–Então quer dizer que temos 10 minutos para comer algo?

Perguntei para Sakura enquanto a ajudava a levantar que, com certa dificuldade, apoiou-se no meu ombro.

–Isso mesmo. Podemos pegar algo rápido nas máquinas, o que você acha?

Ela tentou ficar em pé sem apoiar em mim e fez uma careta.

–Sakura-san você não quer passar na enfermaria?

Eu estava realmente preocupada com ela. Estava prestes a chorar mais uma vez.

–Fica tranquila tá? Agora venha aqui.

Ela abriu os braços na minha direção.

Eu não esperava que ela fosse me abraçar, mas no momento era o que eu mais queria fazer.

Sakura me envolveu em seus braços e falou baixinho como se o lugar estivesse cheio e ela quisesse que somente eu escutasse.

–Muito obrigada por me defender. Se não fosse por você aquela hora provavelmente eu teria apagado com aquele soco. Você foi muito corajosa.

O tempo tinha parado e eu me sentia completamente segura nos braços daquela menina. Eu não tinha certeza sobre o que era aquilo que estávamos vivendo. Cheguei a pensar que fosse uma amizade forte, de pessoas que já se conheceram em outras vidas. Talvez estivéssemos caminhando para mesmo lado em que a minha irmã e a Haruka andavam. Passei muito tempo pensando na Haruka mesmo sabendo que ela não me queria e do nada me aparece alguém que supostamente me quer. Era muito confuso para mim, precisava pensar mais no assunto e colocar minha cabeça em ordem. A única coisa que eu sabia é que queria ter ficado mais tempo ali com ela.

–Vamos indo, presidente?

Ela se afastou de mim sorrindo e, segurando na minha mão, me puxou para acompanhá-la.

Fomos o mais rápido possível até a máquina de bebidas e compramos a única coisa que dava tempo de ser ingerida naquele minúsculo espaço de tempo que nos restava. Ela colocou o dinheiro na máquina e dois achocolatados caíram.

–Esse é para você. Seu lábio dói muito?

–Não. Ele nem bateu com tanta força.

Demos risadas com a minha fraca imitação de quando ela disse a mesma coisa sobre o joelho. Enquanto caminhávamos para a sala, ela mancava e eu falava mais devagar para o corte não incomodar tanto. Tinha parado de sangrar, mas ainda doía.

O segundo sinal tocou e já estávamos dentro da sala, por sorte. Alguns alunos nos olhavam curiosos e nós fingíamos que não tinha nada de errado.

A segunda professora entrou na sala sorrateiramente e quem estava de costas, não percebeu.

–Boa tarde alunos. Me chamo Maehara Ryoko e serei responsável por lhes ensinar Bioquímica Estrutural.

Os que ainda estavam em pé se apressaram em sentar. Sentei atrás de Sakura e me preparei para prestar mais atenção na aula.

“Nessa aula eu tenho que me concentrar. Deixei muita coisa importante passar e não posso deixar de novo, afinal não quero que ela pense que sou uma desleixada.”

Abri o caderno e comecei a anotar tudo o que a professora dizia. Com a cabeça ocupada, eu não pensava no episódio anterior e me dedicava mais ao curso que tanto desejei passar.

O tempo passou rápido de tarde e a aula finalizou com Ryoko-sensei passando um trabalho para casa. Na minha frente, uma menina se esticava e bocejava, me fazendo rir.

–Ficou cansada Sakura-san?

–Fiquei sim. Dormi tarde essa noite, o sono não vinha.

Rimos ao mesmo tempo pois sabíamos o motivo uma da outra de não ter dormido direito.

Terminei de me aprontar e percebi que os três garotos não tinham voltado e seus materiais não estavam mais lá.

–Ei Sakura, aqueles meninos não voltaram. Acho que ficaram com medo de você.

–Pois eu acho muito bom mesmo. Ai deles se vierem com graça de novo.

Fingi arrumar minha bolsa enquanto olhava para baixo. Essa atitude dela querer me proteger me deixava sem graça.

–Posso saber o motivo desse sorriso?

Ela me olhava sorrindo de volta e parecia saber a resposta.

–E-eu não estou sorrindo não! É que lembrei de uma coisa engraçada. Só isso.

Sakura sabia que não era verdade o que eu dizia e se contentou apenas em ver que fiquei vermelha.

Andamos até o portão da faculdade conversando sobre a aula. Ninguém tocou mais naquele assunto.

–Bom, hoje vou te acompanhar até o apartamento para me certificar que ninguém estará te esperando.

Eu estava mesmo com receio de ter alguém me esperando em algum beco. Também era uma ótima desculpa para que ela fosse comigo. Não queria me despedir e ter que vê-la somente amanhã. Eu me sentia muito bem quando estávamos juntas.

–Vamos indo então.

Sorri e comecei a andar com ela ao meu lado.

Conversamos sobre várias coisas no caminho e nem tocamos no assunto do intervalo. Eu não tinha agradecido pelo que ela tinha feito por mim. Foi tudo tão rápido num tempo tão pequeno que não pude agradecê-la. Ela falava tão animada sobre outras coisas que achei que na hora certa, eu agradeceria.

–Bom, chegamos.

Falei meio infeliz. Como eu detestava a hora de sair de perto dela.

–É, chegamos. Você vai ficar bem?

–Eu acho que sim.

–Então bom fim de tarde e boa noite para você presidente. Até amanhã!

Ela sorriu, me abraçou e se virou para ir embora.

–Para você também Sakura-san...

Eu queria correr atrás dela e chama-la para ficar em casa comigo, mas não fui. Eu juro que tentei, mas meu corpo não se mexeu. O que me restou fazer foi ficar olhando ela se distanciar até sumir de vista. Senti falta daquele beijo no rosto que ela me dera da última vez. Acho que ela deve ter ficado cheteada quando fiquei brava com que ela fez na hora do almoço. Eu não fiquei brava, fiquei decepcionada, pois esperava outra coisa, só que ela não sabia.