Três dias haviam se passado desde aquele beijo. Naquele dia, eles estavam vivendo o momento tão intensamente que nem sentiram quando a roda gigante parou para eles descerem. Mesmo que um pouco sem jeito de interromper, o coordenador do brinquedo foi quem informou a eles que a volta havia acabado. Eles desceram e foram embora, sem nem mesmo se despedir. Yume sentia seu rosto queimando e estava completamente estagnada, só queria sair dali. Konoha pareceu entender e não foi atrás.

Yume agora estava em seu quarto abraçada no ursinho que ele lhe deu, pensando naquele momento na roda gigante. Ela pegou o celular e ficou olhando para o número de Konoha, tentando entender o porquê de ele ter sumido por tanto tempo. Começou a imaginar que talvez ele não quisesse nada com ela.

– Por que você não liga pra mim, hein Konoha??!

Ela colocou o celular na cama, e ele tocou. Yume se assustou e se perguntou se Konoha havia escutado-a.

– Alô. Konoha???

– Não, alguém melhor.

Era Tetsu. Ela devia imaginar, já que eles não conversavam já há algum tempo.

– Morra. Pensei que fosse o Konoha, seu idiota.

– E essa voz triste? O que aconteceu?

– Não foi nada.

– Aaah, que merda hein Yu. Será possível que você não serve nem pra falar o que aconteceu?

– Você não precisa saber.

– Cê ta em casa?

– Tô sim.

– Tem mais alguém aí?

– Não, eu to sozinha. Por quê?

A ligação caiu e Yume ficou olhando pro celular tentando entender. De repente escutou um baque e, quando ia se virar, começou a flutuar.

– Por nada. – Disse Tetsu, carregando-a. – Levanta esse bumbum daí, vamos tomar sorvete e você me conta tudo.

Yume se debatia, tentando se livrar dele.

– Seu louco, me solta. Eu vou chamar a polícia! Como você invade minha casa assim??! Aliás, como você entrou aqui?

– Pela janela, ora. Mas dane-se. Tira esse pijama, coloca uma roupa decente e vamos. E vê se não demora.

– Me dá um bom motivo pra eu fazer isso.

– Anda logo, mulher, ou eu não saio daqui. – E sentou-se na cama dela, como se a casa fosse sua.

– Eu te odeio, cara.

– Eu sei.

– Mas como eu vou trocar de roupa se você não sair daqui, babaca?

– Desculpa, desculpa... – E saiu do quarto.

Yume se arrumou rapidamente, e eles se dirigiram em direção à sorveteria. No caminho, Tetsu insistiu calmamente para que ela lhe contasse o porquê de estar daquele jeito. Ela acabou se rendendo e contou tudo; contou sobre o encontro e sobre o que tinha acontecido, e que Konoha não havia ligado mais pra ela como se houvesse lhe esquecido.

– Então é só isso?

– SÓ ISSO???? SÓ ISSO??? QUAL SEU PROBLEMA, SEU DOENTE?

– Suas reações são hilárias, sério. – Tetsu ria. – Vamos fazer assim: aproveita que já tá com o celular na mão e liga pra ele. Simples.

– Não dá, cara... não dá. É tipo... eu não consigo fazer isso.

Tetsu pegou o celular da mão dela e ligou pra ele. Ela tentou pegá-lo de volta, mas ele apenas mantinha distância dela, colocando a mãe em sua testa e vendo-a tentar se aproximar. Ele ligou para Konoha, que atendeu rapidamente.

– Alô? Konoha?

– Sim, quem fala?

Tetsu jogou o celular nas mãos de Yume.

– Toma. É pra você!

– Seu idiota. – Sussurrou ela, com raiva. – Ah, oi Konoha. Desculpa incomodar. Foi o idiota de um amigo meu que ligou pra você.

– Tudo bem. Desculpa ter sumido, achei que você precisava de um tempo depois do... depois do que aconteceu. Não sei se foi o certo, mas pensei ser o melhor. Mas e então, já que está recuperada, vamos sair?

– O quê?? Sair de novo? De verdade?

– Claro que sim. Aonde podemos ir, e onde quer me encontrar?

– Eu não sei. Será que podemos deixar pra amanhã?

– Por quê? Tem compromisso hoje?

– Não, é que to tomando sorvete com um amigo meu. Acho que vou chegar tarde em casa.

– Ah, tudo bem então. Nós podemos deixar pra amanhã, e aí passamos o dia juntos, ok?!

– Ok. Tchau Konoha.

– Tchau Yume, bom encontro pra vocês.

Yume se assustou e ficou muito corada.

– ENCONTRO?? Tá doido?? Quem se encontraria com um cara tão retardado?

Tetsu pegou o celular da mão de Yume e saiu correndo com ele... por um bom motivo.

– Konoha? Desculpa, a garotinha aqui vai te encontrar no parque. Esteja lá às 15h30min ou vai tomar fácil uma voadora.

E desligou o celular, entregando-o pra Yume.

– O que você fez, baleia encalhada?

– Só chora, vai lá e brilha. No parque, agora. – Ele bagunçava de leve o cabelo dela e saia andando, sorrindo.

– Como ele pode ser tão idiota? – Dizia Yume pra si mesma.

*

*

*

Ainda eram 14h40min e ela já estava imaginando por quanto tempo esperaria Konoha, já que não sabia o horário que Tetsu havia marcado com ele. Mas, após apenas 10 minutos de espera, ele apareceu sorridente.

– Me desculpa te deixar esperando.

– Não tem problema. A que hora vocês haviam marcado?

– Mais ou menos 15h30min.

– Então por que chegou tão cedo?

– Uma coisa que aprendi foi a linguagem de rua dos meus amigos.

– Como assim?

– Quando ele falou “se você não chegar lá eu te dou uma voadora”, ele quis dizer pra eu chegar logo.

– Isso é mentira né.

– Mais ou menos. Eu não queria tomar uma voadora.

– Explica direito por que só “mais ou menos”.

– Você não ouviu o que ele falou no telefone?

– Não, ele correu.

– Ele falou pra eu chegar mais cedo que você e te impressionar, mas eu não entendi direito.

– O que aquele idiota tem na cabeça? Ele quer me deixar sem graça na sua frente, só pode. – Yume corou ao perceber que estava falando alto e que Konoha a olhava como se não entendesse e ao mesmo tempo achasse engraçado. – Vamos fazer o que?

– Bom, hoje é domingo. Acho que não temos muitas opções. Mas eu vi que tem um show de circo acontecendo na rua principal, podemos ir pra lá.

– Eu ia adorar.

Konoha e Yume iam andando lado a lado. Ele segurou a mão dela e ela parecia começar a se acostumar com aquilo. Continuavam conversando normalmente. Ao chegarem à rua onde acontecia o circo, porém, Yume percebeu que uma garota estava correndo na direção deles. A garota pulou sobre Konoha, abraçando seu pescoço com muita força. Yume apenas se afastou.

– Konohaaaa, que saudade de você.

– Desculpa, mas nem vi seu rosto.

A garota soltou o pescoço dele e ficou parada a sua frente, encarando-o.

– Chiho??

– Acertou! Nossa, quanto tempo. Eu senti tanto sua falta.

– Não nos vemos faz um ano já. O que você faz aqui? – Disse ele, animado.

– Acabei de me mudar pra esta cidade, me transferiram no trabalho. Finalmente vou poder ficar perto de você.

– Menos Chiho, menos.

Kamyia Chiho só agora desviou o olhar de Konoha e percebeu que havia uma garota perto. Ela a olhou de cima a baixo, como a analisá-la. Yume já estava sentindo pontadas de raiva, e isso intensificava seu sentimento.

– Quem é ela, Ko?

– É Yume, ela tá saindo comigo agora.

– Isso é maldade Ko, você nunca saiu comigo.

– Nunca pudemos, pois morávamos longe um do outro, se lembra?

– É verdade, mas agora estou aqui; então posso ir com vocês, né?

– Se Yume não se importar...

Yume apenas balançava a cabeça positivamente, mas sua verdadeira vontade era dizer não e xingar Chiho. Ela estava confusa com o que sentia. Talvez fosse ciúmes, mas como poderia sendo que não havia relação nenhuma entre eles. E se ele estivesse saindo com ela apenas por dó? Ou então estivesse brincando com ela? Ela caminhava devagar, enquanto Chiho e Konoha conversavam animadamente à sua frente, parecendo não se lembrar da presença dela.

Eles chegavam ao circo, que, impressionantemente, era bem grande pra um circo de rua. Entraram e se sentaram, Konoha no meio e uma de cada lado. Yume apenas curtia o show enquanto eles conversavam sem parar, falando sobre a época antiga e tudo mais. Ela tentava ignorar, mas algo em seu peito doía e ela segurava suas lágrimas. Ela não disse uma só palavra enquanto esteve lá. Antes de o show acabar, decidiu que era melhor ir embora, pois não fazia mais sentido ficar ali. Ela saiu vagarosamente, sem que eles percebessem, e querendo ficar o mais longe possível dali. Ela não podia crer no que estava acontecendo. Estava estranhando tudo dando certo, mas não esperava ser trocada por outra fácil assim. Ela só queria manter distância.