Despertados escrita por kelvin william


Capítulo 2
Encontro




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CAPÍTULO 02- ENCONTRO

No dia seguinte meu pai me deixou no portão do colégio Hector Freire de Almeida.
–O diretor disse que você e mais alguns alunos novos vão fazer uma turnê pelo Hector, me liga quando quiser que eu venha te buscar!- disse meu pai pelo vidro semi-aberto do carro.
–Ok, até depois!- me despedi.
Havia um imenso gramado e uma calçada de paralelepípedos entre dois grandes portais negros com o emblema HFA no centro do arco, um ficava na entrada onde eu estava e o outro diante das portas de davam para o hall. Nos minutos que gastei no percurso até o outro portal minha mente estacionou no pensamento que estive tento desde que recebemos a ligação do Núcleo de Seleção Populacional: "Como vou viver aqui por sete anos?".
O HFA era um prédio imponente, as paredes grossas de tijolos aparentes sufocavam janelas frágeis e idênticas nos quatro andares, não havia jardim, nem fontes, nem cores quentes. O hall tinha o piso escuro de azulejos que formavam um mosaico de círculos, o teto era uma cúpula de vidro e ferro com um lustre opulento no centro.
À esquerda e direita haviam corredores e no fundo uma escada larga e bifurcada levava os alunos aos andares superiores onde, supostamente, estariam as salas de aula. À frente da escada uma secretária trabalhava em sua mesa enquanto alguns alunos sem uniforme que ,sem dúvida, eram os novatos estavam sentados nos sofás de espera do lado direito. Decidi ir me sentar já que provavelmente era isso que ela me mandaria fazer, escolhi um sofá vazio, alguns alunos me olharam mas não perderam muito tempo com isso. Alguns minutos depois a secretária pegou uma folha sobre a mesa, se levantou e veio em direção à nós.
–Boa tarde a todos, eu sou Helen. O diretor Drauzio espera que vocês gostem do que estão por ver já que ficarão aqui por alguns anos, e por mais que pareça este colégio tem muito a oferecer além de aulas e testes. A análise progressiva que fazemos com os alunos permite a eles encontrar a melhor função para os seus dons em bem da sociedade. Vamos andando porque a muito a ser dito!- Ela seguiu para a escadaria com todos os novatos, eu fiquei atrás de todos eles, o som dos passos não prejudicava a narração de Helen sobre todos os recursos que o colégio disponibilizava para os alunos, como os laboratório e biblioteca mais completos da cidade.
–Uma hora ela vai notar essa sua distração!- solucei com o susto. Um garoto com os cabelos arrepiados estava do meu lado segurando uma risada.
–Como é?- disse ainda meio abalada.
–Me chamo cebola, desculpa pelo susto!
–Ok, só não faça isso outra fez. Sou a mônica!- apertamos as mãos.
–Sabia que eles têm um campo de tleinamento aqui, no primeiro dia de aula eles nos colocam nesses campos pra avaliar os dons.
–Desculpa, mas você disse "treinamento"?- ele falava de um jeito diferente, como se se esforçasse pra pronunciar certas palavras, algumas vezes não consegui entender o que ele dizia.
–Sim, treinamento! Desculpa, é que eu tenho uma disfunção vocal, estou fazendo tratamento com fonoaudiólogo!- ele estava meio envergonhado, acho que mesmo disfarçando ele conseguiu ver minha vontade de rir.
Não é muito recomendável conversar enquanto faz uma excursão porque, diferente do que cebola dissera, Helen nem fazia ideia de que deixara dois alunos pra trás. Notado o abandono nós dois prontamente partimos à procura do bando de novatos, seguindo por corredores idênticos e labirínticos que pareciam nos distanciar ainda mais dos outros.
– Não seria bom irmos pra recepção?- perguntou Cebola
–É uma boa ideia, pena que nenhum de nós lembrou de trazer um GPS!
–Me soltem!- nos sobressaltamos, o lamento vinha do corredor perpendicular ao nosso, corremos até a aresta e espiamos o outro lado. Dois garotos, um loiro e outro muito alto encurralaram outro no fim daquele corredor onde só havia uma pequena janela e um vaso grande com uma planta.
–Vamos ajudar!- Cebola me segurou pelo cotovelo.
–Perdeu a razão?
O garoto alto agarrou o pescoço do menino e o colocou contra a parede.
–Se você não tivesse nos dedurado pro treinador ainda estaríamos no time, seu idiota! Você sabe que à partir de agora, o tempo que nós íamos gastar nos treinos nós vamos usar pra acertar as contas com você, né?!- ameaçou o segundo garoto, ele tirou a mochila dos ombros e cerrou os punhos.
–Não vou ficar aqui parada!- me livrei das mãos do Cebola e entrei no corredor. - EI!
Eles se viraram, me viram e como esperado começaram a rir.
–O que foi, garota? Esqueceu alguma coisa aqui?- disse um deles.
–Não, eu não esqueci nada, posso saber o quê vocês estão fazendo?
–Se fosse da sua conta eu contava, mas não é, então dá licença!- disse o outro.
–Parece que quem esqueceu alguma coisa aqui foram vocês, a educação!
–Está vendo isso aqui?- o garoto loiro apontou para os olhos que aparentavam brilhar num azul fluorescente. -se eu quiser posso torrar a sua roupa inteira e com você junto!
–Sério? É com esses olhinhos que você ameaça os outros?
–Quer tirar a prova?- os olhos dele começaram a faiscar.
Meu coração bombeava rapidamente meu sangue assim como aumentava a corrente elétrica que gerava minha telecinese, eu senti a gravidade diminuir, atrás de mim Cebola sussurrava mas já era tarde, eu sabia que não iria controlar o que estava prestes a acontecer.
Os olhos dele relampejaram, mesmo sem som meu corpo reagiu, dispersei o ar à frente e impedi o relâmpago de me acertar rebatendo-o para todas as direções. As duas portas do fim do corredor se despedaçaram, o menino conseguiu se livrar da mão do garoto alto e correu para dentro da sala que antes tinha uma porta.
–O que está acontecendo aqui?- me virei, Helen corria espantada em minha direção com os novatos atrás, Cebola entrou no caminho entre mim e ela claramente pra tentar explicar. Ele olhou pra mim com cara de "estamos ferrados", porém seu semblante mudou um segundo depois pra "cuidado".
O garoto loiro não havia desistido, seus olhos eram faróis apontados pra mim, o relâmpago disparou, não sabia se seria capaz de bloquear. A eletricidade me atingiu arrepiando meu corpo pelo tempo suficiente pra perceber que ela não me feria, só me alimentava. Disparei a telecinese sem ter como contê-la em seguida, as paredes trincaram, a janela estilhaçou, o vaso explodiu.
Caí de joelhos e esperei meu corpo desligar, sabia que ia desmaiar. Nos meus últimos segundos antes de fechar os olhos eu ouvi Helen pedindo ajuda horrorizada atrás de mim enquanto à minha frente dois garotos caídos gemiam de dor. Foram apenas duas vezes as ocasiões na minha vida em que causei dor a outras pessoas, as duas aconteceram por culpa do meu descontrole, não tive tempo de pensar o que ia acontecer comigo quando acordasse, mas pude chegar a conclusão de que o que eu tinha não era um dom e tinha medo de querer saber o que era. Desmaiei.


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