Sabe o que é pior do que acordar em um hotel que parece que saiu de um filme de terror? É acordar com um balde de água fria jogada pelo seu colega de quarto idiota, em um hotel que perece que saiu de um filme de terror.

–Você não tem coisa melhor para fazer não? –grito para ele, enquanto tento me secar, a água estava gelando até os meus ossos. Se eu ter uma hipotermia vai ser culpa dele.

–Não... Atormentar você é o meu passatempo predileto. –ele deu de ombros com um sorriso diabólico. Começo a correr atrás dele batendo com o balde em sua cabeça, enquanto gritava e ele tentava se proteger dos meus ataques com baldes.

–Ei, ei, ei! Calma... Guarde sua energia, pois temos um longo dia pela frente. –disse ele sorrindo, e eu vi, que ele já tinha algo planejado.

–Beleza... O que vamos fazer? –eu olhei para ele desconfiada, ele sorriu e piscou um olho.

–Você verá! –E nesse instante eu me arrependi de não ter ficado no meu dormitório quieta na minha linda caminha.

***

Saímos do hotel e Scott foi pagar para o dono, que novamente, não disse nem uma palavra. Fiquei aliviada quando saímos ou melhor: Fiquei aliviada quando saímos vivos. Já que eu estava com certeza absoluta de que o velhinho ia nos sufocar ou nos afogar ou nos dar de comida para seus cães... Agora é sério, chega de filmes de assassinatos e terror para mim.

Scott comprou um sanduiche para mim e fomos alugar outro carro, mas acabou que ele se encantou com uma moto, e quem disse que eu conseguia fazer ele mudar de ideia? Saímos de lá em uma moto preta.

–Qual é? A última vez que eu andei de moto não acabou nada bem, e agora você quer que eu suba nessa coisa? –disse eu de braços cruzados encarando ele com uma sobrancelha arqueada.

–Ei, não chama ela de “coisa” ela tem sentimentos. –disse ele colocando a mão no coração e fingindo estar magoado.

–Ela? –eu comecei a rir, e subi na moto.

Scott começou a dirigir e fomos em direção a um restaurante. Será que na escola já notaram que nós sumimos? Ou nem sentiram a falta de dois adolescentes problemáticos? Andressa já notou? Falando na Andressa, eu tenho que preparar a minha vingança contra ela, depois que aquela linguaruda abre a boca e fala sobre a festa... Mesmo ela não sabendo que não podia falar, eu vou me vingar, não tenho pena... Sou má!

–Chegamos! –disse Scott quando parou na frente de uma casinha que mais parecia uma cabine de banheiro de tão pequena, mas no letreiro dizia: “Peixes fresquinhos à venda” E em baixo estava escrito: “Tá nervoso? Vai pescar! ” Serio que tipo de cidade é essa?

–Okay... –disse eu olhando para a loja com cara de nojo.

–Lá dentro é limpinho, palavra de escoteiro. –disse ele e ergueu a mão.

–Você já foi escoteiro?

–Não, mas sempre falam isso nos filmes, então por que eu não posso dizer? –ele deu de ombros, e eu revirei os olhos.

Entramos e eu vi que ele realmente estava falando sério, o lugar tinha paredes azuis, e uma meia dúzia de mesas com pessoas comendo e rindo alto, era bem legal e calmo.

–Eu não disse? –Scott me empurrou para uma mesa perto da janela e eu me sentei com Scott na minha frente, ele pediu a comida, que veio logo, e começamos a comer. Ele não falava coisa com coisa e soltava piadas sem graça, eu estava entediada, então joguei um pedaço de peixe na cara dele, que reclamou e foi pagar a conta. Saímos para fora e ele foi buscar a moto. Eu nem me dei o trabalho de perguntar aonde nós iriamos agora, por que sabia que ele ia disser: “Você vai ver! ”

Ele começou a dirigir em direção a um salão de onde saia uma música muito alta, que dava para escutar a várias quadras de distância, ele me olhou sorrindo e entrou no salão.

Sabe aqueles lugares onde toca música country e todo mundo dança igual? Esse salão era a prova viva de que isso não existia só em filmes. Scott me puxou para o meio da multidão com um sorriso no rosto. Ele estava feliz por vir aqui novamente, qualquer idiota conseguia ver isso.

–Só tente não arruinar tudo okay? –disse ele enquanto me ensinava a coreografia, mostrei a língua para ele. Eu não conseguia acertar um movimento sequer, Scott estava rindo da minha cara, e eu dei um chute nas pernas dele.

–Isso é para aprender não rir de pessoas descoordenas. –e com isso, ele riu mais ainda. A música foi ficando mais baixa e um homem de uns quarenta anos subiu no palco, e todos aplaudiram.

–Para dar início a nossa noite do Karaokê: Mellany! –disse ele e desceu do palco, dando espaço para uma garotinha de no máximo doze anos, que começou a cantar uma música lenta.

Eu não tenho nada contra garotinhas fofas cantando, mas quando a garotinha fofa não sabe cantar meus ouvidos têm tudo contra ela. Sério, acho bom ela desistir da carreira de cantora, por que não vai funcionar para ela, não sei como os vidros das janelas não quebraram. Quando ela terminou a música, quase consegui escutar os meus ouvidos cantando “aleluia”. Que ouvidos maus eu tenho...

Mais algumas pessoas subiram e cantaram, até que um cara da nossa idade subiu, mas quando olhou na nossa direção quase deixou o microfone cair no chão.

–Scott?! –gritou ele e veio correndo na nossa direção. Ele e Scott se abraçaram. –Nossa cara! Quanto tempo... Não nos vemos desde que ele... –O cara começou a falar, mas Scott interrompeu ele.

–É né, pois é. Quanto tempo... –disse ele tentando disfarçar o que o cara havia acabado de falar, ele? Quem é o “ele” que esse cara se referiu? Eu odeio ficar sem saber das coisas.

–E essa aqui? –disse ele se virando na minha direção.

–Essa é Alice, minha colega de quarto no internato. –disse Scott e o carinha sorriu para mim.

–Oi! Eu sou James, primo do cabeça oca aqui. –disse ele e então, ele subiu de novo no palco e gritou para todos.

–E ai pessoal?! Meu priminho aqui ta louco para cantar para vocês, não é Scott? –disse ele, e Scott riu, acho que eu vou ter que gravar essa e colocar no YouTube. Mas antes que eu possa pensar em qualquer outra coisa, Scott me puxa com ele, em direção ao palco.