Life is Unexpected escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 2
Capítulo 1




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Caminhava pelos corredores do grande castelo de paredes brancas, quando começou a ouvir notas num ritmo conhecido. Forçou o ouvido e pode distinguir a melodia de Pompeii, do Bastille. Desde quando isso era música para sonhos com reinos mágicos? E, aliás, desde quando sonhava com reinos mágicos?

Abriu os olhos lentamente, ainda sem enxergar muito à frente, praguejando contra o celular e por ter se esquecido de colocá-lo no silencioso. Tateou a mesa cabeceira até encontrar o aparelho e o apanhou, desbloqueando a tela e colocando na orelha.

“Alô?” Resmungou com a voz rouca e preguiçosa, atípica de uma segunda feira.

“K, te acordei?” A voz do outro lado era baixa, mas a garota sabia que pertencia a Mari.

“Eu passei dez dias em Minas Gerais, enfrentei uma viagem de carro de 14 horas com minha irmã me infernizando, para finalmente poder dormir na minha cama.” A loira resmungou ainda sonolenta. “Imagine que você iria me acordar ligando às... 8h30 da manhã.” Completou olhando o relógio da cabeceira.

“É que... Eu realmente preciso de você.” O tom de voz da cantora era trêmulo, o que indicava que ela andara chorando. E por mais frágil que Mari fosse, Karina sabia reconhecer quando a situação era crítica.

“Meia hora e eu estou ai.” Foi só o que ela disse antes de desligar o telefone e pular da cama. Correu até a mala e começou a revirar as camadas desorganizadas de roupa, em busca de algo, no mínimo desamassado, que pudesse vestir.

Encontrou uma camiseta do Mickey, que havia ganhado de uma tia, e uma calça jeans. Vestiu-os de qualquer jeito e colocou o tênis, logo saindo do quarto sem se dar ao trabalho de ajeitar os cabelos revoltos. Apanhou um pedaço de pizza fria de aliche e saiu correndo. Depois de muito infernizar Gael, ele havia lhe dado uma moto para que pudesse se locomover pela cidade, e foi nela que subiu e partiu rumo ao apartamento da amiga.

Demorou menos de vinte minutos para chegar à casa da amiga, tendo em mente que havia ultrapassado alguns sinais fechados e jurava que havia visto um carro de polícia vistoriando velocidade. Mas era ansiosa, esse sempre havia sido seu maior defeito, e se tinha algo que fazia isso aflorar era a curiosidade e a preocupação.

Encontrou a caminhonete de Franz em frente ao prédio e fechou a cara. Não era segredo que ela e Franz nunca haviam se dado muito bem e já podia imaginar que o problema houvesse sido alguma arte do Sr. Albuquerque.

Parou a moto ao lado, descendo e tirando o capacete preto. Já tinha a chave do portão de ferro e o destrancou sem delongas, subindo os três lances de escada depressa. Ao chegar no último, viu que o casal já a esperava na porta, e já se aproximou rosnando.

“Muito bem, Albuquerque, o que você fez dessa vez?” A pergunta saiu como uma acusação, enquanto ela já se preparava para dar um soco bem dado no rapaz. Porém Mari entrou no caminho. “Mari, o que aconteceu?”

Os cabelos que eram sempre tão arrumados estavam completamente desgrenhados. O rostinho de boneca estava abatido, os olhos com olheiras profundas. A cantora começou a puxar a amiga para o sofá, enquanto Karina ainda tentava entender o que acontecia ali.

“K...” Mari sussurrou, a voz novamente trêmula. “Eu estou grávida.”

A sensação de gelo percorreu a espinha de Karina de cima abaixo, arrepiando os cabelos de sua nuca. Mari sequer esperou ela reagir, já se atirando em seus braços e se pondo a chorar de forma descontrolada. A garota apenas conseguiu soltar o braço e começar a acariciar os cabelos da amiga, enquanto observava que Franz, encostado no parapeito da janela atrás delas, parecia estar quase igual a namorada.

“Mari... Mari, olha para mim.” Pediu se afastando da amiga e erguendo o rosto dela. “Você tem certeza?” A menina confirmou. “E, hã, o que você pretende fazer?”

A morena deu de ombros, enquanto tentava inutilmente secar os olhos. Franz estendeu uma caixa de lenços que estava na mesa de canto, e a namorada começou a usar um atrás do outro.

“Você está pensando em, bom, em tirar?” Perguntou Rebecca em voz baixa, com medo da possível resposta da amiga.

“Eu não sei, K.” Admitiu Mari com um suspiro. “Eu sempre quis ter filhos, mas não nessa idade. Eu só tenho 20 anos, acabei de sair da Ribalta, tenho meus sonhos profissionais... E uma criança dá trabalho, né? Mas, depois daqueles dois tracinhos, foi como se tudo mudasse completamente.”

“E você Franz? O que acha?” Perguntou ao rapaz, tentando não se precipitar e começar a xingá-lo. Afinal, sua rixa com o namorado da amiga era por esse motivo.

Desde que ela havia vindo para o Rio, dois anos antes, Franz se mostrou contra. Ele era machista e possessivo, quase um homem das cavernas. Foi em uma dessas ocasiões que Karina se tornou amiga da cantora, ao vê-lo brigar com a namorada, novamente tentando forçá-la a voltar para Joaçaba. O resultado havia sido um olho roxo para Franz e uma nova amizade para Mari e Karina.

“Não sou eu quem estou carregando essa criança, então o que a Mari decidir estará bom para mim...” Disse ele ponderadamente, surpreendendo Karina. “Eu já disse a ela e repetirei, que eu a amo muito, e se ela quiser seguir com isso, amarei igualmente o nosso filho.”

Karina se levantou, tendo o casal a encará-la, e começou a dar voltas pela sala, se controlando ao máximo para não roer as unhas. Mari a acompanhava com os olhos, temerosa, provavelmente temendo uma reação explosiva da amiga de cabelos loiros.

“A Sol já sabe? Ou a Ruiva?” Foi a primeira pergunta que veio à cabeça da menina, mas Mari negou. “Por quê? Elas moram com você nesse apartamento.”

“Sim, mas existe algo que eles não são capazes de fazer por mim nesse momento.” Explicou a morena, se levantando. “As conhecendo como as conheço, a Ruiva já estaria me colocando no carro para irmos em busca de uma solução para isso e a Sol simplesmente me abraçaria, enquanto espera eu decidir o que fazer.”

“E o que eu posso fazer de diferente disso?” Perguntou Karina, se aproximando da amiga e segurando suas mãos.

“Você é a pessoa mais cabeça dura e obstinada que eu conheço, Karina. Quando você quer impedir ou convencer alguém, você sabe dar argumentos, razões...”

“E você quer argumentos e razões para o que, Mari? Para desistir?”

“Para entender por que tudo mudou na minha cabeça.”

“Mari, eu não sou The Mentalist, e eu entrei na faculdade de Jornalismo, não de Psicologia.” Bufou Karina, arrancando um sorrisinho da amiga.

“Mas você já tem mestrado em Mariana Noronha. K, você é uma das pessoas que melhor me conhece, melhor me entende... Por favor, tenta.”

Demorou um pouco, mas a jovem por fim concordou. Ela apenas pediu um tempo para pensar a sós e foi para o parquinho do térreo, sentando-se no balanço de metal velho. Ficou lembrando-se de sábados preguiçosos passados ali, em que ela, Mari, e posteriormente Jade, ficavam horas naqueles balanços, simplesmente vendo o tempo passar.

Só o que conseguia pensar era que, no ano seguinte, alguma delas estaria ali naqueles balanços, mas dessa vez com um pequeno bebê no colo. O bebê de Mari e Franz. A menina não iria tirar, Karina soube assim que viu a amiga dar de ombros. Mas ela tinha medo, tanto da escolha quanto de suas consequências. E era mais fácil pedir que alguém lhe desse elementos para convencê-la disso, assim talvez a culpa não pesasse em seus ombros.

“Acho que é mais fácil conversarmos sem a presença do Franz...” Ouviu a voz de Mari e se virou, vendo ela sais de dentro o prédio.

“Não acho que Franz seja o problema aqui.” Admitiu em voz alta o que pensava e a amiga concordou.

“Admito que eu estava esperando um surto maior vindo de você.” Contou a cantora, se aproximando e ficando vesga para encarar a ponta do nariz, que havia assumido uma tonalidade vermelha. “Mas você sempre sabe surpreender, mesmo em meio a tantas novidades chocantes.”

“Você é quem deveria estar surtada.” Lembrou Karina, sentando na mesa de piquenique e indicando que a amiga sentasse ao seu lado. “Quem está servindo de canguru é você, não eu.”

“Oh, mas eu surtei.” Admitiu Mari sentando ao seu lado. “Quando comecei a desconfiar, logo após o Natal, entrei em pânico. Quando fui ao hospital e recebi a confirmação na manhã da Véspera de Ano Novo, chorei por três horas seguidas.”

“Pela sua cara, isso é só o que você tem feito.” Não era uma brincadeira ou pergunta, e sim uma afirmação, mas mesmo assim Mari confirmou com a cabeça. “Olha, eu não quero assumir a responsabilidade pelas suas decisões, mesmo sendo bem claro para mim que você já as tomou... O que eu posso fazer é tentar, do meu ponto de vista, explicar o que você está sentindo.”

“E o que é?” O tom ansioso da pergunta refletia no olhar da menina, brilhando na necessidade de uma resposta.

“Você virou mãe.” Respondeu Karina simplesmente. “É um belo de um clichê, dos mais bem batidos, mas é verdadeiro. Sabe aquela história de que a mulher vira mãe a partir do momento em que engravida? Então, você acabou de me comprovar ela.”

“Mas por que agora, K? Eu sei que foi um descuido, um deslize meu e do Franz, eu só... Eu só não entendo porque agora.” Disse Mari, com a voz entrecortada pelos soluços. Karina simplesmente a puxou para mais perto, abraçando e colocando sua cabeça no ombro da amiga, no mais típico gesto de conforto.

Após um tempo e uma Mari mais calma, a jovem se levantou, apoiando os dois joelhos no banco e ficando da altura da amiga. Ela então pegou a mão das duas e colocou sobre a barriga coberta pela camiseta.

“Eu não posso inventar uma explicação como se inventa uma história de ficção, mas eu posso te repetir algo que uma vez me disseram... Nós escolhemos nossos pai, Mari, e entre bilhões de pessoas nesse mundo, essa criança escolheu nascer aqui. Talvez, porque você precisará dela para aprender algo que nós nem podemos imaginar.”

A morena sorriu entre as lágrimas que escorriam de ambos os olhos e puxou a amiga para um abraço. Por mais turrona, mal humorada e briguenta que Karina fosse, ela tinha um grande coração e uma sensibilidade maravilhosa. E aquela explicação era o suficiente para acalmar o coração da futura mãe.

“Eu posso ser meio estranha, Mari, mas você sabe que eu te amo muito.” Garantiu a loira em voz baixa, ainda abraçada com a amiga. “E eu vou fazer o que eu puder para ajudar você a passar por isso. E eu sei que, quando souber, a Jade fará a mesma coisa. Vamos assumir nosso papel de tias-que-mimam-e-estragam com prazer.”

A grávida deu uma gostosa gargalhada, a primeira em semanas, e se afastou da amiga, a encarando nos olhos, mas ainda tendo as mãos juntas.

“Eu não esperava que fosse diferente. E eu posso garanti que nós,” Pôs a mão na barriga. “Te amamos também, sua esquentadinha.”

“Só espero que não mais do que me amam.” A voz de Franz surpreendeu as duas, que se viraram dando com ele na porta da casa. “Desculpe, vocês estavam demorando.”

“É feio ouvir conversa privada sabia? Garanto que tem algum item no Código Penal que diga isso.” Resmungou Karina, recebendo um olhar feio de Mari. “Mas... Agora estamos ligados não é Albuquerque? Você será pai do meu sobrinho ou sobrinha.”

“Lamento, Duarte, é parte do pacote.” Brincou ele enquanto se aproximava, e a menina revirou os olhos.

“Nesse caso... PARABÉNS ALBUQUERQUE.” E dizendo isso se jogou em cima do garoto, o pegando de surpresa e derrubando na grama, arrancando uma gostosa gargalhada de Mari.


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Notas finais do capítulo

Notas Finais

Heeey peanuts.

Bem vindas todas as leitoras, adoraria responder os reviews, mas hoje não tive tempo... Só consigo responder os reviews dos capítulos de final de semana :/ Mas amo os comentários, me fazem infinitamente feliz ♥

Quero dar um boa-vindas especial à ALimaLoser, que leu a fic quando eu postei originalmente na categoria de Glee, deixou lindos reviews e tem muito carinho pela história. A fic aqui vai ficar diferente de lá, ok baby girl?

Well, acho que só vou conseguir postar sábado ou domingo, ok?

Espero reviews.

See you ;*