Espelho de Gauss escrita por xoxors


Capítulo 1
E t h a n e Z a c h y


Notas iniciais do capítulo

Olá sweeties, estou de volta, dessa vez com uma short fic
Só pra avisar (de novo) ela é tipo drama, sofrimento e depressão porque eu tava com vontade de escrever algo nesse estilo a algum tempo
Espelho de Gauss foi planejada para ser uma one shot, mas eu decidi transformar em short fic
Agradeço muito a Dominik (moon and stars) por betar esse capítulo mesmo estando ocupada
Agradeço também a Labi (swagay) muito obrigada gata
Boa leitura



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Ele estava bêbado naquele dia também.

Em sua mão, ainda sentia o calor da pele dele em sua palma, e ardia, mesmo que duas semanas completas já houvessem passado. Os dias iam se esvaindo como uma névoa ao vento, mas sua mente ainda permanecia clara e transparente, e seu cérebro parecia rarefeito, pois ele não conseguia ver, pensar ou sentir as duas semanas completas.

Trinta de julho: O ultimo dia do mês. Ele puxou a folhinha com a foto de alguma paisagem bonita de algum lugar que Zachy, com certeza, já quis visitar, e, muito provavelmente falou sobre isso com ele, em uma voz doce como mel e animada como uma festa. Mas Zachy não gostava de festas. Não gostava, especialmente, de quando ele ia para festas, e deveria desgostar igualmente de ampará-lo quando voltava com o cheiro de bebida e perfume de outras pessoas, grudadas nas fibras de suas roupas, além das marcas vermelhas de batom espalhadas pelo colarinho. Não, Zachy certamente não gostava. Afinal, ele era inocente demais para entender os relacionamentos adultos, sério demais para aceitar se divertir e acatar a diversão alheia, mesmo que fosse seu namorado. Ele gostava de outros eventos. Zachary Evans era o tipo de garoto que, aos dezenove anos, estava muito feliz em passar sua noite na companhia de um livro, obrigado!

No topo de sua lista das coisas que o desagradava, estava a bebida. Por sofrer uma infância abusiva, com um pai que lhe maltratava sempre que chegava em casa às duas da manhã fedendo a vodca barata e sem parecer saber como se utilizava as pernas. Mas o destino era cruel e irônico e, no segundo semestre de sua tão sonhada faculdade de dança, ele conheceu Ethan Collins: o jovem de vinte anos que cursava o quinto semestre da faculdade de música, e, por mais inacreditável que pudesse parecer, o namoro dos sonhos durou por quase dois meses antes de a receita começar a desandar como um bolo solado.

Ethan era popular, festeiro e tinha fama na cidade. Diziam que pegaria até sua sombra se a achasse atraente o suficiente e, segundo os boatos, nem sua sombra seria capaz de resistir ao conjunto charmoso de olhos verdes, cabelos negros e compridos, rosto delicado e corpo forte e sedutor, quase como se este chamasse os jovens indefesos para se abrigar em seus braços e esquecer-se de todos os problemas.

O problema era que Collins em um relacionamento conseguia trazer todos os tipos de problemas. Que chance teria Zachy: baixo, magro, pálido, o garoto do clube de leitura e curso de dança?

Por um tempo, ele fez parte do fã clube de Ethan em segredo e o admirava a distancia e em silencio.

O sol brilhava forte no dia em que tudo começou. Zachy estava trancado no banheiro, tentando, desesperadamente, gritar por ajuda e lidar com sua claustrofobia, decorrente do trauma de ficar preso em seu quarto escuro durante um dia inteiro ou mais, com fome e chorando e chamando seu pai, que nunca parecia estar em casa.

Não sabia o que teria feito se Ethan não tivesse arrombado aquela porta após ouvir seus soluços. Zachy passou a vê-lo como um herói, seu Superman particular. E Ethan passou a vê-lo, o garoto tímido imerso em livros e amigos fictícios, mas que, surpreendentemente, era bonito de uma forma delicada. E quando se deu conta, uau, já fazia quase dois meses de namoro e ele não havia curtido uma festa até o fim desde então.

Eles tinham um quarto alugado perto dos alojamentos da faculdade, dividiam o aluguel, a cama e a felicidade, e por sete semanas inteiras, ele realmente pensou que poderia ser o tipo de cara a quem Zachy entregaria sua virgindade sem se arrepender. E Zachy a entregou...

x-x

Era sábado e a noite estava fria, uma lua gorda brilhava no céu escuro, salpicado de estrelas que Ethan não se importou em olhar; Zachy gostava de sentar na calçada à noite, segurar sua mão, apoiar a cabeça em seu ombro e olhar as estrelas.

Por vezes ele as contava, embalando os números em sua risada fina e suave, enquanto o garoto ao seu lado permanecia quieto. Ethan não gostava de olhar as estrelas, ele gostava das luzes néon e das bebidas coloridas que o deixavam quente e queimavam seus problemas.

Por volta das quatro da madrugada ele estava de volta, se esforçando muito para destrancar a porta e fazendo um esforço maior ainda para por um pé na frente do outro sem desabar. Zachy estava sentado em um sofá, com a cabeça entre os joelhos, os fios macios por sobre seu rosto, seu corpo tremelicava, mas Ethan não deu atenção, nada mais importava além da cama macia; então se dirigiu até lá, largando o corpo no colchão, que afundou com seu peso. Adormeceu segundos depois, ainda com a impressão de que a Terra estava girando mais rápido.

A primeira coisa que reparou pela manhã – ou tarde, não saberia dizer com certeza –, era que ele estava apenas de cuecas, as roupas suadas e grudentas fora de seu corpo, e na mesinha de cabeceira ao lado da cama, havia uma aspirina e um copo d’água.

E na sala, Zachary chorava.

x-x

Passaram-se meses e eles se viam cada vez menos, até chegarem ao estágio de se esbarrarem ocasionalmente, apenas nos corredores da faculdade e intervalo entre as aulas. Moravam juntos, mas Ethan parecia ocupado demais com as festas da faculdade, do clube, da banda, do aniversário do amigo de seu melhor amigo... E Zachy não sabia como pedir para ele ficar, porque segurar sua mão ou chorar não resolvia, então apertava os próprios dedos e vertia lágrimas à noite esperando seu namorado voltar.

Era um jogo de gato e rato, onde o ratinho assustado se escondia na toca e o gato poderoso saía para caçar: e voltava tarde da noite. E o ratinho se submetia ao gato como um servo leal, apenas para, no outro dia, acontecer tudo de novo.

Ethan não chegou a realmente cogitar a ideia de que poderia chegar o dia em que ele teria que lidar com a dor de cabeça sozinho no dia seguinte. Já teve uma visão ou duas de um quarto sem o companheiro, mas quando pensava em Zachy, sempre o visualizava ali, ao seu lado. Ele era como uma presença constante em sua vida, como um gráfico que inicia em dois e, seis meses depois, ainda está em dois.

Mas, seis meses depois, não eram apenas os dois na relação e, assim como o gráfico mudara, a constância de Zachy em sua vida parecia vacilar, como se a relação deles andasse na corda bamba.

E, francamente, ele não conseguia ver a rede de proteção lá embaixo.

Aquela noite havia sido o fim, de fato. Mas não o fim real, foi apenas o fim do que já tinha acabado. Porém, Zachy, como o bom romântico-século-XVIII que era, tentou até não ser mais possível empurrar.

Ironicamente, tudo terminou com um empurrão, lágrimas e palavrões em uma voz enrolada de bebida. Então, o silencio, paredes brancas, e quando viu Zachy sair de casa, mole como sorvete e batendo a porta, ele sabia que não tinha volta, sabia que era para sempre. Ele sabia que, quando a porta fechasse, não iria ser apenas palpável, seria simbólico.

Como tudo no relacionamento deles, já que tudo era mais simbólico que palpável, – exceto as transas, essas eram perfeitamente corpóreas. Foi por isso que, quando a porta fechou, ele fez questão de trancá-la, mas não conseguiu jogar a chave fora, porque era um idiota e, sem Zachy, o quarto branco e o silencio era apenas branco e silêncio, não importava o quanto olhasse ou quantas horas passassem.

De repente, sua vida passou de Las Vegas a inverno polar. As festas ainda estavam lá, a bebida e as garotas também, mas era extremamente inconveniente pegar a própria aspirina quando já tinha uma puta dor de cabeça para lhe atrapalhar. Mas não era a aspirina, na verdade. Ele não dava a mínima às malditas aspirinas. Era acordar com a mesma roupa que foi dormir, dobrar os lençóis sozinho, e o guarda-roupa que parecia solitariamente vazio quando a parte onde as roupas dele ficavam ainda estava lá, era o cheiro dele que parecia ter se impregnado em cada maldito lugar, como se ele passasse horas se esfregando nos móveis, e não importava quantos cigarros ele fumasse, o cheiro não desaparecia por completo.

Na primeira semana sem Zachy, ele se sentia mais cansado que sozinho; era cedo para isso, solidão, ele poderia rir na cara dela, ainda mais se estivesse bêbado. Ele não precisava de Zachy, ele sempre poderia foder alguém e pegar suas aspirinas por si mesmo, assim como dobrar os lençóis e lavar as roupas manchadas de batom.

Na segunda semana, ele se sentia mais perdido que sozinho, não tinha reparado como Zachy era sua bússola e seu Norte e, sem ele, não sabia para onde ir. Então ele ia para os lugares que conseguia chegar. Os bares e clubes lhe recebiam independente do que fez antes de chegar ali, e vendiam felicidade líquida, ou, ao menos, felicidade líquida temporária: e ela parecia extremamente convidativa.

Ele não se lembrava de ter passado pela fase solitária, mas, na terceira semana, era como se fosse tarde demais para isso. As ruas cruzadas, os caminhos sem direção e as estradas interditadas; parecia já ter perambulado por todas. Sentia-se como um gatinho preso no porão: gemendo sozinho, mas orgulhoso demais para admitir estar só.

As paredes de seu novo quarto eram tão monocromicamente brancas quanto as antigas, e ele enxergava Zachy nos treze tons de branco, que se repetiam por seu cérebro como a fumaça do cigarro que fumava nas noites de sexta; olhava as estrelas e elas o brilho era tão puro quanto o (ex) namorado, isso o impedia de agir, ou pensar. O brilho de Zachy era assim tão forte?

Ele procurou o garoto entre braços e abraços, beijos e lábios, línguas e lençóis cinza, que era a cor dos olhos dele. Mas ele nunca estava lá quando precisava estar, e quando não precisava também. Ele simplesmente não estava, e isso era uma droga vezes sete. Principalmente porque ele sabia que tudo aquilo era consequência de seus atos estúpidos e bêbados.

E o Campari sempre parecia mais vermelho, o RedLabel mais forte e o cigarro mais cinza nos sábados. E a lua parecia mais prateada e rechonchuda nas noites de lua cheia. E tudo isso o irritava, porque o mundo permanecia constante lá fora, os carros ainda seguiam buzinando, as estrelas ainda estavam lá todas as noites e o sol sempre nascia na manhã seguinte, estando ele de ressaca ou não. Mas lá dentro, tudo havia mudado, porque agora ele dormia entre lençóis cinza, pegava a própria aspirina e morava em outro quarto. E ele não estava lá. Nunca mais estaria.

Porque ele tinha transformado Ethan-e-Zachy em Ethan e Zachy, com grandes espaços entre eles, espaços tão longos quanto os filmes românticos que Zachy gostava de assistir com ele.

E t h a n e Z a c h y.

Ele descobriu que seu coração doía muito mais que a dor de cabeça do dia seguinte, que sua vida parecia bem mais escura que a madrugada vazia, e que filmes românticos e flores eram bem mais baratos que Campari e RedLabel.


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Notas finais do capítulo

Bem amores, esse é primeiro cap, só explicando o que aconteceu mesmo, eu pretendo postar o próximo na semana que vem (de preferencia nesse mesmo dia)
Essa fic também está postada no SocialSpirit: http://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-originais-espelho-de-gauss-2602070/
Agradeço de novo a dominik e a Labi e, claro, a você que leu
Qualquer crítica, sugestão, ou algo que queira falar, a gente se vê aqui embaixo :3



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