A Revolução Brasileira escrita por Pedro Henrique Sales


Capítulo 5
A Segunda Vez Ainda é Válida


Notas iniciais do capítulo

De Carlos Drummond de Andrade à Samuel Morse, confira o segundo plano!



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– Pessoal, só para ressaltar o que falamos nas aulas anteriores, o modernismo brasileiro foi um movimento literário e artístico do século XX, cujo objetivo era romper com o tradicionalismo, a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural do Brasil. Foi um movimento que visava romper as influências de qualquer país, principalmente os europeus e, Portugal, em especial. Bom, hoje falaremos de Carlos Drummond de Andrade. Nasceu na primeira década do século passado em uma cidade de Minas, chamada Itabira. Trabalhou como redator em vários jornais da época, escrevia crônicas e até chegou a criar com alguns amigos “A Revista”, uma publicação para exaltar o modernismo. Dois anos depois da Semana da Arte Moderna, como falamos aula passada, ele conheceu grandes nomes modernistas, como, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e, com isso, passou a ter mais contato com figuras importantes da época. Certo? – explicava Rosana, minha professora de literatura do ensino médio no Hamburgo – Alguns anos depois, formou-se em farmácia e nunca trabalhou na área, apenas ficou conhecido pelo seu trabalho literário. E foi extremamente importante nesse movimento pois era e é, até hoje, uma figura que incentiva a liberdade para escrever e dá um tom sarcástico e irônicos em seus versos, mas sempre mantendo suas características de versos livres e sem métricas, fazendo parte da segunda fase do modernismo brasileiro dividindo espaço com Érico Veríssimo, Vinicius de Morais (que falaremos na próxima aula), Graciliano Ramos e muitos outros. Bom pessoal, é isso. Tudo que falei estão nas páginas 130 até a 135. Pra hoje, façam os exercícios 7, ao 27 do capítulo, em quartetos. Ah, só para ressaltar: o grande Carlos Drummond já foi expulso de sua escola. – e riu.

Essa professora cativava os alunos a quererem saber mais sobre tudo que aprendíamos, pois explicava a matéria e ia além, contando curiosidades e afins. Mas falando de Drummond, o cara, realmente, influenciava – e era influenciado. Influenciou grandes nomes como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Pedro Nava... E também fora influenciado pelos mesmos e por Chico Buarque de Holanda, Guimarães Rosa, Vinícius de Morais, Cecília Meireles... E influenciou a mim, também. O “Congresso Internacional do Medo”, um dos meus poemas preferidos, enfatiza o medo, a angústia, a insegurança que, muitas vezes, impede-nos de seguir à diante e alcançar nossas metas. Uma forma de protesto, pois se vive (na época) em um mundo em Guerra, com ditadores, mortes, armas, soldados... Que desequilibram o emocional de qualquer humano.

“Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio, porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas”

O que seria uma crítica à covardia, à agressividade e à tudo que nos impede de termos coragem. Um poema que me inspira à seguir à diante e pular quaisquer obstáculos, seja lá qual for. Digamos que Drummond tinha um espirito revolucionário.

– Nicolas, chama o Brian pra fazer a atividade com a gente. – pedi.

– Anne, venha cá amor. – chamei.

Não deu outra: só conversamos sobre sexta-feira.

– Vocês viram o Luigi hoje? – perguntou Brian.

– Não vimos não. Deve estar se escondendo ou sei lá. – ressaltei.

– E a Camila? – perguntou Anne.

– Eu a vi com umas amigas quando cheguei aqui na escola. – respondeu Nicolas. – E uma delas era a Gabi.

Em São Paulo, o parque Ibirapuera sempre foi um dos mais conhecidos points da cidade. Estávamos ainda no verão e lá Anne escolheu como um ponto de encontro:

– No intervalo vamos conversar com Camila. Quero marcar de encontrar-nos nesse sábado no Ibirapuera. Sei lá se ela anda de skate, patins... Qualquer coisa. Mas vamos tentar ir pra lá. Talvez consigamos Luigi através dela.

– Foi o que pensei. Havia esquecido esse detalhe. – falei.

– Todos nós. – Nicolas ressaltou.

– Ela é um amor de pessoa. Estudei com ela até o ano retrasado, porém, mudou de sala. E todo ano tem essa tal mudança de sala. Palhaçada! Todo deviam continuar nas mesmas, não é? Pra não perder contato. Já perdi tantos... – explicou Brian.

– Pois é. – disse Anne, e bufou.- O que você sabe dela Brian?

– Não sei muita coisa, pois não conversávamos muito. Era a mais inteligente da sala, ano passado. Suas amigas não são nada diferentes, também. Sei que seu pai é dono de uma rede de postos de gasolina e que sua mãe é arquiteta. – respondeu.

– Entendi. E ela é ligada ao irmão?

– Como eles estavam na minha sala ano retrasado, eu vi que o único momento em que eles eram “ligados” era na hora das provas. Sempre pedia ajuda à ela. O Luigi sempre foi um bosta mesmo. Você não lembra quando eles entraram na quarta série? Nem naquela época eram juntos, que dirá agora.

– Verdade! Lembro-me disso sim. – disse Anne.

– Na hora do intervalo vamos chamá-la então. – falei, sendo cortado pela professora avisando que faltavam 20 min para o término da aula.

E, realmente, fomos fazer. Faltando 5 min, entregamos e ela logo corrigiu, olhando o gabarito ao lado – eram vinte questões de múltipla escolha. Das vinte, acertamos dezoito, errando, apenas, as características do movimento modernista.

Camila Campos era uma morena baixinha, mas tão baixinha, que parecia não conseguir passar pela altura mínima requisitada nos brinquedos dos parques de diversões. Seus olhos eram grandes e redondos, com pupilas dilatadas que encaravam o fundo da alma de quem a encarasse. Lábios grossos e carnudos que, com certeza, abalavam o íntimo de quem a beijasse. Seu corpo era de modelo: cintura fina; ombros altos nem largos, nem estreitos, que salientavam suas enormes clavículas; seios vazios; coxas nada torneadas; porém, pela sua altura, aparentava ter um bumbum relativamente grande. Tímida. Pouco se abria para com desconhecidos, mas logo pegava intimidade com quem gostasse. Era e é extremamente comunicativa, sendo que é uma das mais conhecidas jornalistas da televisão brasileira da atualidade.

Passaram-se mais duas aulas e, finalmente, o intervalo.

– Axl, você sabe onde está a Camila? – disse Anne dirigindo-se a um garoto da outra sala.

– Vi passando agora pouco por mim indo ao banheiro. – respondeu, piscando o olho.

– Obrigada!

Fomos procura-la. Ao chegarmos próximo ao banheiro, Camila saíra com Gabrielle.

– Oi Camila, oi Gabi. Tudo bem?

– Tudo, Anne. E você? Quanto tempo! – disse Camila.

– Oi Anne! – disse Gabi, abraçando-a.

– Pois é... Estou bem. Queríamos saber se vocês topam em ir com a gente no parque Ibirapuera no sábado. O que acham?

– Ah, pode ser. Moro lá por perto mesmo, vou à pé. Quem vai?

– Com certeza. Podem contar com a minha presença. – respondeu Gabrielle.

– Eu, Beto, Nicolas, Brian e, talvez, a Giulia.

– Vamos fazer o quê? – perguntou Camila.

– Conversar mesmo... Ver o pessoal andar de skate...

– Eu ando de skate – e riu – Se quiser eu levo e te ensino Anne.

– Que legal! Ok. Fechado. Uma da tarde pode ser?

– Um pouco cedo. Costumo acordar esse horário aos fins de semana. Mas tudo bem. Já que vocês não moram tão perto assim e estão dispostos a chegar nesse horário, eu topo. – disse Camila, sorrindo.

– Por mim tudo bem também. – e sorriu Gabi.

– Ok. Até mais! – disse Anne, beijando-as no rosto e logo saindo da roda à procura de Giulia.

– Amor, eu a vi entrando na sala da diretora. – avisei.

– Nossa! Deve ter sido alguma coisa séria.

– Ou não. Lembra-se da vez que fui chamado por ela e era apenas uma carta oferecendo aquela proposta?

– Verdade.

Passados alguns minutos, saiu da diretoria e a abordamos, convidando-as para sábado no parque. E descobrimos que não se passava de nada. Apenas um desentendimento com a professora Rosana na aula de literatura.

Ao irmos para a cantina comprar nossos lanches, Luigi apareceu repentinamente:

– Olá pessoal. – sorrindo cinicamente.

– Foi uma tremenda sacanagem que você fez sexta-feira. A Susan ficou muito chateada contigo. – falei, olhando diretamente aos seus olhos.

– Desculpa! Mas eu não consegui ir. Fiquei preso no elevador por uma hora e meia e lá não pegava sinal no meu celular.

– Mas como não? Eu te liguei inúmeras vezes! Não enrola vai... – disse evitando ser grosso, pois não podia deixa-lo enfurecido comigo. – E não é a mim que você deve desculpas, e sim à Susan.

– Ok, você tem razão. Você a viu por aí?

– Não, mas a vi chegando de manhã. – respondi.

Enquanto isso, compramos nosso lanche. Peguei um enorme x-salada que só aquela cantina fazia. Era algo ridiculamente gostoso. Anne comprou um sanduiche natural com peito de peru; Nicolas, um misto quente e Brian e logo bateu o sinal.

Aula de história!

Vilmar era meu professor na época. Lecionava no Hamburgo desde 2006. Era um ótimo professor. Passava a matéria e ia além, contando curiosidades etc. Naquela escola tive a sorte de ter tido grandes professores.

– Olá pessoal! Bom dia.

– Bom dia professor! – disse a sala inteira, ecoando pelo largo corredor no segundo andar da escola.

– Hoje não teremos matéria para a felicidade de vocês! – e sorriu de orelha a orelha.

– Uhuuuuuu! – vibramos.

– Não terá matéria propriamente dita. Terá uma atividade individual sobre um assunto que tenho certeza que todos irão gostar! – e pausou, causando suspense. – Código Morse! Quem aqui nunca ouviu falar?

– ...

– Então todos sabem o que é, certo?

– ...

– O que eu esperava. O código Morse foi inventado em 1835, por um cara chamado Samuel Morse, com a intenção de ser um sistema de comunicação de fácil compreensão na transmissão de sinais de rádio com baixa frequência. Foi muito usado na Segunda Guerra Mundial por pilotos de caça, para informar suas bases a localização de outros caças e embarcações inimigas, substituindo as linhas de sinal de rádio que, na época, era extremamente ruim. O código Morse é transmitido através de sinais visuais, ondas eletromagnéticas, ondas mecânicas e pulsos elétricos transmitidos em um cabo. Hoje vocês escreverão seus nomes com esse código, baseados no material que vou entregar agora. – e passou de carteira em carteira entregando três folhas impressas contendo informações detalhadas sobre o assunto e, também, a tabela dos códigos. – Vocês irão estudar essa tabela até a próxima segunda. Estou preparando uma atividade ainda mais legal.

– E como funciona esse monte de tracinhos e pontinhos, professor? – perguntou uma garota nova que sentava no fundo da sala, Rafaelli.

– É a intensidade do sinal. Os traços representam uma onda mais longa e os pontos, mais curta. O sinal curto, no código Morse internacional, se chama “dit” (∙), e o longo, “dah” (-). E para cada intervalo, uma distância: curto (entre letras), médio (entre palavras) e longo (entre frases). Vocês já viram em filmes aquele aparelho reproduzindo o código Morse? Ele se chama batedor iâmbico, que serve para gerar uma alta velocidade de transmissão desse sinal.

– E você sabe esse sistema inteiro Vilmar? – perguntei.

Nem respondeu minha pergunta e foi logo à lousa escrever uma frase:

“... .. -- --∙∙-- / .- .-.. -... . .-. - --- -.-.-- "

– Está respondida sua pergunta?

– O que é isso professor? – perguntei, franzindo as sobrancelhas sem entender nada.

– “Sim, Alberto!”

Sem dúvidas, um dos melhores professores que já tive.

– Quero que vocês decorem letra por letra e símbolo por símbolo até a próxima segunda. E quero, também, que cada um traga uma lanterna. A atividade valerá nota e substituirá a prova mensal de história e de física! Quem faltar... Já sabem hein. – disse Vilmar, num tom ameaçador. – Só para completar, quero que formem grupos para pesquisar na casa de vocês, pelo menos, três formas de uso desse sistema e explicar como funciona a transmissão do sinal em Hz. Qualquer dúvida, temos aulas todos os dias da semana... Estou à disposição. – e piscou, indo em direção a sua mesa.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor. Quero saber a opinião de vocês, leitores. Obgd! *-*



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