A noite do baile enfim chegou, eu estava me olhando no espelho, estava deslumbrante, mas por algum motivo não estava muito animada pra ir ao baile. A campainha tocou, ao abrir a porta lá estava ele sorrindo.

–Pronta pra ir ao baile?– Ele me deu um buque de flores.

–Uau não precisava, não se costuma dar um buque a acompanhante num baile.

–É que esse é o primeiro baile que eu vou.

–Sério? E os bailes do colegial? Deviam ter uns quatro por ano.

–Digamos que eu era bem diferente do que sou agora, como falei antes sou bem mais complexo do que você imagina.

Coloquei as flores num jarro e partimos pro baile, a decoração estava linda, a banda tocava muito bem, estavam todos lá, assim que entramos avistei o Jason dançando com a baixinha fatal Emily Eliot, ela ainda vai me pagar por ter me batido, vi também Marta, Maria e seus pares perto da mesa do ponche.

–Lá estão meus amigos vamos lá falar com eles.

–Espera!– A última coisa que eu queria, era falar com aquelas duas, naquele momento elas deviam me odiar mais do que de costume– Vamos dançar primeiro.

–É que eu não danço muito bem, como te falei antes, nunca fui a um baile.

–Eu te ensino.

Eu sou uma espetacular dançarina, já ganhei alguns concursos de dança, além de linda e inteligente tenho vários outros dons, sou ótima cantora, fiz dois anos de balé, sei um pouco de pintura e quando eu danço o mundo para pra me ver. Entretanto dançar com Lucas foi um desperdício de talento, até tentei ensinar uns passos, mas ele não levava jeito mesmo.

–É melhor irmos ficar com meus amigos.

–É que eu...

–É que você tratou mal a Marta e a Maria e esta sem jeito de falar com elas– Droga aquelas fofoqueiras já haviam contado a ele.

–O que eu fiz foi errado, eu estava nervosa e com raiva, elas queriam me dar dicas de moda, já olhou que vestidos horrorosos elas estão usando? Elas são tão... Tão...

–Imperfeitas.

–Exatamente– Ele me encarou em silêncio apenas sorrindo.

–Eu simplesmente não te entendo, e você ainda não me explicou aquela coisa de sorrir e tremer por medo, medo de que? E porque alguém sorriria por medo?

–Você sempre tem mil perguntas e sempre julga os defeitos dos outros, mas você devia aprender a analisar seus próprios defeitos.

–Defeitos!– Eu falei mais alto do que pretendia e até parei de dançar– Eu sou perfeita! E por este motivo odeio ficar perto de coisas imperfeitas.

–Então você odeia ficar perto de mim?

–O que?

–Eu não sou perfeito, mas ainda assim você esta aqui dançando comigo, a não ser é claro que você me ache perfeito.

–Acredite você esta longe da perfeição, você é legal e bonito, mas sempre me deixa com raiva.

–Então é isso? Você é quem define o que perfeito e o que não?

–Não foi isso que eu quis dizer! O que é perfeito, é perfeito e pronto– Ele se aproximou de mim olhando nos meus olhos.

–Então me diga mais alguma coisa que seja perfeita além de você mesma.

–É... –Fiquei sem palavras, nunca na vida eu encontrei outra coisa perfeita além de mim mesma– Onde você esta querendo chegar com essa conversa?

–Eu quero te fazer perceber que tudo não precisa ser perfeito, que o legal é se apaixonar pelas imperfeições dos outros.

–Isso não faz sentido.

–Você nunca vai encontrar alguém perfeito, todo mundo tem defeito e se você continuar agindo dessa forma vai acabar sozinha– Meus olhos encheram de lágrimas.

–Talvez eu queira ficar sozinha, pois prefiro a solidão a viver cercada por pessoas imperfeitas.

–Você esta mentindo pra si mesma, pois você quer desesperadamente ser amada.

–Como você pode saber o que eu quero? Você só me conhece há duas semanas e...

–Por quanto tempo você vai ficar negando que odeia ficar sozinha? Eu estou aqui com você, sou um cara imperfeito, sou alguém que não te acha perfeita, eu até acho que você tem muitos defeitos e não te acho a mais bonita ou inteligente, mas estou aqui com você, estou disposto a te ajudar a sair desse pedestal da perfeição, Sara você não precisa ser a melhor em tudo.

–Eu...

–Admita!– Ele gritou comigo?

–Algum problema aqui?– Era o Jason, ele interrompeu nossa discussão.

–Não, problema nenhum Jason– Falou Lucas– Só estamos conversando, não que isso seja da sua conta.

–Jason!– Era a Emily– Não me diga que você parou nossa dança pra se meter na briga desses dois? Vem vamos!– Ela puxou o Jason, mas antes de ir cochichou no meu ouvido– Se você se meter entre nos dois acabo com você madame soberba.

Eles partiram pra pista de dança e Lucas voltou a me encarar, mas dessa vez sorrindo.

–E então? Vai admitir?

–Tá bom! Eu não quero ficar sozinha! Satisfeito?

–Pra falar a verdade estou então vamos dar inicio ao seu tratamento do vicio da perfeição, você precisa aprender a conviver com a imperfeição que a cerca, esta disposta a isso?

–Eu... –Respirei fundo, eu era perfeita e não podia negar isso, mas talvez eu deva aprender a conviver com os imperfeitos que me cercam– Eu estou disposta a aprender a conviver com a imperfeição alheia.

–Pra começar seu tratamento olhe pra aquele grupo ali– Ele apontou pra um grupo de pessoas sentadas num canto, eram os fracassados da faculdade, garotos e garotas que não tinham coragem de convidar alguém pro baile, que só estavam ali pra ser motivo de piada.

–Estou vendo e daí?

–Lá tem alguém que você conhece?– Avistei Alisson Nerd.

–Tem sim por quê?

–Vá lá e o chame pra dançar.

–O que? O que você tem na cabeça pra achar que eu convidaria Alisson Nerd pra dançar?

–Ele até pode ser legal depois que se conhece, mas você nunca vai saber se não o conhecer.

–Como é que você me trás ao baile e me empurra pra outro garoto?– Ele sorriu.

–Se você tiver de ser minha vai ser independente de com quantos garotos você dance– Acho que nunca fiquei tão vermelha na minha vida.

–Esta bem, eu irei– Fui até o grupo de excluídos, o que é estranho se você faz parte de um grupo não deveria ser considerado excluído, todos eles olharam pra mim, parei na frente do Alisson– Oi Alisson.

–O que é? Veio rir de mim por não ter um par pro baile?

–Na verdade vim te chamar pra dançar.

–O que? Você quer dançar comigo?

Então foi isso, eu dancei com o Alisson nerd e até que ele dançava bem, nunca imaginei que ele teria tal qualidade, será que todos são assim? Será que todas as pessoas tem algo de especial? Eu só olhava os defeitos das pessoas e as menosprezava, entretanto estou começando a rever os meus conceitos, logicamente ninguém chega aos meus pés, mas agora acho que podem ter algum valor.

–Você dança muito bem.

–Não acredito que você me elogiou você nunca elogia ninguém.

–Acho que estou mudando um pouco.

A música parou, era chegada a hora de anunciar o rei e a rainha do baile, um dos professores subiu ao palco.

–Chegou o momento que todos esperavam, vamos anunciar o rei e a rainha do baile, vamos começar pelas damas e por maioria dos votos a rainha do baile é– Sem dúvida devia ser a Emily Eliot– Sara Samuels!

Fiquei chocada, um holofote me iluminou, nunca pensei em ganhar, como eu ganhei? Ninguém gosta de mim, como posso ter sido quem recebeu mais votos? Andei até o palco olhando pra cima pra chegar se alguém ia jogar algum líquido estranho em mim como fizeram com Carrie a estranha. Todos me aplaudiram enquanto eu era coroada.

–E agora o rei– Olhei para o Lucas e sorri– Jason Jessup!

–O que?­– Dissemos eu e Emily ao mesmo tempo, Jason subiu ao palco e foi coroado. A baixinha marrenta me lançou um olhar mortal.

–E agora a dança real!

Eu e o Jason dançamos uma valsa, eu estava confusa, no entanto estava explodindo de felicidade, finalmente, finalmente! Eu sempre soube que um dia eu seria rainha.

–Como você esta sorridente Sara.

–Tenho que confessar que sempre quis ser rainha, mas ainda não entendo como pude ter a maior quantidade de votos, pensei que todos me odiassem.

–E todos te odeiam mesmo, mas gostam de mim, eu pedi que votassem em nós dois.

–Por que você faria isso?

–Pra poder dançar com você.

Todos os olhos estavam em mim, quer dizer em nós, eu estava muito feliz, mas a alegria não era geral, Emily me olhava com fúria, Marta e Maria ainda estavam chateadas comigo e o Lucas...