A Revolução Brasileira escrita por Pedro Henrique Sales


Capítulo 9
Revelações




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Abordarei, agora, a minha questão familiar.

Citei no começo dessa história que a minha criação paterna foi rígida e militar. Por quê?

Seu Alberto Topffer Filho, engenheiro de armas do Instituto Militar de Engenharia e sargento do Exército, mantinha suas características militares para dentro de casa. E mantinha, também, a tensão de ser um militar e dono de uma seguradora. Aos olhos dos outros, um machão. De outros, um carrasco. Aos meus, na época, um tremendo chato. Mas, hoje, vejo que me tornei um homem másculo e de um ótimo caráter graças a sua criação. Me tornei um homem corajoso e de atitude. Nunca tive medo de enfrentar ninguém. Às vezes Luigi vinha para cima de mim e eu o enfrentava. Nos meus primeiros anos tive dificuldades nesse aspecto, porém meu pai colocou-me numa academia de artes marciais, onde aprendi a ter mais disciplina, onde aprendi a me defender, onde aprendi a encontrar um equilíbrio emocional no meu eu interior.

Como toda criança, sempre andava aprontando. Uma janela quebrada, um controle de televisão com defeito, um sofá rasgado... Aí entra a parte rígida: eu apanhava. Recebia uma lição de moral daquele brutamonte de 1,86m de altura com um vozeirão grave e assustador seguido de uns tapas. Exigia respeito de mim para com a minha mãe. Ai de mim se ousasse fazer birra.

Alberto não foi um pai presente devido suas grandes responsabilidades profissionais. Mas admirava-o por tanta dedicação ao que fazia. Era ele que trazia comida para casa. Naquela época ainda prezava-se isso. Porém, com o passar dos anos, o machismo foi caindo e a inserção da mulher no mercado de trabalho foi aumentando gradativamente, aonde entra o papel financeiro da minha mãe.

Quando eu estava com 15 anos de idade, dona Lorena Magnoli já tinha clínicas espalhadas por quase todo território nacional e assim ficou. Trabalho a cá, trabalho acolá... Mas ficava mais tempo comigo do que meu pai. E o tempo que nós ficávamos juntos, pra mim, era preciosíssimo. Ao contrário de meu pai, o mimo que recebia dela compensava qualquer tabefe. Um zelo incrível. Nas frias noites de inverno, ela sempre conferia se eu estava coberto. Sempre, quando eu pedia, fazia meu prato predileto: arroz integral, filé de frango grelhado, farofa e salada Ceasar – uma salada mexicana que, até hoje, não se sabe de sua verdadeira gênese. Um chefe italiano Lívio Santini viajou para Tijuana, México, no Hotel Ceasar, cujo dono era Cesare Cardini. Na década de 1930, pilotos norte-americanos eram frequentes clientes do hotel e, na maioria das vezes, pediam saladas. Quando Santini estava no comando da cozinha, numa ocasião onde um piloto pediu uma salada, não detinha de tomates e de outros ingredientes típicos de uma salada. A solução foi recriar a receita de infância que sua mãe fazia, no sul da Itália: alface romana, ovos cozidos, queijo seco, azeite de oliva, molho inglês, suco de limão e pequenos cubinhos de pão fritos no azeite. O prato foi um sucesso, agradando ao cliente, que acabou denominando como “salada dos aviadores”. Futuramente, Santini registrou a receita e a divulgou como Ceasar Salad, uma das mais conhecidas saladas de todos os tempos, sendo considerada a “Marilyn Monroe” do gênero.

Outro ponto que preciso citar é a instrução que tive dela para com os estudos, para com a leitura. Li cerca de 1000 livros até hoje, numa média de dois por mês. Na minha primeira infância sofria de bronquite. Minha tranquilidade às noites era quebrada pelo chiado dos meus pulmões, falta de ar e uma maldita coceira nos olhos. Foi aí onde minha mãe inseriu a leitura na minha vida. Lia para mim todas as noites algum clássico da literatura infantil. Pinóquio, Os Três Patetas, Mickey Mouse... O meu preferido era o Pinóquio, a história de um boneco de madeira, construído por um tal de Gepeto, que queria tornar-se um menino de verdade. E todas as noites ela lia até eu cair num profundo sono, onde se tornava irrelevante aquele ronco que soava dos meus pulmões.

Aos finais de semana que ela ficava em casa nós sempre saíamos para algum lugar. Um shopping, um parque... Gostávamos muito de andar de bicicleta pela cidade. E quando fiz 16 anos mudei-me para a mesma academia que ela.

Aos seus trinta e poucos anos dona Lorena ainda era loira. Uma mulher linda, de parar o trânsito. Mas sempre muito elegante. Andava vestida com lindas saias longas estampadas de confecções indianas. Adorava echarpes aos invernos com calças pantalona. Vestidos lindos em festas... Mas na praia não tinha como não extrapolar no guarda-roupa com roupas pequenas.

Aprendi a nadar com minha mãe, também. – na época de colegial participava de campeonatos contra outras escolas e era uma das melhores nadadoras do time.

E, infelizmente, meu pai encontra-se debilitado com a saúde. Por volta de seus 60 anos a diabetes entrou em ação. Pressão alta, colesterol e todos os problemas clichês da idade. Sempre foi um cara saudável e prudente, cuidava da saúde, frequentemente ia para consultas médicas – onde muitas vezes minha mãe era a clínico-geral –, também nadava – onde conheceu dona Lorena num campeonato –, mas, de um tempo para cá começou a abandonar esse cuidado todo para consigo mesmo.

Moro em Niterói com minha esposa e meu filho, mas estou sempre viajando a trabalho, o que me torna ausente assim como meus pais. Anne é minha sócia na MotorPlane®, tornando-a, também, ausente para com Roberto. Meus pais já tinham um imóvel aqui no Rio de Janeiro e vieram para cá, com fins de ficarem mais próximos de nós, apesar de minha mãe ainda trabalhar – como diretora de um hospital e administradora da rede de clínicas Magnoli. Seu Alberto Filho aposentou-se no exército e hoje só toma as rédeas de sua seguradora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Comente por favor! Não se acanhe e dê sua opinião. :)



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