Call Again escrita por Clara Luar


Capítulo 9
Fim?


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos por ainda acompanharem essa história. Retomo grata com o apoio de cada um de vocês, que trouxeram de volta minha vontade de concluir essa história tão doce e tão real.
Espero que aproveitem a leitura ♥



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Desde que o conheci, Isac é parte importante da minha vida. Não como namorado — mesmo que eu só o tenha conhecido quando ele declarou seus sentimentos por mim. Não. Zack foi o meu melhor amigo. Lanchávamos juntos, auxiliávamos um ao outro nos estudos e frequentávamos os mesmo lugares nos finais de semana. Ele é PhD em tudo o que diz respeito a mim, e eu o conheço como a palma da minha mão. Até quando conheci outros caras e me aventurei pelos caminhos tortuosos do amor, ele esteve ao meu lado. Juntos para sempre era uma frase que nos definia muito bem, embora um casamento nunca estivesse em nossos planos. Para que estaria? Amizade não exige laços matrimoniais, burocracias ou promessas vazias. Bastava que fosse verdadeiro e seriamos Zack e Blair até o fim.

E o fim chegou quando eu ainda lutava para restaurar o que nos uníamos. Embora o que sentíamos um pelo outro fosse verdadeiro, fosse amor, chegamos ao fim — foi o que descobri naquelas três palavras: Eu estou namorando.

— Blair? Ainda está aí?

A voz que antes animava as borboletas em meu estômago, agora só transbordava lágrimas do meu íntimo.

Inspiro e expiro a fim de controlar a angústia, mas isso era uma tarefa hercúlea.

— Você... Não pareceu estar namorando quando saímos há três dias — consigo dizer, juntando toda força para fingir-me menos trêmula. Isto, entretanto, não tornava menos doloroso pensar que todo o afeto que imaginei estarmos compartilhando naquela noite era fingimento.

— Eu não estava. É a partir de hoje que sou um cara comprometido.

— Está brincando comigo? Por que isso agora? Tão de repente? — emendo as perguntas que brotam em claro sinal de frustração.

— Pode parecer, mas não é repentino. Ela já havia se declarado antes, eu apenas aceitei hoje.

A simples menção à garota que o roubou de mim faz brotar um fervor dentro de mim, inexplicável.

— Quem é ela? — pergunto, mais inquisitiva que deveria.

— Isso importa?

— Se você está contando isso para mim hoje, antes das aulas voltarem, o mais provável é que eu a conheço e que está com medo do que posso pensar quando eu os vir juntos — digo sem parar para um soluço se quer e com habilidade que até me estampa ao não pronunciar todos as palavras feias que imagino que a fulana mereça.

 Ciúmes era algo novo para mim, porém aprecio como o recém descoberto sentimento faz-me esquecer da dor e da frustração, mesmo que por esses breves minutos. Em meu íntimo, é como se a culpa por meu sofrimento fosse totalmente da outra e ataca-la aplacasse a fúria e trouxesse de volta a harmonia que reinava entre mim e Isac.

E ele parece tão espantado quanto eu em relação à minha reação. Não sei se está desapontado ou engrandecido, mas Zack não responde de imediato.

— Apenas pensei que merecia minha consideração — diz por fim, e desliga sem ouvir minha resposta.

Consideração? Era tudo o que eu merecia depois do que vivemos e apesar do que sentimos?

Atiro o aparelho na cama ao som da ligação encerrada, abrindo mão das últimas gotas de irritação. Largo-me em seguida ao colchão, outra vez embrulhada pelo breu do quarto. Miro o teto enfeitado por estrelas adesivas que deveriam brilhar no escuro — mas já passara a validade por isso mais parecem fogueiras apagadas.

 Tento controlar a respiração, colocar os pensamentos em ordem. É triste perceber, mas era fato: o que sentíamos um pelo outro já não existia mais. Não importava o quanto eu tentasse, ele agora estava envolvido com outra, e, embora eu o ame, não tinha direito de intervir em seu novo relacionamento — Zack nunca o fez em meus namoros. Assim, eu estava obrigada a desistir desse amor que tanto quis preservar e fazer perseverar, e a única culpada era eu mesma por não ter percebido antes o quanto magoava-o e o quanto amava-o.

Penso se quando o recusei, há três anos, Zack também sofrera tanto quanto eu nesse instante.

Encolho-me, abraço-me aos lençóis e choro baixinho até adormecer.

~♥~♥~♥~♥~♥~

— Devíamos ter ido à Machu Pichu nessas férias — comenta Lince, sentando ao meu lado na mesa mais afastada da cantina.

No intervalo, os alunos habitualmente se dividem entre os bancos do espaço de concreto que abriga a cantina terceirizada do colégio e as quadras de esporte onde são permitidas a prática de vôlei e futsal nessas horas. Como não gosto da cacofonia, sempre refugiei-me sob a copa frondosa da árvore mais antiga plantada na escola. Não são muitos os que apreciam a calmaria dos jardins, por isso é possível apreciar os raios da manhã em paz. Hoje, porém, insisti para que minha amiga me acompanhasse na cantina, longe das lembranças de Zack que aquelas folhas verdes guardavam. Não queria encontrar meu ex-melhor amigo — estava evitando-o ao máximo.

Oi?

Desprendo os olhos do sanduíche natural — desembrulhado mas intocado — a fim de encontrar as sandices que Lince proferia.

— Oras! As aulas mal começaram e você já está assim, derrotada. Devíamos ter feito um retiro espiritual para que essa aura negativa a sua volta fosse embora.

— Não foram as aulas que me derrotaram, sabe disso.

Desanimada, volto os olhos para os pepinos não temperados presos entre duas fatias de pão integral, amparados apenas por uma folha de alface igualmente sem graça. Comparado aos pães deliciosos que Isac trazia para mim, o empenho da minha mãe tinha gosto de nada. Nem mesmo amor materno levava sabor às papilas gustativas.

Suspiro.

 — Não devia ter deixado minha mãe preparar meu lanche. Jamais imaginei que Zack estivesse tão presente na minha vida a ponto de sem ele não ter se quer algo descente para comer.

— Fala sério, amiga! — brada ela, revirando os olhos. — Zack não é o único cara dessa escola, cidade ou planeta. Assim até parece que é incapaz de respirar sem ele.

Faz-me embrulhar o sanduíche e aceitar seu cookie de gotas de chocolate.

— Viva a bad o quanto precisar, mas lembre-se depois de levantar, sacudir a poeira e seguir em frente.

Olho-a admirada. Zack nunca fora o único amigo ao meu lado, afinal. Não importando por quem eu estivesse apaixonada, Lince também aguentava meus altos e baixos, rindo e encorajando. Era ótima amiga e não merecia que eu lhe enchesse os ouvidos com tantas lamúrias.

— Obrigada — improviso um sorriso.

— Se aguentar sobreviver à semana sem choramingar pelos cantos te recompensarei com um belo split do Queen.

— Seus cookies já são uma recompensa. Nem parece vegano — comento enquanto delicio-me com o chocolate que derrete sobre minha língua.

— Porque não é. Essa vida sem qualquer produto animal não é para mim — torce o nariz, formando uma careta engraçada.

Começo a rir, porém, o pouco ânimo que reúno logo se esvai ante a figura que vejo adentrar a cantina. Não importa se são muitos os alunos perambulando à minha frente, nunca tive problemas para reconhecer seu corpo esguio, os cabelos ondulados sempre desalinhados ou a aura acolhedora que paira ao seu redor a cada sorriso cantado. É mesmo Zack quem entra, conversando com uma garota aninhada ao seu corpo, ambos amistosos e sorridentes.

 Vendo-me estática, Lince acompanha meu olhar.  Demora um pouco para encontra-los, mas assim que o faz, volta-se para mim boquiaberta.

— Aquela é a Claire?! — chocada, sua voz sai esganiçada. — Não acredito que ela é a namorada dele!

Ouvi-la confirmar o que vejo é o estopim para o revirar em meu estômago. O ciúmes também acende, esquentando-me até as orelhas e fazendo as palmas suarem.

— Namorar a amiga de infância é tão clichê que nem as comédias românticas usam isso como tema mais! O que Zack tem na cabeça para te trocar por ela?!

Lin continua, mas não a ouço. Meus olhos estão vidrados na figura feminina rodilhada na cintura de Isac, balançando seu rabo de cavalo ruivo a cada passo.

Capitã do time de vôlei, Claire é bem desenvolvida, com corpo atlético e pernas longas, igualando com Zack em altura e ganhando de mim no quesito sociabilidade. Nunca ouvi alguém reclamar de seu comportamento e os professores costumam elogiar suas respostas.

Para Lince, contudo, magoar uma amiga colocava quem quer que fosse o responsável em sua lista negra. Por isso, a essa altura destilava seu veneno sem medo de retaliações.

Eu, entretanto, só pensava em fugir dali.

— Vamos embora — digo já levantando da cadeira.

Embora estivesse claro que eu segurava-me para não transbordar em lágrimas, Lince me impede de deixar a cantina, agarrando-me pelo pulso, a voz firme:

— Não vamos, não. Sei que é difícil para você aceitar que acabou, mas não vai conseguir evita-los para sempre, Blair. A melhor forma de superar é encarando.

Enquanto Lince encoraja-me com suas íris acinzentadas, pressinto-o e não disfarço minha dor quando Zack passa por entre duas mesas. Tão perto, reconheço seu cheiro de limão e açúcar no ar. Seu sorriso chega a vacilar ao olhar para onde estamos, e assim sei que notou-me. No entanto, o encontro de olhares não dura um segundo. Isac vira-se e continua a caminhada ao lado de Claire.

Eu já não tinha direito a se quer um Oi.

— Eu quero morrer... — Jogo-me na cadeira, as mãos cobrindo o rosto.

— Desculpa, miga. Quando falei em “encarar”, não imaginei que ele estava passando bem atrás da gente...

— Eu que sou uma idiota. A culpa é toda minha.

— A culpa não é de ninguém. — Lince afaga meu cabelo, carinhosa. — Você pode tê-lo magoado, mas logo correu atrás, lutou para dar certo. O problema é que não dá para forçar alguém a ficar com a gente.

— Agora eu sei. Mas dói, Lince — choramingo.

— Amar é assim mesmo: pode ser um mar de rosas, porém, às vezes esbarramos em espinhos.

O sinal toca e somos obrigadas a dar por encerrada a conversa. Minha amiga, então, acompanha-me ao banheiro — onde lavo o rosto —, e nos unimos ao mar de alunos de volta às salas. Agradeço ao azar que tenho de nunca cair na mesma sala que Zack — não aguentaria vê-lo novamente hoje.

Lince deixa um pacotinho de lenço com cheiro de lavanda na minha carteira antes de sentar na cadeira ao lado. Agradeço o gesto com um sorriso discreto.

Não demora muito para a professora chegar e silenciar os burburinhos na sala.

— Vamos lá, pessoal, só faltam duas aulas! — começa Sra. Abgail, com humor. — Não era minha obrigação, entretanto, apresento-lhes o aluno transferido, que chegou já no primeiro dia atrasado. Começando com pé esquerdo, hein, senhor Benjamin? Entre e se apresente.

Ainda uma confusão de emoções por dentro, não dou a mínima para o aluno novo. Tiro um lenço do pacotinho, corto um pedaço quadrangular dele e começo uma dobradura. Primeiro um triângulo, depois um quadrado. Se algo me acalmava eram os trabalhos manuais. Entre um flash e o outro da cena que presenciei na cantina, dobro um a um tsurus.

Se quer percebo o novato sentar na cadeira sempre vazia atrás de mim. Mas ele faz questão de que eu o note, aproximando-se:

— Nunca soube que gostava de origami, Blair.

Sua voz em minha nuca faz meus pelos arrepiarem, e viro-me intrigada. Quando encontro seus olhos verde brilhantes, porém, sou tomada pela surpresa.

Ben?


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Notas finais do capítulo

O ex de Blair volta ao vivo e a cores para a vida da nossa protagonista! O que acharam dessa reviravolta na relação de Zack e Blair?? Deixe nos comentários!
Obrigada por ler ♥



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