Despertados escrita por kelvin william


Capítulo 4
Consequências




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CAPÍTULO 04- CONSEQUÊNCIAS

–...mas por quanto tempo ela vai usá-lo?

–Depende dos resultados dos testes!

–O NSP não havia detectado essa condição dela na primeira avaliação?
–Nós só fazemos a seleção, são vocês que determinam qual é o potencial de cada infrene! De qualquer modo esse caso é excepcional, requer mais cuidado que os últimos que vocês nos enviaram!
–Acho que ela está acordando! Não se levante Mônica, o efeito dos anestésicos ainda não deve ter passado!
Minha cabeça latejava a qualquer movimento que eu fizesse, a advertência que ouvi não era necessária, minha capacidade de movimento não passava do tronco, eu sentia minhas mãos e pés dormentes, a única boa notícia era que aquela dor na espinha tinha passado.
Parecia que eu estava num sanatório, o quarto tinha o tamanho de um container, todas as paredes e objetos eram brancos e o ar cheirava a desinfetante, gaze e soro fisiológico. Estava numa cama inclinada que direcionava meus olhos para a lâmpada, a claridade me impediu por alguns minutos de identificar os donos das vozes.
Um era um homem negro e careca, a falta de rugas, pintas ou sardas o fazia parecer um manequim, um manequim que usava uma espécie de terno azul escuro sob medida e sofisticado demais, devia ser alguém do NSP já que essa é a cor dos uniformes de lá, porém nenhuma das pessoas do NSP que me avaliaram na semana anterior estavam tão bem vestidas.
O outro, que vestia um terno comum, devia ter mais de 60 anos. Os cabelos grisalhos e as rugas não o impediam de transmitir uma imponência que parecia ter nascido com ele. Um broche dourado com o emblema do colégio Hector entregava sua identidade, era o diretor Drauzio sem dúvida.
–Como você se sente?- perguntou o manequim.
–Me sinto como um tubo de creme dental usado! Quem é você?
–Me chamo Anturio, sou supervisor de testes da NSP!
–Sabe o que aconteceu comigo?
–Você teve um espasmo, depois que infrenes passam pela primeira experiência com seus dons é comum eles causarem alguns acidentes!- parecia que ele havia direcionada aquela frase mais para Drauzio do que para mim.
–Quer dizer que é frequente quebrar paredes e ferir alunos no HFA?- talvez ele quisesse minimizar minha culpa pelo ocorrido, mas só me deixou ainda mais chateada.
–Não se preocupe, os rapazes que estavam com você estão bem!- disse Anturio.
–Porém,- antecipou-se Drauzio- o que aconteceu naquele corredor foi muito mais sério que um acidente de principiante!
–Como assim?
–Nós ainda não temos nenhuma conclusão sobre seus limites, os testes de medição do HFA só vão acontecer amanhã. Mas tivemos que usar uma medida provisória no seu caso porque a força do seu dom se dispersa com muita intensidade nos momentos de... falta de controle!- Anturio tentou ser sutil nas palavras, contudo fracassou.
–Que medida preventiva?
Ele deu alguns passos pra trás até um gaveteiro pequeno de inox, abriu a gaveta de cima e de lá tirou uma seringa pequena cheia de um líquido marrom.
–Isso é uma espécie de analgésico que age diretamente a parte do cérebro que é atingida pelo stress. você deve usá-la sempre que sentir o que sentiu ontem!
–Eu fiquei um dia inteiro desacordada?- era a pergunta errada, eu sei, mas as coisas agora pareciam ainda piores. Eu nunca conheci ninguém que precisou de remédios para lidar com o próprio dom, não queria ter aquilo dentro de mim por mais natural que fosse.
–Não se assuste, por enquanto sua telecinese é forte demais pra você!- Drauzio falou, porém minha impressão era de que eu era fraca demais para conter um dom comum.
–Eu vou poder ir pra casa?
–Não há tempo, seus pais já fizeram a matrícula! Está tudo pronto pra você começar a estudar amanhã!- eu não contive minha tristeza na expressão e Drauzio notou. -Eu sei que não deveria ser assim, mas quanto antes você receber as aulas e o treinamento mais cedo se livrará do receio de causar mais algum acidente!
–Desculpa dizer diretor, mas eu não tive uma boa primeira impressão do colégio e garanto que os veteranos vão achar a mesma coisa sobre mim!
–Espero que não Mônica, até porque seus pais vão ficar com você aqui até o início das aulas amanhã!
–Eles estão aqui?- Como se tivesse me ouvido, minha mãe irrompeu pela porta do quarto seguida por meu pai, logicamente os outros dois começaram a sair mas não sem que Drauzio me desse um recado final.
–Descanse o máximo possível Mônica, amanhã vai ser um dia tão cheio quanto foi ontem!


Meus pais ficaram comigo até o último segundo antes de eu ter que entrar no Hector, meu sonho/lembrança do dia anterior aumentou minha vontade de ficar principalmente com meu pai, ele não queria que eu me martirizasse com o incidente em casa, todavia saber que existe uma cicatriz nele por minha causa não me permitia sentir mais aliviada quanto àquela noite.
–Viremos no sábado, acho que um filme muito bom vai estar em cartaz nessa semana, podemos ir direto pra um cinema se você quiser!- disse meu pai. -Se cuide, qualquer coisa ligue pra nós!- nos despedimos.
Eu estava uniformizada num conjunto de calça e camiseta pretas assim como vários alunos que perambulavam pelo gramado da entrada, alguns estavam sentados em círculo conversando, olhei em volta mas não encontrei o Cebola, precisava saber se ele estava bem, não estava com muito remorso pelo que fiz àqueles dois alunos mal encarados, o Cebola por outro lado não merecia acabar como eles. Passei os dez minutos antes das aulas começarem procurando por ele, mas foi em vão, talvez eu tivesse a sorte de estudar na mesma sala que ele. O sinal disparou e todos começaram a entrar.
Meu pai havia me dado os horários do colégio no dia anterior, então ao entrar pelo hall passei direto pela secretária sem que ela me visse e subi a escadaria. Segui pelo terceiro corredor até uma das portas, nela havia uma plaquinha escrito "1A", era a minha sala.
Metade dos alunos já estavam lá dentro sentados nas carteiras do fundo, escolhi a segunda carteira da última fileira, a que ficava perto das janelas. Mais alunos começaram a entrar e ao meu lado sentou uma garota com um longo rabo de cavalo e uma franja, ela olhou pra mim, disse um "olá" e depois se concentrou em tirar seu material da mochila, não sei se ela ouviu mas eu a respondi com um também ligeiro "olá".
A sala já estava quase cheia quando um garoto quase careca sentou atrás de mim, ele parecia muito ser aquele tipo de aluno que mais faz piadas do que estuda, também dava pra notar que ele tinha sardas nas bochechas que o deixavam ainda mais amigável.
O último a entrar na sala foi o professor, ele era alto e loiro e de imediato conseguiu a atenção de metade da classe, a metade feminina.
–Bom dia, meu nome é Rubens, eu sou professor de biologia mas como hoje é o primeiro dia de aula eu não vou poder passar o meu cronograma de trabalhos e provas, porque como vocês devem saber, esse dia é reservado para os testes de potencial de vocês. Sendo assim vou pedir que deixem suas mochilas aqui e me sigam em fila até as salas de treinamento. Vamos!
Os alunos se levantaram e começaram a sair da sala, seguimos em fila por vários corredores de salas de aulas, algumas portas estavam semiabertas e eu pude ouvir os outros professores dizendo as mesmas coisas que o professor Rubens dissera.
Depois que saímos do prédio das classes, atravessamos uma pequena praça de alimentação e entramos num galpão no fundo do colégio Hector chegamos nas salas de treinamento que se estendiam dos dois lados de um largo corredor, as paredes de concreto que dividiam as salas eram grossas, porém as que ficavam de frente para o corredor eram de vidro provavelmente blindado, haviam filas de alunos encostados nos vidros de outras sala ao longe, eles olhavam atentamente o que acontecia lá dentro, eu por outro lado, só conseguia enxergar luzes ou fumaça.
Paramos em frente a uma sala que mais parecia uma arena do tamanho de um campo de futebol porém as paredes e o piso eram brancos, espalhadas pela arena haviam muretas com armas brancas penduradas. Podíamos ver, no fundo da sala outra fila, dessa vez de adolescentes vestidos com roupas pretas grossas, quase como armaduras e acima deles em um mezanino protegido por vidro alguns adultos engravatados estavam sentados, alguns com notebooks no colo. No centro da sala um homenzinho com roupa parecida com a dos adolescentes esperava por alguma coisa.
–Os testes vão funcionar da seguinte maneira!- Rubens esperou alguns segundos para que todos prestassem atenção. -Um de cada vez vocês vão entrar por essa porta e entrar num vestiário, cada uniforme tem o nome do aluno que deve usá-lo, depois passem pela outra porta e entrarão na sala de testes. Vão direto até o treinador,- e apontou para o homenzinho. -ele vai dizer o que vocês devem fazer.
–Eu já tenho entrar?- perguntou o primeiro aluno da fila.
–Não, já tem um aluno pronto para fazer o teste, ele chegou adiantado! Lá está ele, vamos começar!
Era ele, Cebola saiu pela outra porta sem olhar pra trás, fui tomada por um alívio por saber que ele estava bem, não sabia quando eu poderia conversar com ele mas isso já não me preocupava mais.
O treinador, após dar algumas instruções ao Cebola, chamou um dos adolescentes da fila oposta que rapidamente se juntou a eles no centro da sala. Parecia que o teste consistia em um combate. O treinador fez um movimento de "assumam suas posições", Cebola deu meia volta e andou na direção da parede de vidro, ele estava de cabeça baixa mas quando chegou no ponto demarcado olhou pra frente, olhou pra mim e nada poderia ter me surpreendido mais.
Todo meu entusiasmo se esvaiu, fiquei estática, estarrecida. Ele devia ter convencido os outros de que estava bem mas o fato era que ele estava ali, querendo lutar mesmo em desvantagem. Seu olho esquerdo estava roxo, inflamado e inexpressivo. Não tive tempo de chegar a uma conclusão sobre aquilo apesar de saber que de qualquer forma a culpa era minha.
–Comecem!- gritou o treinador.


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Notas finais do capítulo

Comente por favor, preciso saber se a estória está indo bem. Ela está tomando rumos que eu nem fazia ideia, estou gostando muito, e você?
Ah, e desculpe pela falta de parágrafos, meu editor é péssimo.



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