Blind escrita por Valentinna Louise, Komorebi


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas, como estão?
Mais um capítulo para a sede de Faberry de vocês!
Agora abrindo espaço para conhecerem um pouco das histórias da guerra (para quem queria saber se exploraríamos essa parte do enredo).



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Quinn

Beth me ajudava a lavar as louças enquanto mencionava algumas coisas que queria fazer de passatempo na casa, mas isso não impedia minha audição de captar a voz de Cassandra intimidando Rachel Berry.

“Pode me fazer um favor, querida?” inclinei para Beth. “Termina essa louça enquanto vou me despedir da Cassandra, deixa que guardo tudo”.

Deixei as coisas sobre a pia. O barulho da água e dos utensílios não davam boas condições para meu me deslocar na cozinha, tateei até a porta onde alcancei minha bengala.

Fui até a entrada, lá estava Cassandra a espera de Santana com o carro. Nada falei após o ‘oi’ dela, por alguns instantes me foquei em adivinhar o que se passava pela cabeça da mulher. Não é como se eu pudesse ver, embora pudesse sentir quão pensativa ela estava.

“Por que tratar a pobre garota desse jeito?” soou esquisito como eu fiz parecer me importar genuinamente.

“Qual jeito!?” poderia até não ver a expressão da mulher, mas definitivamente capturei o sarcasmo na sua voz.

‘Nunca mais vai conseguir voltar para o outro lado. Uma parte sua sempre vai ficar aqui’, está tentando fazer a menina se borrar? O que diabos isso significa?” não estava me doendo pela avaliadora, mas sei como às vezes até eu me deixo intimidar por Cassandra e seus tons de seriedade... e olha que eu sou a pessoa cujo passatempo é intimidar outras pessoas...

“Você descobrirá” o barulho da buzina de Santana deixou as ondas mais visíveis, dando-me uma boa visão de Cassandra com sua linguagem corporal gritando divertimento. “Até outro dia, Quinn”.

Subi as escadas e fui para meu quarto. Beth já havia ido se deitar e San logo voltaria. Deitei na cama sentindo a escuridão habitual me engolfar, porém alguém bateu na porta.

“Mãe?”

“Beth, entre...”

Ela entrou e eu senti a cama balançar quando deitou. Ela enlaçou os braços na minha cintura em um abraço desajeitado.

“Ouch Beth, eu estou velha, não me aperte assim...” arfei rindo pelo nariz.

“Não diga isso mãe, você está ótima pra quem tem 30.”

“Isso é um alívio.”

Beth sorriu, captando o sarcasmo, e se apertou ainda mais contra mim.

“Lembro quando você era só um bolinho branco com cabelos loiros quase brancos” falei acariciando o cabelo dela de leve. “A guerra era uma ideia distante e eu estava feliz por ser mãe de uma coisinha tão perfeita” fiz cócegas. “Minha mãe era mega coruja com você e meu pai estufava o peito pra dizer a quão linda era a neta dele. Seu pai vinha te ver todos os dias.”

Beth deu um sorriso.

“Tudo bem que eu era muito nova e não tinha a menor noção de como constituir uma família, mas eu tinha a ajuda dos meus pais, do Noah e da San. Era uma felicidade só e tudo girava em torno de você.”

“Queria que nada disso tivesse acontecido. Queria poder ver minha avó, meu avô e meu pai” Beth falou contra meu pescoço.

Meu coração falhou uma batida.

“Eu também gostaria que eles estivessem aqui meu anjo. Mas hoje nós temos a Brittany e a Marley também, além do Sirius. Não é a mesma coisa, mas já é maravilhoso só por estarmos juntas, concorda? Não é muito melhor me ver assim ao vivo?”

“Sim. Seu rosto no computador ficava gordinho...” senti Beth apalpar minhas bochechas.

“Mentira...” Comecei a fazer cócegas nela e ficamos assim durante alguns minutos até ela falar novamente.

“Mãe?” concordei com a cabeça para que ela continuasse, não podia tirar os olhos do meu bebê para falar. “Pode tirar essa arma daqui, por favor? Quero dormir com você, mas não vou conseguir pregar os olhos sabendo que tem uma pistola debaixo do travesseiro.”

Me sentiria desconfortável sem minha pistola, mas a nostalgia dos minutos atrás me dava vontade de abraçar minha filha e só acordar quando o sol estivesse alto. Sua expressão séria deixava claro a condição para tal.

Puxei a pistola que estava debaixo do travesseiro e a coloquei sobre o criado mudo.

“Melhor assim pra você?”

“Muito melhor, boa noite mãe!”

Eu sorri e beijei o topo de sua cabeça enquanto acomodava-nos no abraço.

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Quando acordei, tateei a cama, mas Beth já tinha levantado. Ouvi música outra vez e sorri... Santana. Agora com uma professora de música em casa, talvez ela encontrasse uma nova companhia para as cantorias matinais.

Me permiti ficar um tempo a mais na cama. Quando finalmente desci encontrei Santana e Beth na cozinha.

“Bom dia, mãe” Beth me deu um beijo na bochecha e Santana riu.

“Bom dia, Fabray. Sem beijos da minha parte” Beth gargalhou.

“Ah isso é ótimo, Santana. Onde está Marley?” indaguei.

“Na horta, com a Berry.”

Fui até o balcão e peguei o café e as torradas que Santana havia deixado. Tomei o café em silêncio.

Fui para o quintal e me sentei no banco perto da horta. A árvore atrás do banco fazia com que elas não me vissem. Assim eu conseguia ouvir o que Marley e a Berry conversariam.

Alguns minutos no mais completo silêncio, senti alguém sentar ao meu lado. Beth.

“Vai ficar aqui vigiando elas?” sussurrou.

“Fala como se eu pudesse fazer isso...”

“Você pode! Vai dizer que o ‘radar’ não funciona mais?”

“Elas estão em silêncio, não vou pedir que façam barulho para que eu as vigie. Estou aqui apenas para me certificar que a Berry não fará nenhuma besteira, Marley é a única que ainda não demonstrou qualquer reação a respeito dela.”

“Marls provavelmente vai gostar dela. Uma professora de música! Ela finalmente vai aprender a tocar aquele piano do porão.”

Dei um sorriso. Nunca tive paciência pra ensinar “provavelmente sim.”

Então ouvi a Berry perguntar:

“Marley? Me desculpe a curiosidade, mas o que você é das outras? Digo, em grau de parentesco?”

“Nada... não tenho nenhum grau de parentesco com elas. Tecnicamente, eu sou uma agregada, mas Brittany me trata como uma filha. É, pode se dizer que eu fui adotada pela Britt”

“Como isso aconteceu?”

Berry estava começando a fazer muitas perguntas.

“Hum... isso o quê?”

“Essa adoção...”

“Ah... hum... é meio longa a história.”

Fiquei aflita por um instante. Marley não era do tipo que ficava lembrando o que acontecera com ela. Quando falava sobre isso ficava destruída. Não parecia, mas ainda era algo muito recente.

“Conte,” não gostei do tom curioso que a avaliadora usou, pela minha experiência em psicologia essa aplicação era a chave para fazer alguém realmente responder sua questão. “Se você quiser obviamente...” seu tom de retirada da fala anterior é uma arma ainda mais incentivadora.

“Bem... começa com a volta das três à Lima. Era aqui que a Quinn morava antes da guerra sabia? Na primeira semana Brittany saiu para uma busca nas cidades do entorno. Eu morava com a minha mãe, o nome dela era Millie. Era uma casinha muito simples. Viemos para cá quando soubemos que Lima era considerada segura, mas não tínhamos dinheiro o suficiente para passar para o outro lado. Conseguimos esse casebre de um velho que dizia estar indo embora para San Francisco. Vivi um bom ano naquela casinha até começarem os saques. Eram os veteranos miseráveis. Eles começaram a assaltar as casas no entorno de Lima para que pudessem sobreviver. O negócio era a violência que eles usavam..”

A história vinha na minha cabeça conforme Marley falava. Lembro que tínhamos que nos revezar para vigiar a casa. A onda de saques nunca atingiu aquela área, pois não havia muito o que roubar.

“... eles explodiam casas, logo depois dos saques... para quê eu nunca soube. Quando o 5° Pelotão dos Veteranos, o que Quinn e as outras estavam, chegou aqui, a onda de saques aumentou. Quando minha casa foi saqueada, eu estava no quarto, junto com a minha mãe...” Marley parou de falar por alguns segundos, como se tomasse coragem para falar o que vinha a seguir.

Fiz a menção de me levantar, mas Beth segurou meu braço.

“Vou interromper Beth, Marley vai ficar arrasada pelo resto do dia só por ter falado da mãe, se ela terminar essa história, sabe-se lá qual vai ser o estado em que ela vai ficar...”

“Mãe, deixa ela terminar. Eu também nunca ouvi a historia dela... eu sei que não é o melhor jeito de se saber, mas não interrompe, por favor.”

Eu me virei pra Beth para dizer algo, mas aí ouvi Marley continuar.

“... ouvimos vozes na sala, mas minha mãe pediu que eu continuasse no quarto. Ouvi a minha casa sendo destruída. E então o primeiro estrondo, a casa tremeu com a primeira bomba. A parede da sala foi a primeira a cair. Então lembro que minha mãe gritou meu nome e me mandou sair, quando eu consegui sair a segunda bomba foi lançada... e foi justamente no quarto. Só ouvi um grito da minha mãe e então tudo ficou escuro. Acordei muito tempo depois. Não conseguia me mover. Eu estava em uma espécie de bolsão de ar, uma viga sustentava grande parte de uma parede fazendo com que ela não caísse sobre a minha cabeça. Porém não conseguia mexer as pernas, eu conseguia sentir uma dor aguda vinda da perna esquerda, mas não conseguia ver o porque. Comecei a gritar. Chamei pela minha mãe, chamei por socorro. Quando passou um tempo e não apareceu ninguém eu comecei a chorar e rezar. Já estava sentindo fome e a dor estava me deixando um pouco entorpecida. Ouvi gritos, alguém chamando por sobreviventes. Dei um grito fraco, achei que já estava delirando. O grito ficou mais próximo e eu respondi fracamente, um feixe iluminou o bolsão e um grito agudo me fez perceber que não estava delirando, que tinha alguém com olhos azuis tentando me ajudar. Acordei três dias depois numa maca, com Brittany dormindo ao meu lado. Eu já estava com a minha perna amputada. Ela acordou e começou a chorar me pedindo desculpas pelo que tinha acontecido e que tinha feito de tudo para salvar minha perna, mas não foi possível.... eu chorei alto e pedi pela minha mãe, eu queria ela ali comigo. Brittany abaixou a cabeça e eu entendi. Então ela me perguntou sobre algum parente, se havia alguém com quem eu poderia ficar. Respondi que não. Ela saiu e voltou minutos depois com Quinn e Santana, falou que eu iria ficar com elas. Aceitei, elas pareceram tão legais.”

Suspirei profundamente. O sofrimento de Marley era perceptível na sua voz, nas suas palavras, talvez parecesse pior na expressão corpo-facial. Ouvi Beth fungar ao meu lado e eu apertei a mão dela.

“Srta. Berry, eu... eu... não estou me sentindo muito bem agora... essa história mexe demais comigo... é melhor eu ir... ir para o... o meu quarto... me desculpe...”

Ouvi o rangido metálico em passos apressados de Marley. A ouvi chorar. Beth levantou e eu disse: “Vá atrás dela.”

Ela seguiu atrás de Marley. Me levantei e fui até a horta.

“O que você tinha na cabeça ao perguntar isso para Marley?” falei nervosa.

“Eu... só...” as palavras pareciam morrer em sua boca “eu não tinha ideia de que poderia ser algo tão doloroso assim. Não faça com que eu me sinta pior do que já estou” Rachel Berry falou firme.

Aquele soar firme. Dá-la liberdade e confiança foi o problema, naquele ultimato onde ela tomou o bastão da fala por algum tempo. Rachel Berry começou a pensar que poderia falar sem recalcular suas palavras, precisava coloca-la na posição de se silenciar outra vez.

Alinhei a coluna para recuperar a postura fria, deixei pelas minhas palavras o resto do trabalho “não sou nem o começo das suas apreensões. Santana verá o estado da filha e aí sim terá algo real com o que se preocupar, senhorita Berry”.


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Notas finais do capítulo

Deixe um review para eu saber como vão minhas habilidades, como vai a história. O que você tem curiosidade? Compartilhe suas análises da fic.
Beijos, até o próximo cap :*



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