por estar fazendo isso.

–Naruto – o professor falou – Por que a família do Sasuke te odeia tanto?

–Eu não sei... – ela choramingava abraçada nos próprios joelhos – Simplesmente não sei porque me odeiam... Eu nunca fiz nada, eu só quero que o Sasuke seja feliz, nada mais... Não sei porque eles me proíbem de namorar ele.

Sasuke suspirou cansadamente. Tivera aquela conversa na semana passada. Depois de tantos anos, finalmente eles abriram a boca e contaram os motivos do impedimento. Fora difícil de acreditar no princípio, mas ele acabou entendendo.

–A culpa... É... A culpa é minha. – falou Sasuke, sentindo-se pesaroso.

Naruto o encarou com lágrimas nos olhos. Não podia acreditar no que acabara de ouvir.

–C-Como assim? Sua culpa?

Ele suspirou e terminou por sentar no piso frio.

–Meus pais disseram que eu sou doente. – o rosto de espanto de Naruto contagiou a todos os outros – Eu sou mentalmente doente... Por isso não querem que me envolva com você... Eles acreditam que você é a razão por eu estar doente...

Ela afagou lentamente o rosto de Sasuke.

–Eu... – respirou fundo e olhou para os lados, até poder fitar Naruto – Eu tenho Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável tipo Impulsivo, com o diferencial que não tenho o sentimento de remorso pelos os meus atos... Em outras palavras – ele fitou Kakashi – Eu bati em Naruto daquela maneira, quase matei a mulher que eu amo e não sinto nada... Eu não consigo sentir nada quando eu sofro ou quando faço alguém sofrer...

Naruto riu fracamente.

–Não. Não, bom homem, não. Você só sente, aliás, você só não sente nada por mim. – o olhar de desespero de Sasuke foi tão assustador que não houve um que não o visse e se estremece – O seu amor psicótico por mim é tão intenso que... – respirou fundo – Que eu acabei doente que nem você... – ela enxugou as lágrimas – Nunca achei precisar tomar remédios para dormir.

–Eu odeio isso em você, meu amor, eu odeio saber que eu te faço sofrer o que não deveria... Odeio o fato de você ser tão boa para mim sem eu merecer...

Kakashi arregalou os olhos e no mesmo instante desligou sua câmera. Chega de expor seus alunos daquela maneira, era hora de repensar no objetivo do programa, porque aquela altura do campeonato ele já fugira pela tangente.

No telão brilhava em letras garrafais “TRANSMISSÃO INTERROMPIDA”.

Doze dias depois lá estavam Naruto e Sasuke sentados no Set, o lugar estava silencioso, cheio de pessoas, que se acumulavam até no chão e pelos corredores. Fora a semana mais longa desde o problema que Hinata começara, e por falar nela: estava tão sentada no chão, bem perto das câmeras, tanto quanto podia para assistir aquele programa.

Maldizia-se durante doze dias pela maldita atitude de atiçar Sasuke, não queria que ele espancasse sua melhor amiga. Sim, Naruto e Hinata eram tão amigas que julgavam, antes da grande notícia do namoro, ser um casal lésbico, mas tão boas amigas quanto Sasuke e Menma podiam ser. Por falar no loiro gêmeo, ele estava lá, perto o suficiente para que Naruto sentisse a presença dele, mas longe o bastante para não aparecer nas filmagens. Ao pedido de Kakashi, Naruto regeria o programa daquela noite, talvez um dos mais esperados do ano.

–Sasuke – a garota respirou fundo – Hoje, depois de muito me pedirem, eu estarei apresentando essa edição e você sabe que comigo não existem arrodeios, certo? – o moreno assentiu – Se o nome é Falando Abertamente, então se prepare para falar.

–Ok. – ele suspirou. Rogou a todos os anjos do céu para que nunca colocassem sua ex-namorada naquele programa, mas não teve jeito, lá estava ele enfrentando a mais perigosa de todas as feras – Que seja do seu jeito, Naruto.

–Pelo menos uma vez na vida, certo? – os dois riram – Sasuke, já ficou claro e ninguém tem dúvida disso, que você me odeia pelos mais diversos motivos – ele cruzou as mãos diante do rosto e confirmou a informação – E há quem diga que o ódio é a forma adversa e agressiva do amor, então eu te pergunto: você me ama?

–Mais do que...

Naruto levantou uma mão e sorriu.

–Não faça comparações. Seja objetivo. Você não é um poeta, você é um executivo, é direto.

–Sim, amo, simples assim.

As pessoas bateram palmas para eles.

–Você me odeia? – ela perguntou com a mesma franqueza anterior.

–Sim, odeio equivalente ao “amo”.

Ela sorriu.

–O tema desse programa é “Coisas que eu odeio em você”. – Sasuke arregalou os olhos – Eu vi na gravação do último programa que você confessou odiar o meu jeito simpático, certo? Então, agora é a sua chance de ouro de falar, de deixar tudo o que está engasgado em seu peito sair – Naruto jogou os cartões para trás e cruzou as mãos – Manda ver, cara pálida.

Sasuke respirou fundo e moveu os dedos. Realmente era sua chance de falar. Lembrou-se da noite em que Naruto lhe lera aquela carta linda de amor, com tudo o que ela amava e odiava sobre ele. Talvez fosse seu momento de retribuir, de falar todas as coisas que nunca teve coragem de dizer. Sorriu. Seria tão sincero como jamais fora.

–Você não tem noção do quanto eu te odeio, Naruto. – iniciou Sasuke, com a voz baixa.