Blind escrita por Valentinna Louise, Komorebi


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas :)
Se alguém tinha dúvidas a respeito do título da história, a resposta está aqui.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/562836/chapter/2

Quinn

Os zumbidos me acordaram mais uma vez. Mal consegui ouvir o despertador. O som alto reverberava por toda a casa. Com certeza era coisa de Santana. Ou de Brittany. Me levantei e suspirei.

Calcei as sandálias e tateei a cômoda à procura da bengala. Abri e me levantei da cama, seguindo em direção à porta do quarto. Achei que o barulho me atrapalharia. Pelo contrário, estava tudo mais claro, se é que poderia colocar as coisas dessa maneira.

Outro som, repetitivo e conhecido logo sobrepujou a música. Me virei no corredor.

“Bom dia Marley.”

“Bom dia Quinn, como está?”

“Bem.. sem dores por enquanto. E você?”

O leve rangido metálico fazia com que eu a ‘visse’ olhando pra mim.

“Estou me sentindo bem.. só essa sensação estranha, a casa vazia agora que a Beth está no Pillsbury.”

Um aperto no peito me fez suspirar. Fazia 3 dias que Beth havia ido para o Instituto Pillsbury, e eu já estava contando os dias para o dia da volta.

“Eu também sinto isso, Marls, mas logo passa, fica vendo... daqui a pouco ela vai estar de novo pulando pela casa com Sirius e bagunçando tudo.” Dei um sorriso triste e Marley falou:

“Espero que sim.” A música alta foi trocada. Reconheci os primeiros acordes de uma música velha. Sorri. A voz de Adele tinha como backing vocals Santana e Brittany cantando alto o refrão de Set Fire to The Rain. “Caramba, elas esquecem que existem outras pessoas nessa casa?”

Gargalhei com o jeito indignado de Marley.

“Deixa elas, é Adele. E Santana sempre foi uma cantora enrustida. Se não tivesse ido para o exército tenho certeza que teria feito sucesso cantando. Vem, vamos ver o que tem de café da manhã..”

Descer as escadas sempre era um suplício. Tanto pra mim quanto pra Marley.

No meu caso, o barulho dos meus passos atrapalhava meus sentidos. Para Marley, a prótese estava se desgastando e ficava cada vez mais difícil dobrar o joelho. E eu tinha quase certeza que o encaixe da prótese a estava machucando, porém ela não dizia nada.

Ela soltou um gemido no último degrau e depois seguiu para o sofá. Nesse momento o som cessou. E aquela escuridão apareceu novamente pra mim. Eu odiava isso, então bati forte com a bengala no corrimão de ferro e o som se fez presente novamente, fazendo com que eu pudesse ‘ver’. Então ouvi passos vindos da cozinha.

“Hey Q.”

“Bom dia Brittany” Ela passou por mim e deu um beijo na testa de Marley.

“Bom dia Marls..”

“Oi Britt...” a voz dela saiu falhada, quase um gemido.

“Marley.. o que houve?” Brittany perguntou preocupada.

“Não é nada.. é que acho que almofada de gel está desgastada. E a prótese está começando a ficar incômoda, mas não se preocupa, eu vou colocar uns panos pra amortecer e..” . Brittany tentou se aproximar para ver qual era o problema da perna, mas Marley a afastou. A sentença se tornou um resmungo com um novo barulho

Mais passos vindos da cozinha.

“Fabray.”

“Lopez.”

“E aí Marls..” Marley apenas acenou de volta. Brittany ainda parecia preocupada. “Quer que eu ligue o rádio novamente Quinn?”

“Por favor, San...” Ela assentiu e ligou novamente o rádio. A música era indiscernível, mas o som baixo já ajudava a me localizar.

“O que aconteceu Brittany?” Santana perguntou.

“Marley está machucada..” Brittany falou em um choramingo e eu ouvi Marley bufar. Eu estava de figurante nesta cena toda.

“Eu não estou machucada! É só um incomodo, logo passa.” Ela fez uma careta emburrada.

“Marley Rose, tire a prótese.” Santana falou duramente. “E não me faça repetir isso.”

Marley resmungou e ouvi o barulho irritante de alguém batendo o pé repetidamente no chão. Brittany estava aflita.

Os rangidos foram rápidos e logo em seguida o cheiro característico de sangue preencheu a sala.

“MARLEY! Olha isso! San, pega pra mim a maleta de primeiros socorros. Droga menina, desde quando está assim?”

Brittany falou nervosa. Santana logo saiu e voltou, minutos depois, com uma grande maleta. Eu saí, fui para a cozinha. Não sabia o porquê, mas depois que saí do front me sentia mal ao sentir o cheiro de sangue. A cozinha cheirava a panquecas e tinha um odor enjoativo de diesel do gerador. Passei a mão sobre a bancada e encontrei o prato coberto. Brittany fazia isso pra simplificar as coisas pra mim. Sempre deixava no balcão um prato de comida, coberto. Ao lado, um copo de café. Levei ambos para a mesa e arrastei a cadeira. A sala ficou em silêncio e eu só conseguia ouvir os choramingos de Marley. Minutos depois Brittany passou pisando duro pela cozinha e indo em direção ao quintal. Santana veio logo em seguida, com Marley, porém sem os rangidos metálicos. Ela estava sem a prótese.

Ela se sentou e Santana lhe entregou um prato com panquecas e café. Os pequenos ruídos. O prato batendo, Santana bufando, o arrastar da cadeira. Tudo isso era perceptível. Mas no geral estávamos em silêncio. Até Brittany reaparecer na cozinha.

“Vou sair. Marley obedeça a Quinn e Santana, não faça nenhuma bobagem. Volto logo. Amo vocês.” E saiu antes mesmo que pudéssemos dizer alguma coisa.

“Qual é o problema?” Perguntei.

“Marley deixou Brittany triste. Além disso, ela acha que deve sair em uma missão nos próximos dias.”

“Busca?”

“Sim.”

“Do quê?”

“É melhor você perguntar a ela Quinn.” Santana se levantou e foi para o quintal.

“Mas que diabos está acontecendo aqui hoje?” Perguntei batendo na mesa. Com isso, reparei que Marley me fitava assustada. “Me desculpe.”

“Tudo bem.”

Terminamos o café em silêncio. Me levantei e Marley continuou sentada.

“Quer ajuda?”

Ela resmungou alguma coisa ininteligível. Maior parte do tempo, Marley não demonstrava ter a idade que tinha, mas às vezes agia exatamente como uma adolescente birrenta de 15 anos.

“Marls, vem, apoia uma mão na mesa e a outra no meu ombro.”

“Não Quinn, não precisa, sério eu dou conta..” Então ela se levantou e o esperado aconteceu. Ela se desequilibrou e se não fosse por mim teria caído com tudo no chão.

“Dá conta..”Bufei e ajudei a ir para o quintal. Senti o calor contra a minha pele e uma leve claridade tomou conta. Não me acostumaria nunca com o fato de não poder ver mais as cores, apenas nuances de luz.

O barulho de uma serra elétrica tomou conta do espaço. As imagens tremidas normalmente agora eram uma mistura de linhas sem direções. Fechei os olhos e pedi os óculos para Marley. Ela puxou uma caixinha e me entregou. Santana vivia me perguntando pra quê usá-los. Nem eu sabia responder. Talvez a sensibilidade. Sentia meus olhos arderem de vez em quando, principalmente quando ficava ao sol. Brittany sempre me examinava pra ver se havia algo de diferente. Nada.

Eu também não entendia como foi que desenvolvi esse radar. É como se eu não estivesse cega, e apenas uma película estranha recobrisse meus olhos, fazendo com que eu não visse as cores. Mas não era exatamente assim. Eu só podia ver onde houvesse som. Qualquer som. A reverberação das ondas sonoras me fazia ver as formas. Brittany não entendia isso, mas achava que deveria ter sido alguma espécie de efeito colateral do veneno.

“O que está fazendo San?” Tive que gritar contra o barulho alto da serra.

“Vou ver se consigo consertar aquele telhado do sótão.. sério, é horrível acordar com a luz do sol batendo diretamente na sua cara... acho que fiquei uns dois tons mais escura em um lado do rosto nesses meses.”

“Isso foi ofensivo..”Marley disse.

“Calada Branquela.. Brittany ainda não voltou e isso é culpa sua. Você deveria ter mostrado esse machucado antes. Agora ela vai ficar cheia de complexos se achando a criatura mais negligente do universo quando na verdade a negligente é você! Menina burra...”

Ouvi Marley fungar e sabia que ela estava chorando. Santana estava exasperada. Estava nervosa com Marley por causa dos machucados com a prótese e porque agora Brittany ficaria se sentindo culpada por não ter percebido isso antes. E eu estava triste, porque queria Beth comigo e agora ela estava do outro lado daquele maldito muro.

–-------------------------------------------------------------------------------------

Brittany apareceu algumas horas depois. Enquanto Santana arrumava o telhado, Britt me chamou até a biblioteca. Deu pra notar que ela estava nervosa. As batidas do coração estavam aceleradas e ela estava ofegante.

“Britt? O que está havendo?”

“Quinn, lembra que eu falei com você sobre a possibilidade de existir um antídoto para o veneno que causou a sua cegueira..?”

“Sim, me lembro, mas você disse que era uma possibilidade muito remota, e que talvez esse antídoto fosse apenas um boato..”

“Então, há alguns dias atrás, consegui o sinal de uma equipe de buscadores que estão rumando para Washington. Nesta equipe eles têm um dos cientistas que desenvolveu o antídoto. Eles vêm de Fort Wayne e irão parar aqui em Lima. Vou me juntar ao grupo e trazer o antídoto pra você Quinn.”

Fiquei em silêncio durante alguns minutos, pensando. Washington fazia parte da zona proibida. Isso queria dizer que durante a guerra, essa zona foi atacada diretamente e completamente destruída. Há uma grande nuvem toxica sobre essa zona. E ela se estende por praticamente toda a costa leste.

“Brittany, Santana sabe que você quer sair em uma missão suicida?”

“Ela sabe.” Brittany suspirou audivelmente. “e disse o mesmo que você..”

“Não posso deixar que faça isso Brittany.. é arriscado demais. Não precisa fazer isso por mim..”

“Não é só por você Quinn, é por todas nós. Conseguimos ver seu sofrimento em se adaptar a uma vida sem cores e sem nada, tendo que depender de sons para ‘ver’. Eu irei daqui a um mês.”

“Não há nada que eu diga ou faça que vá te impedir de fazer isso?”

“Não, além disso, posso conseguir suprimentos para nós e até material para uma nova prótese para Marley.”

Suspirei. Brittany era corajosa. Mas eu não conseguia achar uma missão suicida um ato de coragem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Novos personagens vão aparecendo aos poucos.
Santana, Brittany e Marley são parte da "família" da Quinn.
Deixe seu review e diga o que achou.
Até o próximo :*