Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 29
28 - Anne




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Então é isso! Frieda pensa em vencer o reality, além de deixar os seus aliados de lado. Ela planeja aniquilar todos nós, sem dó, nem piedade, só para vencer às nossas custas. Interesseira, age como se fosse uma nazista, o que de fato não é. É só uma judia ingênua, delinqüente e louca. Ah, mas ela vai ter o glorioso resultado que deseja!

Depois de tudo que passei nas mãos dela, vou me vingar. É mais ou menos o Código de Hamurábi, só que o meu vai ser bem pior. Enquanto eu seguia o meu rumo, apesar do peso do javali sobre os ombros, sem perceber, tropecei violentamente em uma peda e rolei colina abaixo, até não sentir mais o chão em que rolava, quando caí de costas em um outro plano da floresta. Senti uma forte dor na coluna no momento do impacto, mas foi bem pior no osso do rabo. Tentei respirar e, aos poucos, rolei para o lado, atabalhoadamente. Senti mais dor ao fazer isso e a visão ficou em caleidoscópio. Tomara que a coluna não tenha fraturado. Foi por um tris, pois caí pouco próximo às rochas, cujas saliências eram proeminentes. Ao me levantar, senti uma dor aguda em uma das pernas. Foi aí que eu percebi que um dos caninos proeminentes do javali cravava na minha panturrilha.

Não foi tão difícil puxar o dente para fora, apesar da dor aguda que senti ao tirar. Nem me preocupei em verificar a panturrilha ferida, o que não era grande coisa. A minha preocupação era Heinrich, ferido daquele jeito, pois se ele descobrisse que sumi, seria capaz de começar mais uma onda de assassinatos e, consequentemente, cair morto. Retomei o rumo.

***

Nem bem que cheguei, Heinrich, Otto e Sophia já estavam de saída para me procurar, mas os surpreendi no momento. Otto deu um pulo de susto, o que me fez rir.

– Anne, onde você estava? - Heinrich vinha chegando em mim, quando perguntou. Franzia o cenho. - Fiquei preocupado.

Fui idiota. Devia ter deixado um bilhete dizendo que fui caçar, mas quis fazer uma surpresa para ele.

– Qual é, fui caçar. - respondi, rindo da sua expressão. - O nosso estoque de comida está quase no fim.

– Tá explicado o javali. - Otto observou, rodeando o javali abatido por mim.

– Peraí, desde quando você caça? - perguntou Heinrich, incrédulo, mas surpreso.

– Desde que Frieda e seus amiguinhos me fizeram de gato-e-sapato. - respondi, irônica. Eles riram.

– Que bela mira você tem. - Sophia elogiou, examinado flecha encravada no javali.

– Só acertei bem no meio dos olhos. - retruquei. - Um churrasquinho de carne de javali deve valer a pena.

– É, só que o javali não tem gordura. - Heinrich fez um biquinho.

– E daí?

– E daí, com a gordura, a carne fica suculenta. - brincou. Dei uma cotovelada nele, que deixou escapar um gemido. - Qual é, brincadeira!

– Bobão! - zombei.

– Qual é, vocês não vão levar a sério esse tipo de piada, não é?

Dei um soco nele e todos nós gritamos bobão! E rimos à beça.

***

Enquanto comemos espetinhos de javali com água do cantil de cada um, Heinrich contava histórias engraçadas que ele mesmo criava, nos fazendo rir. A diversão foi caindo aos poucos, quando ele deu por falta de Hermann.

– Ué, cadê o Hermann? - perguntou, arqueando uma das sobrancelhas. Nenhum de nós teve coragem de responder a essa pergunta, pois se tratava de uma trágica e triste notícia. Otto suspirou.

– Hermann me encontrou no momento em que eu o confundia com um dos capangas de Frieda. - ele respondeu, com uma melancolia na voz. - Ainda bem que não cheguei a tempo de atirar nele, pois só saí daqui por causa da minha vingança da morte de Lewis. Até chegamos a discutir feio, quando o Vampiro apareceu bem atrás de mim para me atacar, mas Hermann me alertou para me salvar. Nós tentamos manter Vampiro imobilizado, tornando-o vulnerável aos nossos ataques. Enfim, conseguimos deixá-lo no chão, mas, em poucos minutos - ele deu uma longa pausa para suspirar, pois teve que segurar o choro. Continuou. - Vampiro revidou, mordendo Hermann na lateral do pescoço. Arrancou um pedaço de carne.

Heinrich empalideceu ao ouvir isso. Eu fiquei comovida com o que aconteceu, pois sou prova disso. Depois contei a minha parte.

– Atirei uma flecha no pescoço do Vampiro, antes que ele pudesse atacar de novo. Assim que cheguei perto, não pude acreditar no que vi: o pescoço de Hermann estava coberto de sangue. Até me ofereci para ajudar a estancar o sangramento, mas Otto se encarregou de fazer isso, enquanto fui distrair os outros, à sua procura, Heinrich.

– Fiz o possível para mantê-lo vivo - continuou Otto, que ao terminar a frase, sua voz embargou um pouco. - mas, foi tarde demais. Ele expirou nos meus braços.

Até deixei uma lágrima brotar dos olhos, de tão triste e deprimente, que foi essa trágica cena.

– Por que vocês não me contaram? - Heinrich perguntou, chocado.

– Hermann e eu estudamos na mesma sala até o Dia da Seleção, Heinrich. - Sophia relatou. - Ele foi o primeiro a ser sorteado, depois a outra menina e eu fui a última. Às vezes nós mantemos contato um com outro, pois eu era muito calada na escola. A última vez que o vi com vocês foi quando os alertei sobre o ninho de marimbondos, mas a definitiva, foi quando o vi daquele jeito, com o pescoço sangrando. Eu nem pude imaginar. Só não contamos pra você porque você iria se arriscar a sua vida para ajudá-lo, mas você já estava ferido na mesma hora em que ele estava agonizando até morrer.

– Ele até perguntou por você. - acrescentei. - Eu respondi que você foi procurá-lo pela floresta, mas não imaginava o risco que você corria baleado. - perguntei por fim. - Você me perdoa, assim como a nós, por termos escondido a notícia o tempo todo?

Heinrich levou dois minutos para responder à minha pergunta, mas respondeu por fim.

– Claro, vocês são os meus amigos. - e assim nos abraçamos, quando ouvimos um ruído ensurdecedor. Parecia tiro.

– O que foi isso? - Otto perguntou, franzindo o cenho.

– Alguém foi baleado. - hesitou Heinrich. Fomos para fora para verificar.

– O barulho veio da esquerda! - certificou Sophia. Ela fez um sinal para que a seguíssemos, porém a dor na coluna me impediu de locomover.

– Anne? - Heinrich virou o rosto para mim, preocupado comigo. - Algum problema?

Tive que responder sobre a queda.

– Caí em uma depressão de costas. - respondi, pondo a mão atrás da cintura, para aliviar a dor. Foi aí que Otto notou que a minha panturrilha sangrava.

– Foi só o dente do javali. - respondi, dando de ombros. - Javali dentuço, né? - brinquei.

– Façamos assim, melhor ficar para descansar. - Sophia aconselhou. - Pelo visto, a queda foi brusca!

– É melhor eu ir com vocês... - fui interropida pela dor lacrimejante na coluna. Fui obrigada a ficar mesmo na caverna. Heinrich me ajudou a entrar para dentro. Como a descida era íngreme, ele teve que me carregar. Eu não era tão pesada para ele.

Ele me pôs no saco de dormir. Fez questão de ver como eu estava.

– Pelo jeito como a dor lhe força a ficar repousando aqui, vai ser a minha vez de bancar um enfermeiro. - brincou. - Prometo que vou voltar.

Antes que ele fosse, o puxei pela manga do casaco pardo.

– Antes de ir... - movi o indicador para que ele me beijasse na boca. Depois o liberei. - Boa sorte.

– Obrigado. - ele sussurrou.

Depois que eles partiram, não sabia se dormia ou não, por causa da Frieda e Lorne, de quão perigosos eles eram. Fiquei com medo por Heinrich, assim com fiquei pelos meus falecidos pais. Fiquei sussurrando papai... Mamãe... Até eu apagar de vez.


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