Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olá, hoje eu queria agradecer ao pessoal que vem acompanhando Ressurgente e comentado, fazendo da minha vida mais feliz: Dama do Poente (minha instrutora na iniciação do Nyah kkk, talvez a ideia de agradecer as pessoas nas notas seja sua, sorry), Star, Goddess Kunis, Ruby, Matthew Clarke Grayson, Estér Everllark, Hakuna Matata, Naile, vanessinha, LittleDarkAngel, Letícia Broz e KeehTaptiklis (seus comentários são épicos, saudades deles).

Espero que gostem, e peço desculpas pelo final, talvez vocês me odeiem por permitir uma certa coisa acontecer!



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Tobias

A semana que se inicia não é em nada fácil. Anthony me libera depois de uma noite no apartamento da minha mãe, em parte porque ele percebeu que realmente não haveria mais perigo e em parte porque eu tenho que reger a cidade, principalmente depois do ataque, as pessoas estão com medo, precisam que eu as tranquilize, que elas saibam que o prefeito está aqui para cuidar de tudo.

No primeiro dia em um escritório improvisado no centro da cidade — já que nosso prédio se reduziu a cinzas —, recebo de Anthony os arquivos que estavam em poder de Richard, que contém os currículos e recomendações sobre os candidatos para a vice-prefeitura.

Antes de abrir, fico pensando no que Christina falou, será que me deixei levar pelo momento e não considerei o fato de que Liv pode não ser tudo o que penso? Posso mesmo colocar o poder da cidade sobre alguém que mal conheço?

Quando finalmente abro a caixa, olho algumas fichas, algumas fotos e currículos, mas o que me chama a atenção é uma folha com um texto que Richard havia escrito sobre os candidatos. Leio com surpresa quando vejo que a mais cotada para o cargo é Liv.

“Olívia Williams tem, de longe, as melhores recomendações”, diz o texto, “foi indicada pelo Departamento de Ciências, é muito inteligente, e seu pai era um homem muito respeitado da força policial, então ela tem um bom conhecimento sobre leis, e, tem no currículo que é uma inegável líder.”

Suspiro aliviado, seu pai era da força policial, não preciso culpar mais minha consciência por não ter perguntado por que ela tinha uma arma.

Fecho o arquivo por não preciso de mais provas de que Liv é a pessoa que preciso para esse cargo, afinal, ela já deve estar a caminho, não preciso me dar ao trabalho de conhecer mais alguém.

Quando Liv chega, ela entra na minha sala para ver do que preciso.

— Antes — começo —, queria contar que recebi seu currículo hoje.

— Mesmo? — diz ela, sua expressão vacila.

— Não se preocupe, eu gostei muito. Não é menos do que esperava — sorrio.

— Obrigada.

Passamos o primeiro dia no escritório fazendo um levantamento de tudo que havíamos perdido no incêndio da prefeitura, tanto em questões monetárias como em arquivos.

Porém, no fim do dia, Liv bate na porta e diz que minha mãe quer falar comigo, peço para entrar. Evelyn me cumprimenta e logo diz:

— Vim falar sobre o funeral de seu pai.

— Olhe, eu não quero...

— Sei que não quer ir, sei que não tinham uma boa relação e não vou discursar sobre “mesmo assim ele era seu pai”. Só peço que vá pela sua posição na cidade. Junto com ele, os outros que morreram no ataque também serão sepultados.

— Sim, eu sei, mas não preciso acompanhar o caixão de Marcus.

— Tobias, não é por você, é pelo seu papel. O que vão dizer de um prefeito que não presta seus sentimentos sobre seu pai falecido?

Penso no que ela diz. Reputação. É o tipo de coisa que não precisava cuidar diretamente quando era vice de Johanna, mas agora não tenho que pensar nisso?

— Tudo bem — digo por fim, ela sorri. — Eu vou.

— Ótimo — diz ela. — Como estão as coisas?

— Muito trabalho, mas tudo certo, na medida do possível.

— Então deixarei você trabalhar.

— Nos vemos amanhã, mãe.

Levanto-me da mesa e dou um abraço nela, que me beija no rosto.

— Eu nunca disse que iria, querido — ela diz. — Ele era seu pai, deixou de ser meu marido há muito tempo.

Olho para ela, surpreso.

— Você não vai?

— Não faça drama, não é assim. Seus amigos estarão lá, e tenho certeza que essa jovem adorável — ela aponta para a porta, em direção de onde Liv fica — pode te fazer companhia.

— Aposto que pode — digo, quando ela já está na porta.

Fico refletindo sobre o que terei que ver na manhã seguinte. Marcus, meu pai, morto, como eu já havia desejado milhares de vezes nos anos que se passaram. Pergunto-me se era mesmo isso que queria. Porque agora, sabendo que está morto, não faz tanta diferença, do mesmo jeito de quando soube que ele tinha partido.

No fim do expediente, Liv vem à minha sala para dizer que já estava indo.

— Espere — digo.

— Sim?

— Minha mãe me convenceu de ficar até o enterro do meu pai, amanhã. Provavelmente vão pedir que eu diga algo. Sei que não faz parte das suas tarefas, mas será que pode escrever alguma coisa? Não saberia nem por onde começar.

— Claro, não se preocupe — diz ela. — Posso perguntar por que nem sequer se abalou com a morte do seu pai?

— Longa história, um dia que tivermos mais tempo eu conto — respondo, mas a verdade é que dividi isso com poucas pessoas, e ainda não sei se Liv pode ser uma delas.

***

Seria irônico e até desrespeitoso dizer que o cemitério parece vivo demais. Mas é verdade, não é como normalmente, que uma pessoa vai ser enterrada. São dezessete famílias, dezessete caixões, dezessete corpos. Pelo mesmo motivo.

Na parte da frente da capela que fica ao lado do cemitério, estão dispostos todos os mortos em caixões fechados, e o espaço está tão apertado para a quantidade de pessoas. Familiares, amigos, conhecidos. Avisto meus próprios amigos: Christina, Zeke e Shauna.

Prefiro não me aproximar muito, só observo. Anthony e alguns representantes do Governo em frente a um caixão preto que tem a foto de Richard em cima, estão consolando uma mulher e uma jovem, sua mulher e sua filha, suponho. Parentes e amigos chorando sobre caixões de pessoas que sequer conheço; um homem com um bebê de colo em frente ao caixão de uma mulher ruiva muito bonita, uma senhora sozinha debruçada sobre o caixão de um jovem que parece ter morrido cedo demais, três mulheres sobre o caixão de outra, devem ser suas irmãs, ou amigas próximas.

No fim da fila, estão os três caixões das únicas pessoas que morreram sem ser do Governo. Uma mulher quase idosa de cabelos loiros, um homem careca e meu pai. Algumas pessoas estão em frente a seu caixão, mesmo que nenhuma da família, ele ainda é um homem respeitado, foi um líder respeitado, a imagem que tinha cobria a de pai e marido violento.

Todos se sentam e algumas palavras são ditas, mas nenhuma que eu tenha prestado atenção, não consigo parar de olhar para a porta, Liv ainda não apareceu com meu “discurso”.

Quando acabam, os caixões são retirados em fila, como estavam, começando pelo de Richard e terminando com o de Marcus.

É tudo muito cansativo, de tantos em tantos metros paramos para enterrar um membro do Governo.

Liv chega quando acabam de enterrar Richard.

— Um bom homem que ele era — diz ela, por trás de mim. Tomo um susto, já que estava ocupado prestando atenção na mulher de Richard, que precisa ser retirada de cima do túmulo.

— Era — concordo. — Por que demorou?

— Planejava perder a parte da capela — explica. — Sou muito sentimental, não me sentiria bem.

— Entendi — respondo.

Andamos em silêncio até a próxima parada, quando ela pergunta:

— Não quer ler? — sei que está se referindo ao discurso sobre Marcus.

— Preciso ler quando não tiver como desistir.

Ela não responde e ficamos apenas em silêncio.

Alguns dos enterros são mais dramáticos que outros. Para uns têm uma multidão, para outros uma ou duas pessoas. Quando finalmente chegamos ao último, meu pai, Anthony diz em voz alta:

— Muito obrigado a todos que vieram prestar suas últimas homenagens às vítimas dessa tragédia. Gostaria de chamar nosso prefeito, Tobias Eaton, que perdeu seu pai, Marcus Eaton, que será enterrado agora, para falar-lhes.

Olho para Liv e ela me entrega o papel discretamente, demorando sua mão na minha, me passando confiança.

Quando subo, aperto a mão de Anthony e começo a ler:

— Boa tarde. A maioria de vocês perdeu um membro da família ou amigo. Eu perdi meu pai hoje, e ele nunca foi perfeito, como seu familiar ou amigo, mas sei exatamente como se sentem e prometo que quem quer que tenha feito isso, não sairá impune. E, se por um acaso quem o fez esteja entre nós, quero que saiba que o prefeito dessa cidade está vivo, e que não vou desistir enquanto não obtiver justiça.

Recebo aplausos tomando mentalmente as palavras que Liv escreveu para mim. Conseguirei justiça por todos aqueles que foram enterrados hoje.

Não só por meu pai — que nunca prestou, mas não merecia morrer assim —, mas pela mulher de Richard e sua filha, pela senhora que perdeu o filho, pelos filhos que ficaram sem seus pais, por cada um que sofre agora, depois de sepultar as pessoas que amavam.

Quando a terra cobre o caixão de Marcus, me afasto da multidão e caminho de volta até o início do cemitério, que agora está vazio.

Marcus está morto. Não estou feliz, nem triste, como disse, não sinto nada. Mas acho que deveria, ele me maltratou, fez da minha infância infeliz, eu devia estar pelo menos aliviado, mas só sinto indiferença, o que é muito ruim.

— Tudo bem? — ouço a voz de Liv atrás de mim, ela me seguiu.

— Ele me batia, também na minha mãe — digo, me virando para Liv.

— Eu... — ela não sabe o que dizer por um momento. — Eu não sabia, me desculpe.

— Essa é a “longa história”. Devia estar feliz que ele se foi, mas só me sinto vazio.

Ela se aproxima mais e pega nas minhas mãos.

— Quero que saiba que não está sozinho.

Quando cheguei ao cemitério, vi que ele estava vivo, por estar cheio, agora, no mesmo cemitério, posso sentir que eu estou vivo. Mas vivo do que me sinto desde que não tive mais os braços de Tris para me fazer querer viver.

Aqui, com as mãos de Liv nas minhas, percebo que não tenho realmente vivido desde que Tris se foi, e talvez não tivesse oportunidade de fazê-lo novamente se não me permitisse.

Decido me permitir.

Beijo Liv, e ela corresponde. Não pensei que beijaria alguém além de Tris, mas Liv chegou na minha vida e mudou tanto. Talvez eu tenha que seguir em frente.

Seus lábios são macios, com gosto doce...

Alguém pigarreia.

Afastamo-nos e olhamos para os portões do cemitério, sobressaltados. É Zeke quem está lá. Sua expressão é nervosa e embaraçada ao mesmo tempo, por ter nos encontrado nessa situação.

— Desculpe interromper, Quatro — ele começa. — Mas é a Christina, ela foi... Ela foi sequestrada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que deixem comentários! Até o próximo capítulo!
Xoxo, see you soon!



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