Não Vou Controlar escrita por Stewartnic


Capítulo 3
Primeiro Diálogo


Notas iniciais do capítulo

Qualquer dúvida na fic, comente!
Aah, e o meu twitter é @ClarinaMyWorld
Boa leitura!



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Capítulo 3 – Primeiro diálogo

Pov Marina

Apesar de desconhecer o motivo, eu estava super nervosa. Não fazia ideia de como começar aquela conversa. Meu pai já havia voltado a tagarelar com o nosso mais novo vizinho, deixando-me ali, desprotegida. Comecei a encará-la. Eu era tímida, mas naquele momento tive a certeza de que timidez nenhuma no mundo faria com que eu me afastasse daquela garota. Me afastasse de Clara. Olhando para dentro daqueles olhinhos castanhos, comecei a encontrar uma paz dentro de mim que até então pensei que nunca pudesse existir. Que nunca pudesse sentir... Eu não sabia como, nem por que, mas era como se eu pudesse enxergar toda a sua alma através daqueles olhinhos brilhantes. Era como se ela estivesse nua, completamente entregue a mim.

Aquele momento era único, tinha a certeza disso. Queria que aquilo durasse para sempre.

Pov Clara

Pude perceber que ela me encarava. Aqueles lindos olhinhos faiscantes olhando diretamente para mim. Ai Deus! Como daria tudo para saber o que estava passando em sua cabecinha naquele exato momento. Comecei a encará-la também, focando o olhar diretamente em seus olhos. Naquele momento, pude encontrar a paz que todos costumam dizer que encontram ao olhar para os olhos de uma pessoa querida e importante para suas vidas. Mas como? Como é que isto estava acontecendo? Afinal, eu nem a conhecia. Não sabia nem as coisas básicas sobre ela, como a sua cor ou comida favorita, por exemplo. Seus medos e seus sonhos então, eu desconhecia ainda mais. Entretanto, tinha a sensação de que a conhecia há muito tempo, como se já tivéssemos compartilhado todos os sentimentos, todos os desejos e todas as inseguranças existentes no mundo. Era incrível.

Pov Marina

Mesmo não querendo que aquele momento acabasse eu sabia que era necessário. Sabia que algo precisava ser dito. A minha vontade era de falar algo como: “Agora você vai ter que me dizer o seu nome, o que você faz e onde foi que você encontrou tanta beleza”, mas me contive apenas em dizer:

— Posso te chamar de Clarinha? — Perguntei como se pisasse em ovos.

— Aaah você... Claro! — Ela disse abaixando a cabeça e abrindo um sorriso tímido, fazendo com que eu sorrisse instantaneamente.

Pov Clara

Só consegui finalmente sair do transe que eu me encontrava quando ela falou:

— “Posso te chamar de Clarinha?” — Ela me perguntou entre risos e biquinhos fofos.

— Aaah você... Claro! — Respondi ao mesmo tempo em que eu sentia minhas bochechas esquentando um pouco mais.

— Ah, então ta ótimo! — Ela falou dando outro sorriso. Eu não sei o que me encantava mais, se eram aqueles seus olhinhos, ou a sua boquinha rosada, ou a sua pele branquinha, ou simplesmente toda aquela beleza interna que ela conseguia transmitir através de um olhar intenso e um sorriso sincero.

— E então, o que se faz para se divertir aqui? — Perguntei. Estava mais que comprovado que eu era péssima no quesito “conhecendo pessoas”.

Pov Marina

— E então, o que se faz para se divertir aqui? — Bom, antes de você chegar aqui, nada, mas agora o que mais me diverte com certeza é ficar olhando para você 24 horas por dia!

— Se você veio aqui atrás de diversão, veio ao lugar errado, o máximo de diversão que você vai conseguir vai ser correr para pegar o ônibus depois de ter se arrumado em 5 minutos! — Respondi rindo. Ela riu em troca.

— Ótimo! — Ela disse ironicamente ainda trazendo um sorriso no rosto, sorriso este que a fazia ficar transparente mais uma vez. Foi só nessa etapa do diálogo que passou pela minha cabeça pela primeira vez que pela sorte do destino ela pudesse vir a estudar na mesma escola que eu, ou até na mesma sala! Seria o paraíso na Terra!

— Você já sabe em que escola vai estudar a partir de agora? — Perguntei esperançosa.

— Ah, mais ou menos, eu sei que vai ser em uma escola religiosa... — Alguém me ajuda a me converter, please! — Nós decidimos que iria ser melhor para mim. — Pude notar a sua expressão mudando, o olhar alegre rapidamente passando para um olhar entristecido. Comecei a me perguntar se ela realmente havia participado da decisão quando ela disse “nós”. — Bom, minha mãe decidiu na verdade... — Ela disse desviando um pouco o olhar para baixo. Estava explicado.

Pov Clara

Não conseguia disfarçar a minha infelicidade em relação aquele assunto. Toda a sensação de impotência e de não poder comandar os eixos da minha própria vida voltavam à tona. Minha mãe desde quando eu a conheci sempre foi vigorosamente religiosa, e por sua vez, ela sempre quis que eu seguisse os mesmos caminhos. Na verdade, às vezes tenho a impressão de que ela queria que eu pagasse e apagasse todos os seus pecados, que eu acertasse todos os seus erros. Era injusto.

Pov Marina

Vendo que aquele assunto a entristecia logo tratei de amenizar ao máximo a situação:

— Bom, pelo menos podemos fazer companhia uma a outra até o ponto de ônibus, ou até no ônibus, dependendo do lugar em que vai ser a sua escola. — Falei não conseguindo disfarçar a felicidade que tal ideia me trazia.

— Parece ótimo! — Ela disse sorrindo.

Pov Clara

Era incrível que em tão pouco tempo de conversa ela já era capaz de notar a minha tristeza e falar algo para me animar. Quando meus pais decidiram que iriam se mudar, eu nunca concordei com a ideia. O fato de me afastar da minha escola e de todas as minhas amigas me parecia cruel. Nunca pensei que eu pudesse ter uma relação tão boa quanto a que eu tinha com as minhas antigas amigas, mas agora, com Marina bem ali diante de mim, sabia que eu estava errada. Sabia que ela seria uma amiga tão boa quanto às outras. Na verdade, eu sentia naquele momento, que ela seria muito melhor.

Pov Marina

Eu fiquei ali, a observando, tentando desvendar seus pensamentos. Acho que a conversa foi toda assim, com mais pensamentos ocultos de ambas do que palavras ditas. Comecei a relembrar todos os últimos meses da minha vida. Toda a dor e solidão. Todas as minhas tentativas de recuperação. Todas as escolhas que eu fiz de permanecer viva. Todo o meu esforço parecia estar valendo naquele momento. Me lembro das minhas tardes vazias, em que eu ligava a TV apenas para ter a impressão de que alguém queria conversar. De quando eu ficava assistindo diversos canais no youtube só para, de algum modo, ver pessoas compartilhando suas vidas para mim. Agora Clara estava ali. E ela era real. E eu tinha alguém para compartilhar a minha vida além da minha psicóloga. E o mais importante, eu tinha uma pessoa que também parecia disposta a querer compartilhar a sua vida para mim.

Por longos minutos que pareceram horas inteiras de pura magia, eu nem havia mais notado a presença dos dois homens ao nosso lado. Só me dei conta de suas presenças quando percebi que eles já haviam começado a se despedir. Um sentimento de dor e saudade já estava se instalando dentro de mim quando ouvi meu pai dizer:

— Que tal um jantar de boas-vindas para a família amanhã à noite? — MEU DEUS PAI, TO TE AMANDO! Pensei internamente.

— Claro, seria ótimo! — O homem pançudo no qual eu ainda não sabia o nome — mas sabia que era o pai do ser mais perfeito do mundo — respondeu, para minha completa alegria. Olhei de relance para Clarinha, e ela sorria. Enquanto os dois homens acertavam mais alguns detalhes do jantar e davam alguns últimos comentários, me encaminhei até ela. Era nosso primeiro encontro e nossa primeira despedida. Aquilo doía.

— Acho que nos vemos amanhã então... — Sorri fraco, pois gostaria de poder ficar ali por mais tempo. — Ah, e quase ia esquecendo... Obrigada pelos biscoitos! — Disse olhando para cesta que ainda tinha nas mãos.

— Aah, de nada! Todos os que eu fazia e levava para igreja, o pessoal adorava, então acho que você vai gostar também.

— Tenho certeza que vou amar! — Meu pai dava um aperto de mão no pai de Clara nesse momento. Era a vez da nossa despedida definitiva. Cheguei um pouco mais próxima a ela, dando um beijo o mais demorado possível em sua bochecha levemente rosada. Minhas pernas tremeram, meu coração arfou, minha respiração pausou. Tive a sensação que fogos de artifício saiam de mim após aquele contato.

Pov Clara

Nossos pais estavam se despedindo. Estava na hora e eu não queria, não queria ter que dizer adeus. Foi aí que senti uma leve aproximação vinda dela. Minha respiração parou. Então ela deu um beijo na minha bochecha. Não, não tinha sido um beijo qualquer, era sua boca feito uma seda, acariciando minha pele! Ou eu estava louca? Havia perdido o juízo? Perdido a razão? Não sabia. Estremeci.

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Pov Marina

Desde quando havia chegado em casa, eu estava numa pilha. Não conseguia comer, não conseguia assistir TV, nada era uma distração o suficiente para fazer com que eu parasse de pensar nela nem que fosse por um segundo. Já estava ficando tarde. Foi aí que lembrei dos biscoitos e os levei para o quarto, já deitando na cama. Ainda não tinha tido a chance de analisar eles com um olhar mais minucioso. Havia vários tipos e quase todos eram diferentes uns dos outros. Tinha um em formato de estrela, outro de coelhinho, outros eram apenas círculos e os que eu mais achei bonitinhos foram os com formato de coração com confeitos cor de rosa e vermelho por cima ♥ Mordi. Tinha gosto de morango.

Estava quase pegando no sono quando lembrei de que foi mais ou menos a essa hora que eu tinha a visto na noite anterior. Fui para a ponta da cama, afastei a cortina e depois abri a janela. Para o deleite dos meus olhos, ela estava lá, no mesmo local da noite anterior. Fiquei a encarando por longos segundos. Sorri e acenei sussurrando um “Boa noite” patético como se ela fosse me ouvir. Não sei se a doença estava forte ou se o sono que estava se apossando de mim, mas tive a impressão de ver um “Boa noite” ser soletrado por seus lábios.

Pela primeira vez, em meses, eu estava ansiando para o dia de amanhã.


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Notas finais do capítulo

Resolvi postar esses três capítulos de uma vez só, para ver no que ia dar. Perguntinha básica: O que vocês estão achandooo?? Não deixe de comentar!!