Um mês e meio se passou depressa após o casamento. Com Cobra e Pedro fora do país a trabalho, a rotina das meninas voltou ao que havia sido por anos. Apesar de Karina já ter anunciado que se mudaria para o apartamento de Pedro, e as coisas de Jade já estarem na casa nova, durante a ausência dos rapazes ainda estavam todas na antiga residência.

Ella havia viajada poucos dias depois para Porto Alegre, onde morava toda a sua família. A avó estava bastante doente, e ela passaria algumas semanas lá para ajudar a cuidar da mulher. Com isso e com o projeto social que estava fundando bem adiantado, Jeff voltou a conviver bem mais com as meninas e Ann, que mal se continha de felicidade por ter o padrinho de volta junto dela.

Ele e Mari não trocaram uma palavra sobre o que havia acontecido na noite do casamento, mas para a cantora tudo estava perfeito. A vida estava de volta aos eixos, e era questão de tempo para que ela e Jeff se encaixassem novamente.

Aproveitando as férias escolares de Ann, os quatro adultos haviam resolvido passar alguns dias em Monte Verde, curtindo o clima frio e as atrações da cidade. A pequena, é claro, mal se continha de animação, chegando até mesmo a ter uma diarreia.

Foram viajar em uma segunda de manhã e passaram a semana descansando e curtindo as atrações da cidade. Na sexta pela manhã, João, Fabi, Duca e Bianca chegaram para passar o final de semana junto deles.

Anna, é claro, não largou Ester por um minuto, e ficou exultante de saber que o bebê que Bianca esperava era um menino, para fazer companhia a Gabriel. Mais tarde, quando as crianças já dormiam, Karina começou a fiar o terço sobre como os amigos precisavam conhecer uma coisa mágica chamada camisinha.

“Já fomos apresentados, mas não gosto de me sentir preso. Prefiro a liberdade.” O comentário de João lhe rendeu um safanão no pé do ouvido.

Por fim, após dias muito divertidos, a vida real chamou. Chegaram no Rio no domingo à noite, exaustos, com Anna já completamente apagada. Jeff e Mari a colocaram na cama, enquanto Karina desempacotava as coisas da cozinha que haviam levado.

“Eu quero comer melancia.” Cantarolou Jade, abrindo a geladeira e pegando um pedaço que havia deixado ali mais cedo.

“Você comeu uma melancia de três quilos sozinha, em quatro horas. Sabe disso, não é?”

“Eu já tenho uma melancia de três quilos na barriga, Karina, me deixa quieta.” Resmungou a antiga bailarina, se apoiando no balcão e começando a se deliciar.

“Quero ver para perder ela depois que o Gabe nascer.” Resmungou a loira, apanhando o notebook e sentando na mesa. Ouviram passos na escada e logo Jeff e Mari apareceram, parando na porta da cozinha.

“Eu pego a Bells amanhã e passo o dia com ela, OK?” O rapaz apanhou sua mala no chão, indo dar um beijo nas duas amigas.

“Ok... Ela dorme na sua casa ou você traz ela de volta?”

“Trago ela, e janto por aqui com vocês. Pode ser?” Os dois foram até a porta da frente, de baixo do olhar atento de Karina.

“Claro, por mim tudo bem.” Ele lhe deu um beijo no rosto e sorriu. “Tchau, Jeff.”

“Até amanhã, Mari.”

Ela ficou acenando por vários minutos, até ele sumir na outra esquina, e Karina ia se encucando com aquilo. Jade, por outro lado, estava mais interessada na sua melancia.

“O Jeff não é um ótimo pai?” Ela suspirou escorada à porta recém-fechada. Karina fechou o notebook com força, arqueando a sobrancelha, pronta para um comentário ferino. Porém, Jade, alheia a tudo, atrapalhou.

“Sabe o que eu quero? Sorvete de abacate com amora.” Ela comentou, cuspindo algumas sementes de melancia.

“Tomar no cu ninguém quer, né? De abacate não rola, o máximo é um do Mc.” Avisou Karina, levantando da mesa.

“É o que tem para hoje. Mas quero fritas também.”

Mari ficou com a filha e organizando as coisas, enquanto as duas amigas saíram em busca de um drive. No caminho, Karina ia matutando o que acabara de ouvir, além de outros fatos dos últimos dias.

“Dinha, você percebeu algo estranho na Mari?”

“Ela está muito bem humorada esses dias.” A grávida observou. “E não me chama de Dinha. Como minha mãe me chamava assim quando pequena, o Cobra faz questão de me chamar assim hoje... Mas na cama. É uma ótima provocação, na verdade.”

“Ok, primeiro: eca. Segundo: duplo eca. Terceiro, eu me refiro as coisas que ela diz e como ela age, sabe? Hoje ela chamou o Jeff de pai da Annie, outro dia ela falou para ele ‘nossa filha’. Eu to meio preocupada, na verdade. E por último... Mano, triplo eca. Juro que eu to traumatizada.”

“Você acha que ela está tentando reconquistar o Jeff?” Questionou a morena, enquanto paravam no drive.

“Três top sundae, quatro fritas grandes, um McChicken, dois BigMac, três cocas grandes e um McFlurry. Para hoje, viu amiga?” Karina entregou o cartão para a atendente embasbacada, que havia parado de anotar o pedido diante da quantidade de coisas. “E eu não sei, Jade. Reconquistar seria se ele tivesse deixado de amá-la, e isso eu tenho certeza que não aconteceu. Mas dar uma de fura-olho enquanto a Ella está fora, isso eu não duvido. Tudo é possível vindo de Mariana Noronha Albuquerque.”

“Na verdade, faz um tempo que ela parou de usar o Albuquerque. Ela parou de assinar os e-mails assim recentemente, percebeu?”

Claro que ela havia percebido. Karina havia feito a mudança do e-mail para a amiga, tirando o Albuquerque. Ela também havia percebido que a aliança havia deixado seu dedo anelar algumas semanas antes, o que era bastante estranho. Mari sempre a havia ostentado com muito respeito e admiração.

Nos minutos em que esperaram o lanche, ficaram em silêncio e perdidas em pensamentos. Por fim, o funcionário apareceu com os pedidos e Jade suspirou.

“Acho que você está paranoica, K... Precisa largar as séries da Shonda.” Resmungou a morena, apanhando o McFlurry e começando a devorá-lo.

“Pode até ser... Mas ainda não tive coragem de contar para ela que estou noiva.”

“Qual o prazo que o Pedro te deu?”

“Até ele voltar, que é quando eu vou me mudar para a casa dele.”

“E você está certa da sua decisão, K?”

“Totalmente, Jade. Tudo o que eu mais quero é começar uma vida com o Pedro, uma vida nossa, sabe? Como você e o Cobra estão fazendo. Mas eu to preocupada, de verdade, mesmo tendo te dito para não ficar, eu estou. Preocupada com a Annie, com algo acontecer e magoar ela. Ela já perdeu o pai, não quero que ela perca mais ninguém.”

“Você está com saudades do Pedro e do Barney, loira, por isso essa paranoia toda.” Jade encerrou a conversa, enquanto Karina suspirava.

“Espero mesmo que seja só isso.”

Na manhã seguinte, penaram a acordar, ainda acostumadas ao ritmo de férias. Karina foi com Ann para a empresa, enquanto Mari levava Jade para a ultrassonografia que a bailarina havia marcado para aquele dia.

As instruções da médica foram redução do ritmo no trabalho e bastante repouso, já que Gabe estava bem grande e mal posicionado. Ela pediu que Jade antecipasse a licença-maternidade e tentasse terminar os preparativos para a chegada do pequeno logo.

Já no caminho de volta para a GND, Mari começou a falar casualmente.

“A engenheira vai em casa amanhã?”

“Que engenheira, louca?”

“A Talita, lembra dela? Para podermos ver o que fazer em relação ao quarto do Gabe. Ele e a Ann não vão poder dividir o quarto, né?”

“Tá louca, Mariana? Que história é essa?” A morena arregalou os olhos, assustada. Ela iria sair da casa bem antes de Gabe nascer, afinal.

“Você vai ficar de repouso logo, Jade, temos que correr com isso. E tenho certeza que a Ann não vai querer um bebê chorando a noite toda, e nem você que o Gabe durma em um quarto todo rosa. Talvez algo de cachorrinhos azuis, já que o Jeff nunca foi fã de esportes e...”

Enquanto ela tagarelava sobre o assunto como se fosse a coisa mais normal do mundo, Jade apanhou o celular, assustada. Abriu o whatsapp e digitou uma mensagem para Karina.

O que merda está acontecendo?

A resposta veio logo depois.

Acho que é o surto de viúva louca. Demorou quatro anos, mas veio forte. Até demais.