Os próximos dias passaram voando.

Com a correria para organizar as coisas da mudança, nem vi março terminar e hoje, 3 de Abril, estou aqui sentada no meu novo apartamento, procurando o que fazer.

Tudo já estava em ordem. Livros nas estantes, roupas no armário, cadernos na escrivaninha, até as panelas, pratos, sapatos,produtos de limpeza estavam em seu lugar, ou seja, são duas horas da tarde e eu não tenho o que fazer. A única coisa que me restava era sair e dar uma volta.

Resolvi andar pelo meu bairro para conhecer o que tinha perto. Pude ver algumas lojas, um mercado, duas farmácias, um templo mais acima em um morro e finalmente uma praça. Ao lado da praça havia uma lanchonete, onde comprei um café com leite e chá verde e fui me sentar para relaxar um pouco.

Naquele lugar, várias crianças brincavam. Seus pais conversavam enquanto elas subiam nos brinquedos, corriam e davam risadas. Fiquei tão à vontade ali que nem vi o tempo passar. Muitas vezes me peguei pensando na Haruka quando algum casal passava abraçado e logo eu desviava os pensamentos. Precisava manter a minha promessa. Pelo menos até agora eu não tinha me sentido atraída por nenhuma garota. Isso já era um ótimo avanço. Quando me dei conta, o relógio já marcava seis e meia da tarde.

“Nossa, perdi hora. Preciso voltar pra casa antes que escureça por completo.”

No caminho de volta, obviamente me perdi. Com a noite caindo e sem fazer ideia de onde estava, comecei a ficar desesperada. Eu não sabia qual rua era aquela e muito menos como eu chegaria ao meu prédio.

Na tentativa de encontrar o caminho certo, acabei indo parar em uns becos escuros e completamente vazios. Para ajudar, meu celular estava sem área.

“Mas que droga! O que eu vou fazer agora????”
Eu olhava de um lado para outro a procura de qualquer coisa que pudesse me ajudar mas sem sucesso nenhum. A noite não tardou a chegar fria e silenciosa , deixando tudo aquilo mais apavorante ainda. Eu estava completamente sozinha em uma cidade que eu não conhecia. Num ato completamente desesperado, fiz a única coisa que me cabia fazer. Sentei e chorei.

Em meio aos meus soluços, alguém se aproximou e eu não percebi.

–Moça, está tudo bem?

Aquela expressão “o coração veio parar na garganta” fez o mais completo sentido na hora.

–AHHHHHHHH

–Calma moça! Não quis te assustar!!!

Eu tremia e chorava. Não esperava alguém aparecer tão sorrateiramente assim.

–Eu não vou te fazer mal! Estou aqui para ajudar.

E pela primeira vez, ela me abraçou.

Eu não fazia ideia de quem era. Sabia que era mulher por causa da voz, mas como ela era fisicamente só fui descobrir depois.

Aquele abraço me deixou tão segura, que parei de chorar e de tremer. Eu estava bem, me senti confortável nos braços de alguém que eu não conhecia.

–Está mais calma agora?

Ela se afastou um pouco e segurou meu rosto com uma das mãos.

–Alguém te machucou?

Finalmente consegui ver quem era a pessoa que estava preocupada comigo. Ela parecia ter saído de um mangá shoujo. Seus cabelos eram compridos, prateados e parcialmente presos por uma pequena fita vermelha. Seus olhos gentis eram de um tom intenso de violeta, por trás daqueles óculos. Um pouco mais alta que eu, ela exibia um sorriso carinhoso e reconfortante. Um sorriso que eu tinha visto apenas em uma garota...

“Mas que garota bonita!”

“Mitsuki para já com isso! Lembre-se da promessa!”

–Eu e-estou bem s-sim, só me p-perdi.

–Você é nova na cidade? Ela sorria

–Sou sim.

–Então bem vinda a Tokyo! Me chamo Ryuu Sakura e vou te ajudar a achar o caminho de casa.

Ela estendeu a mão para me cumprimentar.

–P-prazer Ryuu Sakura. Meu nome é Sonoda Mitsuki. E apertei sua mão.

–Não precisa agradecer Mitsuki-san, e pode me chamar só de Sakura.

Seu sorriso era definitivamente encantador e cativante.

Sorri de volta e desviei o olhar. Meu rosto estava em brasa.

–A propósito, você gostaria de jantar comigo? Estou indo a uma lanchonete e é o mínimo que eu poderia fazer para me desculpar pelo susto.

–E-eu não sei...

“Ela esta me convidado para saiiiiiir!!!”

–...amanha começam as minhas aulas.

–Que legal! As minhas também! Podemos jantar e ir embora cedo. Por favor.

No momento que aceitei, ela segurava minha mão e sorria. Foi impossível negar.

Andamos duas quadras até chegar a um café.

–Esse é um dos meus lugares favoritos. Espero que você goste.

Era um lugar bem tranquilo, com luzes mais fraca e toda a decoração era em madeira. As mesinhas tinham quatro lugares e um vasinho em cima, em cada vasinho havia uma flor diferente.

–O que você gostaria de comer?

–Eu gosto de chá verde, e o que você recomenda para comermos?

–Pode deixar que eu vou pegar algo que você vai adorar! Se quiser escolher uma mesa, já te encontro la.

–Esta certo Sakura-san.

Sai toda contente de perto dela e escolhi a mesa com um vasinho de narcisos.

De longe, observava aquela garota de saia azul escura e camisa branca dobrada nas mangas até a metade do braço.

Ela era bonita, tinha cara de inteligente e estudiosa, era simpática, gentil e atraía olhares de várias pessoas. Alguns ousados demais para o meu gosto, como o do velho sentado no outro canto do estabelecimento.

Fiquei encarando ele com a minha cara mais indignada possível.

“Mas isso é muita audácia!!! Onde já se viu olhar as pernas de uma garota dessa maneira!!! Esse cara não tem um pingo de respeito! Isso é simplesmente ridículo. Onda já se viu um...”

–Está tudo bem ai Mitsuki-san?

Nem vi Sakura chegando. Ele desviou o olhar quando notou que eu o observava e ela, compreendendo a situação, achou graça.

–Sim. Sim está tudo bem.

Meu rosto tinha ficado vermelho e ela notou.

–Espero de verdade que você goste do que eu lhe trouxe.

Na bandeja havia dois copos, um com chocolate quente e outro com café com leite e chá verde e para acompanhar, diversos salgadinhos e docinhos.

–Já amei todos eles!! Respondi empolgada.

Ela tinha acertado tudo o que eu gostava.