Call Again escrita por Clara Luar


Capítulo 10
O primeiro amor a gente nunca esquece.


Notas iniciais do capítulo

Ola. Bem-vindos de volta! Gostaram da capa nova?
Sente-se e fique a vontade...



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Nas duas últimas aulas do dia, mal pensei em Zack. Embora a completa rejeição do meu ex-melhor amigo tenha destroçado meu coração, havia outra pessoa ocupando meus pensamentos. Mesmo agora, na volta para casa, vejo-me encurralada por sua presença. Por que tínhamos que morar na mesma direção?

O vento trás o perfume amadeirado de sua colônia até mim. Olho-o de soslaio, ainda desconfortável com seu retorno. É estranho vê-lo andar ao meu lado, quando imaginava jamais encontra-lo outra vez.

Com um gingado incomum no passo esquerdo, Benjamin parece mais alto que eu me lembrava — também, os garotos crescem em uma velocidade invejável. Seus braços estão mais fortes, o que faz-me imaginar se entrara em alguma academia ou ainda fazia parte do time de basquete da cidade. O rosto ainda é jovial, os cabelos louros estão curtos como antes e reconheço em seu pulso a mesma tira de couro de quando namorávamos.

— Tem algo de errado com o meu rosto? Você está me olhando há tempos — ele quebra nosso silêncio, alheio a confusão em meu interior.

— N-não! — pega no flagra, gaguejo sem querer.

Fugindo do seu olhar, enfio fundo as mãos nos bolsos do moletom com pompom. Tento esconder-me sob os cabelos recém-cortados, e meu gesto envergonhado provoca uma risada sonora no companheiro de caminhada.

— Você fica tão fofa quando está com vergonha — continua sorrindo.

Ben sempre fora espontâneo, falando o que lhe vem à mente sem vergonha do que os outros irão pensar. Embora essa sinceridade fosse um charme, também obrigava-me a corar da cabeça aos pés frequentemente com declarações repentinas. E, na época, eu sentia-me mal por não ser hábil em demonstrar minhas emoções como ele.

— Eu... Não estou com vergonha — declaro sem muita convicção.

— Mas pareceu bastante pensativa.

— Estava me perguntando como veio parar na minha escola. Antes, estudava no colégio particular lá do centro, se não me engano — improviso uma resposta.

— Só estava lá graças à bolsa que ganhei por estar no time de basquete, o qual não faço mais parte.

— Não?! — ressalto impressionada. — Você sempre foi tão bom! Por acaso o treinador perdeu o juízo?

— Quem dera — ri, sem graça. — Tive problemas no joelho na última partida que disputei. Uma queda mal amparada e minha carreira de jogador de basquete acabou.

Por isso parece mancar do lado esquerdo..., penso com pesar.

— Uma pena.

— Sim. Perdi o desconto, por isso acabei vindo para cá. E não; se quer lembrava que essa era sua escola. Se tinha alguma dúvida, pode ficar tranquila: não estou te stalkeando — pisca ao fim, em tom de brincadeira.

Deixo escapar um riso.

— Nunca pensaria, faz tanto tempo desde a última vez que nos vimos... Não tinha se mudado para a capital com sua mãe?

Quando completávamos um ano de namoro, os pais de Benjamin se divorciaram, a guarda foi concedida à Sra. Hall, e ela decidiu voltar para casa da mãe, levando junto meu namorado. Nunca mais o vi ou ouvi falar dele. Hoje, percebo que foi melhor assim; graças ao infortúnio da família de Ben, não tive que sustentar uma relação que me obrigava a ser alguém que não era.

— Ela morreu.

Reteso-me no lugar ante a revelação, sentindo-me horrível.

— Sinto muito...

— Não sinta.

Ben volta os passos até onde me encontro estática. Embora mantenha certa distância entre nós, percebo a tristeza marcar sua face.

— Câncer. Diagnosticada há seis meses — explica com amargura. — A quimioterapia era uma tortura para ela. Pelo menos agora, ela está em paz.

Pisco várias vezes enquanto busco por frases de conforto que as pessoas proferem umas às outras quando uma tragédia ocorre, mas todas que recordo são vazias demais e imagino que ele já cansara de ouvi-las.

 Sem esperar pela minha resposta, Ben estende-me a mão.

Na maior parte do tempo, meu ex-namorado era alegre e divertido, com piadas para contar e sorrisos para provocar. Eram poucos os dias que não o via sorrindo, porém quando entristecia era como se jogasse um balde de água fria em uma fogueira. Não quicava uma bola, não corria sobre o skate e muito menos gostava de conversar. Nessas horas, descobri, tudo o que eu podia fazer para ajuda-lo era estar ao seu lado.

Por isso pego sua mão sem hesitar. Sua palma é fria comparada à minha, mas os dedos entrelaçam afetuosos.

Voltamos a caminhar sob a luz do meio dia, agora de mãos dadas. Meu coração pula ansiosamente no peito com a proximidade. A nostalgia invoca o friozinho na barriga da época que o namorava. Não entendo essas reações do meu corpo. Como posso me sentir assim, estando ainda apaixonada por Zack?

Embora a distância entre a escola e minha casa seja apenas de quinze minutos, a caminhada ao lado de Ben pareceu durar uma hora graças ao silêncio desconfortável que nos acompanhara.

Suspiro aliviada quando avisto a desgastada quadra em frente à minha casa.

— Vou deixa-la aqui. Estou morando com meu pai novamente, na rua de baixo — explica ele, parando na esquina.

— Tudo bem. Obrigada por me acompanhar até aqui.

— Não imagino que eu tenha sido uma boa companhia — lamenta coçando a nuca timidamente.

— Não é culpa sua! — apresso-me em desfazer seu mal-estar. — Eu... fiquei feliz por se abrir comigo.

Mais do que espero, ele sorri. Meu coração erra a batida, admiradoe o tempo ao nosso redor parece paralisado.

Como pude esquecer esse sorriso lindo e cativante de Ben?

— Desde o ocorrido, é a primeira vez que falo da minha mãe com alguém — confessa ele, capturando entre os dedos um pouco das minhas mexas repicadas. — Sei que é estranho, visto que passamos tanto tempo afastados. Deve ser a nostalgia ou sei lá... Mas ainda sinto-me confortável para me abrir para você.

Olha-me tão profundamente que sou puxada para dentro das íris verdes brilhantes, e minhas pernas vacilam. Seu perfume não se compara ao de Zack, mas não nego que me desequilibra. Prendo a respiração, defendendo-me um mínimo que seja da força que sua presença detém. Tento compreender o que sinto, no entanto, é impossível distinguir a emoção certa em meio à turbulência das sensações.

— Gostei do cabelo. Aposto que foi o Brian que cortou.

Demoro a reagir quando muda abruptamente de assunto.

— Jamais cortaria com outro. Ele ficaria magoado — consigo dizer sem parecer patética.

— Eu também ficaria, se fosse trocado por você.

Pronto. Mais uma dessas declarações repentinas e sei que meu coração vai sair pela boca. Logo me percebo um tomate de tão vermelha.

— A-acho melhor eu ir. — Ben 3, Blair 0.

— Nos vemos amanhã? — enfia as mãos no bolso da calça de um jeito fofo.

— Claro...

Em despedida, meu ex-namorado estala um beijo em minha bochecha corada. Desce a rua vagarosamente, sem olhar para trás.

Assim que desvencilho-me do encanto de Benjamin, corro para casa. Passo direto pela cozinha com a desculpa de deixar minha mochila no quarto primeiro. Mas assim que chego ao cômodo, procuro o iPhone e disco o número de Lince.

— Que foi, gata?

— Eu sou uma safada.

— Do que está falando, louca? Endoidou de vez? — questiona intrigada. Seja lá o que estava fazendo, largou para ouvir-me mais atenta.

— Meu coração... parece estar reagindo a duas pessoas ao mesmo tempo. Isto é possível?

Lince fica pensativa, não respondendo de imediato.

— Rolou algo com o Ben? Ele te beijou? — arrisca.

— Não! — coro só de imaginar. — A gente... andou de mãos dadas. E rolou um clima.

Do outro lado da linha, ouço Lince cair em risos.

— Ai, que ingênua, Blair! Só você mesmo para ficar toda abalada por andarem de mãos dadas.

— Estou falando sério, Lince! — exalto-me ante sua ironia.

— Desculpa, miga — solta um último riso. — Pensa pelo lado bom: isto já prova que você não é uma safada.

— Meu coração foi quebrado ontem. Não acha cedo demais entrar em um clima com outro?

— Clima pode rolar com qualquer um... E quem garante que é mesmo interesse e não nostalgia? Afinal, primeiro amor a gente nunca esquece.

— Mas achei que meu único amor fosse o Zack...

— Ninguém ama apenas uma vez na vida. — É fácil imaginá-la dando de ombros. — O que de tão chocante aconteceu nesses quinze minutos que te fez pensar que gosta de Ben?

Ao som de suas palavras, recordo na recente memória as sensações que vivenciei caminhando com meu ex.

— No início achei desconfortável estar ao lado de alguém que esteve longe de mim tanto tempo. Sabe bem que não lido facilmente com a presença de um estranho. Depois que começamos a conversar, porém, ele já não me parecia um desconhecido.  A presença dele, a voz, o sorriso... Reconheci-os todos, nem parecia que terminamos há muito. E, nessa volta, Ben provocou algo em mim que não sei explicar...

Enquanto me ouve, escuto apenas a respiração de Lince — que não me interrompe em momento algum. Mesmo colocadas as emoções em ordem, ainda não sou capaz de decifrar meus próprios sentimentos, o que faz-me aguardar ansiosa pelo seu veredicto.

Após uns minutos de reflexão, Lince retorna à ligação com sua voz terna:

— Acho que foi muita emoção para seu coraçãozinho hoje, Blair. Porque não deixa para pensar nisso amanhã? Talvez precise de uma nova perspectiva.

Embora tenha consciência que Lince não é obrigada a dar-me as respostas que tanto procuro sobre minhas emoções, suspiro desapontada ante sua resposta evasiva.

— Eu estou louca? — pergunto angustiada.

— Não — diz, encorajadora. —Só está se descobrindo. E isto não é fácil para ninguém.

— Por que você é tão mais madura que eu, sendo que temos a mesma idade? — finjo irritação. Com respostas inspiradas para todas as minhas perguntas, parece que sou a única cheia de problemas adolescentes e que Lince tem uma vida muito bem resolvida.

Ouço-a divertir-se com a pergunta.

— Minha mãe é psicóloga, lembra-se? — brinca. — Vou almoçar. Fica bem.

— Okay.

Encerrada a ligação, jogo-me de costas na cama. Expiro longamente, olhando as estrelas do teto. Após conversar com Lince, sinto-me mais calma, mas a confusão de emoções parece ter sugado todas as minhas forças. Seja pelo coração rejeitado ou pelo retorno de Ben, era como se o passado me abocanhasse e não permitisse que eu seguisse em frente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥
Todo carinho de vocês é bem-vindo.



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