Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 12
CAPITULO 12 Pesadelos, insônias e complicações




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POV. KATNISS

Acordo incrivelmente relaxada, não tenho ideia de quanto tempo faz que não dormia tão bem, uma sensação de felicidade toma conta de mim, felicidade sim porque cada noite mal dormida me deixa profundamente triste. E ultimamente essa tem sido uma realidade para mim, não sei o porquê mas, meus pesadelos estão ficando mais intensos. Acordo em pânico, aos prantos e é assim que passo a maior parte da madrugada. Mas essa noite não tive nenhum pesadelo e isso parece um milagre. À medida que vou despertando percebo o motivo da noite tranquila, não estou em casa sozinha, estou na casa de Peeta, dormindo em seu sofá, abraçada a ele. Vê-lo dormindo tranquilamente ao meu lado faz com que um sorriso brote nos meus lábios. Estou profundamente grata por ter ficado comigo. Penso em uma forma de agradecer, cogito a ideia de fazer o café da manhã, mais não sei por onde começar e não estou em minha casa, então outra ideia me passa pela cabeça e eu a acolho, viro para ele e o beijo várias vezes no rosto. Ele acorda e sorri, o beijo mais uma vez e digo:

_Obrigada_ estou bem próxima ao seu rosto mas não recuo. Ele me olha confuso.

_Pelo quê?_ pergunta.

_ Pela ótima noite!– digo sinceramente_ Sabe há muito tempo não durmo tanto assim? Parece que faz um século!

_Eu também dormi muito bem, e já fazia muito tempo que não tinha uma boa noite de sono, então: obrigado_ ele diz imitando meu tom e beijando varias vezes o meu rosto.

_Suas noites ainda são andando pela casa?­­_ lembro do tempo em que passava quase toda a noite caminhando pelo trem.

_Andando, cozinhando ou pintando, tento diminuir o máximo o tempo em que vou ficar na cama, pelo menos agora tenho mais coisas para fazer do que só andar.

_Também não consegue dormir não é?- pergunto deitando minha cabeça novamente no seu peito.

_ Não é toda noite que se tem sorte ou boa companhia para isso._ esse último comentário me deixa vermelha, mas percebo a verdade, nós precisamos um do outro para descansar e mesmo que minha razão grite que não devo, meu corpo fala mais alto e acabo dizendo:

_ Poderíamos fazer isso juntos?_ assim que digo percebo minha vergonha aumentar e meu rosto ficar ainda mais vermelho.

_ É poderíamos sim. _ ele não diz mais nada só começa a mexer em meus cabelos. Ficamos assim um tempo não quero sair dali mas as obrigações do dia me compelem a levantar. Retorno para casa depois do café, tomo banho, troco de roupa e arrumada vou trabalhar. O dia passa rapidamente. Apesar de combinar dormir com Peeta no último instante recuo e não vou para sua casa, e nem ligo para que venha para a minha. Como Gale passou para jantar em minha casa e ficou até tarde Peeta não veio, ele sempre evita estar aqui nessas situações e quando está vai embora assim que Gale chega por que apesar de não brigarem não ficam bem juntos e ele prefere evitar problemas. No fim resolvo dormir sem pensar mais em nada.

Acordo aos gritos, meu corpo está suado e tremendo, em meu pesadelo sou perseguida por bestantes que tinham feições de pessoas que vi morrer, eles conseguem me prender e mordem todo o meu corpo enquanto grito. Vou ao banheiro e tento me acalmar, meu corpo tem espasmos violentos, me olho no espelho e tento beber um copo com água mas, minhas mãos tremem tanto que não consigo encher o copo sem derramar a água fora. Deixo o copo e saio correndo, abro a porta e chego a casa de Peeta, tenho uma chave reserva em meu chaveiro, por isso rapidamente estou no topo da escada. Somente quando abro a porta do quarto é que um lampejo de sanidade me toma, e se estiver dormindo sem roupa? Penso em voltar mais é tarde demais, ele acorda e liga o abajur que fica ao lado de sua cama.

_Katniss_ sua fala é sonolenta_ Aconteceu alguma coisa?

_Posso ficar?_ estou completamente envergonhada e a fala quase não sai mas acabo dizendo o que quero.

_Claro que pode! Você está bem? Vem cá _ levanta as cobertas e me indica onde deitar. Vou para perto dele e me deito, ele me abraça.

_Você está tremendo, teve um pesadelo?_ balanço a cabeça afirmativamente._ Quer falar sobre ele?_ minha voz quase não sai mas me obrigo a dizer:

_Não só quero ficar bem quieta aqui_ sinto seus braços me apertando, e é aí que começo a chorar muito alto, meu corpo se contorce em soluços, não consigo parar os lamentos que saem da minha boca. Peeta tenta me acalmar dizendo que tudo ficará bem, que estou segura mas suas palavras parecem sem sentido para mim. Eu não me sinto segura, eu sinto que estou a ponto de enlouquecer. Quando finalmente me acalmo digo a ele como tem sido difícil todas as noites, a intensidade de cada pesadelo que parecem aumentar com o tempo. Somente depois de muita conversa e carinho que ele faz em meus braços e cabelo é que relaxo um pouco, ele não me tira dos seus braços em nenhum momento, e depois de um tempo volto a dormir. O dia amanhece frio, um sol fraco aparece na janela do quarto, sempre aberta, como Peeta gosta. Ele não está mais na cama, mas pelo cheiro que invade o quarto deve estar assando pão. Não sei por que me sinto constrangida com a ideia de encontrá-lo, talvez por que invadi sua casa no meio da noite, parecendo uma maluca. Logo que faço minha higiene desço e resolvo me desculpar.

_Bom dia_ ele diz sorrindo assim que me vê descendo as escadas _Está se sentindo melhor?

_Bom dia, estou melhor sim mas, me desculpe por ontem_ vou logo dizendo_ Estava muito nervosa e acabei não conseguindo ficar sozinha.

_Não tem do que se desculpar, disse que poderíamos enfrentar isso juntos, então, não se desculpe. Eu é que achei que tinha mudado de ideia quando não apareceu e nem ligou ontem.

­_Sendo bem sincera eu mudei, ou tinha mudado. Quando cheguei em casa pensei melhor e decidi conversar com você e falar que não poderíamos fazer isso. Por tantos motivos que nem consigo começar a dizer, mas não tive tempo para isso, e a noite depois do pesadelo, não consegui mais ficar lá, sai correndo sem pensar em nada, só queria me sentir segura de novo. Sinto muito. Foi um erro.

_ O que quer dizer? Como assim foi um erro?_ ele está com uma expressão séria ao falar.

_É um erro Peeta, me aproveitar assim de você, é errado, não vê isso?_ tento fazer com que entenda como me sinto mas como sempre me atrapalho com as palavras.

_O que não vejo é do que está se aproveitando Katniss, dormir com você faz bem a mim também, me ajuda a relaxar e achei que entendesse isso?

_Olha, eu sei que é uma forma de nós dois lidarmos com nossos problemas, mas não quero que outras situações compliquem nossa vida que já é complicada, entende?

_Não, não entendo, de que complicações está falando?_ ele tenta ficar calmo e me fazer explicar o meu ponto de vista, mas não me saio muito bem.

_São tantas, Gale, os vizinhos, os observadores da Capital que daqui uns dias aparecem com a gente de novo na TV, você...

_Não sabia que era uma complicação? É assim que me vê? Mais uma complicação em sua vida?_ parece confuso e irritado pela minha colocação.

_A nossa relação é complicada, não você_ assim que falo percebo que essa seria uma ótima oportunidade para ficar calada. Ele está me oferecendo ajuda, cuidou de mim quando estava desesperada e o que faço é jogar um monte de coisas sem sentido, fruto de minha cabeça maluca em cima dele. Peeta fica em silêncio um tempo depois simplesmente responde:

_Você é quem sabe, faça o que é melhor para você, mas lembre-se que não é só você que enfrenta pesadelos à noite._ sei que está chateado mas não consigo pensar no que dizer e como já falei o que não devia, fico calada, é estranho ter silêncio entre a gente, na verdade sempre conversamos o tempo todo durante o café mas ele também não diz nada então ficamos assim. Termino o café e me levanto querendo retornar para casa, mas antes tento consertar um pouco a burrada que fiz.

_Peeta, obrigada por cuidar de mim, me desculpe pelo que disse e por ter invadido sua casa. Se serve de consolo saiba que jamais cogitei conseguir abrigo em nenhum outro lugar que não seja perto de você. Sinceramente me desculpe._ saio da casa tendo a certeza que ele está muito chateado por isso nem espero que fale nada. No banho passo um tempo sem querer pensar em nada. Mas algo me incomoda disse a Peeta que não consigo pensar em estar em outro lugar do que estar com ele quando sinto medo e é verdade, mas isso implica em quê? Essa preferencia pelos seus braços indicam que o escolhi? Não sei por que isso implicaria em magoar o Gale e não sei se consigo fazer isso.

Termino o banho coloco uma roupa simples e vou para o trabalho. Não saio para inspecionar as obras por que Gale sempre me acompanha e não o quero por perto hoje, não depois da conversa que tive com Peeta. De certa forma sinto que o que mais me incomoda nisso tudo é explicar a situação ao Gale. Como dizer que preciso dormir com Peeta? Nunca aceitaria isso, no mínimo iria querer ficar e dormir comigo e essa ideia me parece desconfortável demais. Jamais me imaginei em uma situação assim. Com Peeta foi algo inesperado, aconteceu devido às circunstancias em que estávamos envolvidos e depois passei a apreciar sua companhia, me acostumei ao calor do seu corpo, com sua presença. Mas nunca pensei em experimentar viver isso com Gale. Passo o dia preenchendo documentos e revisando orçamentos. Não saio para o almoço e no fim da tarde sou surpreendida por Adam que bate na porta e diz que alguém quer falar comigo, permito que entre e para minha surpresa é Peeta. Ele nunca entrou em meu escritório, sempre sou eu quem vai até a sua padaria. Peço que entre e sente , fico sem saber o que dizer e ele toma a iniciativa.

_Katniss, vim por que não quero que essa situação fique entre a gente, vamos esquecer, que tal? Não precisa ser assim, se não se sente bem em dormir comigo, tudo bem. A gente faz de conta que nada aconteceu. _essa seria uma boa alternativa se eu não estivesse ficando louca pela intensidade dos pesadelos que ultimamente estão piores, apesar de não conseguir achar uma explicação para isso. Eram para terem diminuído a medida que o tempo foi passando mas ao contrário estão se intensificando todas as noites. Nem Dr. Aurélio consegue me dar uma explicação decente sobre o motivo disso estar acontecendo.

_Mas esse é o problema, não me sinto bem mas também não consigo lidar com os pesadelos sozinha. Todas as noites tem sido um tormento e isso está sugando a minha paz. Com você por perto me sinto melhor, mas também implica em dar um monte de explicações que não consigo dar a ninguém e não sei como resolver isso._ falo toda a verdade pois sei que quando tento escondê-la ele acaba magoado. Ele balança a cabeça e diz:

_Você é bem complicadinha sabia? _ fala sorrindo do meu conflito mas percebo em seu rosto sua preocupação com o meu bem estar.

_Sou mulher, nunca te disseram que somos complicadas?­_ digo rindo querendo amenizar o clima também.

_Acho que meu pai tentou me dizer uma vez, mas não ouvi muito bem. Enfim sei que está em conflito mas precisa de ajuda com os pesadelos, eu pensei em uma saída: deixa as coisas como estão, se a noite for muito complicada me procure vou estar disponível, pode me ligar, bater na minha porta, não importa, e não vai ter que dar explicação a ninguém e nem a mim. Podemos ser discretos. Só não quero que se sinta culpada em me procurar. Se você conseguir lidar com a noite nós nos encontramos pela manhã no café, fica a seu critério. Sem justificativas nem explicações. Que tal?

_Acho uma boa ideia, obrigada_ na verdade não resolve muito meu problema já que todas as noites são horríveis, e provavelmente irei querer sempre sua presença, mas não quero discutir, extravasar meus pensamentos confusos, como fiz de manhã, só vai magoá-lo e não quero isso, fico assim olhando para ele por um tempo até que diz.

_Nunca tinha vindo aqui, legal seu escritório. _fala observando tudo e a bagunça que tenho em cada espaço.

_Por legal você quer dizer bagunçado, mas acho que cada lugar reflete seu dono, sou confusa e complicadinha então, meu escritório reflete isso._ ele não responde só fica com um sorriso no rosto, depois levanta dizendo que precisa voltar para a padaria, combino de passar lá para irmos juntos para a vila.

Nas noites seguintes tento lidar com os pesadelos, mas quando ficam insuportáveis novamente recorro a Peeta, quando está próximo de se despedir de mim após trabalharmos no livro me encosto no seu peito e digo como tem sido difícil e finalmente tenho coragem para pedir que fique comigo. Ele não diz nada, só pega em minha mão, me leva até o quarto e passa a noite comigo. Cada noite que fica garante pelo menos duas ou três noites mais tranquilas e assim passa o tempo. Nada mais acontece entre a gente, ele sempre beija minha cabeça todas as noites, me deseja boa noite e dormimos abraçados. Porém as sensações em mim começam a mudar, toda vez que estamos juntos experimento vontades diferentes: de que me beije, que fique mais tempo abraçado a mim, que toque meu cabelo. Não digo nada a ele é claro, mas acho que isso fica perceptível de algum jeito, seja na forma de falar ou na intensidade com que nos olhamos pela manhã.


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