Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 9
Rosaly




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Estou conferindo as obras da estação que estão bem adiantadas. Apesar da reforma os trens continuam chegando diariamente. Normalmente chegam cedo, mas um problema nos trilhos atrasou o desta manhã. Perto do meio-dia ele chega. Quando confiro tudo e estou pronta para sair, escuto alguém me chamando viro e vejo Rosaly. Cabelos soltos, vestido curtíssimo e decotado. Está tão justo ao corpo que penso que não deve estar respirado. Pela sua maquiagem e produção sei que ficou horas se arrumando. Ela vem até mim e estende a mão. O perfume é tão forte que fico com seu cheiro na mão e roupa. Pergunta se sei onde está Peeta e lhe informo que está na padaria.

— Será que pode me levar até lá? Não conheço nada daqui — pede ignorando os olhares de todos os homens da estação. Bufo insatisfeita, mas resolvo levá-la, assim,   posso ficar de olho quando encontrá-lo. Não sei porque, mas a ideia do encontro dos dois sem eu estar por perto me incomoda. Seu efeito nas pessoas é impressionante, as mulheres a olham talvez com a mesma inquietação que eu, não achando justo existir alguém tão perfeita e os homens babam literalmente ao vê-la. Percebo sua satisfação ao ser olhada. Parece que se produz esperando justamente esse efeito.

Gale nos encontra no caminho, depois que estive doente voltou a falar comigo, não se desculpou, mas fez de conta que nada havia acontecido, aceitei de bom grado. Até ele não consegue disfarçar os olhares para o decote e pernas a mostra da Rosaly. Se antes me incomodei com ela, agora minha irritação chega ao limite. Eu os apresento formalmente já que só se viram uma vez na Capital. Ele fica sem graça quando percebe que notei seus olhares indiscretos para ela e se despede alegando precisar resolver alguma coisa urgente. Mas não sem antes se despedir dela de forma melosa.

Na padaria o efeito é o mesmo, os funcionários da obra param o que estão fazendo para vê-la. De repente me sinto apreensiva com o tipo de reação que Peeta terá. Uma angustia me envolve e temo perceber nele os mesmos olhares do Gale. Sou informada que está no seu escritório bato e abro a porta. Não entro totalmente só coloco a cabeça para dentro e fico olhando para ele.

— Katniss — diz já com um sorriso no rosto — Entra, estava pensando em você, queria te chamar para almoçarmos na Greasy. Pode ser?

— Claro, mas antes você tem uma visita — abro o resto da porta e deixo que a veja.

— Rosaly?­ — pergunta surpreso. E o sorriso que ela abre e a expressão do seu rosto deixam claro o motivo de tanta produção. Ela corre e o abraça. Ele a abraça, mas se solta rapidamente e a trata de uma forma estritamente profissional. Pelo menos na minha frente. Também fico aliviada por não perceber nenhum olhar seu para o enorme decote que exibe. Tento sair do escritório, mas Peeta me chama e faz sinal para que espere.  Vem até mim e segura em meu braço.

— Não vamos almoçar?— pergunta estranhando minha saída.

— Você tem coisas a resolver. — Aponto para Rosaly que está sentada em cima da sua mesa.

— Mesmo assim, ainda preciso comer e ela pode esperar. — Está claramente me dando prioridade e depois do sentimento de inferioridade que experimentei em todo o caminho da estação até aqui, isso realmente mexe comigo.

—  Resolve as coisas com ela que espero aqui — digo indicando o salão da padaria.

— Pode esperar lá dentro, não tem problema algum — fala tentando me fazer entrar novamente em sua sala. Não quero retornar porque provavelmente tentarei estrangular Rosaly por ser tão oferecida. Então simplesmente digo:

— Prefiro te esperar aqui. Pode ir, não demora que também estou com fome. — Faço um gesto indicando minha barriga querendo que ele entenda que deve ser rápido. Não vou facilitar nada para ela.

— Só me espera cinco minutos — mostra os dedos indicando a quantidade de tempo e retorna para o escritório. Percebo que não fecha a porta, permitindo que eu veja o que está acontecendo lá dentro. Ele mostra a cadeira para Rosaly indicando onde sentar. E ela é obrigada a descer da mesa.

— Ela deve ter unhas podres e encravadas, ninguém pode ser tão perfeita — reconheço a dona da voz. Beth. É uma nova funcionaria da padaria que Peeta contratou. As obras ainda não foram concluídas, mas ele já está treinando e contratando algumas pessoas. Conversei com ela algumas vezes. É bem simpática. Não respondo só fico sorrindo. No escritório vejo Peeta assinando vários documentos e depois se levanta conduzindo Rosaly até a porta. Ela o acompanha e quando chega perto de mim fala com uma voz bem melosa.

— Não quero retornar hoje, é muito cansativo essa viagem de trem. Sabe de algum lugar em que posso ficar? — Seu tom é insinuante e passa a mão fingindo arrumar a gola da camisa de Peeta enquanto fala.

— Claro  — Peeta fala retirando sua mão que agora desce para seu peito. Congelo pensando que irá oferecer sua casa, mas ele chama um funcionário pedindo que a leve até a pensão que inaugurou a pouco no Distrito. Explica que não tem nenhum luxo, mas que  ficará bem. Rosaly insiste perguntando se não pode levá-la até lá. Ele se desculpa alegando ter um compromisso importante e afirma que estará bem acompanhada com o rapaz.

— Sabe que ainda me deve um jantar não é? — fala e olha para mim de cima a baixo para me provocar. Não digo nada não vou lhe dar o gostinho de saber que me incomoda e nem revelar a Peeta que estou enciumada.

— Sabe que já depositei sua gratificação, não sabe? — ele fala a fim de terminar a discussão sobre o jantar de forma objetiva. Ela sai visivelmente irritada. Peeta se vira e me oferece a mão.

— Vamos? —indica a porta com a cabeça.

— Vamos — digo sorrindo sentindo realmente satisfação pois Rosaly se vira para nos ver saindo de mãos dadas. Durante o almoço digo a ele:

— Sabe que ela gosta de você, não sabe? — ele me olha levantando a sobrancelha e pergunta:

— Quem? Rosaly? Não ela não gosta, só trabalha para mim.

—Sei...toda aquela produção só por trabalho? Duvido — implico com ele que só ri.

— Bom, se gostar, sinto muito por ela, eu só tenho olhos para uma garota. — Ele fica me encarando por um tempo. E ao contrário de me sentir constrangida, fico satisfeita com sua resposta. Ele me deixa no trabalho e pergunto se irá para minha casa à noite.

—  Vou se quiser. Não vamos mexer com o livro hoje?

—  Pensei que quisesse um tempo sozinho. Talvez preparar um jantar para uma certa visita insistente. — meu tom é de insinuação e ele percebe.

— Vai continuar com isso? Não tenho nada com ela. É só uma funcionária. Não vou fazer nenhum jantar.

— Bom, você pode vê-la como uma funcionária, mas ela não te vê somente como  um patrão .

—  Katniss, não tem nada a ver. É só trabalho. — Está nervoso tentando me explicar. E realmente acho fofa sua atitude, ele poderia se aproveitar da situação, tentar me fazer ficar com ciúmes, mas ao contrário, fica nervoso com a possibilidade de eu pensar errado a respeito dos dois.

— Não precisa explicar só estou implicando com você. Tchau. Até a noite — e fico surpreendida com meu próprio gesto quando por impulso dou um selinho em sua boca.

— Até a noite...— diz de forma compassada, com a mão na boca onde beijei e sorrindo. Volto mais cedo pensando em preparar o jantar. Em casa escuto baterem na porta acredito que pode ser o Peeta e digo para entrar, como meu visitante não entra, vou até a porta.

— Rosaly?— falo surpresa sem entender o motivo da visita.

— Gostaria de falar com você. Posso? ­— indica a porta querendo entrar.

— Claro! Fique à  vontade. — Estendo a mão indicando a entrada e a levo até a sala.

— Muito bonita sua casa — fala olhando tudo em volta.

— Não quero ser grosseira, então pode ir direto ao assunto, Rosaly? Não gosto de enrolação — sua visita não me deixa muito a vontade e como sei que Peeta logo vai chegar, quero dar fim a isso.

— É melhor mesmo. Então, Katniss, você já deve ter percebido o que está havendo entre Peeta e eu.

— Na verdade não. O que está acontecendo? — minha pergunta é direta e estou olhando fixamente para ela enquanto cruzo os braços, ao contrário de se sentir intimidada, ela solta um risinho antes de responder.

— Está rolando um clima e ainda estamos definindo como ficará, mas sei que o relacionamento de vocês não está mais funcionando.

— Como sabe disso? — Seguro minha língua para não acrescentar nenhuma indagação a respeito dessa informação, perguntar  se  ele disse algo a ela, por exemplo, pode ser interpretado como afirmação de algum problema entre nós e assim estarei lhe dando mais argumento e que talvez seja isso  o que ela quer. Ao insinuar que estão juntos quer que confirme ou não meu relacionamento com Peeta.

— Bom, eu poderia dizer que é pelo fato dele ter ficado tanto tempo sozinho na Capital.  Ou pela quantidade de vezes que você foi filmada perto daquele seu amigo lindo daqui. Ou pelos rumores que estão falando por aí.

— E que rumores são esses que você ouviu? – estou realmente curiosa sobre isso e não sei por que o correto seria eu me sentir aliviada por todos saberem que não estamos juntos que tudo foi uma farsa, a verdade é que não consigo dizer isso a ninguém e o simples fato dela relatos rumores sobre isso me congela.

— De que o romance foi fabricado. Que você nunca gostou dele e pelo que consegui colher por aí deve ser verdade.

— Então foi para isso que você veio para colher informações ao meu respeito? — sei que espera uma resposta direta, não serei eu a lhe fornecer. Se Peeta quiser acrescentar algo ele que o faça.

— Eu vim a trabalho e também para saber onde estou pisando.

— Bom, está pisando no chão da minha casa e não pretendo te dar nenhuma informação sobre minha vida particular. Até porque isso só diz respeito a mim.

— Só quero que saiba que independente da situação de vocês, estou na disputa e não costumo perder — fala e depois resolve acrescentar. — Achei que era justo ser bem clara com você. Gosto do Peeta e vou ficar com ele.

— Isso nós vamos ver, de qualquer forma, obrigada pela informação — minha voz sai firme, nem sei por que estou me indispondo com ela. A verdade é que Peeta e eu somos só amigos e se quiser ficar com ela não posso interferir. Mas enquanto penso nisso uma ponta de pesar assola meu peito e uma dúvida aparece. E se ele quiser? O que farei? Como me sinto em relação a isso? Penso em acrescentar algo para dizer, mas não consigo, ela se levanta indicando que a conversa acabou e a acompanho até a porta. Quando a abro Peeta aparece, um sorriso no rosto a mão levantada em sinal que estava pronto para bater.

— Oi, linda! — diz e me beija rapidamente retribuindo o selinho que lhe dei após o almoço. Só então identifica minha visita. — O que está fazendo aqui, Rosaly? — percebo irritação em sua voz quando se dirige a ela.

— Vim conhecer melhor o nosso tordo, estava curiosa.

— Não, não veio. Katniss, o que ela está fazendo aqui? — pergunta notando a expressão em meu rosto.

— Não importa, pois já está de saída. — Ele não se convence e fica nos olhando.

— Realmente preciso ir. — Rosaly fala novamente com um sorriso. — Peeta, pode me levar de volta à pensão? Tenho medo de me perder. — pergunta fazendo bico e olhando direto para ele.

— Eu acabei de chegar, Rosaly, Katniss estava me esperando. E tenho certeza que não vai se perder a cidade é pequena, retorne por onde veio e vai chegar. — Indica  com a mão  a saída da Vila.

— Não tem problema, nós podemos deixa-la lá. A noite parece ótima para um passeio — digo estendendo a mão para ele. Peeta segura a minha mão e parece pensativo, mas logo dá um sorriso concordando,  fecho a porta e seguimos em direção ao centro.

Rosaly fica muda ao nos ver caminhando de mãos dadas e não consigo esconder o sorriso em meus lábios ao perceber sua irritação. Ninguém diz nada e eu não o solto nem quando ela o abraça para se despedir. Ele também não faz nenhuma tentativa de se soltar de mim, por isso só passa o braço livre ao redor dela de forma rápida. Mesmo querendo prolongar o abraço, ela percebe sua frieza e recua. Lança um olhar estranho e irritado em minha direção e entra na pensão. Na volta para casa ele se vira para mim e pergunta:

— Então, por que ela foi a sua casa de verdade? —  A ênfase que dá na palavra verdade indica que não acreditou em sua desculpa.

— Ela veio me intimidar e explicar que vai ficar com você independente do que eu queira.  Disse que ouviu rumores na Capital e quis se certificar dele.

— Que rumores ouviu? — pergunta caminhando ao meu lado e ainda segurando minha mão.

— De que não somos um casal e que estou com Gale.

— Você está com ele?­ — desta vez para e me olha apreensivo.

— Não, não estou com ele. — Peeta solta um suspiro e começo a rir.

—O quê? O que foi? — questiona o motivo do meu riso, mas retorna a caminhar ao meu lado.

— Não é nada é só a forma que você ficou ao me perguntar isso.

— Eu tento me preparar para esse momento, mas nunca consigo.

— Que momento? — viro o fazendo parar.

— O momento em que vai me dizer que quer ficar com o Gale — o final da frase é quase inaudível. Percebo que o assunto está mexendo com ele e retorno ao original.

— Como Gale entrou nesta conversa?  — estou sorrindo. — Na verdade, o assunto era aquela moça que veio me confrontar e avisar que irá ficar com você.

— Ela fez isso? —pergunta surpreso.

— Sim fez, por que gostou da novidade foi? Na verdade, disse que isso já estava decidido entre vocês.

— Katniss, eu não tenho nada com aquela garota. Você sabe, não é?

— E por que não? — pergunto com a mão na porta de casa.

— Você sabe porque —  diz com firmeza.

— O que eu sei é que ela é muito bonita e está claramente a fim de você.

— Ela não é mais bonita do que você e não me importo por quem está a fim.

— Acho bom viu, Mellark, acho bom — digo tentando encerrar o assunto. Ele escuta o que falo e abre um sorriso. Não voltamos a falar sobre isso.

No dia seguinte Rosaly volta a Capital. O trem sai muito cedo por isso não nos vemos. Penso em tudo que disse e na sensação estranha que tive ao pensar em Peeta com ela, mas não consigo definir o porquê.


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