POV PEETA

Chego cansado em casa e depois do banho vou para cozinha preparar o jantar, enquanto refogo algumas verduras o telefone toca, apago o fogo e vou atender. _Peeta Mellark_ digo ao atender, acostumado com a forma que falo na padaria.

_Peeta, é a Prim. Tudo bem?_ estou sem falar com a Katniss mais sei que não é culpa de ninguém muito menos de sua irmã que sempre me tratou muito bem, por isso me esforço para ser simpático.

_Oi, Prim, tudo bem e você? Como está aí na Capital?_ puxo assunto mas percebo em sua voz preocupação.

_Olha! Eu estou bem, mas preciso de um favor, sei que você e a Katniss brigaram, mas preciso te perguntar: Você tem visto ela? _ não tinha parado para pensar nisso mas realmente tem dias que não a vejo. Quando chego sempre resisto a vontade de olhar em direção a casa, embora seja um esforço inútil.

_Não tem dias que não a vejo, porque?_ meu coração dispara sem controle.

_ Peeta eu não consigo falar com ela, no trabalho dizem que não comparece a três dias, em casa não me atende. Isso nunca aconteceu. Eu sei que estou te pedindo muito mais pode saber dela para mim? Por favor! Estou muito preocupada._ seu pedido é choroso e por mais que eu não queira ir a casa dela não posso negar ajuda. E também fico apreensivo com o que pode ter acontecido com a Katniss. Prim está nervosa por isso tento diminuir o drama.

_Olha fica calma, eu tenho certeza que ela está bem, afinal é a Katniss? Vou tentar achá-la e te ligo, tá legal?

_Muito obrigada você vai me fazer um grande favor. Tchau.

Desligo o telefone e saio, olho em direção a sua casa e tudo está apagado, na verdade percebo que tem estado assim nesses últimos dias, sempre no escuro. Não tenho visto Gale também mas sei por alguns funcionários que lobos estão passando por falhas na cerca e que os “seguranças” do Distrito estão embrenhados na mata a procura da matilha. Congelo ao pensar que pode ser essa a explicação para o sumiço da Katniss, que ela pode estar entre eles. Mas ela não deixaria a irmã e mãe sem notícia. Desisto de bater pego a chave reserva que ainda tenho e abro a porta. Tudo está um silêncio total. Parece que tem dias que ninguém entra na casa. Verifico os cômodos de baixo a procura de indícios dela, noto a sua bota e jaqueta de caça no armário de roupas perto da porta. Ela não iria para a floresta sem eles, o arco também está guardado. Subo para o quarto e assim que acendo a luz me assusto. Ela está deitada na cama, os cabelos estão emaranhados, parece pálida e sem vida.

_Katniss, Katniss_ chamo mais ela não responde, chego perto e toco em sua pele_ Katniss, Katniss acorda.­­­ _ ela se levanta e me olha confusa.

_ O que você está fazendo aqui? _ pergunta me encarando com o rosto inchado e a pele sem cor e com um cheiro forte como se há dias não tomasse banho e nem abrisse a porta do quarto.

_O que eu estou fazendo aqui? O que você está fazendo? Tem três dias que não comparece ao trabalho, sua família me liga porque não consegue falar com você. Chego aqui e você está desse jeito, parece que não toma banho há dias. Quando foi a última vez que comeu alguma coisa?_ percebo olheiras fundas e a forma pálida da sua pele que indicam que não tem se alimentado direito.

_Então quer dizer que agora você se importa? Depois de mais de um mês sem nem olhar para mim? Vem aqui perguntar sobre minha vida? Sai daqui eu não preciso de você. Vai embora._sua voz demonstra raiva e um grande ressentimento, não queria que se sentisse assim. Apesar de tudo a última coisa que queria é que me odiasse, acreditava que no fim pensaria em mim ao menos com carinho por tudo que passamos juntos. Perceber seu ódio me choca, mesmo assim respondo:

_Eu vou embora, aliais nem devia ter vindo, só estou aqui para fazer um favor para sua irmã que está preocupada com você. Então faça o favor de ligar para ela. _ saio batendo a porta mas quando chegou a escada o que escuto corta meu coração, Katniss está chorando alto e por mais que tente ficar imune a isso não consigo é mais forte do que eu. Fico paralisado ao pé da escada sem conseguir me mover. “Você é um idiota Peeta Mellark”, esse é o meu pensamento quando percebo que estou de volta ao quarto. Ignoro meus instintos abro a porta e retorno para ela.

_Katniss, me desculpe não quis te chatear_ assumo uma culpa que sei que não é minha, seja lá o que a deixou nessa situação não foi eu, mas querendo ajudá-la peço logo desculpa. _ Olha não sei por que você está assim. Mas seja o que for vai se resolver tá. Agora vou te levar para o banheiro por que você precisa tomar banho, trocar essa roupa e se alimentar. Tudo bem?

Ela fica me olhando como se estivesse confusa, a pego no colo e a levo para o banheiro. Seguro-a um pouco mais forte temendo que se debata e tente sair dos meus braços. Mas não oferece resistência a levo e coloco no banheiro, ligo o chuveiro e a indico para entrar, ela ainda está vestida e fico receoso de sua reação, penso em colocá-la debaixo do chuveiro com roupa e tudo, mas antes de tomar qualquer atitude ela fala:

_Pode sair para eu tirar minha roupa? _concordo fazendo um gesto somente com a cabeça. Ela fecha a porta. Vou até em casa pego as panelas com os alimentos que estava fazendo e coloco novamente no fogo em sua casa, quando tudo está encaminhado subo até o quarto, ela saiu do banheiro e está tentando pentear os cabelos de forma irritada. Sento junto a ela e me ofereço para fazê-lo. Mas ela nega com a cabeça e continua a pentear os cabelos com raiva. Pego a escova de sua mão e começo a pentear seus cabelos delicadamente.

_Por que esta aqui? Eu não preciso de sua pena_ sua fala é dura e inflexível. Penso em sair rapidamente, mas lembro que não comeu nada e que ficarei enlouquecido em casa sem saber se está melhor. Levo um tempo pensando no que responder no fim digo a verdade.

_Não estou aqui por que tenho pena de você, estou aqui porquê..._ é difícil continuar a falar_ porquê sou um idiota e por mais que queira ser indiferente a você não consigo, não dá pra te ver assim e não fazer nada. Eu sempre, sempre vou amar você, e independente do que aconteça não consigo viver sem saber se você está bem._ a última parte sai baixa como um murmúrio, mas sei que me ouviu.

Ela me olha e chega bem perto de mim e me beija, passa suas mãos pela minha nuca me puxando para ela. Tento resistir, mais é impossível, depois de tanto tempo meu corpo reage automaticamente e antes de conseguir me controlar minhas mãos estão nas suas costas. Penso nas noites em que fiquei pensando nisso e simplesmente não consigo parar. Katniss não dá fim ao beijo ao contrário passa uma perna sobre mim e senta no meu colo, ela nunca vez algo assim, é sempre mais contida, preciso de toda a minha concentração para não perder o pouco controle que tenho sobre mim. Até porque ela está só com um roupão e partes do seu corpo estão á mostra. Após alguns minutos tudo que consigo é implorar:

_ Katniss, não faz isso, pare, por favor! Pare! _ ela se afasta de mim e as lágrimas que não tinham caído até hoje, escorrem pelo meu rosto sem controle. Ela me olha e faz algo que achei que nunca faria, ela pede desculpas.

_Peeta, desculpa pelo que fiz, você estava certo eu agi errado. Olha, se quer contar para as pessoas tudo bem a gente pode fazer isso. Quer que Gale saiba de nós e não fique mais aqui eu falo com ele. Eu faço qualquer coisa só não me deixa de novo. Volta para mim, por favor!_ ela também tem lágrimas no rosto.

Leva um tempo para eu entender o que está dizendo, ela está atendendo a todas as minhas solicitações e reconhecendo seu erro. Depois de todo esse tempo achei que nem se importava mais comigo. Mas está aqui me pedindo para voltar. A verdade é que nunca cogitei essa possibilidade, que sentia minha falta, que me queria por perto. Que poderia aceitar minhas reivindicações. Que me escolheria. Eu estava me sentindo tão magoado e ofendido que nem quis tentar resolver. Depois da sua fala me senti horrível sentido que talvez todo esse sofrimento pudesse ter sido evitado.

_ Amor, me desculpa fui um imbecil, não devia ter agido daquele jeito e nem ter te ignorado durante todo esse tempo. Eu achei que você não se importava, fiquei magoado e me comportei como um idiota. _ digo enxugando suas lágrimas.

_A culpa foi minha não devia te deixar tão inseguro e nem se sentindo preterido pelo Gale. Mas isso não vai acontecer de novo, vou fazer o que você quiser, prometo.

_O que eu quiser?_ digo sem esconder a malicia e sorrindo tentando descontrair o clima e a puxando para bem perto de mim.

_Peeta Mellark!_ ela fala com os olhos arregalados e batendo nas minhas costas ao perceber a que estou me referindo.

_Não precisa fazer tudo que eu quiser, a gente deve conversar e entrar num consenso posso ceder se você também puder, mas preciso sentir que você está comprometida conosco, que sou prioridade em sua vida.

_Eu estou comprometida e vou te dar toda a prioridade, prometo e estou disposta a conversar e aceitar suas opiniões. _ ela força um sorriso, mas o meu aparece rapidamente. Tem dias que não encontro motivos para sorri, mas depois de ouvir tudo isso, só consigo sorrir e me desculpar

_Desculpa por tudo, mas agora continua me beijando daquele jeito porque estava bom demais. _ falo a puxando para mim novamente e ela realmente me beija e eu retribuo com todo amor que tenho e toda a saudade que estava sentindo dela, ficamos assim por um tempo até que me lembro das panelas no fogo.

_Espera, espera... _ digo retirando-a do meu colo. Ela me olha assustada.

_ O quê? O que foi? O que aconteceu?_ fica nervosa e já estou em pé quando digo.

_Deixei as panelas no fogo, eu volto em um minuto_ indico o número um com o dedo e desço as escadas rapidamente. Felizmente nada está queimado e o jantar fica pronto. Retorno ao quarto mas encontro a porta trancada.

_Katniss _ chamo do lado de fora da porta.

_Estou trocando de roupa, só um minuto.

_ O jantar está pronto vou te esperar lá em baixo._ falo já descendo as escadas. Ela desce rapidamente mas então fica branca de repente e leva a mão a testa, percebo que não está se sentindo bem e corro para evitar que caia. Ela desmaia nos meus braços. A levo para o sofá e depois vou até a cozinha. Pego o álcool e esfrego em seus pulsos e perto do nariz. Lentamente ela volta a consciência.

_Katniss, você está bem? O que você sentiu?

_Eu estou bem, acho que é só fraqueza. _ percebo sua pele e sua boca tão brancas que parecem que não tem mais cor.

_ Quando foi a última vez que comeu alguma coisa?

_ Tem uns dias. _ ela fala de forma fraca.

_ Uns dias? Por que isso? Quer saber você me conta depois vou te trazer o jantar fica bem quietinha aqui_ vou até a cozinha e coloco o seu prato e o meu. Quando lhe entrego o prato percebo que está tremendo.

_Está sentindo alguma coisa_ falo sentando ao seu lado e tirando o cabelo do seu rosto.

_Muita fome_ ela fala e começa a comer com vontade. Se esforça para levantar dizendo que quer repetir, mas não deixo, levo seu prato e acrescento a comida, aproveito e levo um suco bem doce para aumentar sua taxa de glicose no sangue.

_Estava com saudade de mim ou da minha comida? _ pergunto ao vê-la terminar o segundo prato. Ela não responde só sorri. Eu a aconchego novamente em meus braços, ficamos um tempo assim, mudos, só desfrutando da presença um do outro. Depois quebro o silencio.

_ Vai me dizer o que te deixou nesse estado? Por que estava sem comer e sem falar com sua família? Vocês brigaram?

_Como assim? Quem brigou? _ Sua fala é confusa.

_ Você e a sua família.

_Não, não brigamos.

_Então o que aconteceu, por que você ficou assim?

_ Você não sabe? Eu fiquei assim por sua causa, por que não conseguia mais ficar longe, por que sua falta estava doendo demais._ ela fala e abaixa a cabeça. Estou sem fala, sou eu quem estava a fazendo sofrer assim? Eu que sempre prometi cuidar dela? Fico com vergonha das minhas atitudes e sinto uma culpa enorme ao ouvir tudo isso e me apresso a, pelo menos, me desculpar.

_Katniss amor, me desculpa eu sinto muito eu achei que você não se importava e não conseguia ficar por perto porque doía de mais, por isso me isolei, não vai acontecer de novo. Eu juro.

_Pode dormir aqui?_ pergunta após ouvir meu discurso como se nada tivesse acontecido.

_Sempre_ digo a ela entre beijos. Antes de subirmos ela liga para a família e depois de uns dez minutos estamos deitados no quarto, mesmo correndo o risco de me descontrolar não paro de beijá-la e ela também não me larga. Percebo o quanto estava sentindo sua falta quando não consigo cogitar ficar sem ela de novo. Faço ao pé do seu ouvido, todas as declarações de amor que não fiz nesse período em que estivemos separados e reúno toda a determinação que consigo para me afastar dela e lhe desejar uma boa noite. Depois adormecemos.