Despertados escrita por kelvin william


Capítulo 3
Despertada




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CAPÍTULO 03- DESPERTADA

Não sei se eu estava sonhando ou relembrando. Era de noite e eu estava no meu quarto, uma dor estranha fazia meu corpo retorçer na cama, não tinha como continuar a dormir. Abri os olhos mas a escuridão me impedia de ver um palmo á frente, só sentia o suor escorrendo pela testa, descalça e de pijama desci da cama e segui pelo corredor em direção à cozinha, precisava de um copo d'água.
Eu não me sentia normal, parecia que meus sentidos haviam descoberto outras formas de sentir o ambiente, meu peso parecia ter diminuido. Não acendi nenhuma lâmpada, sabia que a claridade ia incomodar minha visão mais que o normal.
Peguei um copo e abri a torneira, os sons da água e do tic tac dos ponteiros do relógio na sala me incomodavam. Antes de beber decidi pegar uma pílula na cômoda afim de evitar que aquela sensação ruim permanecesse a noite toda.
–BRAM!- o susto que aquele barulho causou me fez derramar metade da água, vinha do corredor entre a porta e a sala, justamente onde ficava a cômoda. Fui até lá vagarosa, não me preocupei com os olhos e acendi a luz, apesar de ficar alguns segundos cega pela claridade continuei andando até chegar no corredor.
–Mas o quê...- fiquei perplexa, centenas de lascas de madeira e objetos quebrados se espalhavam pelo corredor, o que antes era uma cômoda agora se resumia a destroços, mas em meio a toda bagunça uma coisa ainda estava intacta, a caixinha de plástico onde minha mãe guardava as pílulas. Como aquilo era possível, ninguém havia entrado na casa e ninguém da família tinha dons explosivos.
Peguei a caixinha e gastei alguns minutos tentando, em vão, entender o que estava acontecendo, até que subtamente a dor voltou invadindo minha cabeça e descendo a espinha. A caixa começou a vibrar nas minhas mãos, e então explodiu, o som reverberou tão alto quanto meu grito de espanto e dor, os comprimidos dispararam como balas perfurando móveis e quebrando janelas.
–Quem está aí?- alguém gritou, era meu pai que estava destrancando a porta violentamente. -Saia da minha casa!
Um pavor incomensurável assumiu o controle da minha mente, de alguma forma aquele desastre tinha a ver comigo, eu não controlava nada mas sentia a ligação entre minha dor de cabeça e os eventos daquele momento. Eu poderia colocar meus pais em perigo caso eles chegassem perto demais. A porta do quarto deles foi aberta num estrondo, os ouvi correndo pelo corredor, meu pai estava gritando palavras que eu nem conseguia mais entender, só estava pensando numa forma de impedí-los de ver o estado que eu havia deixada a casa, impedí-los de olhar para mim.
Senti um pequeno tremor no chão, vinha da sala. Antes mesmo de chegar até lá eu pude ver os móveis, da estante ao sofá, sendo jogados por uma força invisível em direção à entrada do corredor formando uma barreira disforme tão rapidamente que precisei me encostar na parede pra não ser atingida.
–MAURÍCIO- o grito interrompeu a desordem e atravessou meu coração, minha mãe não parava de chamar e pedir pra que ele ficasse parado. Corri até a barreira, ao chegar perto todos os móveis voaram pra longe, nem me importei com os estragos que estava causando e quando vi meus pais, não me importei com mais nada.
Um estilhaço do tampo da mesa de centro do tamanho de uma faca estava cravado na perna esquerda do meu pai, apesar da boca aberta ele não gritava, as veias do pescoço estavam protuberantes e o rosto de tão avermalhado parecia que ia sangrar. Minha mãe já segurava o celular na mão trêmula esperando a emergência atender o chamado.
Eu cheguei perto e ajoelhei aos pés do meu pai, o sangue que escorria pela perna já se empoçava no chão, eu queria tirar aquele vidro, tentar salvá-lo, mas tudo o que aconteceu estava fora do meu controle, não podia arriscar. Minha mãe me olhava com uma expressão indecifrável.
–Filha, foi você que... Alô!- ela segurou o celular com as duas mãos. -Por favor, preciso de uma ambulância o mais rápido possível, meu marido tem um corte profundo na perna!- ela passou o endereço ao socorrista e desligou o celular, olhou novamente pra mim.
–Mônica, como você fez isso?
–Eu não sei, eu estava com dor de cabeça fui tomar um comprimido e...
–Você despertou, filha. Mas eu não entendo!- Ela parecia estar tentando passar tranquilidade, mas estava tão apavorada quanto eu. -Você só tem onze anos!
–Desculpa mãe, por tudo!- estava triste, mas pelo menos as lágrimas eu precisava controlar.
–Filha, vá até o meu quarto e pegue uma cartela de remédio verde na primeira gaveta e todos os documentos na gaveta de baixo, depois vista uma blusa! vamos ter que ser rápidas!- ordenou ela seriamente.
Corri até as gavetas e depois até o meu quarto, minha visão estava embaçada e minhas pernas doíam, eu estava mais destruida que minha casa. Voltei com tudo em mãos, entreguei os documentos e remédios para minha mãe e vesti uma blusa qualquer que peguei do armário.
–Tome essa pílula, agora!
–Mas ela não é forte demais?
–Agora, Mônica!- não gastei um segundo a mais pra engolir o comprimido.
Meu pai murmurava lamentos enquanto minha mãe o segurava para impedí-lo de mover a perna perfurada.
–Por que a senhora chamou a ambulância se é mais rápido levarmos ele de carro até o hospital?- perguntei.
–Porque não vamos pro hospital com seu pai!
–O quê?
–Eu não tenho certeza, mas acho que você nasceu infrene!
–Mas como eu posso ser infrene se vocês são intermediários?
–Não é só a genética que conta Mônica! Precisamos ir até o Núcleo de Seleção Populacional, fazer os testes! E tem que ser hoje!
–Por que não podemos ir até lá amanhã?
–Porque, se eu estiver certa, você vai precisar de muito ajuda pra conseguir se controlar, pra não acontecar em outro lugar o que aconteceu aqui!
Fiqui tonta, era o remédio. Pude ouvir o som de sirenes se aproximando. Agora era minha mãe quem continha as lágrimas e eu sentia meus braços pesarem nos ombros. Eu poderia ser uma infrene como minha mãe dissera, mas naquele momento eu não pensava ser nada além de uma ameaça.
Acordei.



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Notas finais do capítulo

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