Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 5
Café e companhia




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Acordo após uma noite mal dormida, por mais que eu tente meus pesadelos não me deixam, todas as noites estão lá. Grito, choro, fico em total desespero como se a vida nunca fosse passar disso. Noites e noites de tormento sem fim, me sinto de volta a arena, revendo as pessoas morrerem. É involuntário pensar em Peeta e em como sua presença me acalmava durante as crises. Tentei algumas vezes conversar com Gale sobre os pesadelos, mas uma coisa que percebi é que tem situações que só se entende quando experimentamos na pele, após me ouvir com atenção por um tempo, percebi sua impaciência com o assunto, segundo ele eu devia superar o problema, e me  descreveu uma série de atitudes que deveria ter frente aos pesadelos e quando não percebeu mudanças, começou a arrazoar que não estava me esforçando o bastante. Entendi sua limitação para compreender o que passo e parei de falar sobre o assunto.

Infelizmente ele era meu único confidente e por isso não poder conversar com ele significava não falar com ninguém o que faz com que os pesadelos pareçam mais reais. É estranho essa ligação, quando conseguia falar tomavam outra dimensão eu entendia que não eram reais e me acalmava. Não falar os torna vivos em minha memória. O Dr. Aurélio, que me acompanhou enquanto estava me recuperando das queimaduras e que depois continuou me acompanhando por causa dos pesadelos, ainda que somente pelo telefone, agora que retornei ao Doze, me explicou isso, disse que quando externamos nossas dores através da a fala ela tem poder curativo, e que quando a reprimimos, o peso que carregamos se torna maior.

É assim que me sinto ao acordar, como se tivesse um peso enorme nas costas, me impedindo de respirar, de viver. Levanto lentamente, vou ao banheiro, tomo banho, troco de roupa, desço querendo algo para comer. Após um minuto procurando ouço baterem na porta. Vou até lá e vejo Peeta saindo, no chão uma cesta com pães.

— Você não deveria esperar até eu abrir? — grito para ele que se vira e diz:

— Tenho outra cesta para entregar — mostra a cesta e indica com a cabeça a casa de Haymitch.

— Ele está dormindo, não precisa de tanta pressa — retorna rindo e me deseja um bom dia. O convido para entrar e tomar café comigo. Ele concorda e entra em minha casa. Diz que não queria incomodar e que só havia batido para que eu soubesse que os pães estavam lá fora.

— Não está me incomodando e se vier trazer o pão é bom também vir preparado para me fazer companhia — digo me mostrando decidida e acrescento —Sei que você não gosta de comer sozinho.

— É verdade — ele concorda e conclui — Acho que comer sozinho é muito difícil quando se vem de uma família numerosa como a minha. — Noto novamente a tristeza na sua fala. Não deve ser fácil perder toda a família de uma só vez. Lembro de como me sinto sozinha aqui e no quanto ele deve se sentir solitário também, por isso penso em algo que poderá ajudar nós dois.

— Bom, quando vier trazer o pão, faço questão de que fique para comer comigo, minha família não era tão numerosa como a sua, mais sempre estávamos juntas durante as refeições e também sinto falta de companhia.— ele abre um sorriso e concorda com a cabeça, rapidamente preparo o leite, queijo que comprei no mercado, frutas, suco e temos um verdadeiro banquete, o pão está bem fofo o cheiroso, apesar das mudanças no Distrito faz um tempo que não como algo tão saboroso, a última fez foi na Capital. Então me esforço para não comer tudo de uma só vez como tenho vontade. Peeta me observa com um sorriso nos lábios, diz que estava sentindo falta de cozinhar, uma vez que no hospital isso não era permitido. Encorajada pela sua fala pergunto sobre seu tratamento. Ele me informa que ainda vivencia algumas crises, mas que estão mais controladas.

— Você parece bem melhor— digo a ele.

— Eu me sinto bem melhor, o tratamento devolveu a maioria de minhas lembranças, o fluxo de pensamentos já não é tão confuso e consigo organizá-lo de forma mais coerente.

—Fico feliz em te ouvir falando assim. Você não faz ideia de como foi difícil te ver tão perdido.— ele me olha e me dá um meio sorriso, sua expressão demonstra ternura e fico presa em seu olhar. A quanto tempo não me olha assim? Parece uma eternidade, sinto meu rosto ficar vermelho ao perceber que ele também está me olhando, mudo o olhar e depois começamos a conversar sobre outros assuntos mais leves.

Não percebo o tempo passando e quando vejo o relógio está perto das dez horas. Dou um pulo lembrando que já devia estar no trabalho. Peeta me acompanha até a casa de Haymitch e de lá vou para o meu escritório pensando na quantidade enorme de coisas que tenho para resolver durante o dia.

No centro me encontro com Gale que parece de ótimo humor, ele não é muito de rir, mas hoje parece realmente feliz e como também me sinto renovada com o café da manhã e a conversa com Peeta o dia passa rápido e de forma tranquila, percebo durante alguns momentos com Gale uma tentativa sua de aproximação, ele pega minha mão, passa as suas  pela minha cintura, fica bem junto ao meu rosto quando fala. Não que isso seja novidade, quando caçávamos ficávamos muito tempo juntos a ponto de eu ouvir sua respiração, mas como estamos no Distrito, estranho um pouco sua atitude, mas acabo ignorando.

Os dias se passam assim: de manhã Peeta vem tomar café e conversamos bastante e durante o dia fico com Gale andando pelo Distrito, supervisionando as obras de reconstrução, organizando os grupos de trabalho. As noites começaram a ficar insuportáveis devido a solidão e os pesadelos. Mas o pedido que fiz a Peeta para projetar os prédios que precisamos reconstruir me garante companhia pelo menos por parte dela, Ele vem e fica em minha casa para desenhar, discutimos sobre os projetos, e outras coisas. Isso me dá um tempo a mais antes que os pesadelos me acompanhem.


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