Intragável escrita por Secreta


Capítulo 2
Inestancável


Notas iniciais do capítulo

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"Atravessa o curso do invisível e se depara com a água inestancável do rio."

Inestancável

adj (in+estancável) Que não é estancável, que não se pode estancar.

Chego ao dormitório após alguns minutos de caminhada e, como sempre, organizo o material do dia. Chloe não aparece nesse meio tempo e, por isso, concedo-me a liberdade de tirar o vestido verde e as botas, circulando de langerie preta enquanto coloco o primeiro em minha sacola de roupas sujas. Aquilo me pouparia certo esforço.

Todavia, ao concluir a organização das minhas coisas e pegar uma toalha, já pronta para um banho relaxante, assusto-me com o barulho de porta sendo aberta e batida fortemente contra a parede.

Giro os calcanhares com o coração acelerado, deparando-me com minha colega de quarto, o amigo arrogante e os gêmeos que também circulavam por aí com ela.

– O que porra...

– Jim, coloca ele na minha cama e usa uma toalha nesse negócio. Vou tentar arranjar uns esparadrapos - Chloe me corta, ordenando algo para um dos gêmeos.

O mais irritante deles, no caso. Jimmy Renner era conhecido tanto por sua inconveniência, quanto pela tintura vermelha nas pontas de seu cabelo castanho e curto. Além do piercing na sobrancelha e algumas tatuagens diferentes, essa era a única maneira de diferenciá-lo do irmão, Tommy, cujo cabelo era grande o suficiente pra ser preso e tinha uma personalidade muito mais introspectiva.

Dirigi minha atenção ao mais arrogante dos três homens, Crawford, cujo rosto agora sangrava implacavelmente. Consequência da briga, obviamente.

– Curti o visual, Reinheart - Jim zombou ao passar por mim, carregando Julian para a cama de Chloe e fazendo-me corar instantaneamente ao recobrar a consciência dos meus trajes.

Dirigi-me imediatamente ao banheiro, tentando me acalmar enquanto tomava um banho e dava alguma privacidade aos quatro intragáveis presentes no meu dormitório. Minha organização contou a meu favor e, já tendo separado uma blusa branca de manga longa, botões e shorts jeans, vesti-me antes de deixar o banheiro.

Voltei à parte das camas de maneira mais digna e senti-me confiante o suficiente para ignorar as piadas que o gêmeo irritante faria. Minha sorte - se é que isso pode ser chamado de sorte - era o estado de Crawford ou além das piadas babacas, certo olhar de desprezo seria dirigido a mim.

– Isso não tá estancando, que merda! - Chloe xingou, alheia a minha volta.

Apesar de totalmente grossa e rude, ali ela parecia indefesa, destoante dos três marmanjos altos e intimidantes, com seu cabelo loiro curto, corrompido por algumas mechas roxas.

– Isso vai precisar de pontos - Tommy se pronunciou calmamente.

– Uma porra que eu vou pra o hospital por causa de uma merdinha no meu rosto - Julian indignou-se, rolando os olhos negros pro gêmeo menos inconveniente.

– De qualquer jeito, estamos sem carro. Spike é um bosta! - Chloe não se conteve. - Tem que ser muito merda na vida pra jogar sujo desse jeito!

Jogar sujo? Crawford havia socado os caras do basquete primeiro.

– Talvez dê tempo de recuperar o carro até sábado se eu levar logo a um mecânico e... - Julian dizia, até franzir o cenho. - Ai, essa merda dói!

Não sei o que ocorre, mas às vezes eu tenho crises de generosidade.

– Posso dar uma carona pra vocês - sugeri, fazendo-os notar minha volta pela primeira vez.

– Sem chance - Crawford retorquiu imediatamente e eu quis me socar e socá-lo por ser tão babaca.

Todavia, alguém tinha uma ideia melhor.

– Na BMW? - O brilho nos olhos azuis de Jimmy (exatamente iguais aos do irmão) entregava toda sua vontade de dar uma olhada no meu carro.

Cruzei os braços e arqueei as sobrancelhas.

– Sim? - Respondi o óbvio.

Alguns momentos de silêncio se passaram antes do veredicto final.

– Ah, chega! - Chloe explodiu, segurando uma toalha encharcada de sangue. - Essa merda não vai parar. Vamos levá-lo ao hospital.

Ignorando a fúria de Crawford, calcei minhas botas de couro e peguei as chaves da BMW. Jimmy praticamente pulou de excitação.

– O banco do carona é meu!

Ao ligar a BMW prata, já no estacionamento em frente aos dormitórios, o único de bom humor continuou a ser o gêmeo inconveniente que, de fato, ocupou o banco ao meu lado e resolveu dar uma olhada - bisbilhotada - em todas as partes do carro.

Fiz o possível para ignorá-lo, concentrando-me na direção do automóvel e no caminho que Chloe indicava. Chegamos ao hospital em vinte e poucos minutos.

Crawford foi, obviamente, o primeiro a cair fora.

Como os quatro não me deram indicação de que desejavam uma carona de volta para o campus - sequer agradeceram! -, passei um tempo fora do hospital, titubeando entre ir embora e ser legal novamente.

Acabei entrando.

No fim das contas, dirigi com os quatro de volta até o apartamento de Crawford - era de se esperar que alguém tão intragável e antipático quanto ele dificilmente dividiria quarto com alguém no campus. Se Chloe chegasse a mesma conclusão sobre si mesma, a universidade certamente seria um local melhor.

Estacionei na calçada à frente do prédio de Julian e aguardei enquanto os quatro amigos deixavam meu carro, sem os nada esperados agradecimentos.

No caminho de volta aos dormitórios, comprei comida para o jantar e dirigi lentamente, aproveitando a sensação de calma e a boa música que estava tocando no rádio.

Finalmente no quarto, abri as sacolas, servi-me e jantei, só então notando que estava cansada. Olhei-me no espelho do banheiro enquanto escovava os dentes, logo após me alimentar: ainda era eu, pelo menos fisicamente. Loira, olhos azuis, pele clara, altura mediana... Estava tudo ali. Mas de alguma forma, os dois meses sozinha em Saint Louis haviam me mudado de muitas maneiras.

Eu estava mais responsável, de um jeito que nenhum colega meu do ensino médio imaginaria. Ao mesmo tempo, mais livre do mundinho dos meus pais e mais presa à realidade não tão agradável do campus.

Senti falta de casa e, no meio da minha confusão, decidi ligar para meus pais e avisar que aceitava ir para Nova York no próximo fim de semana.


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Notas finais do capítulo

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