Life is Unexpected escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 23
Capítulo 22




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Nos dias que se seguiram, a preocupação de Karina e Jade só se acentuou. Em alguns dias, era como se Mari se esquecesse que Jade estava casada, que Karina estava namorado, que Ella existia. A impressão que ela passava era de que a amiga havia concebido Gabe do Divino Espírito Santo, e que assim como Ann, ele seria criado pelas três e Jeff, juntos. Já em outros, ela simplesmente ignorava os fatos anteriormente citados, como se fossem coisas tão insignificantes quanto o dia que o lixeiro passava.

“Jade, escolhe um.” Karina depositou um livrinho na mesa da amiga, que a encarou confusa.

“O que diabos é isso?”

“Isso é o guia médico do convênio. Escolhe aí um psicólogo para a gente levar a Mari. Ou um psiquiatra seria melhor?”

“Se o que o Jeff me disse no telefone for verdade, é melhor chamar logo o hospício.” A voz as assustou, fazendo-as virar para a porta. Ali estava Pedro, com uma mala na mão. “Feliz por me ver, esquentadinha?”

“Claro que eu fiquei fe...” Ela tentou correr em sua direção, mas parou cambaleante. Pedro e Jade se levantaram para acudi-la, mas ela sinalizou que estava bem. Após algumas respirações profundas, ela conseguiu chegar ao namorado.

“Assim que eu gosto, minha loira.” O rapaz sorriu, lhe dando um beijo bem demorado.

“Você não ia voltar só no final da semana, babaca?” Questionou Jade, acariciando a barriga inchada.

“Sim, mas como eu disse, o Jeff nos ligou. E honestamente, só não cheguei antes porque não consegui voo. O Cobra só não veio hoje porque ele tinha um contrato importante para fechar com um fornecedor agora a tarde, mas chega amanhã cedo aqui.”

“E o que exatamente o Jeff disse?”

“Que a Mari tá pancadinha da cabeça, minha linda. E se você já tá querendo levar ela para o psiquiatra, mentindo ele não está. A coisa está tão feia assim, Karina?”

“Veja por você mesmo, Pe...” Sussurrou a loira, abraçando o namorando com força quando ouviu a voz de Mari se aproximando.

Pelo corredor, Mari apareceu trajando suas roupas da época de Ribalta, um novo corte de cabelo com um arquinho, também remetendo a quando havia chego de Joaçaba no Rio. Ela cantava distraidamente, algo que quase nunca fazia, exceto quando era para colocar a filha na cama.

Assim que colocou seus olhos em Pedro, sua expressão mudou de sorridente para confusa, depois irritada, em seguida frustrada e por fim se transfigurou em um sorriso amarelo. Ela apanhou alguns papéis e saiu em silêncio, fingindo que não havia ninguém ali.

“Que diabos foi isso? Essa roupa, ela cantando? Acho que nem a cara da Bianca muda tanto durante os exercícios de interpretação dela.” Pedro guinchou, assustado.

“A gente também não sabe, Pedro. Ela está completamente fora da casinha, é assustador. Ela acorda agindo como se estivéssemos no colégio, depois volta a realidade, e de repente não sabemos mais em que mundo ela está! É como se ela estivesse drogada, sei lá.” Explicou Jade, os olhos tristes.

“E essa história de fazer um quarto para o Gabriel na casa? É verdade mesmo?” As duas confirmaram. “Karina, você contou que a gente está noivo? Que vai morar junto?”

“Amor, eu juro que tentei.”

“Sou testemunha disso, Pedro.”

“Ela corta o assunto quando falamos de você e do Cobra, fingem que vocês não existem. Outro dia eu ouvi ela falando para uma cliente que o bebê da Jade era de um caso de uma noite, que nem sabíamos o nome do cara.” Karina foi narrando, para o espanto de Pedro. “Sabe aquela foto nossa, que fica no meu criado mudo? Ela sumiu outro dia, e depois a Annie achou no lixo da cozinha. No lixo, moleque.”

“E vocês não falaram nada? Não jogaram a real? Karina, Jade, já passou da hora.” O rapaz puxou a namorada até a mesa da amiga, encarando as duas de forma séria. “Não to brincando. O Cobra disse que amanhã, assim que ele chegar, ele vai buscar vocês dois, Jade, e vocês vão para casa. E nós também vamos, Karina. Gente, eu e ele adoramos muito a Mari, de verdade, mas ela tá assustando a gente para caramba. E ao Jeff. Ele tá meio tenso com as atitudes da Mari, de ficar chamando ele de amor e dizendo que a Annie é filha deles.”

Karina se soltou do noivo, indo sentar no braço da cadeira da amiga. As duas se abraçaram, em um gesto silencioso e mutuo de consolação. Ele estava certo, sabiam disso. Mas entre saber e aceitar, o caminho era bem longo.

“Eu vou para o meu apartamento, desfazer as malas e colocar as coisas no lugar. A noite eu vou para a casa da Mari, e nós vamos dormir lá. Amanhã, quando o Cobra chegar para pegar a Jade, nós vamos pegar nosso rumo, minha loira... Para a nossa casa. Tá na hora de cortar esse cordão umbilical.”

Claro que, depois disso, o dia passou mais denso, devagar, desgastante. Jade e Karina foram embora mais cedo, passando deixar Annie na casa de Jeff, que prometeu cuidar dela até tudo se resolver. Mari tinha que passar em algumas lojas, segundo ela própria, e as encontraria em casa.

As duas amigas ficaram a esperando no sofá da sala, em um silêncio angustiante. Durante os últimos anos, haviam passado por várias coisas juntas, coisas boas e coisas não muito agradáveis. Mas sempre haviam conseguido superar os obstáculos graças a amizade que as unia. Esperavam de coração que fosse novamente assim.

Quando Mari entrou em casa, mal conseguia equilibrar as sacolas que carregava. Despejou tudo na mesa enquanto tagarelava, falando sobre cores de tinta e papéis de parede, e como já havia pensado no que fazer para que o quarto de Annie ficasse bem dividido entre ela e Gabe. Quando virou-se para as amigas, sua voz morreu diante da expressão no rosto delas.

“Está tudo bem, gente?”

“Mari, o que você está fazendo?” Jade perguntou com a voz baixa, contida. Quando a amiga continuou fazendo cara de desentendida, ela ergueu um tom a voz. “Por que você está agindo como se eu e o Gabriel fossemos morar aqui?”

“Mas, Jade, por que vocês não morariam?”

“Porque eu sou casada, Mari, e eu vou morar com o meu marido. Na nossa casa! Minha, dele e do Gabriel.” A morena explodiu, se levantando do sofá.

“Mas eu e o Franz também erámos casados, e mesmo assim você e a Karina viviam em casa.” Mari também aumentou a voz, e Karina não ficou por menos.

“Eram coisas diferentes, Mari. Você tinha uma gravidez de risco, tínhamos acabado de sair da escola. O Franz tinha que trabalhar, e seus pais também, então nós te ajudávamos e cuidávamos de você para eles trabalharem!”

“E quando a Ann nasceu, vocês saíram da casa dos meus pais e vieram para cá. Comigo, com a Ann! Para a nossa casa, nossa família! Então por que seria diferente agora? A gravidez da Jade também é complicada, ela precisa ficar quieta, sendo cuidada.”

Mari despejou tudo com uma ferocidade e certeza que não deixou dúvidas que ela ensaiava aquele discurso há dias, se não semanas. Ela se recostou na mesa de jantar, arfando, enquanto Jade e Karina sentiam os olhos queimando em lágrimas.

“Nós só viemos para cá, Mari, porque o Franz morreu, lembra? Morreu!” Jade rosnou alto, secando os olhos e bagunçando os cabelos nervosamente. “Mas esse não é o meu caso, Mariana, o Cobra está vivo, vivo! E nós dois vamos cuidar do Gabriel juntos, como uma família. A minha família!”

“A sua família é essa, Jade. Eu, você, a Karina, a Ann! Essa é a nossa casa, nossa família! Tem sido assim há anos, e vai ser para sempre!” A cantora chutou a cadeira irritada, fazendo-a voar longe.

“E foram anos maravilhosos, Mari, e essa casa sempre vai guardar lembranças muito felizes. Mas chegou a hora de mudar, deixar o passado para trás. E quem está falando isso sou, justo eu.” Karina começou a falar com toda a calma do mundo, sentindo um bolo no estômago. “A gente sabia que seria assim, que depois da Ribalta os caminhos iam se separar. Os nossos continuaram unidos por muito mais tempo, e permanecerão assim... Mas agora, cada uma de um lado.”

“Do que é que você está falando, Karina?” Mari rosnou, os olhos vertendo lágrimas salgadas e grossas. A loira suspirou, tirando o anel de noivado do bolso do jeans e colocando no dedo com um movimento preciso. “Ah, não. Não, não, não! É culpa deles, não é? Nossa vida era perfeita antes deles dois aparecerem e estragarem tudo, tudo! É isso o que eles querem? Acabar com tudo que construímos esses anos todos? Acabar com a família a Anna?”

“Da Anna ou a sua, Mariana?” Jade explodiu novamente, mas Karina a segurou, preocupada que todo aquele estresse afetasse Gabriel.

“Mariana, entenda uma coisa: três amigas e um rapaz não são o que uma menina precisa para crescer. Eu sou a favor de todos os tipos de família, e continuaremos a ser uma grande família, mas o que ela precisa é da mãe dela. Que você seja a mãe dela, Mariana. Ela precisa entender que você é a família dela, e que nós sempre estaremos perto, mas quem deve criá-la é você! E eu e a Jade precisamos criar nossas próprias famílias, com nossos maridos e filhos. Nós não podemos continuar vivendo essa ilusão de família que você não pôde viver.”

As palavras de Karina foram seguidas pelo silêncio. O tapa na cara veio inesperadamente, deixando uma marca vermelha na face da loira, assim como lágrimas grossas nos olhos das três. Mari arfou, nervosa, saindo marchando.

“Então vão! Vão logo, merda. Vão para a merda das suas novas casas, com suas malditas famílias perfeitas e vidas ridículas de comercial de margarina. Nunca mais apareçam aqui. Deixem que eu, Ann e Jeff nos viremos com essa vidinha imperfeita!” Ela chutou novamente a cadeira, que rachou.

“Mari... O Jeff não é seu marido, e nem o pai da Ann.” Sibilou Jade. “Porque, quando ele tentou esse lugar, você o enxotou e o fez sofrer. E agora, ele está feliz com outra! Ele está feliz com a Ella, eles vão se casar, Mari, e ter a vida deles, os filhos deles! Não a sua vida, não a nossa vida. A vida deles! E eu vou ter a minha, a Karina dela, e eles a deles. E você, Mari? O que você vai ter?”

“Eu pensava que tinha amigas!” A cantora gritou, a voz rouca de choro, os olhos embaçados de lágrimas. Ela foi até o aparador, pegando a bolsa que havia deixado ali minutos antes. “Mas pelo visto eu me enganei, não é?”

Ela voltou seu caminho para a porta, mas parou no caminho. Na parede, uma foto das três com Annie em seu aniversário de um aninho. Logo, ela era arremessada contra a parede oposta, espalhando madeira e vidro para todos os lados, enquanto a porta da frente se fechava com um estrondo alto.

Jade enterrou o rosto nas mãos e gritou alto, de dor e frustração. Seu choro veio forte, enquanto seu corpo se amolecia contra o estofado do sofá, tremendo. Karina agarrou a barriga com força, sentindo a pior dor de sua vida irromper de dentro, e o choro veio com força. De repente, sentiu os braços do namorado ao seu redor, a apertando com força.

“Eu ouvi tudo lá da cozinha, entrei pelos fundos. Vai ficar tudo bem, minha esquentadinha, não se preocupa. Ela vai entender.” Ele beijou a cabeça dela, e o choro só aumentou.

“Calma, Ka. Vem aqui me abraçar.” Jade chamou a amiga, entre soluços, mas Karina não se mexeu, chorando cada vez mais alto e forte. “Ka?”

“Esquentadinha, calma.” Pedro segurou o rosto dela, preocupado. Quando ele olhou para baixo, sua testa se vincou. “Hã, amor... Você menstruou em mim. Acho que rolou uma descarga de sentimento bem pesada agora.”

“Não, Pedro, eu não menstruei.” Ela soluçou com força. “Pedro, eu to tendo um aborto. Me leva para o hospital, por favor.”


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Notas finais do capítulo

FODEEEEEEEEEU!!!!! To com sono, gente, então hoje sem notas elaboradas. Os próximos capítulos serão decisivos, a fic está em reta final. E completou um ano esses dias, vamos comemorar!!
Nos vemos em breve.
See you ;*
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