Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 3
Lembrança




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Estou passando na rua com Gale, quando algo me chama a atenção, de frente a ruína da padaria vejo alguém observando o que restou do local. Meus olhos se prendem rapidamente e fico paralisada achando que pode ser só impressão, mas algo me diz que não, que estou realmente vendo Peeta Mellark de frente ao que um dia foi sua casa. Gale percebe que parei e tenta chamar minha atenção para alguma coisa que estava dizendo, mas não consigo atentar para mais nada. Saio correndo assim que meus olhos conseguem confirmar quem é.

Chamo por seu nome, mas não para e continua andando de cabeça baixa, grito e desta vez ele para se vira e ao me ver lança um olhar surpreso, alguma coisa em me diz que não devia estar correndo para ele, pois não sei como está a sua mente, talvez seja isso que Gale esteja gritando para mim, que é perigoso e que devo parar. Não dou importância e o sorriso que abre ao me ver indica que está bem, então simplesmente me lanço em seus braços, e a firmeza com que me abraça afasta qualquer insegurança. Finalmente ele está me abraçando do mesmo jeito que era antes, mostrando que também sentiu minha falta. O mundo para, parece que só existem nós dois, e uma saudade infinita que sentimos um do outro, ele sussurra baixinho em meu ouvido:

— Senti sua falta.— E me aperta ainda mais, colocando seus lábios no meu pescoço, mexe no meu cabelo, passando sua mão de forma carinhosa por todo o seu comprimento. A sensação do seu toque é maravilhosa e não quero me soltar. Então simplesmente digo:

—Eu também. —  É o que consigo falar, apreciando ainda mais seu abraço e toque. É a voz de Gale atrás de nós que nos traz de volta à realidade, ele chama por Peeta que me solta e estende a mão educadamente em sua direção.

— Bem-vindo de volta — diz Gale um pouco sem graça.

— Obrigado, é bom estar de volta — Peeta olha diretamente para mim. Sinto meu rosto ficar vermelho e tento disfarçar. Tento iniciar uma conversa perguntando quando chegou e ele me informa de sua chegada durante a noite e que não contou a ninguém por não querer incomodar. Sei que teve seus motivos para se manter afastado, mas sinto uma pontada de tristeza em toda sua fala, tristeza que também sinto por não estar perto quando precisou de mim. Queria ter sido mais corajosa para enfrentar sua rejeição e não ter me afastado deixando que lidasse com suas perdas sozinho.

A conversa segue em frente à praça próxima as ruinas da padaria, em alguns bancos que agora compõe o espaço. Após um tempo Gale conta a Peeta sobre seu novo emprego e o meu trabalho na reconstrução, lembro da habilidade de Peeta para desenho e pergunto se pode me ajudar a fazer alguns projetos.

— Claro, será um prazer, Katniss.— sua voz é formal e a fala educada, eu agradeço e sei que realmente precisarei dele já que sou péssima em desenhar e o empreiteiro contratado se limita a construir, mas se recusa a pensar, e como sou a responsável tenho que me virar para dizer o que deve ser feito. Depois Gale se despede de Peeta e me chama para acompanha-lo, mas eu não quero ir, quero ter a chance de conversar a sós com Peeta, na frente de Gale parece formal demais e estou ansiosa para descobrir que tipo de relacionamento teremos daqui para frente. Não quero mais fugir, quero entender o que virá.

— Pode ir vou ficar um pouco mais — digo para ele.

— Você quem sabe. — responde dando de ombros e disfarçando a voz como se não se importasse, sei que está chateado, mas não posso fazer muito. Estive com Gale nos últimos meses então não acho nada de mais querer ter um tempo a sós com o Peeta. Ele vira e sai e pergunto a Peeta:

— O que é isso em sua mão? — indico um pequeno cordão dourado que segura.

— Isso foi um presente que dei a minha mãe antes do massacre, o encontrei nos fundos da padaria. — ele mostra um colar com um pequeno coração escrito: “Sempre seu. Peeta.”

— Lindo! — E realmente é, mostra a generosidade do Peeta, sei que sua mãe não era a mais carinhosa do mundo, mas mesmo assim ele se preocupou em deixar algo para que ela se lembrasse dele. Ele o guarda em seu bolso e percebo que está com uma tristeza no olhar, resolvo mudar de assunto.

— Estava indo para sua casa quando te chamei? — pergunto a ele.

— Não, estava procurando alguém que me mostrasse onde fica o novo mercado, pois não tenho nada para comer em casa e preciso fazer compras.— explica.

—Posso te levar lá— falo já me oferecendo e ficando de pé.

—Não precisa me levar, basta dizer a direção que consigo achar.

—Não quer o prazer da minha companhia?— digo fingindo estar magoada.

—Não é isso só não quero te atrapalhar.

—Você não me atrapalha em nada, só estava passeando pela cidade e sinceramente gostaria de te levar lá e passar mais tempo com você. Peeta quero voltar a ser sua amiga.— sou direta, pois não quero que esse clima formal continue entre a gente.

— Eu também quero ser seu amigo, Katniss, me desculpa por tudo que te fiz passar eu realmente sinto muito...

— Você não precisa se desculpar, o que passou ficou para trás. Eu é que quero te pedir desculpa por não estar perto de você quando precisou de mim.

— Katniss, você fez o certo, eu realmente não tinha controle sobre mim e poderia ter feito algo contra você. Não se sinta culpada, por favor!

—Que tal a gente recomeçar esquecendo o passado? Amigos?

— Se você quer assim, por mim tudo bem. Amigos.— ele diz se levantando e estendendo a mão. — Vamos?

— Vamos. – E aceito sua mão estendida. É estranho notar os olhares sobre nós e então percebo que é devido ao fato de estarmos andando de mãos dadas, sempre ando pelo Distrito com Gale e nunca nos damos a mãos, mas andar com Peeta desse jeito sempre foi muito natural para mim, desde que me ofereceu sua amizade durante a turnê da Vitoria. Apesar dos olhares continuamos conversando e caminhando de forma rápida, conto a Peeta as principais mudanças no Distrito, o processo de reconstrução e o que temos priorizado como emergencial.

Quando chegamos ao mercado, Peeta se mostra satisfeito pela quantidade de mercadores no lugar, muitas pessoas vieram de outros Distritos para aproveitarem a oportunidade de abrir um negócio aqui, e claro que existe um incentivo do governo para isso, como diminuição de impostos e outros benefícios, mas no fim foi um bom arranjo para todos, eles conseguem o trabalho e nos conseguimos realizar no próprio Distrito nossas compras.

Continuo acompanhando Peeta quando inicia suas compras, não estava exagerando quando diz que estava sem nada em casa, logo suas compras ficam impossível de carregar e contrata um rapaz que usa uma antiga bicicleta para levar tudo. Enquanto ele fala com o rapaz vou até a barraca da Greasy conversar um pouco. Peeta pede ao rapaz para deixar as compras em sua porta e se senta em uma das mesas da barraca. Greasy nos oferece comida e aceito lembrando que ainda não almocei, Peeta também aceita já que sua única refeição, segundo ele, foi uma panqueca na casa de Haymitch. A sopa estava muito boa e enquanto conversamos tenho a impressão que nossa amizade resistiu a tudo que sofremos, ele abandona o tom formal que havia adotado e se mostra mais natural e relaxado. Antes de sairmos do mercado o vejo se aproximando de uma barraca, que vende um diferente tipo de farinha, bem fina e branca, ele pede a atendente uma quantidade grande do produto para levar.

— O que é isso? — pergunto mexendo na farinha e sentindo uma forte gastura.

—Isso é polvilho— diz me encarando e rindo da minha ignorância.

— E pra que serve? — não tendo a menor ideia do porque ele comprou tanto.

— Isso serve para fazer pão de queijo e algo me diz que vou ter motivos para fazer alguns. — responde de forma divertida.

— Hum! Pão de queijo, eu espero poder frequentar sua casa, principalmente quando você estiver preparando alguns. — suspiro com a lembrança dos pães que mais gosto.

—Será um prazer recebê-la em minha casa e não precisa ser só quando estiver preparando, se você for lá, prometo preparar uma fornada só para você.— fala com um sorriso lindo no rosto.

— Então tá, vou começar a frequentar sua casa, mas claro que não é  só pelo pão de queijo, mas também pela sua companhia.— digo sorrindo.

— Vou acreditar em você por que sei que comida não é o seu forte.— fala já soltando uma gargalhada alta. Vê-lo assim tão relaxado me faz bem demais, começo a sorrir junto e tomamos o rumo de casa. Na Aldeia Peeta vai para sua casa e eu para minha. Quando lembro do dia durante o meu banho, o que mais fica em minha memória e o seu sorriso, principalmente porque em nossos últimos encontros o que menos fazia era  sorrir, hoje a sensação que experimentei foi que ele está muito próximo daquele Peeta que conheci, divertido, falante e inteligente.

 O tempo passa e acabo dormindo na banheira a água fria me acorda. Levanto visto minha roupa e desço para encontrar alguma coisa para comer. Não gosto de cozinhar e minha mãe está na Capital, me limito a comer novamente uma sopa, que faço rapidamente com alguns legumes e sobras de caça que tinha na geladeira, admito que não fica a melhor coisa do mundo mas dá para matar a fome. Fico na frente da TV, não costumo assistir nada do que passa mas resisto a ideia de dormir cedo pois parece que quanto mais eu durmo, mais pesadelos aparecem. Fico até mais tarde no sofá e pego no sono acordo lembrando que dormir ali vai me trazer uma horrível dor nas costas, então, levanto e vou para cama já esperando por uma noite difícil.


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