GALE

Acordo cedo pois estou ansioso, decidir que hoje será o dia em que resolverei minha situação com Katniss, já faz um ano que acabou a revolução, as coisas finalmente parecem estar em seu devido lugar. Dei tempo a ela para superar tudo que viveu e se liberar da responsabilidade que sei que sente pelo que aconteceu a Peeta, mas como ele está na Capital e ela nunca tocou no nome dele comigo, acho que já superou. Desço correndo as escadas e encontro minha mãe preparando o café, converso com ela sobre a minha ideia de fazer um jantar para Katniss e ela logo concorda, quando falo sobre querer um pouco de privacidade se oferece para fazer um passeio com as crianças durante a noite.

Fico um pouco mais com minha mãe combinando o cardápio que fará, eu até me viro bem na cozinha, mas como quero algo mais elaborado peço para ela fazer. Saio de casa um pouco mais tarde, mas satisfeito, pretendo conversar com Katniss e convidá-la para um jantar sem informar que seremos só nós dois. Chego ao trabalho e fico ansioso até a hora em que a vejo passar conferindo as obras, corro atrás e logo começamos a conversar sobre trabalho, caça e outras coisas, quando finalmente  tomo coragem digo:

— Queria te convidar para jantar lá em casa hoje à noite, o que você acha? — ela não responde e parece distraída olhando para o outro lado da rua.— Katniss? Katniss? Estou falando com você — chamo sua atenção ela não responde, continua com o olhar longe e de repente começa a correr. Grito seu nome, ela não para, corro atrás e então vejo o motivo pelo qual está correndo. Peeta Mellark está parado em frente a ruina em que um dia foi a padaria de sua família, grito dizendo que ele é perigoso, que pode machucá-la, numa tentativa de frear sua corrida e por um instante ela parece me ouvir, mas assim que ele se vira, se joga em seus braços, os dois ficam assim abraçados no meio da rua,  trocam sussurros que eu não consigo traduzir. Meu coração parece que vai parar, vê-la assim nos braços dele me lembra os momentos em que ficava na frente da TV, os vendo na arena, a diferença é que enquanto eles estavam lá eu me apegava a ideia que era uma encenação e tentava disfarçar minhas inseguranças. Mas aqui não há câmeras e jogos, estamos no meio da rua e eles estão abraçados como se não existisse ninguém além deles no mundo. Os segundos se passam como se fossem uma eternidade. Obrigo-me a falar, mesmo sem saber ao certo o que dizer

— Peeta! Está de volta — digo bem perto a eles e parece que funciona, pois se soltam e ele volta sua atenção a mim, nos saldamos da forma mais cordial que consigo, ele também é educado e polido na minha frente. Passamos um tempo que para mim parece interminável, conversando e quando quero ir embora percebo que essa não é a vontade da Katniss, ao contrário, parece ansiosa para ficar mais tempo com ele, insiste para que eu vá, dizendo que quer ficar um pouco mais.

Saio de perto extremamente frustrado, não consigo me concentrar em mais nada durante o dia, minha irritação está no limite, e quando acho que não podia ficar pior os vejo retornando do mercado de mãos dadas. Andei por esse Distrito por meses com ela e nunca nos demos a mão, nem antes dos jogos, mas agora ele volta e no mesmo dia já estão andando assim, parece algo natural para os dois.

Em casa minha mãe me questiona sobre o jantar, com tudo que aconteceu me esqueci completamente disso. Aviso a ela que Katniss não virá, não digo o motivo e vou para o quarto, não tenho a menor vontade de comer, me jogo na cama e a única coisa que fica na minha cabeça é o abraço dos dois. Estou me sentindo perdido, sem saber o que farei, estive todo esse tempo me contendo, dando espaço para ela, talvez por isso as coisas entre nós estejam indefinidas, deveria ter tido coragem de me declarar novamente e não ficar só esperando.

Sei que me escolheu quando queria fugir antes do massacre e talvez essa ainda seja sua posição apesar de as vezes sentir que talvez ele a tenha conquistado. Pelo menos essa era a sensação que eu tive ao observá-los durante o massacre e depois no Treze. Katniss realmente ficou mexida por tudo que lhe aconteceu. Mas agora ele parece bem e talvez os anos que enfrentamos juntos faça a balança pender para o meu lado. Decido lutar por ela, agora ele não parece tão perturbado, e a minha luta será mais justa, pois acredito que ela se sente culpada em função de tudo o que ele passou. Com a decisão de lutar pego no sono. Durmo a noite toda e pela manhã decido procurá-la logo cedo.