Just One More Day escrita por Ana Viollet


Capítulo 19
Capítulo XVIII - Ameaças


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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    Na manhã seguinte, a calmaria se instalara na residência dos Uchihas. Sasuke havia iniciado a manhã tomando café com seu filho, que ligeiramente suspeitava o motivo de ter que faltar à aula naquele dia. O pequeno tinha quase a certeza de que seu pai já sabia de tudo que estava passando consigo, e isso, de certa forma, o tranquilizava. Ele sabia que, a partir daquele momento, nada lhe faria mal novamente, não como sua mãe fez.

        O pequeno não poderia esconder mais, não poderia viver aquela dor estando sozinho. Já haviam se passado em torno de quatro meses desde que tudo começou e ele fez o trabalho de esconder muito bem, tudo a mando da mãe. Que punia-o  injustamente por toda a infelicidade presente no casamento. As memórias de como ela o fazia, de como ela o machucava, chegaram à mente do pequeno sem aviso prévio, intrusivas, incômodas. Fez uma cara feia de imediato. 

"O que foi, filho? O suco está amargo? ". O pai perguntou, bebericando um pouco da bebida de laranja. O pequeno negou com a cabeça, mas Sasuke já imaginava o motivo de tão repentino semblante, ele sabia que o filho ainda estava sendo assombrado pelas inúmeras lembranças de tudo que lhe aconteceu. "Mais tarde, o papai terá de subir lá para o quarto em que a Sakura está. Eu preciso que você vá comigo, tudo bem?". 

"Tudo. Aconteceu algo, papai?" Perguntou verdadeiramente preocupado. 

"Não se preocupe, ela está bem. Só quero que você fique por perto hoje..."  Deu mais um gole no seu suco. "Ela é uma médica, assim como o papai, filho. Uma das melhoras que já conheci. Gostaria que você passasse um tempo com ela, tudo bem?" 

    Os olhos do menininho se iluminaram e ele fez que sim com a cabeça, sorrindo levemente.

"Agora termine seu café, certo? Logo mais venho para te buscar. " Sasuke se levantou da mesa da cozinha, colocando tudo usado por ele na pia do cômodo. Voltou para o seu filho e de um rápido beijo em seus cabelos, bagunçando-os em seguida.

"Você é muito forte, Daisuke Uchiha."

   O moreno subiu até o andar de cima e foi em direção ao quarto de sua paciente, onde Tsunade já se encontrava prontamente sentada ao seu lado. Adorava vê-las juntas,  conversando, interagindo. Nunca poderia ser grato o suficiente pelo que Tsunade fez por ele e por sua família, principalmente por sua mãe. E apenas por a ver assim, tão íntima com outra mulher de tanta importância na sua vida, fazia o seu coração aquecer.

       A loira acenou com a cabeça, cumprimentando-o, já Sakura apenas se endireitou um pouco na cama e olhou para baixo, ligeiramente envergonhada. Memórias da noite passada a invadiram e, por um maravilhoso momento, foi capaz de deixar de lado a culpa que estava a dominando. O moreno entrou de uma vez no quarto e foi em direção à sua paciente.

"Oi..." Disse delicadamente, retirando uma mecha do cabelo da rosada que estava incomodando sua visão. Ela sorriu e tratou de respondê-lo.

"Oi."  Atentamente, ela passou a observá-lo.  Seu rosto bem desenhado, as linhas firmes e bem-feitas, bem como o contraste de seus fios negros em sua pele branca. Queria beijá-lo mais uma vez, senti-lo livremente, mas teve de se conter, por mais que ambos estivessem ignorando totalmente terceira presença no quarto. 

    Tsunade apenas sorria por trás do livro que fingia ler, satisfeita com a aproximação dos dois. 

"Qual será a programação para hoje, Tsunade?" Mesmo que um pouco surpresa com a súbita pergunta, a loira se endireitou e logo respondeu.

"Bem, daqui há duas horas o psiquiatra chegará para mais uma consulta. O senhor deverá sair em mais um compromisso com seu advogado para discutir sobre aquele determinado assunto e eu ficarei com os dois pequenos da casa". Sakura sorriu um pouco com a ironia na fala da mais velha, enquanto Sasuke afirmava com a cabeça.

"Vamos incluir algo mais nisso tudo. Vou sair para jantar mais tarde. " Tsunade olhou para o moreno confusa, bem como Sakura, que o fitou da mesma maneira. "Fiz uma reserva a dois em um dos restaurantes da cidade. Às 22h00. Você pode ficar com Daisuke até que eu chegue?" 

"Sem problemas..." Tsunade o olhou com mais firmeza, respondendo-o do mesmo modo. Por algum motivo absurdo, passou em sua cabeça que Sasuke estaria indo em um jantar com alguma outra pretendente, tão fútil e gananciosa quanto sua esposa era, mas logo viu que estava equivocada. Sakura se encolheu um pouco, segurando ambas as mãos em seu pequeno corpo

       O moreno se pôs a falar novamente, percebendo os semblantes que se formavam a sua frente. 

"Ah, só mais uma coisa. Ajude Sakura a escolher um vestido para hoje à noite, por favor. Pedi ao novo motorista trazer algumas opções. Todas elas já estão em seu armário". Sakura o olhou perplexa, fitando Tsunade em seguida e depois voltando para o olhar amistoso de Sasuke, como se não estivesse acreditando no que acabara de ouvir. 

   Tsunade apenas sorriu e respondeu firmemente:

"Sim, senhor. "

 

 

[...]

 


           As duas horas seguintes que se passaram foram marcadas por uma longa conversa entre o Uchiha mais novo e a rosada, além de alguns exames que ela foi permitida fazer, estando a sós com o menino. Eles tiveram chance de conversar bastante sobre tudo aquilo que havia acontecido e toda a conversa havia sido gravada, com a permissão do pai do pequeno e do próprio Daisuke, que se mostrou extremamente sincero e maduro para sua idade.
A rosada descobriu muito sobre o que havia acontecido ao menor, desde o momento do primeiro incidente até o último. Muitas vezes, teve que se segurar para permanecer firme e companheira ao menino, caso contrário, o emocional tomaria conta dela ali mesmo.

          Assim que o pequeno dormiu, afirmando estar cansado após a bateria de exames, ela não se conteve. Sasuke já havia saído de casa e Tsunade se encontrava no andar de baixo. Ela retirou seu jaleco, seu estetoscópio e caiu na cama, acabada. Observou o pequeno corpo que deitava ao seu lado, exausto, e suspirou penosamente.  Levantou-se, foi até à sacada e chorou baixinho para que ninguém pudesse a ouvir, contra o mármore frio que pressionava seus braços agora desnudos.  Não fazia ideia de por quanto ficara ali, deixando com que suas lágrimas tomassem conta de si e observando ao fundo o dia nublado que aquele estava para se tornar. 

   Os minutos, horas, não sabia dizer, haviam passado. E logo uma nova figura apareceu.

"Bom dia." Falou o jovem psiquiatra assim que entrou no quarto, com seu disfarce de 'bonzinho' já colocado. Sakura se assustou um pouco com a voz, pois esquecera completamente do médico naquele dia, mas permaneceu na mesma posição, enxugando um pouco das lágrimas e se recompondo. Saiu da  sacada, respirou fundo e voltou mais uma vez no quarto. 

"Bom dia, Sai." Disse a rosada alguns segundos depois, com um tom ensaiado. 

   Olhou de relance pra Daisuke. O pequeno dormia tranquilamente, enrolado em uma manta azul marinho, ao mesmo tempo que agarrava o seu dinossauro verde, seu companheiro. Passou a mão delicadamente pelos cabelos negros do menino, pensando o quão novo ele era e pelo quanto que ele teve de passar. Seus olhos voltaram a ficar marejados.

"Vejo que temos mais um convidado hoje". Sai sorriu maliciosamente sabendo que a paciente não estava a o observar e andou em direção a cama, deixando Sakura e ele lado a lado. "O pequeno Daisuke Uchiha".

"Você o conhece? ". Virou sua cabeça, encarando agora o pálido moreno ao seu lado. 

          Sai notou de imediato o quanto que o garotinho a afetava e isso o fez ter um plano, esse que só iria ser colocado a prova no dia seguinte, na última consulta dos dois. Plano esse que se basearia apenas em chantagem e persuasão, mas que iria ser prazeroso para o moreno. Plano esse que acabaria com a estadia da rosada na mansão na mesma semana.

"O conheço, sim. A família Uchiha é bem famosa na capital, Sakura."

"Capital? ". Sakura o olhou de modo confuso, dando a ele ainda mais tempo para analisar o semblante choroso da rosada.

"Sim, isso mesmo. Mas não importa, Sakura. O que eu quero saber é o porquê de você estar assim..." Virou-se, ficando frente a frente com a paciente. "Você é linda, por dentro e por fora, sabe disso." Passou as mãos arriscadamente pelos braços nus da rosada e a envolveu em um abraço, que foi recebido por ela sem resistência. Eles eram amigos, certo?

"Obrigada, mas não precisa se preocupar com isso, Sai-kun, é coisa minha". Respondeu abafadamente, enquanto sentia o calor do corpo que a envolvia a irradiando e aquecendo-a. 

"Eu me preocupo, Sakura". Sua voz saiu mais rouca que o normal e nem um pouco hesitante. Passou as mãos que antes estavam na cintura da moça para um pouco mais abaixo, segurando-a firmemente em seu quadril. Aproximou sua boca do ouvindo esquerdo da rosada, que já não estava achando aquilo um ato tão amigável assim. Ela tentou se esgueirar, mas ele a segurou ainda mais forte, descendo suas mãos por mais alguns centímetros. "Mas, eu sempre posso te ajudar a resolver isso. "

"Sai-kun, não..." Foi o suficiente para que ele agisse. Apertou-a forte contra seu corpo, direcionando seus lábios a curvatura do pescoço da médica. Nesse momento, ela sentiu vontade de gritar, espernear, mas apenas proferiu: "Por favor, não".

     E ele a largou quase que abruptamente, passando as mãos nervosamente por seus cabelos. Sai tinha de se segurar, não era hora para aquilo. Ele devia manter o seu disfarce e ter seu controle em mãos.

"Desculpe-me, Sakura". Falou, com um tom arrependido na voz. Estava extremamente frustrado por dentro.  A rosada agora se encontrava com os braços ao redor do corpo, com o semblante ainda triste em seu rosto. "Vamos iniciar a consulta, sim? " A questão era como prosseguir após o que havia acontecido.

Porém, a rosada apenas assentiu e retornou ao seu lugar, sentando-se desconfortavelmente na cadeira que havia lhe sido disposta. 

     Nos primeiros minutos, as questões de rotina se repetiram. O psiquiatra perguntou o que a jovem planejava fazer em seu dia, que não comentou em nenhum momento sobre o jantar mais tarde e  permanecia respondendo-o com frases curtas. Perguntou também sobre sua alimentação, o que a fez ficar levemente inquieta, mas contornou, como já havia feito várias vezes. Até que em um determinado momento,  Sasuke e aquele incidente que aconteceu há anos atrás foi citado. Sasuke nunca havia sido mencionado em nenhuma consulta até o momento. Isso a deixava extremamente nervosa.

 "O que você pensou naquele dia? Em quem pensou?"

"Eu não sei.." Murmurou. " Podemos falar sobre outra coisa?  Foi há tanto tempo, eu... Faz parte do meu passado. Eu realmente gostaria de esquecer."

"Sakura, é importante que discutamos esse tipo de coisa. Foi uma tentativa, preciso ter a certeza que não acontecerá novamente. Que você se encontre estável." Explicou Sai com uma expressão enigmática no rosto. Largou a caneta, o bloco, deixando por cima de sua pasta. Seu semblante mudou. 

"Não acontecerá.. Eu.. Eu estou melhor, você sabe disso.". 

"Eu estive falando com você há dias agora, acompanhando o seu progresso em relação à alimentação, peso. Você ainda apresenta, sim, sintomas depressivos. Além do mais, não está recuperada totalmente de seu transtorno, seu peso está apenas começando a entrar na faixa adequada". 

"Sai, eu sou uma médica..". 

"A mais imprudente que já conheci." Disse grosseiramente, ainda com o semblante instável no rosto. A paciente se revirou no lugar.  "Sakura, você e Sasuke estavam em um relacionamento na época que aconteceu, certo?"  Ela engoliu seco e assentiu. 

"Sim, estávamos.." 

"Você parou para pensar, em algum momento, que Sasuke guarda ressentimentos pelo que você fez? Pela memória que trouxe a ele ao retornar e instalar-se em sua casa dessa forma.  Pois, é óbvio que há muitos detalhes que não sei, mas tenho certeza absoluta que ele não ficou nada bem após o que aconteceu". 

      Dúvidas chegaram em sua mente sem qualquer aviso, fazendo com que o descontrole viesse unido. Passou bons segundos sem trocar absolutamente nenhuma palavra com o médico, de cabeça baixa. Já o moreno, sorria maliciosamente com o impacto gigantesco da conversa com a paciente. Em pouco tempo, voltou a falar. 

 "Logo, você irá pra casa. Como vai ser? Já parou para pensar nisso?"

"N-Não.."

"Você o abandonou uma vez. E, pense comigo, irá acontecer novamente. Como acha que ele irá reagir? "   A rosada mexia inquietamente em suas unhas, observando-as de perto, sem sequer levantar seu olhar. Eu o abandonei? Eu o fiz.. Ele pensou que eu estava morta.

"Bem, de qualquer forma, ele praticamente lhe arrastou pra cá. Aposto que nem perguntou se realmente gostaria de estar aqui, ao lado dele mais uma vez. Perguntou, Sakura?" 

"Isso não..!" 

"Você não está estável, muito menos respondendo corretamente ao tratamento. Terei de lhe receitar um determinado medicamento, já estava com isso em mente, mas agora tive a certeza.  Amanhã será nossa última consulta, após isso, só iremos nos encontrar daqui há 60 dias. Ou antes, com sorte". Virou-se e passou a vasculhar sua pasta. Retirou de lá um pequeno frasco, com alguns comprimidos cilíndricos e vibrantes. "Tome todas às manhãs, sem exceção, começando pelo dia de hoje." 

"Qual é a composição? A classe? Parece um inibidor.. " 

"Sakura, não se atenha a isso, certo? Eu sei o que estou fazendo. Apenas tome, terá alguns efeitos colaterais, incluindo a diminuição considerável do apetite. Balanceie com sua alimentação e dará tudo certo. É escolha unicamente sua contar ao Uchiha em relação à medicação, afinal, você já é uma adulta. Já deveria saber cuidar de si própria".  Seus olhos vidraram em um único ponto assim que ouviu o principal efeito colateral da medicação. Engoliu seco mais uma vez, e envolveu seus braços ao redor do corpo, como se sentisse um frio repentino tomando conta de si.

     Sai sorria por dentro, pois sabia que havia atingido seu ponto fraco. Seu transtorno não havia ido por completo, era necessário apenas um pequeno toque para que Sakura ficasse sem qualquer escolha e que sucumbisse novamente para esse caminho que lhe causada tanto sofrimento.

     A rosada respirou fundo e voltou a encarar Sai, repleta de dúvidas na cabeça e com ae estranha  necessidade de ter aquela medicação em mãos de imediato. Assentiu. 

"Certo." 


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