Life is Unexpected escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 24
Capítulo 23




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Há alguma distância dali, Mari dirigia o carro sem noção do fazia. Chorava, na verdade, cega de raiva, acelerando o carro sem parar, irresponsavelmente. Praguejava contra Pedro Ramos e Ricardo Cobreloa, e tudo de ruim que eles haviam feito à sua família. Xingava Karina e Jade por terem cedido, terem deixado a família de lado. Até o pobre Gabriel tomava respingos da merda que ela despejava ao vento. Contra as amigas, contra os rapazes, contra Jeff, e principalmente contra Ella.

Estacionou o carro em frente à sede da empresa, e desceu socando a porta. Entrou pela porta de serviço, indo direto para seu escritório. Sabia que era uma má ideia, especialmente quando viu o estado que o local ficou, com coisas quebradas e destruídas. Papéis rasgados enchiam o chão, junto com cacos de vidro dos porta-retratos e fotos largadas a esmo.

Sentou-se na cadeira estofada e chorou, cada vez mais alto e mais forte. Queria que seu coração saísse com aquelas lágrimas, lavando e levando toda a dor embora. Demorou algumas horas, mas de repente foi como se tudo sumisse, seu peito ficasse vazio. Sentia-se pronta para voltar para casa, e torcia muito para que Jade e Karina não estivessem lá a esperando.

No caminho de volta, dirigindo mais calma, agradeceu pela sorte de ter conseguido fazer seu percurso de ida com segurança. Parou o carro em sua vaga, vendo que apenas a sala estava acesa. O carro de Jade estava no lugar, e o de Pedro estava na rua. A única diferença da hora em que havia saído, era que no lugar do carro de Karina se encontrava o de Jeff.

Quando ela abriu a porta do carro, Jeff apareceu pelo portal da sala. Ele parecia irritado, cansado, até um pouco transtornado. Mari apenas fechou a cara, tentando manter a pose de brava.

“Cadê elas? Achei que tinha dito que deveriam ir embora.” Perguntou, apontando o carro de Jade e Pedro.

“Elas estão no hospital.” Os olhos da mulher se arregalaram, mas Jeff não se comoveu. “Não é nada com a Jade e o Gabe, eles estão bem. É a Karina... Ela sofreu um aborto.”

“Ela estava grávida?”

“Descobriu hora que perdeu. E, por favor, fale baixo. A Ann está bem assustada. Quando chegamos aqui, o Pedro e a Jade estavam colocando ela no carro, e tinha muito sangue na roupa dela, e no sofá também. Então, pelo menos pela menina, tente agir como uma pessoa madura.”

“Nossa filha é forte, Jeff.”

“Não, Mari, a sua filha é forte. Não existe nossa, e nem nós. Não existe há muito tempo, e você sabe disso. Pare de fingir, por favor. Cresça e seja forte pela sua filha.”

Antes que pudessem continuar a discussão, os faróis brilharam na rua. Ann apareceu correndo pelo meio de suas pernas, correndo até onde o carro da tia era estacionado. Jade desceu da porta do motorista, abraçando a pequena.

Pedro desceu do banco traseiro, puxando Karina para seus braços. Ela estava pálida, branca que nem cera, aninhada ao namorado enquanto ainda chorava. Os dois choravam, na realidade, mas Pedro tentava ser forte pela sua esquentadinha. Eles cruzaram a porta sem encarar Mari ou Jeff, e logo a loira estava acomodada no sofá, sendo abraçada por Annie.

“Mas por que o seu neném morreu, madrinha?” A voz da criança atraiu a atenção de todos. Karina engoliu o choro, abraçando a menina com mais força.

“Eu fiz essa mesma pergunta para a minha tia, muitos anos atrás, quando ela perdeu um bebê. Ela não soube o que me dizer, mas eu cheguei a uma conclusão. E sabe qual é, minha fadinha? Que, lá no céu, existe uma grande fila, onde os nenéns ficam esperando para vir para cá, para a Terra. Mas tem alguns que são muito ansiosos, e tem muita pressa. E nessa correria, eles acabam se desequilibrando e caindo de lá.”

“E morrem?”

“Não, meu amor, o Papai do Céu segura eles, mas eles têm que voltar lá pro final da fila. E isso significa que eles não crescem mais na nossa barriga.”

“E ele não vai mais nascer?”

“Um dia, princesa, mas não sei se eu vou ser a mamãe dele.” A loira beijou o topo da cabecinha pequena, deixando os olhos se encherem de lágrimas. “Mas eu vou ter outros bebês, ouviu? Depois que eu e o tio Pedro nos casarmos, nós vamos ter outros filhos, e quem sabe um deles não seja esse mesmo anjinho?”

Pedro passou por Mari e Jeff, indo sentar ao lado de Karina. Ela soltou a afilhada, afundando a cabeça no peito do noivo e soluçando alto, a dor transparecendo de forma palpável. Annie foi puxada por Jade, que a aninhou e tentou confortar.

Mari ficou imóvel, sentindo como se tivesse puxado seu coração para fora do peito e esmagado com as mãos. Procurava algo que pudesse dizer, mas simplesmente não havia. Nada que dissesse ou fizesse poderia aplacar a dor da amiga naquele momento.

Porque, afinal, aquilo era em grande parte sua culpa.

“Agora você precisa dormir, meu amor. Amanhã você ainda tem escola de manhã, e precisa descansar.” Jade pediu para a pequena, secando suas lágrimas.

“Eu não quero dormir, tia Jade, eu to com medo. Eu quero ficar com vocês, com vocês três. Você, a mamãe e a tia Karina. Vocês podem me colocar para dormir, como faziam quando eu tinha pesadelos?”

“A tia Karina precisa descansar, meu amor.” Mari deu um passo em direção à filha, sendo encarada pelas duas amigas.

“Eu aguento colocar minha afilhada na cama. Só não vou poder te carregar, fadinha, mas você já é uma mocinha crescida para isso, não é?” A loira se levantou com a ajuda do namorado, sendo abraçada pela afilhada.

As quatro mulheres subiram a escada em silêncio, diante do olhar atento de Pedro e Jeff. Já no quarto de Ann, Karina logo tratou de sentar na beira da cama, enquanto Jade e Mari arrumavam tudo. Deitaram a menina e a cobriram com o lençol, a mãe tomando o lugar ao seu lado enquanto a tia ocupava a outra parte dos pés.

“Anna, meu amor, nós precisamos conversar.” Jade pediu, após trocar um olhar com Karina. “A partir de amanhã, eu e a tia Ka não vamos mais morar aqui.”

“O quê? Por quê? Foi algo que eu fiz? Desculpa tia Jade, desculpa tia Ka... Eu juro que não faço mais, seja o que for.” O coração das três mulheres se apertou diante do desespero e sofrimento na voz de Annie. Ela já havia perdido tanta coisa, era injusto que perdesse mais.

“Não, minha fadinha, você não fez nada.” Prometeu Karina, segurando suas mãozinhas. “É que agora, a tia Jade é casada com o tio Cobra, e eles vão morar na casinha deles com o Gabe. E eu e o tio Pedro também vamos casar logo, e vamos morar na nossa casa. Entendeu?”

“Mas vocês vão continuar vindo me ver? Sempre?”

“Nós vamos continuar te buscando na escola e no ballet, ficando com você na empresa, te levando para brincar... Nós só não vamos mais morar na mesma casa, jantar juntas, dormir juntas.” Explicou Jade.

“Eu vou sentir muita falta disso, tias, mas eu acredito em vocês.” Ela sorriu triste. “Eu amo vocês.”

“E nós amamos você, princesa. Muito.” As duas a abraçaram com força, diante do olhar desconfortável de Mari.

“Agora é hora de criança dormir.” A mãe anunciou com a voz rouca. A pequena soltou as tias, voltando a se deitar e ser coberta.

“Canta para mim? Vocês três?”

“Eu e a tia Jade não cantamos, Annie.”

“Por favor, madrinha, só hoje. Aquela música que vocês cantaram no karaokê aquela vez, do Wicked. Eu amo ela.”

For Good?” Talvez não existisse música mais dolosa para aquele momento, mas foi a que ela pediu e assentiu.

Mari pegou o violão que estava no quarto, que ficava ali para quando cantava para ela, e começou a dedilhar a melodia. Havia cantado aquela música vários anos antes, em uma festa especial, e Annie sempre assistia a gravação que Jeff havia feito com o celular.

I’m limited… Just look at me - I'm limited. And just look at you… You can do all I couldn't do, Glinda. So now it's up to you, for both of us... Now it's up to you.” Karina cantou o primeiro refrão da música, acariciando as perninhas de Annie.

“I've heard it said, that people come into our lives for a reason, bringing something we must learn and we are led to those who help us most to grow. If we let them and we help them in return.” Jade continuous a música, acariciando a barriga de forma distraída.

Well, I don't know if I believe that's true but I know I'm who I am today because I knew you.” As duas cantaram juntas, encarando Mari, que começou o refrão.

Like a comet pulled from orbit as it passes a sun, like a stream that meets a boulder halfway through the wood. Who can say if I've been changed for the better?But because I knew you I have been changed for good.”

Aquela foi a primeira vez que se encararam depois de ela sair de casa tempestuosamente, antes de Karina perder o bebê. Havia sido apenas algumas horas antes, mas sentiam como se tivessem se passado meses do acontecido.

Dos olhos das três, grossas lágrimas vertiam copiosamente. Em seus corações, os últimos anos passando como flashes.

It well may be that we will never meet again in this lifetime, so let me say before we part”

“So much of me is made of what I learned from you, you'll be with me like a handprint on my heart. And now whatever way our stories end I know you have re-written mine by being my friend.” Karina cortou Mari, continuando ela mesma a música. Cada uma daquelas palavras tinha um grande e forte significado, uma parte importante naquela maravilhosa história.

E pequenos detalhes vieram à mente de Mari, detalhes e coisas que ela havia deixado passar em diversas ocasiões. O barulho que havia ouvido no quarto de Jade na noite em que Lírio havia ido embora, ou as marcas de lágrimas em seu rosto quando se despediu dela no casamento. Eram amostras da dor pelos sacrifícios que haviam sido feitos por ela.

Like a ship blown from its mooring by a wind off the sea, like a seed dropped by a skybird in a distant wood. But because I knew you.” Jade cantou com a voz trêmula, e Karina segurou sua mão, finalizando a estrofe para ela.

Because I knew you, I have been changed for good” As três cantaram juntas, e aquilo doeu mais do que qualquer agressão física que pudessem sofrer.

A verdade era que Mari havia passado os últimos meses cega pelo medo e o desespero, completamente amargurada por seus fantasmas, que não viu o quanto todos estavam ganhando. Finalmente, as amigas eram protagonistas de suas próprias vidas, não coadjuvantes ou personagens secundários da vida que ela havia sonhado em viver com Franz e não podido.

And just to clear the air, I ask forgiveness for the things I've done you blame me for.” Claro que aquela frase só poderia vir de Mari, e a seguinte de Karina.

But then, I guess we know there's blame to share.”

“And none of it seems to matter anymore” Cantaram juntas, finalmente com soluços atrapalhando, mas não iriam parar até o fim, mesmo que Annie já estivesse dormindo àquela altura.

Elas se amavam como irmãs, e sempre haviam cuidado umas das outras dessa forma. Mas enquanto Karina e Jade haviam entregado tudo por Mari, ela havia sido medrosa demais para fazer o mesmo, e agora, sentia-se a mais egoísta das pessoas.

Like a comet pulled from orbit as it passes a sun, like a stream that meets a boulder, half-way through the wood. Like a ship blown off it's mooring by a wind off the sea, like a seed dropped by a bird in the wood.” Jade e Karina cantaram juntas, suas vozes entrecortadas pelo choro.

“Who can say if I've been changed for the better? I do believe I have been changed for the better.” Mari largou o violão no chão, sem mais forças para tocar. Karina continuous, mas nenhuma delas aguentaria mais do que uma frase.

And because I knew you.”

“Because I knew you.”

“Because I knew you.”

“I have been changed for good.” Terminaram a música juntas, finalmente se permitindo chorar o quanto queriam, se esforçando para não acordar Annie.

Quando Mari foi tentar falar algo, Karina a cortou.

“Não fala nada, Mari, por favor. Eu não aguento outra discussão, e to realmente precisando descansar. Por favor, agora não.”

Elas se levantaram em silêncio, deixando o quarto. Pedro apareceu no corridor e foi com Karina para o quarto dela, enquanto Jade entrava no seu. Mari levantou depressa, mas ao invés de ir para o seu próprio quarto, ela correu escada abaixo e foi para o carro, ignorando os chamados de Jeff de dentro de casa.

Novamente, dirigiu a esmo. Mas dessa vez buscava por algo, e o achou depressa. Parou no primeiro boteco que viu, desceu do carro e pediu uma dose do que tivesse de mais forte. Tequila, vodka, rum, pinga barata… O que fosse colocado à sua frente, ela bebia sem reclamar.

Após algumas horas, tudo o que enxergava eram borrões, e só Deus sabe como chegou ao carro. O celular estava tocando insistentemente, e apitava várias chamadas e mensagens. De alguma forma e por alguma loucura, resolveu dirigir para casa, e conseguiu chegar até lá, mas bateu na traseira do carro de Jeff e apagou.

Quando acordou novamente, era o próprio que estava ali, ao seu lado, a carregando para dentro de casa. Porém, diferente da noite do casamento de Jade, ele não era nada carinhoso ou amigável. A deitou na cama, e Jade a cobriu com o lençol. Ela pôde ver Karina e Pedro na porta, a observando, e depois apagou de vez.


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Notas finais do capítulo

VOLTEI RAPIDINHO, GENTE. Cês ficaram tão em choque que tive que voltar HAHAHAHA
Esse capítulo é muito importante, importante demais.É talvez um dos mais da fic toda, além de ser o meu favorito de todos os tempos.
Espero que tenham gostado dele. Nos vemos em breve, porque a fic está no final.
See you ;*
http://www.facebook.com/fanficswaalpomps



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