Call Again escrita por Clara Luar
Notas iniciais do capítulo
Ressuscitando feito Jesus, uma história há muito tempo abandonada. Sejam bem-vindos :)
Faz três dias desde que fomos ao cinema, e ainda tenho pesadelos.
Viro-me de uma lado ao outro da cama, inquieta. É impossível dormir quando o medo me invade com paranoias a todo instante. A luz da lua entra pela fresta da persiana, desenhando sombras na escuridão no quarto. Para não imaginar monstros sob a cama, mantenho bem fechadas as pestanas, insistindo em capturar o sono.
Você me paga, Lince...
Cubro o rosto com a coberta a fim de criar escuridão completa, mas minutos depois preciso emergir, sufocada com o ar quente.
— Ah, assim não dá! — reclamo.
Abro de vez os olhos, fixando-os em um ponto qualquer no teto.
Certamente, não teria sobrevivido ao filme se Zack não estivesse comigo. Graças ao calor de sua palma na minha, acariciando-me e mantendo-me ciente do que é real e do que é ficção, consegui engolir todos os gritos. Mantive os olhos fechados quase o filme todo, por isso, se eu tinha alguma intenção de beijá-lo no escurinho do cinema, não deu certo.
Sai da seção sentindo-me patética, uma garota de dez anos com medo do escuro. Contudo, o beijo que Zack depositou no canto dos meus lábios ao se despedir aqueceu meu coração ainda assustado e fez-me pensar que valeu a pena o esforço.
Toco a bochecha corada só pela lembrança. Seu toque, sua fala, sua risada, tudo o que ele fazia provocava-me arrepio desde que percebi os meus sentimentos pelo meu melhor amigo. Sua aproximação aflorava borboletas no estômago e seu sorriso me fazia deseja-lo só para mim, diferente de qualquer outro namorado que já tive.
Na escuridão do meu próprio quarto percebo que, finalmente, estava apaixonada de verdade.
O toque do meu celular em algum lugar da coberta retira-me das lembranças e reajo num sobressalto. Reviro a calma atrás do aparelho, apressada em desliga-lo. Quando, porém, vejo na tela o rosto do meu amigo, reteso. A foto é da vez que um circo chegou à cidade e fomos juntos assistir ao espetáculo. De caras pintadas e um pouco de pipoca no cabelo, estou sorridente enquanto Zack deposita um beijo estalado na minha bochecha.
— Eu sou muito idiota por não ter percebido... — xingo ainda sem acreditar que não enxergava o óbvio. Agora era tarde e entendo a razão de Isac em querer seguir em frente.
Espero mais um toque e atendo.
— Alô?
— Oi, desculpa te acordar a essa hora — percebo seu nervosismo na voz.
— Não tenho conseguido dormir depois daquele filme... — confesso num sussurro.
— Eu devia ter te tirado de lá. Desculpa— lamenta.
— Você não teve culpa! Foi uma sacanagem da Lince!
Ouço sua risada do outro lado da linha e sorrio para o escuro, feliz em ser o motivo de seu sorriso.
— Parece que a Lince não te conhece tanto assim.
— Pois é. Podíamos fazer um encontro mais a minha cara na próxima. Só nos dois. — Quando me dou conta de que acabei de convidá-lo para sair, acrescento rapidamente: — Se você quiser, é claro!
Silêncio.
Nenhum sim, nem não. Os minutos sem sua voz já me deixam com saudade, e aguardo sôfrega a resposta. Antes de tudo, sairmos juntos para qualquer lugar que fosse era natural, mas dessa vez o convite pesava, dando nó na garganta. Será que me precipitei?
— Olha, Blair, sei o que está tentando... — começa ele, cheio de incertezas no timbre. Meu coração acelera o compasso, fugindo do que estou prestes a ouvir. — Mas eu queria que parasse. Nossa história já acabou. Não insista.
Prendo a respiração. Prevejo os olhos se enchendo de lágrimas. Eu estava me esforçando para reconquistá-lo, mas mal comecei meus avanços e ele liga para pedir que pare. Nossa troca de olhares e os arrepios a cada troca de carícias não poderiam ser mera imaginação. Zack ainda gostava de mim, disso tinha certeza. Embora o tenha magoado muito, ele não podia expulsar-me de sua vida dessa maneira, por ligação.
Inspiro e expiro.
— Se não me quer por perto, porque foi ao encontro?
— Apenas fiz um favor ao Charlie.
— Segurar minha mão também foi só um favor? — engulo um soluço.
Embora tente não deixar transpassar minha dor, Isac conhece-me suficiente para perceber.
— Blair... Não quero que chore por minha causa.
Minha tristeza o desestabiliza e isso faz sentir-me ainda mais frustrada, pois tudo o que recebo parece pena, não amor.
— Eu te amo, Zack. — Mesmo incerta, declaro-me com um fio de voz.
Consigo ouvi-lo suspirar pesadamente, atingido pelas minhas palavras. Esperou ouvir isso desde o nono ano mas reconhece com pesar que já não era capaz de confiar na amiga.
— Eu não posso corresponder. Não mais.
Minhas emoções parecem um caldeirão dentro de mim, digladiando entre eles para decidir quem irá sobressair. E, mesmo com lagrimas e o sentimento de frustração ainda no páreo, a raiva vence a luta.
— Por que raios me ligou, Zack?
— Porque... — as palavras não saem da sua boca.
— Se queria deixar claro que eu não teria chance, bastava me ignorar! — explodo, as gotas salgadas escorrendo aos galopes pelas bochechas.
Ele respira fundo. Tinha que dizer. Devia isso a ela.
— Eu estou namorando.
Minha fúria vai abaixo feito Muro de Berlim.
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Obrigada por ler! Se quiser, deixe um comentário e acompanhe a história. Vou adorar :)
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