Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 7
Capital




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Minha mente está realmente confusa, após praticamente mandar os dois embora, vou tomar um banho, a situação está beirando o insuportável. Gale está cada vez mais possessivo e enciumado, está sempre me cercando por todos os lados. A sua vinda aqui à noite mostra isso. Ele sabe que o Peeta vem para cá, por isso veio. Não sei como agir. Sei que uma hora terei que me decidir, mas não sei se consigo. Gosto da companhia dos dois e não quero ficar escolhendo ninguém. Queria que ao menos conseguissem conviver um com o outro, mas isso é impossível. Quando estão juntos mal se falam e às vezes Gale chega a ser bem grosseiro. Peeta não revida, mas percebo que fica irritado, por isso o evita. Saio do banho e logo me deito. Quando os pesadelos começam é impossível não pensar em Peeta.

Levanto cedo e desço para o café. Peeta chega e logo comemos, ele pergunta pela noite e relato alguns dos meus pesadelos, não tenta me indicar nenhuma “receita pronta,’’  só escuta mostrando atenção e isso já ajuda. Pergunto se irá na casa do Haymitch e diz que está atrasado para uma entrega, e então saímos em direção ao centro.

No escritório que resolvo os problemas das construções percebo que Haymitch não assinou alguns documentos de que preciso. Peço para Adam, um rapaz que trabalha conosco, levá-los até ele para colher a assinatura. Gale chega assim que ele sai e começa a conversar sobre alguns novos moradores do Distrito. Depois de uns quarenta minutos Adam retorna e relata que Haymitch não atendeu e que quando entrou na casa o encontrou desacordado no chão. Apesar de tentar não conseguiu acordá-lo e que quando o tocou percebeu que ele estava com muita febre. Largo tudo que o estou fazendo e começo a correr, no caminho passo na padaria, abro a porta rapidamente e Peeta me encara. Pela minha expressão sabe que algo está errado.

— É o Haymitch — digo e é o suficiente para ele tirar o avental e vir atrás de mim. Na vila entramos em sua casa e o encontramos exatamente como Adam disse. Mas não parece que estava bebendo. Gale que também veio ajuda a colocá-lo no sofá. Eu constato sua febre e Peeta liga para um enfermeiro que trabalha no Distrito. Como o Hospital ainda não está pronto ele atende em domicilio. Logo que chega faz alguns exames e reanima Haymitch. Acordado relata fortes dores abdominais. O enfermeiro nos diz que suspeita de apendicite, mas que só na Capital poderemos saber e que deveríamos levá-lo rapidamente.

De trem a viagem dura mais de doze horas, então a alternativa seria um aerodeslizador. Uma viagem às pressas e uma internação saem caro e eu não disponho desse dinheiro. Tudo que tinha guardado usei na reconstrução, deixando somente o suficiente para viver. Sei que Peeta também não tem pois gastou muito na padaria e também contribuiu nas construções do Distrito. Vou até a cozinha Peeta e Gale me seguem. Olho para Peeta quando pergunto:

— O que vamos fazer? Não tem como a gente conseguir o dinheiro para a viagem e o tratamento de forma tão rápida. — Estou nervosa e preocupada, Haymitch é da família. Peeta percebe meu nervosismo e tenta me acalmar.

— Eu vou dar um jeito — fala pegando o telefone e saindo da casa. Quando retorna senta em uma cadeira e espera. Eu o olho ansiosa, mas me faz sinal para esperar. O seu telefone toca e ele sai novamente para atender, volta dizendo que o aerodeslizador chegará em uma hora. Nem pergunto como conseguiu vou em casa faço uma pequena mala e retorno. Haymitch é colocado em uma maca enquanto aguardamos. Ligo para minha mãe e informo o que está acontecendo e ela se compromete a organizar tudo para recebê-lo. A viagem é rápida e silenciosa tanto Peeta como eu estamos angustiados. Nenhum dos dois diz nada, mas cada olhar que trocamos demonstram nossa ansiedade.

Pousamos no terraço do hospital, há uma equipe preparada para levá-lo para exames. Peeta se dirige ao faturamento para resolver as questões financeiras. Penso em como conseguiu organizar tudo tão rápido só com duas ligações. Ainda estou presa nesse pensamento quando alguém o chama. É uma moça linda, loira, cabelos longos, decote grande demais para o meu gosto. Assim que ele se vira ela se joga em seus braços. Ele a afasta depois de um tempo e começam a conversar. Chego perto para descobrir quem é. Fico ao lado de Peeta esperando que nos apresente.

— Katniss — fala se virando para mim — Essa é Rosaly Smitch, ela trabalha me representando aqui. — Estendo a mão falando meu nome, mas estranho ele nunca ter mencionado ela nem uma vez. Rosaly nos informa que já resolveu tudo e que basta que Peeta assine uns papeis que a internação será autorizada. Ele assina tudo rapidamente e ela sai levando os documentos. Minha mãe nos encontra no corredor e depois dos abraços ela sai para ter notícia do Haymitch. Gale que insistiu em vir me chama num canto dizendo que poderíamos ir para a casa da minha mãe descansar.

— Eu não vou sair daqui até saber o que ele tem. — A ansiedade aparecendo na minha voz.

— Por que não?  Você já o socorreu. Ele está em um hospital. Vamos até a casa da sua mãe. Qualquer coisa o Peeta liga para nós. — Sua frieza me incomoda, ele realmente não compreende a ligação que tenho com o meu antigo mentor. Ele é bêbado, diz coisas desagradáveis, mas é da minha família. E como Gale nunca gostou dele, é incapaz de entender.

— Olha, você pode ir para lá e ficar à vontade eu vou ficar aqui, está bem? — Sento em uma cadeira me mostrando decidida.

— Por que você faz isso? Ele vai ficar bem, o Peeta está cuidando dele, a gente poderia sair, passear na cidade, de manhã você vem. Ele não é responsabilidade sua, Katniss, nem é seu parente.

— Gale, ele é da minha família, eu não vou sair daqui. Vou ficar e aguardar. Pode ir se quiser. — Ele se senta junto a mim balançando a cabeça em negativa e depois olha pra Peeta que está no balcão conversando com uma enfermeira e pergunta:

— Quem era a amiguinha do padeiro? Bem bonitinha, não? Eles parecem bem íntimos­.  — Há uma clara insinuação em sua fala.

— Ela trabalha para ele. — Minha voz sai baixa.

— Trabalha para ele? Fazendo o quê? — Não respondo porque não consigo saber o que ela faz. Depois de um tempo, o médico nos procura e confirma as suspeitas do enfermeiro do Distrito. Ele informa que devido ao estado de saúde dele a cirurgia será de risco e que precisa da autorização da família para realizar os procedimentos de emergência. Peeta que está junto comigo, confirma com o médico a autorização afirmando que Haymitch é da nossa família e que nós nos responsabilizamos por tudo. Gale me olha irritado por eu confirmar que somos de uma mesma família ao responsável pela internação. Quando o médico se retira, eu olho aflita para Peeta, ele abre os braços e vou até eles. Durante o abraço afirma que tudo vai ficar bem. Transmitindo toda a calma e firmeza que preciso para enfrentar o momento. O solto quando Rosely retorna o chamando.

— Você está me devendo um jantar — ela fala sorrindo. — Faz ideia do quando eu corri para arrumar tudo a tempo?  Vai ter que me leva ao Leebrê. — É um restaurante caro que passa nas propagandas da Capital. Peeta olha para ela e reponde:

— Não tenho tempo para o jantar, mas prometo te mandar uma bonificação.

— Prefiro o jantar — fala decidida, e começa a rir alto. Dá um beijo em sua bochecha e se despede dizendo que vai ligar depois.

Sento novamente perto de Gale e espero a cirurgia terminar. Minha mãe retorna dizendo que só dois poderão acompanhar o paciente e depois se vira para Gale e o convida para ir em sua casa. Ele que já estava emburrado por me ver abraçando Peeta, se mostra ainda mais irritado, não há muito o que fazer e ele sai. Somos conduzidos para esperar dentro do quarto destinado ao Haymitch, é onde ficará após a cirurgia. Sento em um pequeno sofá e Peeta me acompanha.

— O que Rosaly faz para você? — Sou direta e estou realmente curiosa sobre ela.

    — Ela é uma espécie de consultora, do que eu precisar ligo e ela resolve alguns problemas.

— Que tipo de problema? — Estou invadindo sua privacidade, mas não resisto.

— De todo tipo: o aerodeslizador, o dinheiro, a internação, negocia meus quadros, essas coisas.

— Como conseguiu o dinheiro tão rápido? — Não parece chateado com minha seção de perguntas, ao contrário, se vira pra mim e responde me olhando e sorrindo.

—  Vendi uns quadros. Tem um curador do museu que queria comprar então vendi. A Rosaly fez a intermediação.

Fico um tempo calada sem muito o que dizer. Peeta se acomoda no sofá e eu tento fazer o mesmo. Descubro que o jeito mais confortável que tem é me aninhando a ele e é o que faço. Depois de um tempo pego no sono. Peeta também dorme e é a chegada de Haymitch ao quarto que nos acorda. Ele está sedado e medicado. A cirurgia demorou mais de quatro horas. Minha mãe informa que ele vai dormir até o dia seguinte e nos encoraja a ir para sua casa. Mas não queremos sair, ela nos convence a sairmos pelo menos para comermos alguma coisa enquanto ela fica no quarto.

Peeta e eu andamos até uma rua próxima ao hospital e avistamos uma pizzaria. Como nunca entrei em uma o convenço a entrar. A pizza é muito gostosa e mesmo com a situação que nos trouxe a Capital nós relaxamos agora que tudo parece bem e até conseguimos rir durante a conversa. Retornamos ao hospital rapidamente e ficamos esperando até Haymitch acordar.

Meus encontros com Prim são rápidos, geralmente na hora do almoço, mal temos tempo para matar a saudade isso porque ela está estudando e eu no hospital. Mas quando Haymitch começa a melhorar temos um pouco mais de tempo. Effie faz algumas visitas ocasionais, assim como minha antiga equipe de preparação. Fico feliz em revê-los, apesar do pouco tempo que tenho para aproveitar a presença de todos. Durante o dia minha mãe fica de olho nele com as demais enfermeiras, Peeta e eu nos revezamos à noite com os cuidados, o que nos dá liberdade para conhecer alguns lugares da Capital. Gale retornou ao Doze após a cirurgia e nós ficamos na casa da minha mãe.

Durante os passeios Peeta me leva ao observatório, um lugar onde se pode olhar as estrelas e planetas. Nunca pensei em ver algo assim, mas ele explica que tinha permissão dos médicos para sair do hospital nos fins de semana e conheceu vários lugares. Visitamos o museu e vi suas telas expostas. É gratificante ver o reconhecimento das pessoas pela sua arte. O observatório também tem uma área de exposição e um quadro enorme do nosso sistema solar fica exposto lá. Assim que entrei me deparei com o quadro e fiquei admirando sua beleza sem saber o nome do artista, Peeta não disse nada só ficou rindo e somente quando li o pequeno texto que fica ao lado dos quadros é que vi seu nome lá.  

— Porque não disse que eram seus? — pergunto sorrindo.

— Você ia descobrir sozinha, além do mais foi bom saber que gostou tanto, se me lembro bem a última vez que te mostrei meus quadros, você odiou.

— Eu odiei o que eles retratavam, mas te disse que eram incríveis, e esses também o são. Você é realmente um grande artista. — Ficamos mais um tempo no observatório e depois retornamos para o hospital. Os demais dias foram iguais, com passeios e idas ao hospital.

Duas semanas após a cirurgia Haymitch é liberado. Entramos no aerodeslizador e retornando. Peeta o leva para sua casa e me comprometo a ajudá-lo nos cuidados. Mas assim que Haymitch acorda, vai embora. Concordamos em vigiá-lo em sua própria casa. Eu de dia e ele à noite. Após uma semana ele já está bem melhor e no fim do dia volto para casa. Tomo banho e vou assistir TV. Coloco em um programa de forma aleatória sem nada específico para assistir, mas uma conversa chama minha atenção. Eles estão falando de Peeta e eu, especulando se ainda estamos juntos e mostrando várias fotos nossas. Estamos sorrindo bem próximos. Reconheço os lugares, eles tiraram durante nossa ida a pizzaria e durante os outros passeios que fizemos na Capital. Parece que durante todo o tempo estavam nos observando.

No dia seguinte Gale mal fala comigo, passa por mim e só balança a cabeça. Sei que está chateado pelas fotos, principalmente depois que disse que não iria sair e fui flagrada andando com o Peeta, mas não há nada que eu possa fazer, ele se recusa a conversar e se fecha. Faço algumas tentativas de reconciliação, mas depois desisto se quer ficar com raiva que fique.


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