Rosa Cristalizada escrita por flaviovini


Capítulo 6
Capítulo 5 - Rosa Flamejante




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Meu corpo continuava imóvel, mas pude perceber que a neve já tinha cessado, percebi também que alguém se aproximava, entrei em choque, não queria que ninguém me visse assim, queria morrer em paz.

 Eu fui capaz de distinguir quem era, o que me deixou com raiva, era o maravilhoso Dr. Cullen, mas ele era um médico, talvez eu tivesse esperanças ao final de tudo.

 Ele começou a analisar meu estado e depois de segundos pensando, levantou-me sem problema algum e começou a correr comigo nos braços. Correr não era a palavra apropriada, parecia que ele voava... Voava tão rápido, o vento no meu rosto fez a dor ficar maior, e soltei alguns gemidos inconscientemente. Talvez ele estivesse me levando para minha casa, ou um hospital...

 Em questão de minutos eu estava em um ambiente aconchegante e acolhedor, era uma casa iluminada e quente, enfim, a dor começou a amenizar novamente.

 Deduzi que felicidade não dura muito, a dor voltou como uma navalha, algo me cortava, penetrava minha garganta, meus pulsos, meus tornozelos.

 Um grito saiu de minha garganta, quando eu não sabia ser capaz de fazê-lo. Não conseguia acreditar que esse homem me levara para sua casa para se aproveitar de mim, outro homem que abusava de meu corpo, contudo, essa impressão era incorreta.

 O moço tentava falar comigo, mas minha mente não era capaz de capturar suas palavras. E então o fogo surgiu...

 Como era possível queimar daquele jeito, quando há pouco tempo eu congelava?

 O fogo penetrava minhas veias e deteriorava cada partícula do meu corpo, apenas conseguia pensar nas chamas que me queimavam viva.

 Tentei levantar as mãos para apagar a fogueira alojada em mim, mas meus membros pesavam toneladas, eu não era capaz de me erguer, tudo o que conseguia fazer era gritar, e gritei, gritei, mas a dor, o fogo apenas piorou.

 O que esse homem estava fazendo? Porque ele queimava-me viva? Não me lembrava de ter feito mal a ele.

 Estava começando a entender as palavras do homem, mesmo com o fogo cruciante.

 A cozinha agora não era só minha e do Doutor, sua mulher e seu irmão agora olhavam minha agonia no fogo interminável. O Doutor segurava minha mãe enquanto falava.

 Aos poucos fui ficando capaz de controlar os gritos – não todos – mas alguns, e fiquei mais atenta sobre o que ocorria ao meu redor.

 

 “Me desculpe, Rosalie, eu sinto muito por isso, vai passar logo... Calma, já está acabando...” Ele não parava de se lamentar, e eu me perguntava o que ele havia feito.

 

 O irmão dele me olhava nervoso, meus olhos saiam de órbita e voltavam enquanto os gritos vinham da minha garganta sem permissão. Olhei para Esme e Edward no instante em que a dor atingiu o seu ápice.

 

 “Matem-me agora! Matem-me, acabem com essa dor, o fogo está me queimando, faça-o parar... Me matem” Eu gritava desesperada.

 

 “Calma Rosalie, agüente firme, já está acabando...” Ele continuava lamentando e percebeu a raiva do irmão. Fui capaz de ouvir algumas coisas nos intervalos dos gritos. E vi a expressão de dor da mulher. Tentei agüentar mais só piorava.

 

“Por favor, mate-me!” Gritei arqueando as costas em dor “Deixe-me morrer!” A mão da mulher voou até sua boca. Os três me encaravam e nada faziam.

 

 “Em que você está pensando, Carlisle?... Rosalie Hale?” Edward disse nervoso, não gostei do jeito que ele pronunciou meu nome, com certa repugnância.

 

 “Não podia deixá-la morrer... Era demais... Horrível demais, desperdício demais...” Carlisle defendia-se numa voz baixa até para mim.

 

 “Eu sei...” Edward atacou, mas pausou – Pensei que ele continuava falando, mas não verbalizava as palavras.

 

 “Era desperdício demais. Eu não podia deixá-la” Carlisle repetiu num sussurro.

 

 “É claro que não podia” A mulher defendeu o ato do Doutor.

 

 “Morre gente o tempo todo” Edward dizia asperamente “Mas não acha que ela é um pouco fácil de reconhecer? Os King proporão uma busca imensa...” Ele pausou no momento em que eu lembrava de Royce e dos amigos e seus atos cruéis. Porque Royce havia feito isso comigo? “... E é claro que ninguém suspeitará do demônio” Edward continuou, depois grunhiu, do jeito que Ele falava, era óbvio que eles sabiam quem eram os causadores da minha tragédia. O fogo amenizou nas pontas de meus dedos, mas aumentou nos demais pontos.

 

 “O que vamos fazer com ela?” Edward perguntava nervoso.

 

 Não conseguia agüentar a dor, mas não tinha forças o suficiente para mandá-la embora. Meus dedos arranhavam friamente a mesa embaixo de mim, minhas unhas cravavam-se na madeira.

 

 “Cabe a ela decidir, é claro. Ela pode seguir seu próprio caminho” O doutor respondeu a pergunta do irmão.

 

 As palavras dele me deixaram sem vida, eu sabia que não teria esperanças nem se vivesse... Minha vida tinha terminado e já não havia volta, eu ficaria sozinha, sozinha pela eternidade.

 

“Quanto tempo faz, Carlisle?” Edward perguntou aborrecido.

“Dois dias” Ele sussurrou a resposta.

 Dois dias? 48 horas que o fogo me queimava? A dor não cessava em dois dias? Quanto tempo mais eu teria de esperar?

“Descanse Carlisle” Edward disse calmo “Vá caçar. Eu ficarei com ela”.

 Carlisle saiu com a esposa e Edward tomou seu lugar, segurando minha mão enquanto eu continuava gritando.

 “Calma Rosalie, já está acabando, faltam apenas alguns minutos, em breve você vai esquecer todas as suas memórias humanas e tudo será melhor” Edward dizia.

 Memórias Humanas? O que ele quis dizer com isso? Eu não era mais humana? Que tipo de idiotice ele estava falando? Em breve que esqueceria? Esquecer? Eu não podia me dar ao luxo do esquecimento, faria de tudo para prender-me a isso.

 Casaco rasgado... Botões voando... Cabelo arrancado pela raiz... Corpo violado... Dor... Royce... Gelo... Morte... Fogo... Chamas... Tudo o que eu queria era vingança.

 Edward abriu minha mão a guardou alguma coisa enquanto a dor saiu de meus braços e pernas, liberando quase todo meu corpo. Minha respiração ficava pior quando meu corpo ficava melhor.

 E o ar virou fumaça, tóxica ao inalar, e mudou para areia, difícil de respirar. O fogo liberava meu tronco, mas triturava meu coração, meu batimento aumentava incrivelmente.

“Isso quer dizer que está no fim” Edward me alertou.

 Que ótimo, então isso tinha um fim... Isso tinha se tornado inacreditavel para mim, era tão doloroso, era como uma faca afiada que penetra o coração, uma faca em chamas, uma faca flamejante. A dor ficou apenas no meu órgão soberano e enfim, meu coração deu sua última lufada e parou para não mais bater.

 Agora eu já estava ciente de tudo e conseguia mover todo meu corpo, a sensação de alivio me dominou prontamente, Edward acertara, era o fim da dor, o fim das chamas, o fim de quase tudo e o começo da solidão...

 “Você está bem?” Ele perguntou olhando estranhamente para os meus olhos.

 Percebi que ele não era tão belo quanto eu imaginava, ele realmente era bonito, mas era normal, enquanto ele perguntava Esme e Carlisle entravam com a mesma expressão estranha no rosto.

“Eu estou muito bem” Menti para os três, a cara que Edward fez não me passou despercebida, como se soubesse a mentira assim que dita. Não queria explicar minhas condições, só queria saber o que eu era agora.

 “Nós vamos lhe explicar o que você é...” Edward respondeu meus pensamentos, isso não era possível, esse garoto devia ter lido minha expressão e detectado a pergunta. O que eles esperavam? Porque não explicavam logo?

 “Explicaremos assim que você permitir” Outra vez Edward respondia meus pensamentos, e vi o que ele era capaz de fazer, algo que me deixava totalmente sem privacidade.

 “Rosalie, todos nós somos... Diferentes, aos olhos humanos somos mais pálidos, bonitos e atraentes em vários aspectos...” Carlisle explicava.

 Verifiquei a cor de minha pele antes branca, e sem dúvida ela era quase translúcida de tão pálida, gostei da idéia de ser atraente.

 “... Minha família, todos nós nos alimentamos de forma diferente do que a maioria de nossa espécie... Nós nos alimentamos de animais para manter o que nos resta da humanidade...”.

 Não entendia aonde ele queria chegar, humanos também se alimentavam de animais, carne animal, então não seria tudo assim tão diferente, éramos algum tipo de animal?

 “O que Carlisle quer dizer é que somos Vampiros, e esse clã não se alimenta de sangue humano, você certamente deve estar sentindo sede agora, e essa sede é de sangue” Edward foi mais direto.

 Vampiros...Sangue...Sede. Que maluquice era essa? Busquei algum sinal de brincadeira nos olhos deles e notei a cor exata, era como ouro liquido, um tom dourado muito belo, e não pude deixar de notar também a dor por trás da garganta, era como um caroço de abacate, algo que certamente clamava por sangue, percebi que as palavras eram verídicas e um rugido saiu de dentro de mim. Vampiro... Eu era uma vampira. Agora literalmente não existia nada em mim da Rosalie Lillian Hale, agora eu era apenas Rosalie, o nome era apenas um capricho, uma denominação para que eu não fosse algo em vão.

 Esme e Carlisle se aproximaram de mim, para me dar um abraço, suponho, mas me afastei prontamente. Não queria criar vínculos levianos, pois era perceptível que eles não me queriam ali, principalmente Edward Cullen.

 Meus instintos começavam a me dominar, tudo o que eu pensava naquele momento era em sangue... Eu precisava me alimentar.

“Acho melhor caçarmos esta noite, há um parque aqui por perto com muitos cervos...” Carlisle comentou.

 Eles não esperaram eu dizer nada, apenas se retiraram, era um convite – e obviamente eu aceitaria – não sabia como fazer aquilo. Carlisle saiu tranqüilamente seguido por Esme e por fim Edward Cullen seguiu-os também. Caminhei atrás deles, mas percebi que caminhar não era a palavra correta, nós corríamos, quase voávamos pelo pequeno parque, e então os três pararam. Soube exatamente o motivo disso, o aroma demonstrava claramente que havia alimento ali. Eu me sentia como uma leoa prestes a dar o bote.

 Caminhei lentamente sem me preocupar com os outros três vampiros próximos a mim, esperei um momento de distração do frágil animal e pulei em cima dele, o movimento foi tão rápido que em menos de segundos o animal caiu no chão e não teve tempo pra nada, cravei meus dentes em seu pescoço e deixei que o líquido gorduroso e maravilhoso deliciasse minha garganta e acabasse com a dor que existia ali. Era uma bebida quente e deliciosa, jamais provara algo parecido. Tudo isso durou menos de dois minutos e olhei ao redor procurando por mais...

 A noite foi longa, devorei cinco cervos, mas ainda me sentia insatisfeita, queria mais e mais... Carlisle me fez parar, disse que já era o bastante e que com o tempo eu me acostumaria, assim, voltamos para o lar do Doutor.

“Rosalie, há outras coisas que deve saber sobre o que somos... Como já percebeu, somos mais velozes, fortes, somos venenosos, nossa pele é indestrutível... Somos claramente imortais, e não comemos nenhuma comida humana, não temos partículas humanas, na transformação tudo se perdeu, o que existe em você agora são apenas células vampiricas. E como não necessitamos de coisas assim, o sono nos é privado...” Explicava o Doutor cautelosamente.

“Nós... Não... Dormimos?” Consegui perguntar.

“Exato, jamais dormimos... Fora tudo o que disse ainda existem mais algumas informações que com o tempo você descobrirá” Finalizou ele.

 “E... Eu devo procurar um esconderijo para mim ou algo assim?” Consegui perguntar depois de muita relutância.

 Esme e Carlisle me olharam curiosos e Edward traduziu minha pergunta.

 “Ela está perguntando se terá de procurar moradia, ou se vocês irão deixá-la aqui”.

 “Mas é claro que pode ficar aqui, você faz parte da família agora... Se quiser permanecer conosco, é claro...” Carlisle dizia de forma paternal.

 “Obrigada, acho que ficarei até entender melhor sobre essas coisas novas” Não conseguia pensar na palavra que descrevia o que eu era.

 “Seu quarto já esta pronto minha querida, é lá em cima no final do corredor...” Esme informou.

 “Acho melhor ir para lá então... Se não se importam quero refletir um pouco sobre isso...” Subi as escadas, mas não fui capaz de dominar minha força, assim, o piso da casa ficou em pedaços, fiquei meio envergonhada, mas não daria o braço à torcer, eles que fizeram isso comigo, agora teriam que pagar o preço.

 O quarto era enorme, havia uma cama e eu ri comigo mesma sabendo que jamais a usaria, as cortinas eram carmim, a janela dava acesso a uma rua deserta. Haviam diversos enfeites humanos e percebi que esse era o pedaço da humanidade de Esme, enquanto salvar vidas era a de Carlisle. Não podia confiar neles ainda, porque, ao contrário de Edward eu não podia ler mentes. Comecei a lembrar do que Carlisle havia dito há pouco tempo, sobre sermos velozes, fortes, indestrutíveis e outras coisas. Isso seria perfeito para eu passar despercebida por qualquer lugar, por qualquer um, para fazer o que bem entendesse... Contudo, teria que suavizar meus instintos que só pensavam em sangue, e eu tentava combatê-los em meus pensamentos. Sem dúvida, assim que eu aprendesse a usar minhas habilidades, Royce e seus amigos não se safariam tão cedo por terem feito tal coisa comigo. Só em pensar nessa vingança meus lábios se repuxavam em um enorme sorriso, essa inútil imortalidade teria algo bom para oferecer no final das contas, e fiquei satisfeita observando por essa perspectiva.

 Cada vez que eu andava um piso era destruído, por vezes tentei ser mais delicada, mas a força era descomunal em meu novo corpo. Edward ficava irritado com a situação, mas não me importei muito com ele.

 Esme tentava me tratar como uma filha, porém, eu não sabia quanto tempo esse afeto duraria, então decidi não me render.

 Carlisle era o mais tranqüilo, ele aceitava tudo o que eu queria ou dizia, ele era um homem maravilhoso, contudo, homem é uma espécie que não se pode confiar, sendo humano ou vampiro.

  Minha garganta não estava satisfeita, ela queria algo que todos eles também queriam... Sangue. Eu não entendia como Esme, Carlisle e Edward conseguiam resistir tanto tempo sem sangue, era algo impossível, fazia apenas algum tempo que eu não me alimentava e mesmo assim estava inteiramente insatisfeita. Esme concordou em caçar comigo novamente, após Carlisle ir fazer seu plantão no hospital de Rochester.

 Fomos ao mesmo parque, numa velocidade maior, desta vez meus instintos foram muito mais controlados, consegui derrubar dois cervos de uma vez e enquanto eles se debatiam, meus caninos venenosos penetravam sua pele sugando toda sua força vital.

 Esme estava satisfeita, apenas me olhava caçar, podia jurar que ela mantinha um olhar materno sobre mim.

 Dei-me conta de que depois da transformação eu ainda não havia visto meu reflexo, só havia me preocupado com sangue, contudo, mudaria este quadro ao chegar em casa.

 Minha roupa estava arruinada, Esme tranqüilizou-me dizendo que todos faziam isso na primeira vez... Acho que ela não tinha notado que já era minha segunda vez.

 Estava de noite e mesmo assim minha visão estava intacta, eu podia distinguir tudo o que estava nas sombras tão claramente que diria estar de manhã. Percebi que era outra habilidade ‘vampírica’. Esme me acompanhava sem dizer nada, era bom ter uma companhia assim, deixava-me livre para pensar.

 Minha cabeça girava tentando organizar todas as novidades em minha nova vida. Minha maior preocupação era o que fazer após passar o desejo constante de matança... O que fazer com a família Cullen? Eu não queria que eles se incomodassem em ser minhas babás, mas também não queria ficar sozinha. Usaria o tempo que antes era para dormir, para ponderar sobre o assunto. Outra questão era Royce e seus quatro amiguinhos...

 Pareceu-me que ao me tornar vampira todos os meus sentimentos se intensificaram, tudo ficou mais forte, mais resignado, mais decidido, só faltava eu iniciar algo e tudo estaria finalizado. Enfim chegamos a casa luxuosa da família Cullen.

 


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Notas finais do capítulo

*** Turminha comentarios faz bem a saudade e me ajuda a postar o proximo capitulo mais Rapido...¬¬²