Era domingo à tarde, e eu estava deitada no meu quarto, eu e Scott havíamos voltado para o dormitório no final da tarde, e sabe no que resultou a nossa pequena “expedição”? Pois é, três semanas de detenção (agora vou ter aulas até as oito da noite, quem merece isso?), temos que ajudar o zelador, e ainda, organizar a biblioteca, organizar TODA a biblioteca, que vou te contar... Não é pouca coisa não.

Eu até tentei botar toda a culpa no Scott, dizendo para o diretor que ele havia me ameaçado (Ou você vai comigo ou eu te mato!) Mas o diretor, ficou me encarando como se estivesse a ponto de me mandar para fora dali de uma vez por todas, ele era um terrível estraga prazeres, com uma cara de Da para acreditar nesse papo furado?

Ele ficou me encarando, e encarando durante os longos e intermináveis dez minutos que eu levei tentando convencer ele que a culpa toda foi do Scott e que ele deveria expulsar ele. Mas como ele é um cara que nasceu para ferrar a vida de garotas fofas e inocentes, ele nos deu o castigo, e foi mais ou menos assim:

–Parabéns! Vocês acabaram de ganhar um kit com “Três tarefas para continuar presa nesse inferno”. –serio, que diretor mais sem graça...

O final da nossa “aventura” foi bem chatinho na verdade, depois de nós temos que cantar na frente daquelas pessoas, fomos para um hotel, dessa vez sem velhinho que tem cara de quem vai te matar enquanto você, e eu mandei diversas indiretas (bem diretas) para o Scott, querendo saber quem era o “ele’ a quem James havia se referido, a pessoa que (supostamente) fez Scott sair daquela cidade ou vila, tanto faz.

Eu adormeci na cama, e Scott no sofá que tinha naquele quarto de hotel, e eu acordei com Scott gritando e quase pulando em cima de mim, e eu notei, que eu estava gritando, suando e o meu pesadelo havia passado para dizer “oi, quanto tempo”.

Só que dessa vez tudo foi diferente, nós ainda estávamos no carro e na pista de corrida, mas era eu quem estava dirigindo, e isso, fez a minha culpa crescer ainda mais dentro de mim, como se eu fosse a responsável por tudo que havia acontecido. Eu não era a responsável, não foi a minha culpa. Certo?

Scott saiu do banho e se atirou na sua cama, cerca de dez minutos depois, ele estava se revirando, agitado e suava frio, eu não fui acordar ele, fiquei observando, ele murmurava diversos e incontáveis “não...” e se debatia na cama, visivelmente desconfortável, só quando ele começou a falar mais alto eu resolvi ir acorda-lo. Mas ele começou a sussurrar:

–Não... De novo não, o que eu fiz? ... Por que você faz isso? –e eu tentei acorda-lo antes que algo pior aconteça.

–Scott? Ei! Acorda... Calma. –eu falei calmamente, tentando acordar ele, mas não deu nada certo, já que ele se revirou e bateu sua mão na minha cara, acertando em cheio o meu olho. Ótimo, era só o que me faltava, ser atacada pelo meu colega de quarto problemático enquanto ele sonhava com sei lá o que, já que ele se recusa a me contar.

–Mas que Droga! –grito eu, quando sou atingida por uma mão voadora, e com isso, Scott acorda. –Ah, ótimo, agora você acorda! Por que não dois segundos atrás quando eu estava sendo atacava por um Scott zumbi apavorado?! –resmungo eu me afastando com a mão no olho, ele se senta, e me olha atordoado, respirando rápido e pesadamente. Ele estava assustado, parecia um garoto de dez anos, e não um adolescente, sem juízo nenhum, de dezesseis anos, que havia acabado de reviver seu pior pesadelo. Nesse caso, éramos iguais, ambos assombrados por nossos demônios.

–O que? –sussurrou ele, e eu esqueci a dor no meu olho, quem nem doía tanto assim, eu só estava fazendo um pouco de drama (quem nunca?) E me sento ao lado dele.

–Você vai falar ou eu vou ter que arrancar de você? –eu tento fazer um pouco de humor-negro, o que só piora a situação, ele me olha como se perguntasse “Quem diabos é essa garota que faz piada com o sofrimento dos outros? ” Mas ele não disse nada, só se virou, e voltou a dormir. Eu hein.

Sai do quarto, disposta a não dormir no mesmo quarto que uma pessoa que está de total, e inquebrável, mau humor, e vou para a cozinha/sala, deito no sofá, até penso em colocar um filme ou ler um livro, qualquer coisa para passar o tempo, mas o sono me vence, e eu durmo, ali mesmo, no sofá, deitada em um ângulo que é muito provável que eu vá me arrepender na próxima manhã, e eu tenho um sonho estranho, e sem logica nenhuma.

“Eu estava correndo por uma estrada que não tinha fim, a lua estava ao horizonte, e havia duas pessoas correndo atrás de mim, elas ou eles, estavam com capacetes de motos e tinham nas mãos, dois pincéis. Okay, pensei, estou sendo perseguida por dois assassinos que matam suas vítimas com pincéis e tinta verde. Eu tropeço e caio no chão. ”

Acordo no chão da sala. Andressa estava pintando um quadro (Okay, daí vem a tinta verde e os pincéis) e Andressa estava... Fazendo nada, por que aquela guria só sabe fazer isso, nada. Levanto do chão duro e vou para o meu quarto, Scott ainda estava dormindo, atirado na sua cama, em um ângulo que eu não sei como ele não quebrou o pescoço.

Vou para o banheiro, tomo banho, escovo os dentes e coloco uma roupa, pego minha mochila e sigo para a biblioteca, eu sei que era para eu e o Scott cumprirmos o castigo juntos, mas ele que se dane. Começo a organizar os livros por ordem, de autor, título, tamanho e tudo mais, até que ele aparece, como um zumbi, rastejando pelos corredores.

–Por que você não me chamou? –disse ele coçando a cabeça, com ar de “Queria estar na cama, mas tenho que estar aqui, por que fui um idiota, que teve a brilhante ideia de “fugir” da escola. Viva eu! ”

Eu ignorei ele e continuei o meu trabalho, se ele pode me ignorar, como fez ontem à noite, por que eu não posso? Era exatamente isso que eu vou fazer!