P.O.V. Louise Barllon

– Você não pode me obrigar Nata! – falo para minha criada, uma ninfa de longos cabelos cor de caramelo e olhos verdes que, obviamente, se chamava Nata.

– Loui, são só lentes! Você já usou elas no baile de haloween. – ela me diz em tom sério, mas ainda com a voz suave como uma música. Me pergunto como conseguia fazer isso...

– E eu odiei, ficava incomodando na hora em que lutei. – reclamo.

– Mas você não quer ficar bonita?

– Sim. Não! Quer dizer... Argh! Coloca logo isso. – falo tirando meus óculos de grau para dar lugar as lentes.

Eu já tinha tido alguns encontros com garotos. Mas eu sempre ia do meu jeito. Agora Nata queria me fazer de boneca. E para um encontro com o Christian! Espera. Eu estou indo ao um encontro com o Christian? Ah Deuses, minha mãe me mata! Mas bem, é para nos conhecermos melhor. Sermos amigos! Não é como se fossemos sair num encontro romântico. Não, nunca seria.

– Prontinho. – ela diz terminando de colocar as lentes. Pisco algumas vezes para me acostumar. O restante da produção foi rápida, e logo eu estava em frente ao grande espelho do meu quarto, com Nata me vendo com os olhos brilhando. É, ela conseguiu de novo. Eu estava incrível!

– Está bem, eu admito que gostei. – falo para uma Nata animada. – Obrigada!

Saio para encontrar Christian no telhado, como combinado, às 18:30. E ele já estava à minha espera. Quando eu chego ele abre um sorriso que logo reconheço por ser seu famoso sorriso charmoso. Ele tinha tantos sorrisos...

– E toda essa arrumação para mim? – ele assobia.

– Idiota. – falo, mas não impede dele aumentar o sorriso.

– Você está linda. – tento não corar, mas falho desastrosamente. – Vamos?

Ele me oferece a mão, mas ainda não a seguro.

– Mas para onde? Estamos no telhado, mas ele está vazio... – falo com deboche e ele sorri misterioso.

– Vamos viajar pelas sombras. Aproveitar um pouco de Veneza. – ele responde. O que?! Não, não e não! Eu não vou viajar pelas sombras. Só de pensar...

– Não podemos ir. É contra as regras sair do castelo. – tento objetar.

– Você parece ser a última pessoas que seguiria regras Louise! – ele rebate.

– Mas... – tento ver algum argumento. Mas nada parece ter sentido.

– Mas... – ele instiga. E depois de um tempo em que fico olhando para o chão, ele parece entender. – Não me diga que você tem medo do escuro. – Não respondo. Ele se aproxima e seu olhar me passa conforto. O que ao mesmo tempo é assustador.

– Não precisa ter medo do escuro. Não a razão para isso Louise. A escuridão só serve para lembrar a gente de que também existe a luz. – ele segura minha mão, seu toque é quente e reconfortante. – E eu estarei do seu lado, você não precisa ficar com medo.

Nem em mil anos eu conseguiria entendê-lo. Era brincalhão, mas responsável. Debochado, mas ainda falava coisas tão...

Ah Louise, vai dar uma de romântica agora?

Meu subconsciente me alerta.

– Tudo bem. – murmuro. Ele me puxa um pouco mais para perto, e logo estamos envolto em uma fumaça negra, que só aumentava ao nosso redor. Eu entrei em pânico imediatamente. Não tinha nem um ponto de luz, nada além da mais pura e assustadora escuridão. Até eu sentir o toque mais apertado da mão de Christian, e fiz disso uma espécie de porto. Era estranho um filho de Plutão ser minha fonte de luz...

Logo que a escuridão começou a se dissipar, eu percebi que havíamos parado em um beco.

– Um beco... sério? – falo sarcástica para ele.

– Não podemos chamar a atenção não é? – não respondo, então seguimos pelas ruas do sestriere de San Marco.

– Aonde vamos primeiro? – falo e noto um tom de animação em minha própria voz. Mas, qual é né? Quem quer ficar sempre preso em um castelo? É justo eu ficar animada por sair!

– Estava pensando da gente comer alguma coisa, e depois darmos uma volta pelos arredores. – ele propõe.

– Por mim tudo bem. – respondo e fomos até um restaurante que ficava a menos de uma quadra dali.

Tenho que falar que foi muito legal jantar lá, a comida de Veneza era fantástica. E Christian e eu até que não brigávamos tanto. Às vezes nossas ideias não batiam, mas o assunto era logo esquecido. A dona do restaurante, uma senhora muito amigável que se chamava Ilina, vinha sempre nos perguntar do serviço.

– Estão gostando da comida meus jovens? – ela perguntava. E nós acenávamos que sim. Só não gostei muito de uma coisa que ela falou.

– Vocês formam um belo casal sabiam. Espero que aproveitem bem o jantar. – e saiu com um grande sorriso. Acho que me assemelhava a um pimentão nessa hora, e a risada de Christian não ajudava muito.

– Está vendo como concordam comigo? – ele diz me fazendo corar ainda mais.

Despois desse humilhante episódio, eu e ele fomos para o grande canal de Veneza. Que se resumia a uma enorme e exuberante lagoa que circulava todo o sestriere. Ele me guiou até uma gôndola amarrada na beirada do canal. O condutor tinha logos bigodes negros e uma cara que para mim, era de falsa simpatia.

– Uma gôndola Christian. Isso é sério? – falo incrédula quando o condutor começa a remar.

– É um famoso meio de transporte pelo canal sabia. Além do mais, é melhor do que pegar a ponte. De gôndola podemos aproveitar melhor a paisagem. – ele falou como em um discurso, o que me fez rolar os olhos.

Mas ele até que tinha razão. Veneza ficava muito melhor quando andávamos de gôndola pelo canal. A lua cheia deixava a paisagem ainda mais incrível, quando refletida ao longo do lago. E as casas estavam também bem melhores de apreciar.

– E aonde vamos agora? – falo para quebrar o silêncio.

– Surpresa. – seu sorriso misterioso só aumenta minha curiosidade.

Logo passamos pela famosa ponte de Rialto, que era em forma de arco. E o escuro se fez por um instante, para logo dar lugar ao brilhante e animado restaurante que ficava lá perto. As pessoas comiam e bebiam animadas. Era engraçado ver como era viver sem preocupação. Elas não precisavam se estressar com monstros nem nada. Ás vezes eu desejava viver assim...

O restaurante passou e nesse momento, Christian falou que chegamos.

Paramos em frente a uma enorme construção com uma grande escada que circulava toda a extensão da torre, que logo reconheci por ser o Palácio Contarini del Bovolo.

– Lindo não é? – ele fala atrás de mim.

– Enorme. – foi a única coisa que disse, e ele abre um sorriso divertido.

– Vamos. – ele me guia para a entrada do palácio. Depois de subirmos vários dos degraus da famosa escada em caracol, chegamos ao telhado. E de lá, a vista panorâmica era de tirar o fôlego. Tudo era incrível, ver os telhados da casas, cada lugar, tudo tão pequeno, como se pudesse caber na palma da minha mão! E ainda tinha a brisa do outono.

– Ah como eu adoro o outono. – só percebo que falo isso em alto, tarde demais.

– Você adora o outono é? Essa é novidade! O que você gosta tanto nessa estação? – Christian fala.

– O significado. – respondo. – Pra mim, o outono significa que tudo chega ao fim um dia. As folhas sempre terão que cair. Mas sempre quando o inverno passa... agente pode reconstruir tudo de novo. – falo e percebo que meus olhos estão marejados. Christian fica preocupado.

– Por que você ficou triste?

– Meu pai que dizia isso. – respondo e sem que eu tenha percebido, Christian me envolve nos seus braços. – Sabe, eu tive que fazer isso quando ele morreu. Me reconstruir. Mas eu ainda sinto tanta falta dele...

– Mas você tem o Derek e seu tio. Você não estava e nem nunca estará sozinha Loui. – ele diz secando algumas lágrimas que caíram. Era a primeira vez que usava meu apelido. E eu me repreendi por ter fitado os olhos dele. Aquele castanho tinha um brilho hipnotizante, não era sombrio. Era... só ele. Só um garoto incrível, que estava me consolando. E que me olhava não com pena, mas com preocupação. Aquele mesmo olhar que se aproximava, passando os dedos gentilmente da minha bochecha até meu maxilar. E me puxado para mais perto com a outra mão pela cintura.

Os lábios quentes e macios roçaram os meus, e logo se aprofundaram em um verdadeiro beijo. Um beijo que eu não queria impedir. A verdade, era que, só agora, eu percebia o quanto eu queria esse beijo. E eu me senti bem, relaxada e em paz. Era como se eu esquecesse de tudo e de todos. Os problemas não existiam, nada existia! Apenas eu e Christian. E não era o Christian semideus romano filho de Plutão. Era apenas Christian...

Mas meu subconsciente vinha me atormentar. Queria mandar ele para o Tártaro. Queria que ele calasse a boca. Que parasse de piscar o maldito alerta de que aquilo era errado. Mas por que parecia tão certo? E foi aí que ela se sobressaiu. Era errado! Ele é filho de Plutão! Se Deméter descobrisse... Paro o beijo na hora e me afasto. Ele me olha confuso.

– Isso é errado! – tomo fôlego para falar.

– Louise, isso não é errado. – ele diz pausadamente. – Minha única certeza é que nunca, uma coisa foi tão certa para mim!

– Não! Isso não devia acontecer, a gente... a gente nem devia estar aqui! Correndo, ainda por cima, risco de sermos atacados por algum monstro. Logo depois da invasão de ontem!

– Estamos seguros Louise. Além do mais, eu sou guarda. Fui treinado para enfrentar qualquer monstro! Eu poderia nos manter em segurança. – ele responde.

Na hora em que ia dizer que nós, como semideuses, nunca estaríamos seguros, o que eu temia aconteceu.