O tempo foi passando, a professor falando e eu viajando.

A primeira aula se foi e eu nem vi. Por sorte, apesar de serem informações importantes, não era nada especificamente teórico. O sinal tocou e me fez voltar para a realidade.

No minuto em que Sakura se virou para mim, eu estava com a cabeça apoiada nas mãos com o olhar perdido, fitando seus cabelos.

–Está com essa cara por que? Posso saber em que você está pensando, Mitsuki?

Ela começou a rir mais ainda quando assustei e meu rosto corou.

–Eu?? Nada...não estou pensando em nada...

–E o que você gostaria de almoçar?

–Mas já está na hora do almoço?

–Hahahaha...Mitsuki no que você pensou a aula inteira?

“Meu Deus! Eu dou muito na cara. O que está acontecendo comigo???”

–É que eu dormi pouco ontem e fiquei cansada.

–Eu entendi, me desculpe por ter perdido hora ontem.

–Não foi isso que eu quis dizer Sakura-san.

–Bom, vamos comprar algo para comer então?

E me estendeu a mão com aquele lindo sorriso.

–Claro!

Sorri de volta, um pouco envergonhada. Estar com ela era muito bom, mas eu ainda me sentia muito confusa. Tinha medo de me apaixonar de novo e não ser correspondida e também não tinha como eu saber o que ela pensava sobre. Pelo menos não ainda.

Enquanto saíamos da sala, três garotos nos observavam.

Conforme andávamos em direção ao refeitório, percebi que os três garotos nos seguiam.

–Sakura-san, eles estão vindo atrás de nós.

Eu estava nervosa. Três homens contra duas garotas era covardia e pelo que percebi Sakura também concordava.

–Eu tive uma ideia. Aperta um pouco o passo e me segue.

Nem precisava mandar. Andamos mais rápido e viramos num corredor a esquerda. Assim que saímos da vista deles, ela pegou na minha mão e começou a correr.

No seu rosto, um sorriso surgia. Era evidente que ela estava se divertindo e eu estava apenas assustada.

Sakura corria como se soubesse exatamente onde ir e de longe consegui ver uma porta fechada com os dizeres: ACESSO RESTRITO.

“Será que ela vai querer entrar ali?? Provavelmente esta porta está...”

–Aberta! Beleza.

Ela girou aquela maçaneta de ferro e entrou o mais rápido que pode, me puxando em seguida. Fomos parar em um terraço.

–Sakura você não vai fechar...

–Confia em mim Mitsuki-san.

É claro que eu confiava. Então ela me levou ao canto esquerdo do terraço, onde tinha uma pequena porta.

–Vamos nos esconder aqui.

Ela abriu a porta me deixando entrar primeiro, entrou depois e fechou. Estávamos em um cubículo escuro, apertadíssimo e coberto de pó. Era um depósito de sabe se lá o que. As únicas coisas que eu consegui ver antes de entrar foram algumas latas e objetos de limpeza.

Ela espiava pelas frestas da porta com as costas coladas no meu corpo.

–Me desculpe te apertar assim presidente.

“Magiiiina...não tem problema nenhum...”

–N-não tem problema.

Consegui ouvir quando os três chegaram no terraço, fazendo meu coração parar.

–Tem certeza de que elas vieram por aqui?

–Eu não sei...

–Você não prestou atenção?

–Poxa Hiro, elas correram rápido demais.

Eles discutiram por alguns minutos e logo saíram.

Sakura se virou de frente para mim.

“Mas o que ela vai fazer???”

Tentei me afastar o máximo que aquele espaço permitia, mas eu já estava encostada na parede.

–Ei Mitsuki, aposto que sei que você esta vermelha agora.

Minha barriga gelou.

–M-m-mas como você pode afirmar, se está escuro?

–É que você sempre fica envergonhada quando está perto de mim. Quando eu encosto em você, quando nossos olhares se encontram...

Senti suas mãos segurando meu rosto. Eu não conseguia ver e muito menos falar nada. Estava completamente sem reação.

“Será que ela...eu...”

Com um gesto rápido, ela puxou meu rosto em direção ao dela, parou a centímetros da minha orelha e falou baixinho...

–...eu estou errada?

Nessa altura do campeonato minhas pernas amoleceram e eu tive que me segurar para não cair. Minha respiração era ofegante e com certeza era possível ouvir os batimentos rápidos do meu coração. Não pude ver, mas percebi que ela sorria feliz ao me ver naquela situação e com as mão ainda no meu rosto, senti ela se aproximando e seus lábios encostando na minha testa.

“Na testa???? Depois de tudo isso ela me beija na testa???”

Minha cabeça girava e com dificuldade eu ainda estava de pé. Sakura se afastou ainda com as mão no meu rosto.

–Vamos comer alguma coisa, Mitsuki-san?

A porta foi aberta e a luz entrou no local. Eu deveria estar em uma situação extremamente engraçada pois ela ria muito de mim.

–Que cara é essa, presidente???

Então pude ver meu reflexo em uma lata velha ao meu lado. Meu cabelo estava desarrumado, meus óculos estavam fora de lugar e a minha cara estava em brasa.

“Por que ela fez isso? A troco de que? Só pra rir da minha cara?”

Até a flor esquerda do meu cabelo estava fora do lugar. Arrumei o cabelo, alinhei o óculos e fechei a cara.

“Mas que brincadeira mais sem graça.”

Ela percebeu que eu não gostei, se aproximou de mim e segurou minha mão.

–Me desculpa, não achei que você fosse ficar brava.

–Eu não fiquei brava. É que...

–Eu falei que vi elas entrando aqui!

Olhamos rapidamente em direção à porta e vimos os nossos perseguidores parados em frente a porta. Eles sorriam de uma maneira sinistra.

–Haku e Kotaro, vocês segurem aquela garota malvada. A loirinha é minha.

Agora sim estávamos ferradas. Em matéria de defesa eu era uma negação. A única coisa que eu sabia fazer era gritar e chorar, o que não vinha ao caso, pois estávamos em local proibido e não poderíamos atrair a atenção de mais pessoas.

O rosto de Sakura mudou completamente. Aquele olhar gentil e o sorriso meigo que eu tanto gostava tinham desaparecido e dado lugar a uma expressão de raiva.

–Não se atrevam a encostar em nenhum fio de cabelo dela!

–Ou o que?

Hiro, o líder, provocava Sakura que nada podia fazer enquanto era segurada pelos outros dois garotos.

Ele veio na minha direção com um sorriso muito malicioso, arrepiando até meu último fio de cabelo. Eu estava encrencada. Me afastei até encostar em uma parede. Eu até poderia fugir, mas não iria. Definitivamente eu não deixaria Sakura para trás. Ela, por sua vez, se debatia tentando escapar das mãos de Kotaro e Haku.

–SAI DE PERTO DELA!

Ela gritava tentando me ajudar, sem sucesso nenhum. Isso cortava meu coração.

Era hora de começar a me preocupar com o cara parado na minha frente. Hiro apoiou uma das mãos na parede e com a outra segurou meu queixo.

–E agora loirinha? Vai fazer o que sem a sua defensora?

Eu tinha que fazer alguma coisa, tinha que ser corajosa!

–Sai de perto de mim seu idiota!

Com um empurrão, ele foi forçado a se afastar, mesmo que apenas por um metro.

Sakura a os outros dois nos observavam de canto.

–Você é muito atrevida garota!

E com um tapa na cara, ele me jogou no chão.

Caí de joelhos e coloquei a mão sobre a área atingida. Minha pele ardia e meus olhos começaram a se encher de lágrimas enquanto sentia o gosto do sangue que saía do meu lábio.

–Isso loirinha, é para você aprender a não...

–SAI DE PERTO DELA SEU IMBECIL!!!!

Um dos garotos segurava Sakura pelo pescoço e o outro já estava no chão.

Com muito esforço ela se desvencilhou, jogou o segundo no chão e veio em direção ao terceiro.

–Essa garota é maluca! Cuidado com ela Hiro.

–Que força é essa?

Haku e Kotaro gritavam alertando seu amigo que começou a ficar realmente bravo.

–Pode vir menina idiota! Você acha que pode mesmo comigo? Vou te derrubar no chão e você vai assistir o que eu vou fazer com a sua namoradinha!!!

Mesmo com a ameaça, Sakura não se abalou. Ela caminhava na nossa direção estralando os dedos.

Foi ai que a briga começou.

Com um primeiro golpe, Sakura teve seu punho segurado a centímetros do rosto de Hiro que, em resposta, acertou um chute no joelho da garota. Sakura dobrou no chão com a dor.

–Para com isso! Você vai machucar elaaaa!

Quando me dei conta, estava de pé, no meio da briga, segurando um dos braços, que era para ter acertado diretamente na cabeça de Sakura. Eu chorava desesperada. Ela apanhava por minha culpa.

Com apenas um gesto, Hiro me jogou no chão mais uma vez. Enquanto eu tentava me levantar, ele vinha na minha direção e falava alto olhando para Sakura.

–Agora garota, você vai assistir o que eu farei com a sua loirinha.

Mais uma vez, a garota de cabelos prateados perdeu o controle. Com dificuldade ela se levantou e ficou frente a frente com o agressor. Seus punhos estavam cerrados e com apenas um soco, Sakura arrancou um dente do garoto, que caiu no chão com o impacto.

Kotaro e Haku vieram correndo ajudar seu líder caído no chão. Rapidamente o levantaram e sairam correndo pela porta ainda aberta.

–Você é completamente louca garota.

Hiro olhava assustado e ao mesmo tempo com ódio de Sakura.

–Se vocês chegarem perto dela mais uma vez eu arranco todos os dentes!!

Eles saíram e ela ficou parada, de costas para mim, até se virar. Seu olhar era triste, apesar de querer demonstrar que estava tudo bem. Ela tentou dar um passo na minha direção, mas acabou caindo. Sua perna fraquejou devido ao estrago causado no joelho.

Corri chorando na sua direção, parando ajoelhada ao seu lado.

–Sakura-san, você esta machucada! Você não deveria ter...

Ela interrompeu minha fala colocando seu dedo indicador nos meus lábios.

–Mitsuki-san, não precisa se preocupar. Eu estou bem. Ele nem chutou com tanta força.

Ela sorria enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

–Vamos, esse rosto bonito não combina com essa cara de choro.

Gentilmente ela secou minhas lágrimas. Seu toque era macio e delicado, o que me deixou mais calma, mais segura.

Por alguns segundos, ficamos nos olhando diretamente, até o primeiro sinal nos arrancar daquele momento.

–Nossa, já é o primeiro sinal.

–Primeiro? Tem mais de um?

Por não ter prestado atenção na aula, eu não fazia ideia que tinha outro sinal.

–Tem sim. O primeiro e 10 minutos depois tem o segundo. É sério Mitsuki, o que você fez a aula toda?

Sakura ria, como se nada tivesse acontecido, e eu acabei me entregando ao riso também.