Blind escrita por Valentinna Louise, Komorebi


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Hey :)



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Quinn

Beth estava voltando pra casa. Por quê? Eu não sabia. Só sabia que um mensageiro da fronteira apareceu na mansão antes mesmo de amanhecer, avisando um comunicado do Instituto Pillsbury dizendo que Elizabeth havia se envolvido em uma situação extraordinária, adiantando assim o seu retorno pra casa. Fiquei extremamente apreensiva com isso. Nos avisou que dali a algumas semanas retornaria para avisar sobre a chegada de Beth. Santana logo se prontificou a ir buscar Beth.

Os buscadores de Fort Wayne haviam feito contato ontem à noite e estavam parados em Kettlersville e chegariam a Lima logo hoje ainda. Ou seja, começaria a missão dela.

Quando Brittany me contou sobre a missão, que disse que não aceitaria que ela fizesse algo do gênero. Mas reparei que ela havia decidido ir com ou sem a minha aprovação. Santana estava em constante nervosismo. Marley com certeza era a mais afetada pelas oscilações de humor dela. Eu as ouvia discutir direto, até Brittany intervir. Eu estava sempre afastada e minha única companhia era Sirius. Ele me seguia pra cima e pra baixo.

Mas até Sirius estava agitado. Até ele percebia a tensão.

Quando desci para o café, ouvi Santana chorar na sala. Não havia música, então ainda estava tudo escuro, a não ser pelas leves oscilações nos contornos. Não senti Brittany ou Marley por perto.

Me sentei na poltrona de frente pra ela.

“San?”

“Oi Quinn..”

“Onde estão Brittany e Marley?”

“A Rose ainda está dormindo e Britt está terminando de arrumar os equipamentos. Não se preocupe, ela já fez o café..”

“Não é com isso que eu me preocupo San.” Me levantei e fui para a cozinha. Em silêncio. E com ele aquela maldita escuridão, então tateei o balcão da cozinha até encontrar o rádio e ligar em uma música qualquer apenas para preencher o ambiente com aqueles míseros contornos.

Logo os passos arrastados de Santana apareceram. Segui tateando o balcão até encontrar a tigela de cereais e o copo de leite. Com isso, lembrei que havia conversado com Brittany sobre um provável racionamento de suprimentos. Teríamos que reduzir nossas porções até que isso pudesse ser revertido.

Santana estava nervosa e isso era notável, mas também queria a minha atenção, ou não faria tanto barulho assim só pra sentar.

“O que foi Santana?” Perguntei, me sentando.

“Brittany.” Ela falou baixinho.

“Não é a 1ª missão dela San.”

“Eu sei, eu sei ok? Mas ela nunca foi para aquele lado Q. Nunca! Nem cogitou isso... e agora aceita uma missão tão arriscada assim, na lata...? Quantas pessoas você conhece que foram até lá e voltaram?”

Fiquei em silêncio. E isso me traiu porque Santana bateu com força na mesa, fazendo com que eu pudesse ver a expressão desesperada dela. Os batimentos dela estavam muito acelerados.

“Sei que você pensou ‘nenhum’ Q., porque simplesmente ninguém volta.” Senti que ela iria começar a chorar.

“Santana, não estamos falando de alguém comum, e sim de Brittany. A mesma Dra. Brittany S. Pierce que foi crucial no nosso pelotão. A mesma Brittany que é extremamente competente e tem um instinto de sobrevivência invejável. Acima de tudo isso, ela te ama e ama a Marley. Ela vai voltar por vocês... antes que as duas se matem.” Dei um sorriso e ouvi Santana gargalhar.

O silêncio da conversa voltou à cozinha. Só ouvíamos o rádio. Até o ruído metálico da prótese de Marley preencher o ambiente.

“Bom dia..” Ela falou e Santana apenas deu um grunhido em resposta.

“Oi Marls..” Eu respondi.

“Onde está Brittany?”

“Terminando de arrumar os equipamentos.” Santana respondeu.

“Ah sim.” Marley logo se sentou e gemeu fracamente, chamando a minha atenção e a de Santana. San havia acolchoado novamente a prótese, mas não era o ideal. Marley ainda sentia dores.

“Já tomou seus remédios menina?” Santana perguntou.

“Já, mas o analgésico está acabando.”

Santana bufou alto. Então perguntou pra mim:

“Os seus remédios estão certinhos?” Eu não respondi.

Senti que Santana me olhava fixamente como se tentasse descobrir algo através da minha expressão facial. Não tomava os remédios. Não me faziam bem. As dores insuportáveis na cabeça era um dos efeitos do veneno.

“Oh merda.. Fabray! Você está tomando aqueles remédios não está? Eu juro, que se você não estiver eu vou enfiar todos eles na sua goela!”

“Não me trate como uma criança Lopez, sou imune às suas ameaças infundadas. Eu posso controlar minhas dores e deixar os remédios para algo mais grave. Eles me deixam letárgica, lenta. Já me sinto muito inútil sem precisar deles.”

Nem havia notado que estava nervosa e que havia levantado a voz.

“Ok Fabray, entendi. Agora, se acalma..” Santana me pediu, contida.

“Não me peça calma..” Me levantei rapidamente. Com isso, a tigela de cereais caiu no chão em um estrondo e se partiu e vários pedacinhos. Então, sem pensar, passei por cima dos cacos e fui para o quintal. Não prestei atenção em muita coisa, até trombar com o banco e me sentar nele. Foi aí que eu senti o cheiro de acre de sangue e a dor lancinante no meu pé. Gemi e comecei a me xingar.

Então o barulho de passos apressados vindo à minha direção e depois a voz preocupada de Brittany.

“Oh Quinn! Droga..”

Ela puxou meu pé, colocando-o em cima do banco. Eu gemi e senti que queria chorar de dor.

“Não foi um pedaço grande que entrou. Foi até superficial. Mas eu acho que vou ter que fazer pontos ok? Quer que eu peça pra San trazer a anestesia?”

“Huh.. não.. não precisa..” respondi, trêmula. Morfina deveria ser usada controladamente. E no meu pé, não seria necessário.

“Ok.. vai doer..”

Senti o líquido gelado e o cheiro característico de álcool veio forte pra mim. Além disso, a ardência no meu pé foi terrível. Gritei.

“Oh.. desculpe Q., me desculpe mesmo, mas eu preciso limpar pra poder retirar o vidro..”

“Ok, ok Britt.. Por favor.. Faça isso lo-huh-go..”

Brittany não falou mais nada. Mas eu a sentia mexer no machucado, para retirar o pedaço da tigela. Alguns minutos de agonia e ela parou.

“Pronto.. retirei. É pequeno até. Está tudo bem?”

“Sim, está Britt.. obrigada..”

“De nada Q. agora eu vou fazer os pontos ok?” Assenti fracamente. Mal senti Britt fazer os pontos. Acho que meu pé estava dormente.

“Bem, foram três pontos... já está fechado.”

“Valeu Brittany..” Respondi aliviada.

“Quinn, por favor, não faça isso de novo..” Ela estava falando sobre o meu pequeno surto na cozinha. Bufei. “É sério! Você já é bem grandinha pra que eu ou Santana tenha que ficar dizendo o que você deve fazer ou não. E você sabe que se não tomar seus remédios suas dores só vão ficar mais fortes e essas oscilações de humor ficarão mais frequentes. Por favor, Quinn, se não for por mim ou pela San, faça isso pela Beth, ou ela vai acabar virando, sem querer, um alvo da sua raiva.”

Brittany então se levantou e me deu um beijo na testa. E eu fiquei no quintal, pensando no que ela havia dito.

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Já era meio-dia quando os buscadores apareceram. Era um grupo de 5 pessoas, lideradas por um cara chamado David Karofsky, um ex-fuzileiro. Eles não demoraram muito. Na verdade, mal chegaram a entrar na mansão. A pedido de Brittany. Ela não queria prolongar a despedida. Santana estava chorando copiosamente. Eu estava dando um meio abraço pra ela porque com outro braço estava sendo agarrado por Marley, que também chorava. Eu não estava chorando, mas sentia aquela angústia de despedidas. Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a Britt nessa missão.

“Hey meninas.. parem.. sigam o exemplo da Q. que não está chorando..” Brittany falou. Eu sorri. Ela chorava também. As fungadas eram perceptíveis.

“A Fabray é uma cadela sem sentimentos, ela não conta.” Santana falou. Dei um tapa na cabeça dela por isso. Marley e Brittany sorriram.

“Marls, cuida da San ok? Ela pode parecer que não precisa, mas ela vive se sentindo sozinha... então parem de brigar e sejam amigas, pelo menos.”

“Ok Britt...” Marley falou fungando. Brittany a apertou em um abraço e depois veio falar pra mim.

“Quero que você pense no que eu te falei mais cedo.” E me deu um abraço também.

Então foi abraçar Santana. As duas não falaram nada. Apenas se beijaram. Eu me sentia feliz por elas, apesar de ser um momento triste. Quando se afastaram, Brittany falou:

“Dê um beijo em Beth por mim e diga que quando eu voltar eu vou ajudá-la com a pintura do quarto dela. E só pra lembrar... eu nunca deixo de cumprir uma promessa.”

Eu assenti. Ela voltaria. Então pegou a bolsa e saiu. Ficamos as três paradas na sala, até Santana bufar e se ajeitar. Marley saiu fungado e falando algo sobre ‘preciso de um hobby’. Eu me sentei no sofá. O pé havia parado de doer, mas latejava e eu não conseguia ficar em pé por muito tempo. Ótimo, além da cegueira, isso!

Acho que cochilei, porque ouvi vagamente Santana falar que ia mexer na cozinha e depois disso mais nada. Só que aí vem aquele maldito pesadelo.

No front eu avanço com o fuzil na mão. Vejo um grupo de inimigos e pego um granada e atiro na direção deles, e fico esperando só o inevitável. Até ver um soldado se virar na minha direção. Meu pai. Um segundo soldado faz o mesmo. Minha mãe. Então eu vejo. Beth. Santana. Brittany. Marley. Então, um clarão branco e eu não vejo mais nada. Só ouço os gritos.

Acordei em um sobressalto. Senti o suor descer pela minha testa. Esses pesadelos ficavam piores todas as vezes que eu passava por algum tipo de emoção forte. Provavelmente a despedida de Brittany e a noticia de que Beth voltaria foram as “desculpas” que minha mente precisava para me atormentar


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