Blind escrita por Valentinna Louise, Komorebi


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas..



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Rachel

Após sair da sala dos diretores, corri em direção a enfermaria. Esperava encontrar Beth lá para que conversássemos, porém quando cheguei lá, a enfermeira me disse que Beth havia recebido alta a poucos minutos e que provavelmente estaria em alguma aula.

Tentei procurar ela no dormitório, pois tive uma leve desconfiança que depois do que havia acontecido, Beth se esconderia de todos. Mas ela não estava lá. Então, fui procurar nos horários das aulas e reparei que Beth teria aulas de história então procurei pelas salas até encontrar a sala onde Mercedes estava em aula. Olhei para dentro e vi Beth sozinha, no fundo da sala, parecendo alheia ao que estava acontecendo.

“Srta. Berry!?”

Levei um susto com a voz estridente chamando meu nome. Me virei e encontrei o monitor que me avisou sobre a briga. Flanagan.

“Bom dia Flanagan..”

“Er.. O que a Srta. faz aqui, espionando as outras aulas..?”

“Procuro por Elizabeth..”

“Ah.. ela está em aula..”

“Eu já notei isso..” Respondi seca.

Ele abriu a boca pra falar algo, mas o sinal do término da aula soou e os alunos começaram a sair. Quando vi que todos haviam saído, menos Beth, entrei na sala.

“Hey Rach.. o que faz aqui garota?” Mercedes perguntou.

“Preciso falar com ela.”

Mercedes negou.

“Não posso deixar Rach. Essa menina vai te causar muitos problemas. Acha que já não estamos sabendo que você é a avaliadora dela?”

“Mercedes..Não é como se fosse algo que eu procurei pra mim. Eu quero apenas ajudá-la.”

“Eu te entendo Rachel, mas olha o rolo que você se meteu!”

Estávamos tão atentas a nossa conversa que só percebemos que Beth havia saído quando a porta se fechou.

“Droga!” Falei olhando pra porta.

“Rachel, por favor, use a cabeça. Elizabeth Fabray tem um histórico familiar um pouco conturbado... você vai para a casa dessa garota como uma intrusa.. acha que isso não vai ter problemas?”

“Como assim ‘histórico familiar conturbado’?”

Mercedes suspirou profundamente e falou.

“Você sabe que todos os alunos que entram aqui passam por uma espécie de interrogatório sobre a família?” Assenti. “Todos os professores têm acesso a esse interrogatório.. é um dossiê familiar. Fui procurar o de Elizabeth assim que soube da decisão dos conselheiros. Elizabeth é filha de uma militar. Lucy Quinn Fabray, uma ex-premier condecorada e atualmente militar reformada. Foi considerada perigosa após um surto que teve no centro de suprimentos. Elizabeth também vive com Santana Lopez e Brittany Pierce. As duas eram do mesmo batalhão que Quinn Fabray e saíram do exército junto com ela. E um grande adendo: Quinn Fabray conserva uma grande ferida de batalha: Ela é cega.”

“Como?”

“Ela é cega. Acho que foi por isso que ela foi afastada do exército. E também pelo que sei, ela passou quase 10 anos sem conviver com a filha...”

Não conseguia imaginar como a Fabray passou tanto tempo longe da filha.

“Mercedes.. por que está me dizendo isso?”

“Você vai pra casa de uma família que literalmente viveu os horrores da guerra. É uma família destruída. Você, melhor do que ninguém sabe o que é ter uma parte da sua vida levada pela guerra. Elizabeth teve praticamente a vida inteira levada pela guerra, assim como a mãe dela. Você está indo pra lá como uma ameaça. Porque caso sua avaliação não seja positiva, você vai acabar definitivamente, com o que elas ainda têm. É muita responsabilidade Rach.”

Sentei no chão e abaixei a cabeça. Mercedes tinha razão. Era muita responsabilidade.

“Você tem tempo.. pode pular fora e deixar que esse problema para outra pessoa. Esse não é um fardo pra você Rachel.”

Levantei e olhei para Mercedes.

“Não sou do tipo que foge das coisas, Mercedes. É uma grande responsabilidade, sim é. Mas eu vou arcar com ela e fazer de tudo para que tudo dê certo. Tenho certeza que a família dela não precisa de mais sofrimento.”

“Rachel.. seja sensata.”

“Eu estou sendo muito sensata Mercedes. Agora se me der licença eu preciso ir.”

E saí.

Meus amigos não acreditavam que eu poderia assumir tamanha responsabilidade. Ótimo. Eu provaria pra eles que estavam todos errados.

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1 mês passou mais rápido do que eu imaginei.

Quando notei já era o dia de sairmos do instituto. Beth não falou muito comigo durante o mês. Eu sentia que ela estava se afastando de mim.

Não sabia quem viria nos buscar, mas saímos cedo e fomos até o hall de entrada do instituto. A Srta. Pillsbury nos acompanhou. Beth fez o caminho inteiro em silêncio e com a cara fechada.

De repente, ouvi um barulho alto e vi um carro se aproximando. O que foi uma surpresa. Raramente eu via carros pelas ruas. As pessoas utilizavam os transportes públicos, pois eram de 1ª linha. Só gente muito importante tinha carro.

Mas aquele era diferente. Parecia uma miniatura de um tanque de guerra. Todo verde e com as janelas vedadas.

Ao ver o carro parando na entrada do instituto, Beth esboçou um sorriso triste. Então alguém desceu do carro. Uma mulher alta, de cabelos pretos e pele morena. Seria a mãe de Beth? Provavelmente não. Lembrei do outro nome que Mercedes havia me dito naquela conversa. Santana Lopez. A mulher que vinha do carro tinha traços latinos. Só poderia ser ela.

Ela vinha vestida com uma calça Jeans preta, botas e um casaco de couro. Fazia uma pouco de frio. Ela subiu até as escadas e parou. Não entrou no hall. Estranhei. Então Beth correu até ela e praticamente pulou no colo dela. A mulher apertou Beth nos braços. Olhei para Srta. Pillsbury e olhei novamente para as duas ainda abraçadas. Não ousamos interromper o momento. Então a mulher colocou Beth no chão e olhou para nós duas. Eu me aproximei e ela nos mirou de cima a baixo.

“Qual das duas é que vai com a gente?” A voz dela era baixa e parecia estar com raiva.

Dei um passo a frente e me apresentei.

“Sou eu, Rachel Berry. Sou a professora de música de Beth.” E amiga. Mas não disse isso.

“Não mais.” Ouvi Beth dizer baixinho. Não havia notado, mas ela estava chorando. “Ela agora vai ser a minha avaliadora. Só pra ferrar com a minha vida.”

As palavras de Beth foram simples, mas doeram.

“Beth não-..” Tentei falar e ela me interrompeu.

“Só fingiu gostar de mim para que depois procurar um jeito de me ferrar. Vai me tirar da minha família. Era isso que todo mundo sempre quis! Você é igual aos outros!”

Então ela correu para o carro e entrou. Meu coração se apertou com as palavras de Beth. Então a mulher se virou pra mm e disse.

“Sou Santana Lopez, e já não gosto de você.” Deu as costas seguindo para o carro.

A Srta. Pillsbury em silêncio até então, falou.

“Boa sorte..”

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Foi estranho sair do Instituto daquele jeito. Seguimos em silêncio até o final da avenida que dava nos portões da fronteira. Eu nunca havia estado ali. Era esquisito. Notei que pela primeira vez aquilo, aquela fronteira, me dava uma sensação de prisioneira. Santana mostrou um documento ao guarda na guarita e ele abriu os portões.

Assim que o carro passou, eu senti a atmosfera do lugar mudar. Era como se eu estivesse em qualquer outro lugar. Era impossível acreditar que aquela parte completamente desolada era Lima também.

O silêncio massacrador da rua me chamou a atenção. Não havia pessoas fora das casas. Ou talvez, nem houvesse pessoas por ali. O carro entrou em uma alameda ladeada por casas grandes, mansões na verdade, porém todas tinham o mesmo ar abandonado. Ouvi Beth se remexer inquieta no banco de trás, mas não me virei pra ver. Fiquei em silêncio o caminho todo enquanto ela e Santana falavam coisas triviais.

Santana parou o carro e foi abrir os portões de uma casa murada, enorme. Logo entrou e só parou o carro novamente de frente pra casa. Vi a porta da casa abrir e uma figura loira aparecer. Nem deu tempo de olhar direito. Santana me segurou dentro do carro enquanto Beth saía e corria na direção da figura.

“Alguns avisos Berry, antes de você entrar na casa. Além de Beth, existe outra ‘criança’ nessa casa. Ela não foi certificada e a documentação dela, digamos, não foi feita da maneira mais correta. Tecnicamente para o governo ela não existe. E eu prefiro que continue assim. Ela é uma garota que precisa de cuidados especiais e isso ela não teria se fosse mandada para algum asilo governamental ou coisa parecida. Segundo ponto, por tudo que você considere mais sagrado, tente não agir feito idiota perto da Quinn. Ela é cega, mas digamos que ela tenha uma espécie de sexto sentido. Ela consegue ouvir até seus batimentos cardíacos. Assim também peço que ignore, esqueça qualquer coisa que você saiba sobre ela. Tenho certeza que o que você sabe é sobre aquele incidente no centro de suprimentos. Esqueça. Não a incomode, não a perturbe. Não entre no quarto dela e nem na biblioteca enquanto ela estiver lá, a não ser que queira voltar para o instituto em um saco preto. Estamos entendidas?”

Não sei em que momento começou, mas quando a Lopez terminou de falar eu estava tremendo. Assenti em silêncio. Ela fez a menção de soltar o cinto e depois se virou rapidamente pra mim outra vez.

“E eu espero que você não tenha alergia a cachorros...”

E saiu. Fiquei respirando lentamente no carro, tentando processar as informações que foram jogadas em mim. Outra menina na casa que precisava de cuidados especiais. OK. Esquecer qualquer coisa que eu tenha escutado a respeito de Quinn Fabray. OK. Ela é cega. OK. Tem um ‘sexto sentido’. OK. Havia um cachorro na casa. OK. Eu poderia voltar pra casa em um saco preto. OK.

Eu senti o gosto de bile na minha boca e então Santana bateu na janela do carro e fez sinal para que eu saísse. Desci do carro e olhei para a porta. Beth e a figura, que agora eu notava que era uma mulher, continuavam abraçadas. Santana pegou a bolsa de Beth e caminhou na frente. Vi as duas se soltarem do abraço e a mulher fazer uma careta. Ela não olhava pra mim ou para Santana. Ela tinha uma expressão de que olhava para o nada. Aquela então era Quinn Fabray. Ela baixou os olhos na nossa direção quando nos aproximamos. Então Santana falou:

“Temos uma hóspede Fabray. Acho bom você se esforçar pra não ser ranzinza durante um mês. Rachel Berry, esta é Quinn Fabray. Q., essa aí é Rachel Berry, professora de música da Beth e uma avaliadora do instituto.”

Quinn Fabray se virou pra mim com o rosto impassível. Eu ia estender o braço para cumprimentá-la quando me lembrei do aviso de Santana. A expressão séria se anuviou de repente. Notei que ela era uma mulher muito bonita, pra quem um dia foi uma soldada de elite. Se eu a visse em qualquer outro lugar, diria que é uma modelo, ou uma atriz. Mas há algo nas feições dela que mostram a dureza daquilo que enfrentou. E os olhos. Se Santana não tivesse me dito, eu jamais saberia que ela era cega. Os olhos eram castanhos, levemente esverdeados. Ela deu dois passos a frente e me estendeu a mão.

“Prazer em conhecê-la, Srta. Berry. Eu espero que não se importe, mas eu vou aproveitar um pouco esse retorno repentino da minha filha. Depois conversaremos. San, leve a Srta. Berry a um dos quartos de hóspedes ok? Veja se tem lençóis limpos lá.”

Eu apertei a mão dela, em silêncio, e ela soltou rapidamente, se virando e seguindo para dentro da casa. Olhei para o lado e vi Beth me encarando, logo depois ela fez o mesmo que a mãe.

“Ela é intimidadora não é?” A Lopez deu um sorrisinho de lado. Tinha certeza que estava debochando de mim. “Venha Berry.”

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A casa era tão grande por dentro quanto era por fora. A sala era enorme e uma escadaria de madeira ocupava uma parte. Uma música baixa tocava em algum lugar da casa. Havia duas portas perto da escada. Uma onde eu vi ser a cozinha e a outra estava fechada. Santana seguiu na frente, subindo a escada. No patamar da escada ela deu um grito:

“MARLEY!!”

Ouvi uma porta batendo e alguns minutos depois uma menina apareceu no alto da escada. Ela era a garota com condições especiais. Ela usava uma prótese na perna esquerda. Não entendia muito de medicina, mas sabia que aquela prótese era um modelo muito antigo. Ela era uma adolescente de cabelos pretos e olhos azuis. A cada passo dela, eu conseguia ouvir um rangido metálico.

“Já chegou? Onde está a Beth? Quem é essa daí?”

“Uma coisa de cada vez menina. Beth está com a Q. e essa daqui é Rachel Berry, uma professora dela. Depois te explico melhor. Veja se no armário do meu quarto você encontra lençóis limpos e leve-os para aquele quarto ao lado do seu ok?”

“Hum. Tudo bem..” e ela saiu novamente.

“Viu o que eu falei? Apesar disso, Marley age como uma adolescente normal. E se deixar, ela é capaz de sair fazendo acrobacias por aí. A prótese nunca foi um impedimento ou uma limitação pra ela.”

“Entendi. Mas..” Ela me interrompeu.

“Sem perguntas por hora Berry. Vamos ver no que dá sua conversa com a Quinn, aí sim você terá suas respostas.” E seguimos para o quarto.

Marley já havia deixado os lençóis sobre a cama e então Santana parou na porta e falou pra mim.

“Se acomode, e caso precise de alguma coisa, chame a mim.”

“Obrigado, pela gentileza.”

Ela sacudiu a cabeça, rindo.

“Não estou fazendo isso por gentileza Berry.” E saiu.


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Notas finais do capítulo

E então..? Vi que capítulo passado não teve nenhum review..
Se a história não está agradando, comente sua crítica também. Ela pode ajudar a melhorar..
Até o próximo!



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