Life is Unexpected escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 12
Capítulo 11




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O pequeno cemitério de Joaçaba estava apinhado de gente. Francisco Albuquerque, filho único de Henrique e Maria, portanto herdeiro da maioria das terras da região, agora jazia morto dentro de um caixão de mogno lustroso.

Mariana Noronha Albuquerque, a jovem inocente e delicada por quem ele se apaixonará no ensino médio, agora sua viúva, recebia os pêsames e condolências ao lado dos sogros. Suas vestes negras condiziam com seu status, mas definitivamente destoavam de sua idade.

Anabella Noronha Albuquerque, a primogênita de Franz e Mari, e portanto a única herdeira que poderia vir dos Albuquerque, ressonava tranquilamente nos braços de sua madrinha, que por sua vez estava desconfortável com as roupas que usava.

“De quem foi a ideia de jerico de usarmos vestidos pretos? Estamos em outubro, pelo amor de Deus, está calor.” Resmungava Karina, inquieta.

“Karina, você está em um velório, se aquiete.” Gael reprendeu a filha mais nova, enquanto observava a movimentação. “Tem bastante gente aqui.”

“Os Albuquerque são praticamente os xerifes dessa cidade.” Brincou João, escorado ao banco onde a namorada estava. “Obviamente a cidade inteira veio ver.”

“Caraca, se essa baixinha soubesse a herança que tem nas mãos.” O comentário de Duca atraiu a atenção de todos para Anne. “É bom ela gostar de fazendas e administração.”

“Ela tem um mês, aquietem os fachos.” Bufou Jade, ao lado de Karina.

“Meninas, acho que a Mari está chamando vocês.” Observou Bianca, vendo que a jovem estava na porta as encarando.

“Vem, pedrinha.” Chamou a loira, se levantando e ajeitando a bebê no colo.

Seguiram a amiga para dentro da capela, observando o choro desesperado de alguns desconhecidos, incluindo algumas jovens moças que, na opinião de Karina, deveriam estar em outro lugar tratando o fogo no rabo.

“Como você está, caipirinha?” Perguntou Jade, abraçando a amiga pelos ombros e beijando sua têmpora.

“Perdida, para ser bem sincera.” Ela suspirou, encarando Karina. “Dá ela, por favor.”

“Não precisa nem pedir.” A loira passou a afilhada adormecida para os braços da mãe. “Isso tudo é completamente surreal.”

“Completamente.” Mari fez eco, encarando o rosto de Anabella e depois o de Franz. “Ela mal chegou a conhecê-lo.”

“Mas ela sempre vai saber o quanto ele a amava, você sabe disso.” Jade tentou amenizar, mas a amiga estava com o olhar perdido.

“Eu fico pensando qual será o plano de Deus em tudo isso, sabem? Eu sei que fomos descuidados, mas eu também acredito na existência de uma força superior, e que essa força superior rege tudo o que acontece no mundo e com cada pessoa; afinal, Deus é onipresente e onisciente, certo? Então, qual seria o propósito Dele em nos enviar uma filha e levar o Franz embora logo depois? Qual é o meu pecado a ser pago?” A cantora começou a divagar em seus pensamentos, os olhos cheios de lágrimas.

A dançarina e a ex-lutadora se entreolharam, os próprios olhos repletos de lágrimas. Karina suspirou, apanhando a mão de Jade e abraçando Mari, as duas apoiando o queixo nos ombros de Mari.

“Se você acredita que Deus é onipresente e onisciente, e que Dle rege tudo o que acontece conosco, então confie, Mari; eu sei que nesse momento é difícil, mas confie Nele. Confie que Ele está fazendo o que for melhor para você e a Anne, e o que foi melhor para o Franz. Não cabe a nós, meros mortais, entender os propósitos divinos, mas é preciso ter fé neles, sempre.” A loira sussurrou, enxugando as lágrimas que escorriam dos olhos da amiga.

“E se a Ka, que não é nada religiosa, está falando isso, eu acho que você deveria escutar, Mari.” Propôs Jade. “Você vai precisar ter fé e ser forte; se não quiser fazer isso por você, faça pela Anabella.”

“Com licença.” A conversa foi interrompida pelo padre, que tinha um sorriso bondoso no rosto cheio de rugas e cabelos brancos. “Mariana, eu gostaria de começar a missa.”

“Claro, já está quase na hora do enterro.” Ela concordou, secando os olhos. “Meus sogros?”

“Já estão acomodados no primeiro banco.” Ele apontou o lado esquerdo. “Eles deixaram o banco da direita para você e suas amigas, disseram que você gostaria de tê-las por perto.”

“Muito atencioso da parte deles.” Comentou Karina, enquanto as três se dirigiam ao banco indicado pelo homem. Sentaram-se e esperaram que os demais presentes se acomodassem, antes que o pároco começassem a celebração.

No Rio, nenhuma das meninas havia participado de algo assim. Em velórios, o máximo que se via era um padre rezando uma rápida oração e dizendo poucas palavras sobre o falecido. Naquela pequena cidade do interior, ainda desfrutando de algumas tradições que com o tempo se perderam, era quase uma missa que havia mesmo. Rezavam, o padre lia alguns trechos da Bíblia e pedia para algum familiar ler um trecho específico, sobre o qual ele fazia seu curto sermão.

“E gostaria de terminar com um trecho de Mateus, capítulo 5, versículo 4: Bem aventurados os que choram, pois serão consolados. Que a paz e a misericórdia do Senhor console seus corações em um momento de dor tão intenso. Vão em paz, meus filhos.” Finalizou o homem, recebendo o silêncio como resposta.

Logo se formou a fila para o último adeus à Franz, antes que o caixão fosse fechado e o cortejo fúnebre começasse. Um a um, os presentes passaram e deram uma última olhada no falecido, um hábito que na opinião de Jade poderia muito bem ser descartado.

Ela e Karina, obviamente, ficaram ao lado de Mari, lhe dando o apoio e suporte que precisava naquele momento. Por mais que a presença de seus pais também lhe confortasse, havia algo que apenas as duas lhe traziam: confiança.

A confiança de que, não importando o quão difícil tudo viesse a ser, elas poderiam passar por isso juntas, porque elas sempre estariam ao seu lado, especialmente nos momentos difíceis que viriam a seguir.

“Acho estranho falar com um corpo.” Confidenciou Jade, quando as três novamente pararam em frente ao caixão.

“Jade.” Karina a repreendeu.

“Não, tudo bem, Ka. Ela está certa, isso aqui não é o Franz, é apenas o corpo dele.” Concordou a cantora.

“Seja como for, algum motivo para as pessoas se despedirem do corpo tem; nós apenas não sabemos mais qual é.” A loira deu de ombros. “Vá em paz, zé mané. Prometo que vou cuidar das duas para você.”

“Delicadeza em forma de gente.” Jade suspirou, revirando os olhos. “Mas ela está certa, Franz... Pode ir em paz, as duas estarão bem cuidadas, nós prometemos.”

“Vá em paz, meu amor. Eu e a nossa pequena vamos estar juntas, lutando sempre, eu prometo.” Sussurrou a cantora. “Nós vamos te amar para sempre, está bem?”

Pouco tempo depois, o grupo de pessoas caminhava pelo sol forte do lado externo do cemitério. Duca, João, Lírio, Jeff e dois primos de Franz carregavam o caixão, enquanto Mari ia abraçada aos sogros e Karina e Jade levavam Anabella, protegidos por uma sombrinha florida de alguma tia do falecido.

O enterro foi rápido e silencioso, pontuado apenas pelos soluços histéricos de uma mulher ou outra. Quando a lápide começou a ser fechada, Maria entrou em desespero e o marido tratou de acalmá-la. Mari também começou a soluçar mais forte e logo Jeff a abraçava apertado, deixando que ela chorasse contra seu peito.

Lírio abraçou Karina e Jade, as duas agarradas a Anabella, tentando que ela não se assustasse com o ambiente e começasse chorar também. A vontade das duas era de correr o mais longe possível dali, levando a pequena para longe de toda aquela aura ruim, mas sabiam que não podiam.

Quando finalmente fecharam a lápide, todos começaram a se afastar depressa, sequer vendo as coroas de flores sendo colocadas sobre o túmulo. O show já havia acabado, hora de começar as fofocas sobre o que havia acontecido ali.

Por fim, restaram apenas o pessoal do Rio de Janeira, já que os pais de Mari haviam acompanhado os pais do falecido genro, ambos muito maus para continuar ali. Todos observavam Mari em silêncio, a garota ainda agarrada a Jeff, mas já sem chorar.

“Meninas...” Ela chamou em voz baixa, se afastando do amigo e se aproximando do amontoado de flores que cobriam o local de descanso do marido. As duas se soltaram de Lírio, se aproximando da cantora e já lhe entregando Anabella. “Eu tenho uma proposta para vocês.”

“O que, cabritinha?”

“Eu e o Franz, nós havíamos vendido o apartamento e comprado uma casa, lá nos arredores da Ribalta e da Academia, já que era onde a maioria dos nossos amigos se concentrava.” Ela revelou, surpreendendo as duas. “Só nossos pais sabiam, já que meus sogros deram o dinheiro que faltava na transação. A reforma já está quase pronta e logo eu posso me mudar, e eu queria saber se...”

“Nós vamos.” Disseram juntas, fazendo Mari rir.

“Achei de bom tom perguntar, mas já sabia a resposta.” Ela sorriu. “Tem mais um quarto, além do meu e da Anabella, e um escritório enorme. Achei que a Ka podia ficar com o escritório, já que ela vai precisar de uma lugar para estudar e guardar os livros da faculdade.”

“Eu posso ter um macaco de pelúcia? Verde?” Pediu a loira.

“Claro, Ka, até dois se quiser.” Riram juntas, leves pela primeira vez no dia.

Observaram o local uma última vez, suspirando juntas. As duas abraçaram a amiga, as três encarando a bebê que tornara a dormir nos braços da mãe. Se viraram, encontrando os amigos a esperá-las.

“Vem, meninas... Vamos para casa.”

FIM DA PRIMEIRA PARTE DA FIC


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Notas finais do capítulo

FELIZ 2015 MINHAS LINDAS, UM ANO MARAVILHOSO PARA TODAS (já cansei de desejar feliz ano novo nas notas HAHAHAHAHA)
Bom, estamos aqui, com mais um capítulo. Eu particularmente AMEI esse capítulo, achei interessante poder falar sobre Deus de várias formas. Eu não sou uma pessoa muito religiosa, mas creio sim em Deus e gostei de poder "debater" um pouco sobre Ele no capítulo. Lembrando que a Mari e a família dela aparentam ser bem religiosos, por isso o enterro bem religioso.
Enfim, já avisei em algumas fics, mas aviso nessa também: agora as fics tem página no face. Vão rolar spoilers, enquetes, avisos de postagem, promoções... Então curtam lá, ok?
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See you peanuts ;*