Conto De Fadas Moderno escrita por Letícia Matias


Capítulo 34
Capítulo 34




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/561908/chapter/34

Abri meus olhos e tornei a fechá-los cego por luzes fluorescentes. Mas que merda é essa¿ Onde eu estava¿ Onde estava ela¿

***

Tentei abrir meus olhos novamente, colocando o braço na frente dos olhos para não ser cego pelas luzes fluorescentes e para minha surpresa, não havia mais luzes fluorescentes, apenas uma luz fraca e amarela ao lado da... Cama¿

Olhei para meus braços e vi tubos conectados a eles. Segui meu olhar por eles e vi um monitor bipando as batidas do meu coração.

Franzi o cenho e tentei me lembrar do que aconteceu. Genevieve estava se curvando para me beijar com aqueles lábios carnudos e macios quando de repente foi atirada para frente, voando pela janela. Lembro-me de a minha garganta ter secado na hora e depois ter ficado tudo escuro. Era tudo o que eu lembrava. E agora eu estava no hospital, mas onde diabos estava Genevieve¿

Olhei ao redor do quarto arrumado e perfeitamente limpo e não vi ninguém. Tentei levantar-me da cama e então me lembrei dos tubos conectados ao meu braço.

– Mas que merda! – exclamei e arranquei-os do meu braço sentindo uma leve dor ao fazê-lo.

– Senhor, por favor! – uma enfermeira baixinha que parecia uma das minhas tias veio até mim. – O senhor não pode se levantar, sofreu um acidente...

– Eu não dou a mínima, eu estou ótimo! Onde está a Genevieve, eu preciso ver ela, eu...

Parei de falar quando um médico e dois enfermeiros entraram no quarto. Dois enfermeiros morenos e altos e um médico magricela de cabelo lambido para trás.

– Noah Collins, por favor, o senhor tem que se deitar. Sofreu um acidente de carro e agora não é a hora de sair andando pelo hospital.

Quem aquele babaca pensava que era¿ - pensei comigo mesmo sentindo um calor percorrer meu corpo. Mais uma palavra e eu socaria a cara dele.

– Por favor, sente-se!

Bufei e sentei-me na maca.

– Onde está ela¿

– Primeiro vamos falar de você.

Não quero saber de mim, porra!

– Você se lembra de alguma coisa antes de ter apagado¿ - o médico de cabelo lambido perguntou.

Li no seu crachá que seu nome era Logan Smith. Nome de menininha! – pensei.

Contei a ele do que eu lembrava tirando a parte dos lábios carnudos. Contei resumidamente. Queria que aquele cara parasse de puxar minhas pálpebras para baixo e me examinar.

– Ótimo. Bom, não houve danos no cérebro, seus sinais vitais parecem estar bem e sua pressão arterial também. Você sofreu ferimentos leves por estar com o sinto, poderia ser pior. O senhor ficará bem Sr. Collins. Só precisa repousar por uns dois dias e ficar de observação.

A Gen estava com o cinto¿ - perguntei a mim mesmo.

Não, não estava.

– Agora que o senhor terminou, eu quero saber onde está a Genevieve.

Ele pigarreou e trocou um olhar com a enfermeira baixinha ao lado da cama.

Meu Deus, por favor, não! – pensei fechando os olhos.

– Nós não queremos apavorá-lo senhor Collins, mas o estado da sua namorada é grave. Ela sofreu ferimentos muito graves e está em coma.

Olhei para ele e sem me controlar gritei:

– O quê¿

– Sr. Collins, peço que se acalme, por favor, nós...

– Eu quero ver ela agora! – eu disse me levantando. – Não me impeça de ver ela, estou avisando...

– Nós deixaremos o senhor vê-la, só queremos que se acalme!

Respirei fundo.

Em coma¿ Ferimentos graves¿

– Precisamos alertar o senhor sobre a situação dela para que não haja nenhum choque. A srta... – ele pegou um prontuário debaixo do meu e disse – Jay, está num estado grave, mas estamos fazendo tudo o que podemos. Ela está estável e isso é bom. Só queremos que o senhor tenha paciência e tente se recuperar primeiro porque seu nervosismo e impulsão não vão ajudar neste momento e segundo, o senhor tem que se recuperar.

– Já terminou¿ Eu posso vê-la agora¿

O doutor Smith respirou fundo e disse:

– Tudo bem. – virou-se para a enfermeira baixinha e disse: - Kelly, leve-o para o quarto onde ela está, não o deixe ficar mais do que cinco minutos.

Kelly assentiu e olhou para mim com um olhar de pena e disse:

– Vamos, Sr. Collins¿

Passei por entre o doutor Logan e os enfermeiros grandões e comecei a andar ao lado de Kelly.

Senti-me humilhado ao ver que estava novamente naquela roupa horrorosa de hospital. Passamos por alguns corredores e por algumas pessoas que me olhavam um pouco assustadas e foi aí que me questionei se eu estava com algum corte na cara.

Passamos ao lado de um espelho pequeno e pude ver minha boca inchada, um corte próximo ao olho e alguns arranhões na testa e nas bochechas. Se eu estava assim, imagine ela...

Respirei fundo.

Kelly parou em frente a uma porta branca indicando o número 405 e disse:

– Isso pode ser um pouco chocante para o senhor, mas lembre-se de que ela está estável e tudo ficará bem. Tenha calma e paciência. O senhor prefere que eu entre ou que eu fique aqui fora¿

– Você... Pode ficar aqui, se não for pedir muito.

Ela deu de ombros.

– Tudo bem Sr. Collins. O senhor tem no máximo cinco minutos para vê-la.

– Obrigado.

Ela não parecia tão mal, a Kelly.

Respirei fundo e ela abriu a porta do quarto. O quarto era amplo, limpo, com pisos branco e paredes bege. Tinha uma janela grande de vidro com as cortinas brancas e vermelhas abertas. Dava para ver que estava nevando muito lá fora. Estava tudo silencioso e eu só podia ouvir os bipes do coração dela batendo. Eu estava criando coragem para olhar para a maca.

Não seja covarde! – pensei me xingando.

Respirei fundo e andei olhando para os meus pés até ver os pés da maca na minha frente. Muito lentamente levantei a cabeça e olhei para cima.

Eu podia jurar que meu coração parou de bater por uns dois segundos e depois voltou a funcionar. Meu. Deus!

Contornei a cama, fraco e parei ao lado dela, examinando-a.

Havia tubos por todos os lados! Um cateter em seu nariz lhe fornecendo oxigênio, uns três tubos enfiados nas veias do mesmo braço, fios dos monitores ligados em seu peito, um oxímetro no seu dedo da mão esquerda, um colar cervical imobilizando seu pescoço... Eram tantos fios e tubos!

Suas mãos estavam inchadas e roxas, com alguns cortes, assim como seus braços. Sua boca estava inchada e seus olhos também com ferimentos graves que com certeza demorariam a cicatrizar. Ela estava quase... Irreconhecível!

Peguei sua mão que estava gelada e machucada e vi seu esmalte preto e o anel de coco que tinha dado para ela. Mesmo após nós termos terminado, ela não tinha se livrado dele. Ela me amava. Sorri e olhei para seu rosto novamente. Será que ela sentia isso¿ Ela podia me sentir tocando ela¿

Ah meu Deus, por que¿ - sentei-me ao lado da cama e por mais que eu me achasse muito homem, desabei num choro silencioso. Era horrível. Eu não podia suportar olhar para ela daquele jeito.

Levantei-me e olhei mais uma vez para ela, imóvel, machucada e longe dali. Seu rosto inchado e arroxeado, machucado... Eu sentia que ia vomitar. Eu estava prestes a vomitar. Eu não ia conseguir ficar mais um segundo sequer ali.

Me perdoa, Gen. Mas eu não posso. – pensei e soltei a mão dela, saindo correndo do quarto e enfiando minha cara no lixo mais próximo no corredor e vomitando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Conto De Fadas Moderno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.