Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 8
Gripe




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Essas últimas semanas foram uma loucura, com Haymitch doente tive que me desdobrar para ajudá-lo e cuidar das obras na padaria. A princípio ele ficaria em minha casa, mas assim que acordou rejeitou a ideia e foi embora. Katniss e eu nos revezamos nos cuidados. Fiquei com a noite e ela com o dia. Então agora que já pode ficar sozinho tento retornar a minha rotina e descansar. Acordo cedo mais sinto muita dor no corpo, parece que o cansaço das semanas anteriores se instaurou de vez. Minha garganta doí, minha cabeça está explodindo. Consigo fazer o pão de forma precária e vou para casa da Katniss. Só sinto vontade de ficar quieto, mas preciso trabalhar. Então me obrigo a comer algo.

— Você não está bem, está doente? —  fala me observando cuidadosamente.

— Acho que peguei uma gripe — digo desanimado. Ela vem até mim e toca minha testa, diz que estou com febre e que não devo sair de casa. Digo que não posso pois preciso trabalhar. Ela não concorda e argumenta que a padaria estará lá amanhã. Mas que hoje irei descansar. Não discuto porque isso é tudo que meu corpo pede.

— Vou te dá alguns remédios, mas eles vão te deixar sonolento. Por isso precisa dormir. Pode deitar no sofá e ficar a vontade.

— Não precisa se incomodar, vou para casa e durmo lá. — Engulo os comprimidos que me passou com um pouco de água e tento sair.

— Não é incomodo nenhum. — Ela segura meu braço — Deixa eu cuidar de você ? Em casa vai estar sozinho e aqui posso ficar de olho.

Começo a oferecer resistência, mas ela não desiste me leva até o sofá, pega uma manta e me diz para ficar quieto. Realmente a medicação logo faz efeito e durmo. Acordo tendo a sensação que estou sendo beijado. Katniss está ao meu lado me chamando com um prato se sopa e novos remédios. Não tenho vontade de comer, mas ela me obriga dizendo que estou fraco e que preciso me alimentar. Verifica minha temperatura e contata que ainda estou com febre. Diz que os remédios vão baixar a febre e me fazer melhorar logo. Engulo todos e volto a dormir durante o resto do dia e início da noite.

Desperto somente no meio da noite ouvindo gritos, leva um tempo para me situar, não estou em minha casa, estou num sofá diferente. Os gritos se tornam mais altos e é então que entendo: É Katniss quem está gritando. Subo a escada correndo e entro no quarto, ela está encolhida aflita e chorando. Passo a mão em seus cabelos chamando seu nome tentando acordá-la. Leva um tempo mais que se acalme, a abraço e espero até que volte a dormir. Ela não chega a despertar completamente, acredito que nem saiba da minha presença. Minha vontade é ficar ali, sei que não posso até porque posso lhe transmitir gripe. Volto ao sofá e agora já sem sono. Os remédios realmente são bons pois não tenho mais nenhum sintoma da doença. Leva um tempo para conseguir dormir novamente.

Sinto seus lábios nos meus e dessa vez abro rapidamente os olhos, ela está mesmo me dando um selinho para me acordar. Resisto à vontade de segurá-la e aprofundar o beijo, e me limito a sorrir.

— Está melhor? — pergunta sem graça por ter sido surpreendida.

— Muito melhor. Obrigado por cuidar de mim — realmente estou grato ela não precisava, mas fez questão de cuidar.

— Por nada. Você foi ao meu quarto ontem à noite? — fico apreensivo com a pergunta, mas não tenho como mentir, resolvo assumir as consequências.

— Fui, você estava tendo um pesadelo. Fiz mal?­ — Olho para ela esperando uma resposta.

— Não. Obrigada por cuidar de mim — está usando o mesmo tom que usei com ela.

— Disponha  — é tudo que digo. Volto para casa tomo banho e troco de roupa logo após o café. Katniss fica de passar em minha casa para sairmos da vila juntos como fazemos todos os dias. Desço as escadas correndo quando a escuto chamar.

— Ora, está realmente melhor e mais animado — diz quando me vê correndo.

— É porque tenho a melhor enfermeira do mundo — digo a tirando do chão e rodando com ela pelo corredor. Ela sorri e solta um grito com medo de cair. Quando a coloco no chão, diz:

— Disponha — novamente imitando a forma que falei. Saímos juntos e realmente me sinto mais disposto, o dia passa rápido e quando retorno vou até o Haymitch conferi como está, ele diminuiu a quantidade de bebida após a operação, mas ainda tem recaídas, deixo comida preparada para ele e vou para casa. À noite vou até a casa da Katniss que quer conferir se realmente estou bem. Diz que o normal é os sintomas da gripe durarem mais dias, mas que talvez minha melhora seja pelo efeito rápido da medicação ou que talvez eu estivesse somente com um início de resfriado.

Mesmo constatando que não tenho mais nada, não me deixa retornar para casa alegando que posso ter uma recaída enquanto estiver sozinho e me obriga a dormir novamente em sua casa. Dessa vez indica uma cama do quarto ao lado do seu. Tenho minhas suspeitas que talvez esteja querendo que eu fique por perto durante a noite por causa dos seus pesadelos, não digo nada, aceito sua sugestão/imposição de bom grado. Estar perto dela é bom de qualquer forma. E se me quer por perto, não sou eu quem vai insistir para ir embora.

Como imaginei não demoro a ouvi-la gritando, abro a porta e entro devagar, chamo seu nome e a acalento em meus braços, ela acorda e quando consegue relaxar volta a dormir. Retorno para o meu quarto e adormeço. Perto do nascer do sol ela volta a gritar, mas quando chego perto sinto sua pele muito quente, constato que está com febre. A acordo e ela relata estar com muita dor no corpo e na garganta, está com gripe. Sei que não pegou de mim, pois o vírus transmitido demora uns cinco dias para se manifestar. Pergunto quais medicamentos me deu e ela diz os nomes os trago junto com um copo de água para que tome. Mas se em mim a doença passou rápido, com Katniss é diferente. Encontro dificuldades em baixar sua febre, ela vomita muito e fica fraca, apesar de sonolenta não consegue dormir por causa dos vômitos e tosse, tenho que ficar o tempo todo por perto para ajudá-la.

No fim do dia penso ser hora de pedir ajuda. Ligo para o enfermeiro que vem até a casa e constata que realmente a gripe dela está muito forte. Ele aplica uma injeção em seu braço e explica que devo ficar de olho para que a febre não aumente muito. Diz que o Distrito está enfrentando um surto da doença e que a Capital está enviando alguns médicos para ajudarem a contê-lo. Katniss continua doente pelos próximos dois dias. Gale aparece para vê-la e fica muito irritado por eu estar com ela sozinho esse tempo todo, mas não pode fazer nada sua mãe e irmã também estão doentes e precisam de cuidados então só pode reclamar e ir embora. Passo o tempo, abaixando a febre dela, limpando vômito e cozinhando. Mas não dá para reclamar, faria muito mais pela Katniss, mas realmente estou preocupado com ela. No fim de três dias ela dá sinal de melhoras, para de vomitar, a febre cede e já consegue dormir por um bom tempo sem precisar de ajuda. Em todos esses dias não fui nenhuma vez a padaria, só fui em casa tempo suficiente para tomar banho e voltar.

Na manhã do quarto dia acordo tarde e vejo Katniss sentada em minha cama, ela está bem melhor e disposta, desde que adoeceu é a primeira noite que durmo e por isso passo da hora para levantar. Ela está segurando uma enorme bandeja com o café da manhã. Apesar do pouco tempo entre cuidar dela e fazer comida, cozinhei muito. Soube relatos de mortes devido ao surto no Distrito e isso quase me enlouqueceu. Cozinhar foi a forma que encontrei de manter meu medo de perdê-la controlado.

— Bom dia — diz sorrindo — Teve alguém que fez quantidades absurdas de bolos, doces e biscoitos. Vou ficar dias comendo, mas preparei esse café da manhã para agradecer por ter cuidado tão bem de mim.

— Cozinho quando estou nervoso e você me deu um susto enorme. — tento justificar meu exagero. — Não se preocupe, vou ao mercado e reponho tudo.

— Não precisa repor, fico grata por tanta comida gostosa e o que nós não conseguirmos comer, distribuímos. Agora vamos tomar café? Estou morta de fome.

Comemos ainda na cama, ela passa um tempo me agradecendo por todos os cuidados e sei que não precisa por ela faria muito mais. Rimos um pouco sobre a quantidade de vezes que vomitou e tive que limpar, de como seu nariz ficou inchado e vermelho e outras coisas que agora parecem engraçadas, mas que na hora me deixaram completamente inquieto e nervoso. Depois do café juntamos os alimentos, que realmente eram demais e distribuímos, levamos as pessoas que estavam doentes e famílias carentes. O surto foi controlado com a ajuda dos médicos da Capital e logo tudo ficou bem. Katniss e eu ficamos mais próximos depois desse episódio, nossa amizade se fortaleceu e percebi que contra tudo sempre vamos cuidar um do outro e essa certeza ninguém pode me roubar.


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