Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 67
Capítulo Vinte e quatro - Flor de Lis


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Primeiramente, fora temer.
Segundamente, como prometido, segue o capítulo quentinho que acabou de ser postado no Amor Doce. Espero que tenham gostado dessa novidade, com a congruência dos capítulos, quem prefere ler por aqui pode acompanhar juntamente com o andar da fic. Estamos em final de temporada e esse é o Capítulo Vinte e Cinco de acordo com a ordem correta. Mais cinco capítulos e será fim de temporada!
Espero que gostem, o desenrolar desse capítulo foi bem rápido e esse era o objetivo, para que pudessem ter a noção de um tempo passando rapidamente, como nossos dias. Espero que gostem e boa leitura!



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Inexplicável é olhar-te
        E admirar teus lábios suplicantes
        Inexplicável é não poder explicar-te
        Nem por meias palavras
        Ou meios desejos
        Inexplicável não é você não ter meios
        Mas ser inteira
        Intensa da cabeça aos pés
        Inexplicável é ver-te com os olhos
        E lembrar-te com o coração[/center]

 

— Eu não sei, Rosa...
Natsumin tinha os olhos azuis apertados, a mão no peito provava o que todos já sabiam: Não tinha ideia de quem tivera escrito aquela carta. Havia quatro pares de olhos suplicantes, vendo nela a esperança que acabara de entrar pela porta, mas que logo voltou pra caixa de Pandora.
— Eu ainda acho que foi o Ian. — Alexy era o primeiro dos pares de olhos na lista. — ele ficou caidinho por ela desde de que a Ayuminn entrou na escola. Acreditem em mim, eu sei o que eles falam no banheiro enquanto me escondo no box.
— Pra olhá-los pelados, seu safado? — Tsubaki era o segundo par de olhos esperançosos e deu uma cotovelada no garoto no meio daquele porão empoeirado composto de de caixas velhas, uma única lâmpada amarelada iluminando e das memórias condensadas de Natsumin na primeira noite em que verdadeiramente conheceu Castiel.
— Por que não? Não foi você que me pediu fotos do Nathaniel de toalha?
Os outros três pares presentes voltaram-se aos dois.
Tsubaki ruborizou de imediato. Ia matar esse garoto, ah se ia!
— Gente, o foco agora é a Ayuminn. — Rosa posicionou-se ao lado de Natsumin, apertando os olhos para as letras, assim como ela. — Depois a gente conversa sobre isso, Tsubaki. — deu uma piscadela para a garota, que logo depois olhou para Alexy com uma cara de poucos amigos e o rapaz retribuiu com um sorriso amarelo de menino que sabe que fez besteira.
— Eu ainda acho impossível ser ele, Rosa. — a dona da carta manifestou-se com os olhos bicolores tristes e cansados.
— Por que não? — Rosa pegou a carta da mão de Natsumin que concordava de alguma forma que ela não estava tão errada. — O Lysandre te olha, Ayuminn. Só você que não percebe.
— O Lysandre olha alguém? — Tsubaki não perdeu a piada. — Tá, foi mal. — desculpou-se depois de perceber o olhar mal encarado de Rosa, Ayuminn e Natsumin. Alexy prendia o riso. — É que ele é um pouco antissocial, sabe?
— O lys-fofo é tímido, só isso. — Rosa balançou a carta, pedindo novamente para não perderem o foco. — Olhem isso... — ela retirou um pequeno broche de ferro de uns cinco centímetros de altura.
— Nem tudo que tem flor de lis quer dizer que é o Lysandre. — Alexy cruzou os braços.
— Acho que faz sentido sim. — Natsumin pegou o brochezinho e olhou mais de perto. Era lindo. Uma flor de lis bem esculpida, pintada de dourado. Todo aquele cuidado não corresponderia ao irmão mais velho de Iris. Não mesmo. — É mais provável ser o Lysandre pelo cuidado, mas... essa letra é dele? — virou-se para Rosa.
— Não... — a menina crispou os lábios enquanto mantinha os olhos apertados.
— Assim fica difícil. — Natsumin entortou os lábios.
— Só pode ser o Ian, gente. — Alexy balançou os ombros. — Nem a Ayuminn sabe se o Lysandre olha para ela.
— É, a gente não pode se precipitar. — Tsubaki lembrou-se do beijo com Nathaniel na academia de luta. Algo que tinha tudo pra ser perfeito, mas que não passou de uma situação constrangedora que os dois hoje fingem que esqueceram. — Ainda mais tratando-se dele, né?
— Qual o preconceito com o Lysandre, Tsubaki? — Natsumin brincou, enquanto cruzava os braços e sorria.
— Não é nada, acho ele muito bonito e até mais maduro do que os outros daqui do colégio, mas... Ele não fala. Ele não sorri. Ele vive sozinho e esquecendo as coisas... Esse cara não é normal.
— Ele fala comigo. — Ayuminn se pronunciou, depois de longos minutos de silêncio.
Todos voltaram os olhos para ela, a luz refletindo em seus cabelos prateados. Tsubaki tinha o olhar mais abismado de todos. As órbitas amarelas estavam arregaladas.
— Ele... fala? — ela balançou a cabeça positivamente. — Jesus, nem sei como é a voz dele!
— Tsubaki! — Rosa bateu o pé.
— Imagina se tivesse preconceito. — Natsumin sorriu.
— Tá, eu confesso. — Tsubaki levantou os ombros. — Acho que tem uma chance de o seu admirador secreto ser ele.
Natsumin não notava, mas Rosa a olhava diferente. Sabia que havia algo diferente na menina e acreditava em sua aproximação com Castiel. Sabia que, de alguma maneira, Natsumin poderia descobrir a verdade por trás dessas cartas se quisesse.
— Acham que Castiel sabe? — Rosa voltou os olhos para Natsumin diretamente, dizendo através deles o que pensava. A menina não demorou para captar o código e em silêncio se comunicaram.
— É capaz. São melhores amigos os dois, não? — Tsubaki não escondia a opinião.
— E quem se candidataria a falar com ele? — Natsumin levantou uma sobrancelha, não gostando muito da sugestão de Rosa.
Os olhares voltaram-se para ela.
— Ah não. Não, não, não, não não. — Natsumin balançava a cabeça para os lados, negativamente.
— Ah, Natsumin, não custa nada. Depois que ele te carregou no colo, todo mundo sabia que você podia pedir qualquer coisa pra ele que ele atenderia.
Natsumin franziu o cenho. Tsubaki percebeu que falou demais e tapou a boca com as duas mãos, mas já era tarde demais.
Rosa a olhou com um olhar reprovador.
— Não vou ficar pedindo favores à Castiel, se é o que pensam. — Natsumin olhou a todos com reprovação, mas principalmente Rosa, temendo que ela tivesse contado tudo, depois saiu como um tufão por aquela porta.

***

Natsumin, como te disse antes, é capaz de esse tal de Viktor ser o assaltante na casa de seu amigo. Acabei de voltar da delegacia. Um dos presos indo a julgamento fugiu. Era o que estava armado. 


Já era final de tarde e Natsumin ainda se encontrava em Sweet Amoris. A escola estava mobilizada, com os preparativos para o grande baile e depois do estresse mais cedo com os amigos, ela preferiu passar o restante do dia sozinha. De alguma forma sabia que fizera errado ao sair sozinha e não querer conversar com ninguém e ainda se escondera no jardim. Mas naquele momento, todas as suas preocupações pareceram desimportantes e a sensação de que algo pior estava por vir cresceu em seu peito. Seu coração palpitou naquele momento. Não, não não. Odiava sentir isso. O homem fugira. O homem que a olhou nos olhos. Ela levantou-se e so pensava em ir para casa. Que se dane o baile, os preparativos, que se dane Castiel. Ela não o convidaria para ser seu par de qualquer maneira.
— Natsumin! Então você estava aí, né? Eu, Tsubaki, Ay e Alexy estávamos loucos à sua procura.
A menina virou o rosto pálido para trás, as mãos estavam frias. A aula de tarde do Faraize fora cancelada para a reunião da comissão do baile, então tudo o que ela queria era ir para casa e ligar para Viktor para que pudesse resolver esse assunto, desmascarar logo o falso Viktor e livrar-se da tensão que a perturbava desde o assalto na casa de Lysandre.
— Natsumin! Está tudo bem?
Rosa repetiu, parando há alguns passos dela. A menina suspirou, de costas para a amiga, os cabelos negros presos num rabo de cavalo alto, o peito subindo e descendo vagarosamente. Precisava controlar a rebelde em sua memória e seu coração e o medo sob a pele. Além de toda a história de Viktor, precisava esquecer Castiel, mas nada nem ninguém a ajudava, parecia que o universo conspirava a favor dele e ela não queria isso. Não podia ficar com Castiel, não conseguia se sentir últil na investigação cotnra Viktor e não podia confessar que estava apaixonada pelo ruivo! Depois do dia do assalto, havia feito à Rosa uma promessa que não podia cumprir e não gostara nem um pouco de vê-la tirando vantagem dessa situação para persuadi-la.
Ainda assim, acalmou-se e virou-se.
— Está tudo bem, eu só não...
— Se não quiser falar não precisa, você sabe. — Rosa pôs a mão sobre sue ombro e sorriu. — Mas estou aqui.
— Rosa, eu sei muito bem o que quis dizer, mas não vou fazer nada que tenha a ver com... — ela olhou de um lado para o outro nos corredores. Estavam vazios. — Ele. — completou-se sem pronunciar o nome de Castiel e ignorou a situação com Viktor. Não poderia incluir Rosa nesse história e em Sweet Amoris as paredes ouviam.
— Nats, olha, me desculpe. Eu sei que exagerei um pouco, mas você lembra o que me falou no dia do assalto, não lembra?
— Sim.. — ela evitava olhar nos olhos da amiga.
— Você não está chateada com Tsubaki, está? — Rosa levantou o queixo da menina para olhá-la nos olhos.
— Não. — ela balançou a cabeça.
— Está chateada comigo? —Rosa levantou as sobrancelhas.
— Irritada, para ser mais sincera. — a menina sorriu.
— Oh, desculpe. — Rosa curvou os lábios.
— Tudo bem, já passou. — Natsumin sorriu.
— Vou te ajudar no vestido para a formatura como recompensa. — Rosa sorriu de volta. — Ele — ela fez menção ao ruivo enquanto dava um sorriso travesso. — vai ficar caidinho!
— Rosa, eu não quero que el...
— Ei, eu já falei para parar com isso!
Ambas direcionaram os rostos para o grito vindo do pátio. Era a voz de Alexy.

***
— Tsubaki, eu...
— Oi, Nath.
Nathaniel levantou os olhos, baixos na prancheta e observou a sala de provas. Havia combinado mais cedo de encontrar Tsubaki para que pudessem escrever seus nomes na lista que a diretora pediu para os casais. Ele nunca vira Sweet Amoris com tanto movimento como hoje. A comissão de formatura era formada por Rosalya, Alexy, Violette, Tsubaki, ele e Melody. Tsubaki ficara encarregada de organizar o buffet, pois segundo a mesma ela fazia uma comida incrível, enquanto que Violette ficou responsável pela decoração. Rosa também se candidatou à decoração e junto a Alexy, também se responsabilizou por organizar a música. Melody e ele ficaram responsável pelas papeladas e burocracias cabíveis à escola, estando ele responsável pela lista de participantes e de buffet, enquanto que Melody pela organização da papelada de decoração e atrações. Os dois estavam coordenando áreas diferentes e no momento Melody deveria estar fazendo o seu trabalho e não...
— Melody, o que que...
— Eu disse pra ela que não seria necessário encontrá-lo aqui. — Melody segurava outra prancheta nas mãos e estava sentada na mesa da sala de provas com as pernas cruzadas numa posição que favorecesse suas cochas à mostra.
— Por que você fez isso? — Nathaniel passou a mão pela franja que caía sobre a testa, tentando se acalmar.
— Eu achei que fosse o certo... — Melody tinha o cenho franzido e formava um biquinho nos lábios.
— Melody, você tem que parar de acabar com os meus compromissos... — Nathaniel a encarou com um olhar de reprovação.
— Mas Nath, ela é só uma novata, você mal a conhece...
— Melody, a questão não é essa, eu não tenho nada com Tsubaki.
— Mas...
— Mas também não tenho com você. — ele a encarou pela última vez, um olhar frio e duro, raro de se ver vindo do representante de turma. Em seguida, foi embora pela mesma porta que acabara de entrar.
Estatelada, ali Melody ficou. Vendo a paixão que nutriu desde nova esvair-se por aquela porta. Ela tentou controlar as emoções, mas um coração partido era difícil de controlar. Lágrimas duras demoraram, mas caíram pelos cantos de seus olhos azuis, enquanto ainda tinha em mente vaga lembrança de quando o conheceu e aprendeu mais sobre o colégio. Do quanto o admirou por sua responsabilidade, beleza e empenho e disponibilidade para ajudar os outros. Mas agora nada adiantava. Agora ele apenas se derretia pela primeira novata que aparecera de calcinha na sua sala. E todo o seu empenho e abnegação para conquista-lo só lhe deixaram claro que Nathaniel, talvez, não fosse tão diferente dos outros homens no mundo. E que sua mãe, afinal estava certa quanto aos homens, mas enganara-se ao lembra-la que Nathaniel era, afinal, diferente.
No fundo de seu coração ainda acreditava que sim. Até porque, ele mesmo disse que não tinha nada com a menina nova, Tsubaki. Mas ela não sabia até que ponto isso valia. Tudo o que sabia era que o adorava e isso era difícil de mudar. Quando as pessoas realmente se apaixonam, seus corações não mudam. Aceitam, mas não mudam.
Ela só queria aceitar que Nathaniel não era seu, mas que um dia, seria.

***

— Parar com o que, bixinha?
Viktor — o falso, ladrão de identidade —cercava Alexy junto a mais dois rapazes que a priori Natsumin e Rosa não souberam identificar. Eram altos e esquisitos como ele e pareciam mais velhos. Um deles era Brad, o careca mal encarado que vivia arrumando confusão com ele pelos corredores e, diferente do habitual, o outro não era Ian, o irmão de Iris. Era um cara ninguém nunca vira antes em Sweet Amoris. Branco, cabelos escuros e num moicano ridículo.
— Como assim bixinha? Vocês estão loucos?! — Alexy questionava, desviando os olhos e, diferente de seu caráter alegre e juvenil, ele tinha os olhos vermelhos. Estavam os três próximos ao vestiário e os dois covardes cercavam Alexy contra a parede.
— Vai dizer que você não gosta daqueles tipinhos mais másculos? — o cara nojento de moicano dizia com um sorriso maléfico no rosto.
— Eu não sei de onde vocês tiraram isso. — Alexy confrontou com os olhos sérios.
Natsumin e Rosa aproximavam-se mais e mais a passos ligeiros, Natsumin na frente, desesperada com o que poderia acontecer, Rosa tentando correr, mesmo sabendo que não estava nem um pouco acostumada a tal.
— Não minta, moleque. — o Viktor nojento e hipócrita pressionou Alexy contra a parede, apertando o rosto do rapaz com sua mão grande e áspera o polegar e o indicador machucando a pele do rapaz e apertando contra seus dentes. — Tuas roupas ridículas já te entregam.
— Qual o problema com as minhas roupas? — Alexy não se deixava abater em momento algum e segurava o nó que tinha na garganta com valentia.
Os três começaram a rir, debochando. As risadas ecoavam num som grave e que fazia o rapaz tremer de medo. Mas Alexy não se deixaria abater, não podia deixar-se ser levado por esse tipo de estupidez, vinda de caras igualmente estúpidos. Ele precisava se defender. Droga, onde estava Armin? Onde estavam os outros garotos de Sweet Amoris? Sua garganta em silêncio gritava socorro enquanto a armadura o mantinha firme. Mas por quanto tempo? Como aguentaria essa dor sem explicação. A dor do preconceito e da ignorância, dores que continuam prevalecendo na sociedade, vinda de pessoas tão vulgares e desumanas. Como poderia aguentar? O que mais poderia fazer?
— Você vai continuar negando? — Brad foi quem tomou a vez para a ironia. Vitkor voltou a apertar o rosto do rapaz mais forte.
— Parem com isso ou eu chamo a diretora! — Alexy manteve-se firme, os olhos cor de Rosa nos de Viktor, escuros como sua maldade.
— Deixem-no em paz!
Natsumin finalmente chegou, tirando as mãos asquerosas de Viktor da face do rapaz e pondo-se à frente dele.
Viktor ficou ali, olhando a menina com a mão sob o queixo e um sorriso hediondo nos lábios finos. Os três rapazes estavam sem camisa, portando apenas a calça de educação física e tentaram intimidá-la com o físico que para ela ao menos importava, além de não ser nada interessante. Só o peito peludo de Viktor já lhe dava náuseas.
— E o que você vai fazer? — Natsumin sentiu um arrepio percorrer sua espinha com a pergunta dele. Era ele, sem dúvidas. Os mesmos olhos que a encararam sob a máscara preta no dia do assalto. A mesma voz gutural e nauseante.
— A pergunta é o que vocês vão fazer.
Alexy, Natsumin e Rosa sentiram-se aliviados com a voz masculina que acabara de chegar.
***

Ofereço-lhe Flor de Lis
        Símbolo de tua soberania
        Honra e Lealdade
        Para que um homem que sempre quis
        Descobrir-te em sua totalidade
        Possa atribuir-lhe a vontade
        De quem um dia te quis.

Ayuminn dobrou a segunda carta e guardou o segundo pingente, também formando uma flor de lis. Lis, Lys, Lysandre. Seu coração queria que fosse ele o dono daquelas cartas, mas algo a dizia que não, não era. Lysandre era tímido demais para isso e ela já estava há três meses na casa dele e ele sequer a olhava de forma diferente da de uma colega comum. Ela só tinha a lembrança do beijo que deu nele na praia, um gesto imbecil por ele tê-la ajudado a se livrar de seu irmão mais velho. Imbecil porque não tinha motivo nenhum, sem ser o de ela tê-lo achado lindo e ter tido vontade na hora de agradecê-lo e que, quem diria como era o destino, agora poderia estar sendo um impecilho. Talvez Lysandre pense que ela é uma menina vulgar e irresponsável, como pareceu naquele dia. E ela só não conseguia tirá-lo de sua cabeça.
— Ayuminn?
Ela virou-se para trás rapidamente.
— Ah, Ian. — ela pôs a carta, que agora carinhosamente chamava de flor de lis, no bolso antes de se virar para ele.
— Esperava outra pessoa? — ele sorriu. O rapaz tinha mesmo um belo sorriso. Vestia uma camisa verde e calças jeans e naquele cabelo ruivo e natural parecia tão despojado. Olhando-o mais de perto, ainda havia sardas em sue rosto doce.
— Não... — ela balançou a cabela para os lados e terminou de trancar o seu armário. O dono das cartas de flor de lis tinha o costume de meticulosamente enfiar a carta pelas grades do seu armário escolar. Ian tinha os dedos grossos, não teria delicadeza suficiente para colocá-la ali.
— Acho melhor eu ser rápido e sucinto porque se você me derum fora, acho que vai doer menos. — ele sorriu novamente e se aproximou. — Ayuminn... — ele pegou a mão pálida e frívola da garota e acariciou com o polegar. — Você é a garota mais linda de Sweet Amoris. Eu sei que faz poucos meses que entrou, mas.. — ele sorriu nervoso. — Eu acho que seria legal se você quisesse ir ao baile comigo.
— Obrigada, Ian. — ela sorriu de volta para ele sem mostrar os dentes.
— Mas você não vai querer, não é? — ele levantou as sobrancelhas, mas pareceu compreensivo.
— Não é isso. — ela pôs a mão sobre a dele. Não queria decepcioná-lo, ele sempre lhe foi tão doce. — Eu só não vou aceitar agora porque há alguém que...
— Tudo bem, Ayuminn. — ele pegou a mão dela que estava sobre a sua. — Pensei bem, tá bem? — repentinamente o rapaz tomou o rosto dela com a mão e tocou os lábios nos dela. — Esperarei sua resposta. — ele deu de ombros e foi embora.
Ayuminn ficou ali, sem reação por alguns segundos. Os olhos bicolores estava arregalados, os cabelos prateados presos num coque alto e desengonçado. Ela respirou fundo e virou-se para caminhar para o lado oposto, até que notou algo no chão.
O bloco de notas de Lysandre.

***

— Deixem meus amigos em paz. — Kentin usava a regata preta habitual, calças jeans e coturnos. Os olhos verdes eram sérios e decididos.
— Hmmm se não é o namorado dele. — Brad provocou, provavelmente por saber como Kentin, Alexy e Armin andavam juntos e eram muito amigos.
— Algum problema com isso? — Kentin pôs as mãos nos bolsos e se aproximou. — Até onde eu sei cada um sabe o que faz com a própria vida.
— E quem é você, por um acaso? — Viktor o encarou com desgosto. Era óbvio que sabia quem ele era, só queria desdenhar.
— O que interessa é que a gente vai embora daqui. — Kentin já tinha o tom de voz mais alto, o rapaz ainda tinha problemas para se controlar.
— E vocês não vão fazer nada. — Natsumin completou com a voz baixa, mas firme. Rosa chegou naquele momento, atrasada e os três rapazes olharam de imediato a menina com olhares maldosos.
Vitkor sorriu com a resposta da menina. Os outros dois chegaram a dar um passo para frente, tentando ameaçar Kentin, como se fossem reagir ou algo do tipo, mas Viktor os impediu.
"Ele não irá fazer nada", Natsumin pensou. "Recém fugido, não dará mais um passo que o poderia levar à prisão". Apesar da certeza que a rebelde em seu interior, armada com a coragem a ajudava a ter, ainda existia o medo. Mas ela conseguiu se impôr e nada mais disse, apenas pegou Alexy e junto à Kentin e Rosa foram para fora do ginásio, em direção ao jardim.
— Alexy... — Rosa de imediato falou, pedindo, sem palavras, que ele explicasse o que acontecera há pouco.
— Ignorância não tem explicação, Rosa. — Kentin a respondeu com o olhar ainda muito sério.
Natsumin tinha os olhos nele. Kentin sempre fora um rapaz doce e humano. Ela o admirava por isso.
— Só falaram coisas ruins. — Alexy tinha a voz baixa e, muito diferente do habitual, o rosto triste.
— Como o que? — Natsumin ainda tinha o olhar sério e esquecera o medo para substituí-lo pelo ódio.
— Nats, não faça mais isso. — Alexy a olhou, sério, as meninas o haviam posicionado sentado no gramado bem cuidado do jardim, os quatro próximos à redoma das orquídeas, um dos locais mais vazios dali, onde de vez em quando apareciam casais descompensados e por onde Natsumin passara com Castiel esses dias.
— Não ia te deixar ali. — a menina balançou a cabela e, ajoelhada à sua frente, apertou sua mão.
— Obrigado, Nats. — ele abriu um sorriso pequeno, mais ainda triste. — E nem acreditei quando vi Rosa correndo!
— Ela não falou muita coisa até agora porque ainda está sem fôlego. — Natsumin sorriu de volta, embora a preocupação ainda fosse aparente em seu rosto.
— É... — Alexy abaixou a cabeça. — Obrigado também, Kentão — ele abrou um sorriso largo, mas Kentin manteve-se sério, ainda indignado com a situação.
— Alexy, tem algo que você precisa contar, não é? — Rosa, como boa leitora de pessoas, fez com o que o menino levantasse a cabeça e se atentasse ao seu rosto. Natsumin não compreendera muito bem, não sabia como ler as pessoas e estava tão cercada por problemas, que à ela, muito passava despercebido.
— Sim... —Alexy ajeitou-se na grama para que pudesse se levantar. Natsumin o ajudou e levantou-se também.
— O que você precisa falar? — Natsumin olhou para ele, em seguida para Rosa e Kentin. Rosa era boa leitora de pessoas, então estava calma. Kentin parecia confuso.
— Eu sou gay, gente. — o rapaz a olhou, depois Kentin e Rosa, esperando resposta.
— E qual o problema? — Natsumin franziu o cenho, tentanto entender a situação.
Nesse momento, Alexy a abraçou com força, o sorriso crescendo em seus lábios rapidamente e ele balançando-a para os lados.
— Eu já disse que te amo, Natsumin?
Rosa sorriu. Kentin também, enquanto tentava entender como Alexy conseguia rir da situação, depois de ter passado pelo que passou.
— Mas eu não entendi o problema mesmo. — Natsumin soltou um sorriso sem querer.
— O problema é que muito gente vê isso como problema. — Rosa finalmente falou algo mais a fundo. — E acho que aqueles mal educados lá de fora entenderam isso perfeitamente e quiseram se aproveitar do Alexy.
— O problema mesmo é que eles são uns idiotas. — Kentin se manifestou por fim, ganhando um sorriso orgulhoso de Alexy. — E que ainda há muita gente assim por aí.
— Eu não sei o que poderia ter acontecido, gente. Vocês me salvaram. — o rapaz sorriu para os três amigos.
— Acho que o único problema é que as pessoas ainda são muito ignorantes, verdadeiros monstros. — a menina segurou as mãos de Alexy. — Não é um problema você gostar de homens, Alexy, eu também gosto e somos todos humanos, não?
— O problema seria se você gostasse de mulheres. Aí não seria você. — Rosa sorriu também.
— É verdade. — Alexy envolveu as duas num abraço longo. Lágrimas quentes desciam por seu rosto, mas apesar de toda a situação, não eram lágrimas tristes, eram de felicidade.
— Felizmente você tem a gente, Alexy. — Kentin tocou o ombro dele e afagou ligeiramente. — E se depender de mim, ninguém nunca vai te machucar.
— Calma, Kentinho, que você ainda não é militar o suficiente para acabar com aqueles três lá não. — Alexy brincou e os quatro sorriram.
— Kentin? — Alexy virou o rosot para o rapaz, um pouco mais sério dessa vez. Lembrou-se da promessa que fez à Tsubaki e achou que, depois de hoje, afinal, realmente há males que vem para o bem e ele tomaria coragem para, finalmente, convidar Kentin para o baile. Como amigos, é claro. Ele respeitava Kentin com todo o seu coração.
Kentin abaixou o rosto para o rapaz. — Pode falar.
— Queria falar a sós com você. — ele voltou o rosto para as meninas. — Não me levem à mal, foi uma aposta que fiz.
Rosa e Natsumin sorriram e se distanciaram. Sweet Amoris estava um grande alvoroço e elas tinham que fazer sua parte da organização antes que a diretora as enviassem à guilhotina.

***
A noite chegou rapidamente, mas, diferente do habitual, àquele horário Sweet Amoris estava completamente acesa. Tsubaki não teve muito tempo para encontrar Natsumin após toda aquela confusão, mas conhecia a menina o suficiente para saber que ela não guardaria rancor. Estava cansada e suas pernas doíam de tanto correr para cima e para baixo atrás dos alunos da lista fornecida pelo diretora e que, a propósito Nathaniel tinha de ter lhe dado, mas por algum motivo ele não estava no local que combinaram e ela teve de se virar sozinha para conseguir recolher o dinheiro para o buffet.
Não estava chateada com Nathaniel. Só um pouco decepcionada. É claro que depois do convite louco que ela fez à ele, Nathaniel não ficaria cheio de amores. Pelo contrário, ficaria como está agora: Esquisito.
No fundo, ela sentia que podia ser diferente. Não que ela estivesse desesperada ou algo do tipo, ela só... Se interessava por Nathaniel. Se interessava o bastante para querer trocar saliva, é claro. Ops, que indelicada.
Às vezes ela até queria ser como a Melody. Mais delicada e sutil. Mas ela não podia, não conseguia. Era um ogrinho desajeitado que soltava palavrão, comia pra caramba e era magra de ruim, rebelde como os cachos do cabelo. Ela não gostava de disfarçar quem era. Nem conseguiria.
Terminado de recolher o dinheiro, ela só precisava ir para casa. Essa sexta-feira havia a cansado pelo semana inteira e tudo o que queria era dormir. Amanhã seria um novo dia e ela precisava ir ao mercado comprar os materiais para o buffet. Passou a mão pelo pescoço, no jardim havia duas silhuetas que pareciam se beijar. À noite o jardim era bem escuro. Ela apertou os olhos, a curiosidade gritava.
Era o tal do ruivo, Castiel. Estava com a garota sem noção. Como era mesmo o nome? Debrah.
***

Ayuminn tinha as mãos trêmulas e frias.
Ao chegar à casa, não encontrara Lysandre de pronto, mas estava decidida e entregá-lo o bloco. Ela não o leu, embora quisesse e muito para descobrir se, afinal seria ele o autor da flor de lis ou não. Rosa ainda estava em Sweet Amoris, organizando as decorações para o baile e pelo andar das coisas por lá ia demorar, já Leigh optara por ficar na loja até mais tarde e depois buscá-la no colégio. Ela encontrou mais duas das ajudantes da casa. Belinda estava terminando de limpar o banheiro de baixo e Sandra de fazer a janta. Na casa dos Chermont - a família de Lysandre - todos sempre comiam tarde. Ela aproximou-se da cozinha, perguntou à Sandra se precisava de ajuda e à Belinda se ainda precisava de mais lugares para limpar. Belinda, que tinha olhos amendoados e doces e o cabelo castanho preso num coque, os rosto jovem em seus quarenta anos, disse-lhe que eram melhor ela descansar. Ayuminn havia limpado quase toda a casa essa semana e poupado muito trabalho delas. Por enquanto já era suficiente.
Então surgiu Hanna. Hanna era a mais jovem, na proximidade dos trinta anos e não ia muito com a cara de Ayuminn desde que ela começara a trabalhar ali. Segundo Belinda, era porque a menina era amiga de Rosa e, por causa disso, tinha algumas "vantagens". Belinda, sempre gentil, sabia que as vantagens existiam porque eram amigas de colégio e nem eram tantas, até porque Ayuminn fazia a sua parte no trabalho e não deixava a desejar.
— Você podia ver se o patrão precisa de algo. — Hanna sugeriu porque não gostava de ver Ayuminn com tempo ocioso.
— Tudo bem. — Ayuminn respondeu calmamente, apesar de sentir o atrito com Hanna. — Obrigada. — subiu as escadas, tentando disfarçar o nervosismo. O coração disparava à medida que se aproximava do quarto de Lysandre e só conseguia se lembrar do bloco na bolsa. Suspirou e acalmou-se. Precisava se colocar em seu lugar como ajudante, empregada. Apesar de estudarem na mesma sala. Em breve ela fará dezoito e terá a carteira assinada. Assim ela poderá largar esse emprego e tocar sua vida.
— Ayuminn.
Seu coração disparou ao ouvir a voz dele naquele momento. Ela estava de costas, direcionando-se para o quarto dele e ela estava vindo do banheiro no fundo do corredor. Apesar de ter banheiro no quarto dele, Lysandre costumava tomar banho no de fora. Provavelmente porque o banheiro do seu quarto tinha banheiro e o de fora era um chuveiro à gás.
— Lysandre, eu encontr..
— Rosa me pediu para te mostrar algo.
Os dois falaram juntos. Ela parou de falar e Lysandre direcionou-se ao quarto dele, abrindo a porta e a esperando passar na sua frente. Ela assentiu, agradecendo e aproximou do local para qual ele apontava: a cama. Seu coração disparou. Estava escuro e o quarto de Lysandre tinha uma particularidade: Uma belíssima vista da varanda, na verdade uma espécie de sacada mais extensa, onde ele costumava compor. Ela reparou que o rapaz estava com a camisa branca aberta e, meu Deus, ele tinha um corpo lindo.
— Leigh terminou o uniforme, pelo visto.
Ayuminn arregalou os olhos bicolores. Era realmente lindo. Um vestido preto na altura dos joelhos com a saia rodada e por baixo renda branca. Por cima, um avental branca de renda, completamente bem feito, uma espécie de uniforme que só se vê em filmes clichês. Ela tocou o tecido, fino e macio, confortável, parecia. Havia meias 3/4 brancas e sapatos baixos como molecas, para compor o uniforme, tudo com detalhes em relevo de flores, imperceptíveis a não se que se olhasse de perto. Era magnífico. Para completar, o arco de cabelo branco e de renda. O dela era mais jovial do que o das outras quatro empregadas/ajudantes. Parecia mais curto também e ela tinha certeza que era coisa de Rosalya.
— É lindo. — ela olhou para Lysandre e o rapaz desviou o olhar, ele a olhava, meu deus. — Hmmm também tenho algo para você. — ela limpou a garganta e retirou o bloco de notas.
— Você leu algo? — Lysandre perguntou sério antes de pegar o objeto.
Ela balançou a cabeça negativamente. — Estava no chão do colégio.
— Qualquer pessoa poderia ter achado. Ainda bem que foi você, obrigado. — o rapaz pegou o bloco e levantou o canto dos lábios num sorriso. — É a segunda vez que você o encontra para mim.
— Sim. — ela sorriu de volta.
— Rosa está no colégio ainda, suponho. — ele guardou o bloco na cabeceira de madeira da cama.
— Sim, ela está atarefada por causa da decoração e tudo mais. — ela curvou o tronco para pegar as roupas sobre a cama dele.
— Não se interessou pela decoração? — ele parecia interessado na resposta dela. Os olhos estavam atentos.
— Não... acho que não tenho talento para nada. — ela sorriu, confessando timidamente.
— Todos nós temos algo. — ele aproximou-se, ajudando-a a recolher o restante do uniforme. — Tenho certeza de que você é especial.
Ela arregalou os olhos e o olhou fixamente, ruborizada. Lysandre pigarreou e desviou o olhar, ruborizando timidamente. Ambos recolheram as coisas em silêncio e ela as levou para o quarto dela no primeiro andar. Ela agradeceu com um sorriso e assentiu com a cabeça. A meia pendia na pilha de roupas e a menina ao se virar para o rapaz escorregou. Antes que ela caísse no chão, Lysandre a segurou.
— Ah... obrigada.
— Boa noite, Ayuminn. — Lysandre sorriu e cariciou o rosto dela. Em seguida, nada mais disse antes de ir para o quarto.
***

— Bom dia, Nats.
Natsumin abriu a porta de casa, com um par de olheiras enfeitando o rosto. Era sete da manhã num sábado, afinal, e sua tia estava no mercado. Ela coçou os olhos e sorriu com a visita.
— Bom dia, Tsubaki. — ela gesticulou para que a menina entrasse em sua casa. Tsu estava tão bonita com aquele cabelo natural, quase não a havia notada de pronto. Os cachos caindo abaixo dos ombros, castanhos e volumosos. Combinava com sua personalidade.
— Semana que vem será a última de nossas vidas escolares, né? — Tsubaki entrou e sentou-se no sofá e depois de fechar a porta e olhar para Tsubaki, Natsumin notou-a com lágrimas nos olhos.
— Está com medo? — Natsumin sentou-se ao seu lado no sofá.
— Não sei... — Tsubaki enxugou as lágrimas. — Sabe que sou uma manteiga derretida.
— Fala, Tsubaki. — Natsumin pôs a mão sobre a dela e apertou ligeiramente. — Eu sei que ficamos um bom tempo sem nos ver, mas eu ainda te conheço demais.
— Mas eu não tanto a você. — Tsubaki limpou uma lágrima que escapou.
— Tsubaki, eu...
— Tudo bem, falamos disso quando você quiser. — Tsubaki a cortou, sabendo que Natsumin não ia querer tocar no assunto, ainda mais àquela hora da manhã. — Eu só queria te pedir desculpas sobre ter dado corda à toda aquela história com Rosa e Castiel por causa das cartas que a Ayuminn está recebendo.
— Tsubaki, você sabe que não guardo mágoas. — Natsumin olhou fixamente para amiga. — Agora fala, vai. — ela fez um movimento com a cabeça para que continuasse. — Há outra coisa que você quer dizer e sei disso.
Tsubaki mordeu o lábio inferior.
— Natsumin... — a menina a olhou fixamente. — Acho que estou gostando do Nathaniel.
Natsumin sorriu. — E qual o problema nisso?
— O problema. — a garota hesitou, suspirando. — Se chama o fato de eu querer matar a irmã dele vinte e quatro horas por dia, a Melody viver atrás dele, além de outras garotas e... O fato de ele agir meio estranho comigo.
— Como assim? — Natsumin franziu o cenho.
— Eu o beijei, Nats. Faz mais de seis meses, assim que entrei no colégio.
Natsumin levantou as sobrancelhas. — Uau.
— Sim. — ela deu uma risadinha maliciosa. — Foi quando eu o encontrei noa aula de box e... acredite, ele tem um corpo maravilhoso. — ela separou a palavra em sílabas.
Natsumin riu. — Vocês se beijaram e depois não se falaram mais, não é? — a menina completou, lembrando-se do que acontecera entre ela e Castiel.
— Mais ou menos isso mesmo. — Tsubaki balançou os ombros. — E ainda o convidei para o baile por causa de uma aposta que fiz com o Alexy.
Natsumin se lembrou de Alexy ter mencionado algo do tipo. — Essa.. aposta envolveu o Kentin? — Natsumin levantou uma sobrancelha.
Tsubaki mordeu o lábio de novo.
— O que vocês apostaram, Tsubaki? — Natsumin levantou uma sobrancelha.
— Ele convidaria Kentin para o baile se eu convidasse o Nathaniel. — Natsumin colocou a mão na cabeça naquele momento. Mas que ideia. Kentin não aceitaria, apesar de ser muito amigo, ele... — Natsumin, tem outra coisa que eu queria conversas com você. — Tsubaki continuou antes que Natsumin pudesse dizer algo.
— Pode falar. — Natsumin esperou.
— Você tem algo com o Castiel?
Não era possível.
***

— Bom dia. Chegou uma carta, querida.
Ayuminn levantou-se rapidamente, ansiosa para o que já esperava ser. Abriu a carta rapidamente e leu com calma, as mãos ansiosas no papel amarelo e delicado.

Diz-me como eu poderia
        Esquecer-me daquele dia na praia
        A alma da lua que te refletia
        A noite nos cabelos pálidos
        Seria um disparate tanta rebeldia
        Diante de um homem que te era desconhecido
        Um homem muito antes vazio
        Que conheceu primeiro teus lábios
        Do que teu olhar esguio. 

Era ele. Estava entregue, não era possível. Era Lysandre o homem das carttas da flor de Lis. Foi ele quem ela beijou na praia, foi dela a rebeldia. Ela não conseguia conter a felicidade no rosto e abriu um sorriso enquanto abraçava a própria carta, a carta de Lis, Lys, Lysandre. Era uma sensação tão boa sentir-se retribuída, ela agradeceu por não ter aceito o pedido de Ian e sentia-se aliviada por tê-lo deixado ir. Rapidamente foi para o banho e vestiu o uniforme, amarrando o cabelo num coque frouxo e delicado e colocando até um pouco de maquiagem. Ela ia fazer o seu trabalho e depois falaria com ele. Sim, falaria. Ela tinha a certeza que precisava, agora só precisava dele. Ayuminn sentia algo tão bom, não sabia se estava apaixonada ou algo do tipo, mas sim, sentia algo por Lysandre e queria desabrochar aquele algo. Não sabia ao certo o que fazer, mas precisava abraçá-lo, chegar perto dele, tê-lo por fim. Seria maravilhoso.
Durante o dia ela fez rapidamente suas tarefas. Acordou às cinco, terminou às dez. Parece que a ansiedade sempre piora tudo e ela não conseguiu encontrar Lysandre em momento algum. Limpou o quarto dele inclusive e já no final das atividades, Celeste, uma senhora de pele negra, olhos doces e gentis e que era a governanta da casa e chefe das empregadas, a pediu que fosse limpar as folhas mortas do jardim. Ainda ansiosa, Ayuminn o fez rapidamente e olhou para a sacada do quarto de Lysandre. A luz estava acesa, então ele já estava no quarto. Ela sentiu o coração disparar, terminou a tarefa e já pensava em trocar de roupa e confrontá-lo. Lysandre apareceu na sacada, usando apenas uma calça preta. Estava de costas para ela e por ter o tronco um pouco abaixado, parecia estar escrevendo. Ela podia ver as asas nas suas costas e nunca as vira de perto. Mais uma vez seu coração disparou. Suspirou. Era a hora.
***

— Desculpa, Nats, é que ontem eu vi algo que...
— Eu não tenho nada com ele, pode ficar tranquila. — Natsumin não achou que estava mentindo, realmente não havia nada entre os dois.
— É que ontem ele estava no clube de jardinagem com aquela garota que você sabe que eu detesto. — Tsubaki falou rapidamente e Natsumin tentou processar.
— Como?
— Ele estava aos beijos com aquela tal de Debrah no clube de jardinagem.
Natsumin não conseguiu conter a decepção. Apesar de ela saber que ele tinha que tocar a vida dele para frente, não imaginava que seria tão rapidamente. Provavelmente de fato nunca tiveram nada. Droga, era tão ruim assimilar esse tipo de coisa e ela não o culpava, ela sabia que ele havia tentado, ela queria, mas não pôde e finalmente estava vivendo as dores da maldição que pregara a si mesma. A dor de estar apaixonada por alguém que não pode lhe pertencer.
Aquele momento foi difícil, ela prendeu o choro, o nó na garganta, não deixou as lágrimas caírem, mas Tsubaki a conhecia bem para notar as mudanças sutis em detalhes de seu rosto como o olhar e os lábios que ela crispava a cada minuto.
— Você gosta dele, não é? — Tsubaki colocou a mão sobre a dela.
— Não é isso... — Natsumin balançou a cabeça. — Eu só... acho ele diferente.
— Não me engane, Natsumin.
— Não mude de assunto, Tsubaki. — Natsumin deu um sorriso triste. — Você tem que aproveitar que convidou Nathaniel e dizer logo o que pensa à ele. Você é linda demais pra ficar dando bola para alguém que sequer vem falar com você direito. Ele pode ser tímido e ter obstáculos, mas quando um cara realmente quer, ele mostra. — ela lembrou-se de seus momento com Castiel e a dor pareceu-lhe maior naquele momento.
— Eu vou falar com ele. E tascar um beijo daqueles, você vai ver. — Tsubaki levantou-se do sofá com um sorriso. — Mas podemos apostar e se eu fizer isso, você também faz com Castiel.
— Chega de apostas na minha vida. — Natsumin soltou um sorriso triste. — Fiz uma que me meteu numa furada para a vida inteira. — ela balançou a cabeça, lembrando-se da aposta que fez com Castiel. Quando tudo começou.
— Como assim? — Tsubaki abriu a porta da entrada, precisava ajudar a mãe em casa ainda, então não tinha muito tempo.
— Talvez um dia eu te conte. — Natsumin abraçou-a e fechou a porta da entrada.
Em seguida, o corpo caiu sentado na porta e as lágrimas quentes finalmente caíram, inundando seu rosto rubro de tanto chorar, o nó doendo na garganta e o peito ardendo.

***
Ayuminn reuniu rapidamente as folhas mortas num saco e jogou no lixo. Bateu as mãos de leve umas nas outras para limpar o excesso de poeira e colocou as ferramento no depósito do jardim. Ela já esperava correr para o quarto dele rapidamente, tirar o avental no caminho e soltar o cabelo, mas antes de tudo, deparou-se com ninguém menos que Hanna.
— Já terminei minhas tarefas por hoje. — Ayuminn destacou, séria.
— Hoje vamos fazer uma faxina geral na casa. É sábado se não se lembra.
Ayuminn suspirou. E prosseguiu como devia.
Quando terminou era novamente quase noite. Hanna, Celeste, Belinda e Sandra foram para as suas casas e Rosa e Leigh estavam na loja. Aos sábados o movimento era maior e Rosa ultimamente estava lá direto, primeiro porque estava confeccionando seu vestido para a semana que vem e segundo porque também estava fazendo o de Natsumin. Ayuminn ia comprar o seu na loja de Leigh mesmo, só não sabia ao certo a cor. Talvez um verde esmeralda. Ela estava mais uma vez sozinha na casa, Lysandre saíra após o almoço provavelmente para ensaiar e ultimamente só voltava pela madrugada. Eles estavam intensificando os ensaios por causa do baile, era certo. Ela direcionou-se às escadas e suspirou. Retirou o aventale o objeto da cabeça e soltou os cabelos. Retirou os sapatos e os pôs nas mãos para subir direto para o seu quarto. O pescoço doía e as pernas também. Subiu com a cabela baixa e não notou a fiura que descia, até dar de frente com ninguém menos que ele... Lysandre.
— Lysan..
— Essa roupa lhe coube muito bem. — ele deu-lhe um sorriso doce que arrepiou sua pele. Ayuminn reparou que ele olhava como a roupa estava em seu corpo e ela se sentiu um pouco constrangida. Ela sempre teve seios fartos e já havia aberto os botões do vestido preto, cuja gola ia até o pescoço, até a altura do esterno mais ou menos, deixando um decote vantajoso. Ela tentou fechar alguns botões, mas pela quantidade de coisas que tinha na mão, viu que não daria certo, então só tapou o decote com as coisas que segurava. O vestido apertava bem seu tronco e o avental disfarçava isso. Sem ele agora, ela estava... sexy demais. Rosa pensara direitinho, ela podia ter certeza.
— Obrigada. — ela ruborizou e soprou a franja que caía em seu rosto.
— Está cansada. — ele pontuou, sereno.
— Muito na verdade... — ela suspirou para ser mais direta. — Ainda assim, Lysandre, eu queria falar com você.
— Eu imagino. — ele sorriu docemente, como se já esperasse isso.
— Era você o tempo todo, não era? — os dois estavam há uns quatro degraus de distância e ela subiu dois para se aproximar.
— Depende ao que você se refere. — ele continuou sereno.
— A flor de Lis. — ela fixou o olhar no dele.
Lysandre respirou fundo, sem tirar os olhos dela. Ainda assim, nada disse.
— Era você o tempo todo... — ela subiu mais um degrau e ele permaneceu onde estava.
— Sim..— ele assentiu, mas não teve nenhum movimento brusco.
Ela não sabia o que fazer, o que dizer. Se dependesse dele, provavelmente ficariam naquela conversa dúbia o tempo todo. Ayuminn sabia que ele ao menos tinha algum interesse nela, ele citou o beijo e a praia no poema. Ele queria conhecê-la melhor, ela sabia. Só precisava de um empurrãozinho.
— Você esperou para ver minha reação.— ela subiu mais um degrau, ficando no imediatamente abaixo dele. Lysandre era bem alto, então a diferença ainda era grande. Ela suspirou, tentando entender a situação e fazê-lo entendê-la. Entender que o ela estava se apaixonando rapidamente por ele. Como nunca aconteceu em toda a sua vida. Talvez fosse o mistério que havia nele, a voz doce, os poemas, o dia em que o viu na praia...
— Sim. — ele manteve-se ali.
— Queria saber se eu iria me interessar, se iria tentar descobri-lo. — ela finalmente subiu no mesmo degrau dele. —
— Exatamente. — ele assentiu.
— Mas por que? — ela não entendia porque ele nunca demonstrara nada, porque Lysandre nunca mostrara que tinha interesse nela. Poderia ser por ela ser sua empregada, ou por ter sido abusado o suficiente para beija-lo na praia... Poderia ser tanto, mas também nada.
— Eu fiquei feliz por ver sua reação, Ayuminn. — ele finalmente falou algo a mais do que sim e exatamente.
Ela o entendeu em sua essência de poucas palavras e se aproximou. Colocou a mão no peito dele e pôs-se na ponta dos pés, aproximando o rosto dele o suficiente para os narizes se tocarem. A casa estava toda apagada e a luz que relfetia no cabelo cor de prata dos dois vinha do hall. Ayuminn estava na contra luz e Lysandre estava bem iluminado.
— Eu sinto que isso pode ser muito errado. — ela continuou com o rosto ali, próximo ao dele, Lysandre vinha lentamente se aproximando mais e mais.
— Sim. — ele falou, tocando o rosto dela e acariciando-o com o polegar. — Mas tudo o que eu quero é te beijar agora.
Ela largou tudo o que segurava pelas escadas e não disse mais nada. Lysandre já não era de muitas palavras, então apenas apertou de leve o corpo dela contra o seu, num abraço forte antes de puxar o rosto dela. Os lábios se tocaram rapidamente e ficaram pressionados por alguns segundos antes de darem início ao beijo. Ele a beijou intensamente, os lábios era doces e calmos e não desesperados e ele beijava divinamente. Ayuminn correspondia com paixão, sem acreditar no que estava acontecendo e em tudo que poderia ocorrer a seguir. Ela evitou pensar demais e priorizou aproveitar o momento e a cada segundo que passava, sabia que só queria estar ali, junto dele. Lysandre deslizou a mão para a sua nuca e aquilo a provocou arrepios. Ela aperotu mais o corpo no dele, abraçando o tronco dele, enquanto permitia-se ser beijada.
— Ayuminn. — ele pronunciou com os lábios nos dela. — Você iria ao baile comigo?
— Não precisa perguntar. — ela sorriu e o abraçou com ternura.
***
A segunda-feira chegou e passou rapidamente. Os alunos já ansiavam pela sexta-feira, mas quem não teve boas notas teria de fazer avaliações extras até quarta. Tsubaki era uma delas, Natsumin também. Natsumin acabara de terminar a avaliação de matemática e acreditava que pudesse ter ido bem, até. Pelo menos tirado o suficiente para passar. Ainda bem, só precisava de ponto em matemática e nas demais passara na média.
Sentia que sua vida tinha preocupações demais para ficar perdendo tempo com futilidades. Quase não estudava, não se dedicava, sequer se candidatara à comissão do baile e, se não fosse por Rosa, nem teria vestido.
— Já viu a lista, Nats? — Armin apareceu de repente e ela, apesar do susto, sentiu-se aliviada por ser ele. Encontrara Tsubaki rapidamente pelos corredores, a menina precisava de pontos em quase todas e sua monitora era ninguém menos que Melody. Natsumin já poderia imaginar como ela estava.
— A dos aprovados? — Natsumin sentiu-se aliviada. Queria ver se havia conseguido passar ou se iria para a recuperação.
— Não, bobinha. — Armin sorriu. — A do baile.
— Ah... — ela balançou a cabeça negativamente.
— Vem, acho que não somos os únicos sem par. — ele deu a mão para que ela a segurasse e Natsumin o fez.
Andaram alguns passos pelo corredor até chegar à sala dos representantes. Na parede em frente, havia uma lista colocada num mural.
— Tem pouquíssimos pares, não é? — Armin ria daquilo. Esse negócio de pares era bem ridículo.
Natsumin nada disse. Os olhos estavam nos dois últimos nomes da lista.
                     Castiel e Debrah.


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Notas finais do capítulo

Por gentileza, não se esqueçam de comentar, favoritar e acompanhar a fic! Isso ajuda muito. Quando um autor não é valorizado, acaba desistindo e gosto muito de escrever essa fic, não gostaria que acontecesse...



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