Rachel

Se eu pudesse usar uma palavra pra expressar o que estava sentindo naquele momento, usaria pavor. Medo mesmo. Como uma mulher poderia causar tanto medo só com palavras?

Depois que Quinn Fabray saiu do quarto eu senti que estava tremendo. Muito. Deitei na cama olhando para o teto me perguntando o que eu havia feito de tão ruim para receber essa avaliação como castigo. Porque sim, isso era um castigo.

Não sei quanto tempo passei assim, olhando para o teto descascado, quando ouvi alguém bater na porta. Me sentei e olhei: era a menina, a Marley.

“Hum.. oi..” Ela só havia colocado a cabeça para dentro do quarto, como se espiasse.

“Oi..” respondi fracamente.

“Santana pediu que eu viesse te chamar. Hora do jantar.”

“Ah sim, ok, já vou descer. Obrigada.”

“De nada.” Ela ficou me olhando fixamente mais alguns segundos, como se quisesse dizer alguma coisa, mas sacudiu a cabeça e saiu da porta. Eu me levantei da cama e olhei para a minha bolsa ainda fechada. Depois eu arrumaria tudo.

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Quando desci, reparei que havia mais uma pessoa na casa. Era uma mulher alta, loira, de feições duras e olhos verdes penetrantes. Ela ficou me encarando enquanto eu descia a escada. Vi a Fabray se virar de relance, mas sem prestar atenção em mim. Segui Marley para a sala de jantar, em silêncio. Santana olhou pra mim e resmungou alguma coisa. Quinn apareceu logo em seguida, com a mulher e Beth. As 3 sentaram em silêncio e Santana então colocou uma travessa com um caldo espesso e com um cheiro muito bom sobre a mesa.

“Bem, isso é o que tem pra hoje certo. Berry, eu espero que não seja fresca para comidas, ou vai morrer de fome. Bom apetite!”

Era uma sopa de batatas. Todas nós comemos silenciosamente. Mas a mulher não parou de me encarar um segundo.

Quando terminei, ela falou:

“Então você é a avaliadora?”

“Cassandra...” Santana Lopez falou com um rosnado, como se o que aquela mulher falasse não fosse algo bom.

Apenas assenti com a cabeça. Ela se levantou ao mesmo tempo que eu na mesa.

“Cassandra July” Ela estava se apresentando.

“Rachel Berry..”

“Ótimo, já se conheceram. Cassandra está tarde. Não é mais hora de você estar aqui..”

“Por favor Santana, deixe-me conhecer a menina. Não é como se nós víssemos pessoas do outro lado todos os dias.”

Por um instante, me senti um animal acuado, iguais aos que via no Zoológico de Lima. Eu era um ‘espécime’ diferente e precisaria me adaptar àquela situação. Cassandra July continuou a me observar em silêncio enquanto que recolhia a minha louça suja da mesa. Logo, Quinn e Beth fizeram o mesmo. Todas em silêncio.

Saí da sala de jantar e fui em direção às escadas, quando percebi que Cassandra me seguia. Me virei e ela falou:

“Menina, você não tem ideia de onde se meteu. Nunca mais vai conseguir voltar para o outro lado. Uma parte sua sempre vai ficar aqui.”

Aquilo me arrepiou.

“O que quer dizer com isso?”

Ela só me deu um sorriso e foi embora. Fiquei olhando fixamente pra porta até Marley passar por mim e perguntar:

“Está tudo bem?”

Dei um sorriso falso e assenti. Não, não estava tudo bem.

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Meu sono foi pesado e sem sonhos. Acordei com o barulho de uma música desconhecida no andar de baixo. Como assim? Música? Eu nunca acordei com música no meu apartamento. Abri os olhos lentamente até reparar que eu não estava no meu quarto e lembrei onde eu estava. Minha cabeça girou por alguns segundos e então me levantei.

Eu havia caído no sono com a mesma roupa que eu havia saído do Instituto naquela tarde. Me levantei e fui até minha bolsa pegar algo confortável para vestir. Ouvi uma batida na porta e Marley apareceu.

“Bom dia..San mandou te chamar para o café da manhã..”

“Ah sim.. ok.. Obrigada.” Ela assentiu e mais uma vez, como ontem a noite ela ficou me encarando por alguns segundos sem falar nada, porém antes que ela fosse embora eu perguntei.

“Onde fica o banheiro Marley?”

“Última porta à direita.”

“Obrigada, mais uma vez.”

“De nada.” E saiu.

Peguei uma toalha e minhas roupas e segui a indicação dela. Eu fui direto ao chuveiro e quando abri, senti a água gelada bater nas minhas costas e gritei. Desliguei o chuveiro e liguei novamente. Água fria.

Ouvi Marley falar do outro lado da porta fechada.

“Está tudo bem?”

“Sim, er.. está.. Marley?”

“Sim?”

“Só tem água fria?”

“Sim. Não se preocupa, depois de um tempo você se acostuma.”

Resmunguei um ‘sim,claro.’

Tudo ali era questão de costume certo?

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Desci para o café tremendo depois do banho frio. Santana notou isso e gargalhou alto.

“Está desperta Berry? O banho gelado ajudou?”

Trinquei os dentes em resposta e ela riu mais alto ainda. A música ainda tocava. Eu não a reconheci.

“Qual é o motivo da graça Tia San?” Beth apareceu na sala. Ela estava vestindo um avental infantil. Ela nem olhou pra mim. Estavam só as duas na cozinha.

“Berry e um banho frio.”

“Ah” E continuou fazendo, fosse lá o que estivesse fazendo.

“Berry, vamos trabalhar aqui ok? Beth e eu estamos fazendo alguns pães para conservar os grãos. Marley está na horta. Você vai lá ajudá-la. Ela vai te explicar o que tem que fazer. Depois vocês vão limpar a sala e a cozinha. Certo? Você pode começar seu relatório no tempo livre.”

“Por mim tudo bem.”

Santana me estendeu um prato com duas panquecas e um copo de café.

“Coma e vá logo.”

Não havia espaço para mim em uma discussão com Santana Lopez. Reparei nisso desde que ela desceu do carro, no instituto.