Yume caminhava rapidamente; não conseguia se concentrar em um único pensamento, pois havia um turbilhão deles passando pela sua cabeça. Ela só queria ficar longe daquele lugar o mais rápido possível. Estava muito tarde e escuro e, sem perceber, entrou em um beco estranho no caminho de casa. Pouco depois estranhou o caminho, mas não ligou; ela não estava ligando pra nada naquele momento, apenas se concentrava em chegar em seu quarto para poder chorar em sua cama.

Ela se sentia perdida, pois não sabia onde estava e não conseguia raciocinar. De repente, percebeu que estava sendo seguida por dois homens e logo mais um apareceu à sua frente.

– Vai a algum lugar, moça?

Ela ignorava e continuava andando, afinal seria mais fácil passar por do que por dois. Um dos que estavam atrás acelerou os passos e segurou seu braço. O coração dela disparou, e quando ela ia virar-se para socá-lo, ele caiu a sua frente e atrás dele não estava ninguém mais ninguém menos do que... Tetsu.

– Ai, que saco. Vou ter que te salvar de delinquentes agora também? Devia aprender a se cuidar sozinha.

– Por que você fez isso? Eu ia bater nele até ele chorar.

– Disse certo: ia. Não vai mais porque eu senti dó dele.

– Não pode ter dó desses caras e você sabe disso.

– Sim, eu sei. – E se virou para os outros dois. – Vão, saiam daqui.

Eles corriam muito, tentando puxar o outro que estava desmaiado no chão.

– O que você tá fazendo uma hora dessas na rua, Tetsu?

– Tava usando droga... mentira. Eu tava dando uma volta por aí e senti que você estava em perigo.

– E por que você estava “dando uma volta”?

– Não sei, deu vontade. E seu encontro com o Konoha?

Yume abaixou a cabeça com uma cara bem triste e segurou pra não chorar.

– Eu não quero falar sobre isso.

Tetsu deu um peteleco na testa dela, que a fez levantar a cabeça

– Ai, ai vei.

– Levanta essa cabeça, sua tonta.

– Não quero... eu fui trocada.

– Eu já falei pra você levantar a cabeça, sua idiota. Tá esperando o que? Agora para de bobeira, amanhã é um novo dia e você vai conseguir pensar direito. Vem, eu vou te levar pra casa; você tá precisando dormir e esquecer um pouco isso.

– Não precisa, posso ir sozinha.

Tetsu pegou-a no colo.

– Não é um pedido.

Pouco depois ele a colocou no chão e continuaram andando juntos em direção a casa de Yume. Tetsu parecia um pouco cansado.

– Meu, tua casa fica muito longe. Você tinha que morar no lado rico da cidade?

– Eu não sou rica, idiota.

– Para, você tem dois jatinhos.

– Você é quem tem dois jatinhos vacilão.

– Aah, é mesmo. Na verdade, eu tinha dois jatinhos antes de explodir a casa.

– Explodir???

– Longa história.

– Cara, quando eu acho que você não pode me surpreender... Louco.

– Nada, eu sou normal.

– No dia que você for normal estaremos todos perdidos.

Tetsu riu. Eles chegaram a casa de Yume, mas ele não quis entrar.

– Obrigada, você conseguiu me distrair um pouco. – Disse Yume, com um sorriso fraco no rosto.

– Pelo menos eu servi pra alguma coisa. Agora vá dormir, boa noite. – E saiu andando.

– Obrigada. – sussurou Yume.

Ela entrou em casa e foi direto tomar um banho para relaxar. Após o termino, deitou em sua cama e, por um segundo, pensou em chorar, mas foi mais forte que isso e não o fez. Pouco depois ela dormiu.

*

*

*

Yume acordou cedo, pois teve alguns pesadelos meio incômodos que a fizeram perder o sono. Ela pegou seu celular e havia uma mensagem de Tetsu.

“Espero que esteja bem. Sei que você gosta muito de ginástica e fiquei sabendo que está acontecendo uma competição no Ginásio Municipal de Tókio. Infelizmente não posso te acompanhar, mas acho que você deveria ir, quem sabe te ajuda a esquecer um pouco o que está acontecendo.”

– Esse idiota... Por que ele se preocupa tanto comigo???

Ela se levantou e decidiu ir, então se arrumou e correu pra tomar o café. Por mais que aquilo fosse lembrá-la de Konoha, ela tinha esperança de se distrair assistindo alguns profissionais competindo. Porém, ao chegar no local, descobriu que a competição era infantil, com idade máxima de 10 anos. Ela decidiu ficar mesmo assim, queria ver do que elas eram capazes e sorria muito ao perceber que estavam dando o melhor que podiam de si mesmas. Aquilo a fez se lembrar de Konoha e ela ficou um pouco abalada e se sentindo um pouco culpada por todo aquele ciúme. De repente, um garoto se sentou ao seu lado. Ele era loiro, pouco mais alto que Konoha e ficou, junto com ela, olhando as crianças competindo.

– Não é algo normal alguém vir acompanhar a competição deles. – Disse o garoto, com um sorriso no rosto.

– Digamos que eu gosto muito do esporte. – Yume sorriu de volta.

– Ah, me desculpe pela falta de educação. Meu nome é Yusuke Yamanaka, é um prazer conhecê-la.

Ela ficava imaginando aonde havia escutado esse nome, ou talvez nunca tivesse escutado, mas voltou as suas atenções às crianças.

– Meu nome é Yume Asakura e o prazer é todo meu.

– Então, você quer sair comigo?

– O QUE? SAIR? MAS JÁ?? VOCÊ NEM ME CONHECE AINDA, E NEM EU TE CONHEÇO. POR QUE QUER SAIR COMIGO???

– Calma, desculpa. É que você é a primeira pessoa além dos pais deles que veio ver meus pequenos competindo, veio apenas pela paixão, e eu me sinto honrado com isso. Então??

– É, eu aceito. Não tenho nada pra fazer mesmo.

– Tudo bem então. Nos encontramos na ponte no centro daqui uma hora, ok?

– Ok.

– Te vejo lá. – E saiu correndo em direção às crianças.

Yume achou aquilo bem estranho, mas, naquele momento, qualquer coisa que a distraísse seria uma boa. Assim que acabou a competição, ela se dirigiu para o lugar marcado. Pouco tempo depois, ele também chegou. Eles saíram andando e conversando sobre muitas coisas, mas principalmente sobre ginástica e sobre a vida deles. Eles se divertiam muito e Yume estava com um sorriso estampado no rosto o dia todo, parecendo ter se esquecido do dia anterior. Foram a muitos lugares até que finalmente estavam novamente no ginásio. Eles entraram e se sentaram sobre o tablado, o que a fez lembrar-se do dia em que tudo havia começado e em como ela parecia uma boba naquele dia tentando impressionar Konoha.

– Mas por que você gosta tanto do esporte, Yume?

Yume fez uma careta triste ao se lembrar seu principal motivo: Konoha Uchiyama.

– Por muitos motivos: admiro a superação, a força, a beleza e vários outros motivos, inclusive um em especial, mas não quero falar sobre.

– Pode falar.

– Eu prefiro esquecer.

– Tudo bem então. E aí, gostou do dia?

– Adorei, eu pude me divertir muito. E olha que pensei que o dia seria entediante. Obrigada Yusuke.

– Disponha, gosto de ver as pessoas sorrindo. Ainda mais você, seu sorriso é lindo. – Ela corou, mas ele fingiu não ver – Tinha percebido que você estava meio desligada. Tem certeza que não quer mesmo falar sobre o que aconteceu?

– Deixa pra lá, é coisa minha.

– Bom, se não quer contar tudo bem. Mas, por favor, fique com isso. – Ele lhe deu um pedaço de papel, onde estava escrito seu nome e se numero. – Depois me liga.

Ela pegou o papel e fechou os olhos. Foi exatamente daquele jeito que aconteceu entre ela e Konoha. Daquele jeito tudo havia começado. Uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo. Yusuke percebeu e limpou, carinhosamente, a lágrima, depois sorriu pra ela.

– Parece que é uma situação muito tensa.

– É... mas tenho que seguir em frente.

– Me perdoa por tocar no assunto. Então, quer que eu te leve pra casa?

– Não precisa se incomodar, eu posso ir sozinha.

– Não é incomodo, só quero saber onde você mora pra ficar mais fácil te achar.

– Ousado você, não?!

– Tô só brincando. – E deu um sorrisinho de lado, o que fez Yume perceber que ele era muito bonito. – Você vai fazer alguma coisa amanhã?

– Acho que não, não sei ao certo.

– Se você puder, aparece aqui no ginásio amanhã, lá pras 10h00min.

– O que vai acontecer amanhã?

– Eu vou competir, mas estou muito nervoso. Quem sabe você e seu lindo sorriso me acalmem um pouco.

Yume corou.

– Se é assim, eu venho amanhã. Mas agora vou indo, boa noite Yusuke.

– Boa noite Yume, adorei te conhecer.

Yume saiu andando e pensando o quanto seu dia foi legal e totalmente diferente do que ela imaginou que seria. Ela chegou em casa e se deitou na cama, sorrindo a lembrar de Yusuke, e percebendo que ele havia mexido com ela. Porém, ao pensar isso, sentiu como se estivesse traindo Konoha e o enorme ciúme que ela sentia dele. Apesar disso, ficou com raiva por perceber que ele não havia nem mesmo mandado alguma mensagem pra ela, nem procurou saber onde e como ela estava e o que aconteceu pra que ela fosse embora sem avisar. Decidiu que o melhor a fazer agora era dormir, e deixar esse assunto para ser resolvido no dia seguinte.