Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 66
Capítulo Vinte e três - Ônix


Notas iniciais do capítulo

Aqui, encerra-se a maratona. Esse também foi o último capítulo postado no AD. Espero que tenham gostado e, a partir de agora, postarei simultaneamente os novos capítulos. Mais uma vez, peço que não se esqueçam de comentar, acompanhar, recomendar.Peço porque é muito importante para que eu continue. Já pensei em parar com a fic várias vezes, mas as mensagens e comentários que recebo me fazem continuar.



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— Não acho que ele volta pra ela.
Ambre entortou levemente o nariz, os braços bronzeados estavam cruzados sob os seios e o cabelo em belas madeixas douradas caía pelas costas enquanto cruzava os braços e sentava-se no banco de madeira em meio ao pátio gramado de Sweet Amoris que fedia a gente e ambre sentia repulsa. Charlotte, ao seu lado, em seu temperamento sério apenas levantou os olhos castanhos, as mãos seguravam um pequeno livro vermelho de poesias.
— Tenho minhas dúvidas. — a garota no banco retornou. Ao seu lado, sentava-se Li, que seguiu seu olhar com os seus, escuros, enquanto retocava o batom pela vigésima vez.
— Não entendo o que ele vê nela. — Ambre levantou os ombros antes de suspirar. — Está na cara que sou muito mais bonita.
— Não é só beleza que os caras querem. — Charlotte revirou os olhos e junto, virou mais uma página.
Naquele momento, ambre virou todo o corpo para a menina, ficando de costas para Debrah e Castiel que ao fundo conversavam próximos ao ginásio. O ruivo tinha as expressões mais levianas, parecia diferente do rapaz sempre emburrado pelos pátios. Debrah inclinava-se para frente, mostrando o decote na região dos seios e ria de vez em quando arrancado fracas risadas dele. Pareciam tão entretidos na conversa que dava até náuseas.
— O que eles querem então? —Ambre franziu o cenhos, apertando as belas órbitas verdes.
— Algo que, no momento, você não conhece. — Charlotte curvou os lábios e com os olhos apontou para as coxas de ambre, depois retornou ao livro.
Incrédula, Li guardou o batom na bolsa pequena cuja alça pendia no ombro.
— Charlotte, você já...? — Li saiu de seu estado frívolo por alguns segundos direcionou os olhos pequenos à garota.
— Não seja tola, Li. — Charlotte mantinha os olhos no livro. — Não sou tão estúpida.
— Não é todo dia que você fala tanto, Charlotte. — Ambre deu uma última olhada nos dois atrás dela e no fundo do pátio, com Debrah cada vez mais próxima do ruivo e ele, agora, encostado à parede da entrada do ginásio e com um dos joelhos levantados e o pé apoiado na parede. Depois, voltou os olhos atentos à garota, provavelmente com mais experiência que ela em casos amorosos. — Me diz o que acha que devo fazer pra tê-lo na palma da minha mão.
— Eu não sei ao certo, mas... — a garota levantou os olhos para Castiel e Debrah ao fundo. — Acho que é daquele tipinho que ele gosta.
— Entendi. — ambre apertou os olhos, o rosto mais determinado que nunca. De repente, algo chamou sua atenção. Era ela, Natsumin. Como se não bastasse já ter sido humilhada o bastante com o vestiário e as fotos falsas que armou, ela ainda ousava...
Ela se aproximava de Castiel e Debrah. Estava determinada.
— Com tipinho, você quer dizer ela? — Ambre olhou com repulsa para a menina qe parecia um trapo ambulantes em sua blusa mais longa do que o short e um par de tênis velhos. E estava cada vez mais próxima de Castiel.
— Não Natsumin, Debrah. — Charlotte curva os lábios. — Precisa de roupas como as dela. Provocantes.
— Sei... — Ambre volta a olhá-los novamente e percebe que Natsumin os alcançou. De alguma forma ela prende a atenção do ruivo e ambre não consegue entender o motivo. Debrah agora tinha os braços cruzados e parecia ter perdido toda a pose. Natsumin... Não, ela não se atreveria, Natsumin está puxando o ruivo pelo braço e tirando-o de perto de Debrah. O pátio inteiro está olhando. Castiel está gritando com ela, enquanto a abusado o puxa, mas ela grita algo mais rápido e ambre tem vontade de ir lá e acabar com o showzinho da baranga, mas ela fala algo e ele para. Depois vai com ela.
O trio no banco fica boquiaberto, bem como todo o pátio.
***
[b]Vinte minutos antes.[/b]
— Ora, isso é um absurdo! — Rosa entrou na sala enfurecida, na mão havia uma folha - se é que ainda podia ser chamada de folha, visto o estado deplorável em ue se encontrava - de papel.
Natsumin indagou-se como ela conseguiu encontrá-la antes de levantar a cabeça. — O baile de formatura?
— Não o baile, mas... as obrigações que a diretora quer! Rrrr! — a menina apoiou os braços na mesa de frente para Natsumin e jogou o papel em estado caótico sobre ela.
Natsumin levantou uma sobrancelha. Era incrível a capacidade que Rosa tinha de encontrá-la, principalmente quando queria se isolar. Ultimamente, com toda a história de Viktor, ela mal conseguia encará-lo naqueles corredores sem ao menos querer cuspir na cara dele. Ao mesmo tempo, mal sabia o que fazer. Sabia que sozinha não conseguiria muita coisa e tinha amigos em quem confiava, mas não podia culpa-los caso algo fosse descoberto. Sabia que Tsubaki, Alexy e Armin não eram nada discretos, que Ayuminn se preocuparia demais com ela e acabaria pedindo ajuda a alguém, que Rosa provavelmente faria o mesmo. Precisava de uma pessoa que a auxiliasse de forma discreta, não por ter consideração por ela, mas por também querer acabar com o falso Viktor, alguém que o detestasse com toda a sua força, alguém que...
— Não podemos trazer pessoas de fora para o baile. Onde já se viu? Ah, mas vou trazer o Leigh aqui nem que venha disfarçado! Nem que eu tenha que pintar o cabelo dele de vermelho e dizer que é o Castiel!
CASTIEL!!!
Estava em sua frente o tempo todo. Estava na hora de ela tomar coragem e falar com Castiel de qualquer maneira. Ela tinha que amadurecer, entender que não é porque não podia se apaixonar por ele, não podia ser sua amiga. Castiel ainda era uma pessoa que ela gostava e com quem se importava e a presença de Debrah ou o adeus dele não a impediria de continuar sendo sua amiga. Estava na hora de agir. E precisava de sua ajuda.
— Obrigada, Rosa, você é demais! — Natsumin a deu um abraço forte e pegou o papel, que consistia num aviso sobre não trazer pessoas de fora para o baile de formatura dos alunos. — Pode deixar, vou dar um jeito nisso! — a menina pegou correndo a mochila, onde jogou o papel que Rosa e entregou, depois saiu pela porta da sala de aula B como uma bala, deixando uma Rosa ainda mais confusa de cenho franzido, mas com um sorriso no canto dos lábios para trás. Natsumin ia aprontar. Sabia disso.
***
— Castiel, preciso falar com você agora.
Ele voltou os olhos para trás, mediante a voz baixa, mas autoritária às suas costas. A figura que pronunciava estava diferente do habitual, mas desleixada consigo mesma e ríspida. Não forçava sorriso, os olhos estava mais sérios com o cenho franzido e apesar da situação, a única coisa que conseguiu se lembrar dela foi da noite em que a viu com um cara em casa. E aquilo foi o bastante.
O ruivo deu de ombros, voltando os olhos à antiga namorada à sua frente, que manteve um sorriso de canto de boca vitorioso.
A menina dona de doces olhos azuis, mas que no momento de doces não tinham nada, enfureceu-se com o gesto e puxou o ombro dele para trás, forçando-o a olha-la novamente.
— Por um acaso você está louca? — ele desvencilhou-se das mãos pequenas dela e dessa vez não deu de ombros.
— Você ouviu o que eu disse. —ela permaneceu ríspida, a outra garota, agora atrás do ruivo, começou a mascar um chiclete enquanto cruzava os braços, detestando o tom autoritário de Natsumin com o ruivo. Apostaria dez pratas que ele ignoraria a menina e voltaria o rosto para ela novamente.
— Fala, então. — Castiel cruzou os braços e trincou os dentes.
Continuaria apostando e é claro que ganahria. Debrah levantou uma sobrancelha e abriu um sorriso, a vitória sobre a magricela sem graça estava próxima.
— Preciso que seja a sós. — Natsumin levianamente desmontou um pouco o tom rude ao respirar fundo.
— Você não falou isso antes. — Castiel trincou os dentes e deu de ombros para Natsumin mais uma vez, fazendo a menina olhar o sorriso vitorioso de Debrah mais uma vez.
— Castiel. — ela segurou a mão dele levianamente, usando toda a sua arma sedutora de menina. A voz estava baixa e serena e pedia de forma oculta que ele a olhasse.
— Estou ocupado. — ele não cedeu, tudo do que conseguia se lembrar era um cara saindo da casa dela à noite.
— É urgente. E você vai vir comigo. — Natsumin passou a puxa-lo pelo braço e o ruivo revidava, achando ridícula toda aquela situação. Ela puxava seu braço para ela e ele para ele, enquanto lutavam naquele cabo de guerra incessante. Natsumin ganhava porque o ruivo, embora relutante, cedia. Esse foi o momento que Ambre capitou, até que o ruivo cansou-se do jogo e parou diante do pátio. A força de Natsumin ao puxar seu braço agora era inútil.
— Castiel, por favor. — ela pediu com delicadeza, a vontade de chorar crescendo em seu peito. Uma vontade dura, uma dor profunda que não conseguia explicar. Poderia ser o fato de uma pessoa de quem gostava muito estar ignorando-a, poderia ser o fato de ter tido a certeza de que o perdera para sempre, poderia ser o sorriso vitorioso da ex, a vergonha que estava passando no pátio, o ódio. Mas ela aguentou firme e uma emoção sequer passou por seu rosto naquele momento e ela decidiu por fim pedir com sinceridade. — Preciso de você. — repetiu a frase que uma vez ele lhe disse, os olhos como de um gatinho assustado.
Castiel respirou fundo e trincou os dentes.
— Volto logo. — ele olhou para Debrah e seguiu a menina.
***
— Eu acho que você deveria chamá-lo. — Tsubaki deu um sorriso travesso para Alexy, com quem ultimamente vinha conversando bastante. Não que já não tivesse notado o rapaz de cabelos azuis e bom humor, mas apesar de - como poderia dizer - louca, normalmente também era um pouco tímida, diga-se de passagem, e apesar de já estar há meses em Sweet Amoris, estranhamente ainda não se sentia em casa.
Exceto hoje.
Gostara bastante da inconveniência de ter se esbarrado - literalmente - com o rapaz de cabelos cloridos no corredor. Ao invés de um olhar rude, com o qual já estava acostumada vindo dos outros, ele deu-lhe um sorriso largo. Ela disse que adorara o cabelo dele, ele retrucou dizendo que havia amado as curvas do dela. Já fazia uma semana que Tsubaki decidiu abandonar a escova e voltar às madeixas naturais. Vira respostas boas em muitos, narizes tortos em outros, mas a recepção de seus amigos - o mais importante - foi muito considerável e isso a deixou feliz. Ela só não havia visto a resposta de Nathaniel, não que importasse muito. Não que ela se importasse com ele. Não que ela quisesse beija-lo de novo.
Que isso, não.
Mas, realmente. No pôr do sol daquela tarde, os raios amarelos iluminavam seu rosto dócil, apesar da personalidade forte, e os cachos que ora caíam por sua face e remexiam-se nos olhos amarelados e ora cobriam todo seu rosto, teimosos e rebeldes, davam-lhe certo charme. Alexy notara isso de primeira, Tsubaki era uma garota e tanto e a cada dia tornavam-se mais amigos. Só não esperava que Tsubaki fosse entendê-lo tão rapidamente, sem ao menos precisar falar quem era ou o que..
— Como você soube? — Alexy arregalou os doces olhos róseos.
— Alexy, está escrito na sua cara. — Tsubaki deu uma leve cotovelada no rapaz. — Você gosta do Kentin.
— Somos amigos. — ele coçava a nuca enquanto sorria.
— Há motivo melhor que esse? — ela levantou as sobrancelhas.
— Tsubaki, ele gosta de garotas. — Alexy franziu o cenho.
— E daí? — ela levantou os ombros.
— O pai dele o mandou pra escola militar para "ser homem". — ele fez aspas com as mãos, depois revirou os olhos.
— E daí? — ela repetiu.
— Tsubaki!
— Alexy, não custa nada tentar. — ela o fitava com os olhos sérios, oq ue não era de sua característica.
— Não vou fazer isso. É injusto com ele. — Alexy baixou os olhos e passou a deixar-se ser beijado pelos raios solares como ela.
— É chato gostar de alguém dessa forma, não é? — Tsubaki parecia ainda mais séria quando ajeitou-se sobre a grama do pátio para olhar Alexy de frente.
— Gostar de alguém é uma droga.. — Alexy puxou um punhado de grama e deu-lhe um sorriso triste.
— Eu sei. — Tsubaki deitou a cabeça em seu ombro.
— Chame-o também, bobinha. — Alexy tinha novamente um largo sorriso no rosto.
— Sabe quem é? — ela levantou a cabeça e voltou a olhá-lo nos olhos.
— Seria um carinha loiro que está nos olhando de lá do portão há uns dez minutos? — Tsubaki não pôde conter a ansiedade e olhou para o portão enquanto Alexy sorria de forma travessa.
— Vamos apostar. — Alexy observou atentamente Nathaniel, que vestia um blusão branco e gravata e conversava há um bom tempo no portão com uma garota da turma deles, baixinha de cabelo abaixo da altura dos quadris, loiros: Elisa. Ela não era a única que tinha um quedinha pelo representante pelo que Alexy sabia bem, mas o maior perigo mesmo era Melody, vai saber. — Se você interromper a conversa melosa daqueles dois e convidá-lo para o baile, eu chamo o Kentinho.
— Quentinho vai ficar seu bumbum porque eu não vou. — Tsubaki desviou o olhar, assim como o loiro no portão.
— Onde está a Tsubaki louca e destemida que pensei que você fosse? — ele levantou as sobrancelhas com ar de superioridade.
— Alexy...
— Mais um "Alexy e vou pedir um beijo também. — ele levantou o queixo.
— Não vou conseguir. — ela passou a mão pelo próprio cabelo enrolando alguns fios cacheados.
— É uma pena, porque eu também não vou. Não sem você. — ele curvou os lábios. — Além disso... — ele apontou para o portão com os olhos. — Se você não correr, vai ter gente mais espera que a Melody e que vai arrancar o representante de você.
Tsubaki olhou para lá novamente. Elisa, aquela projeto de #gbsfhgdfmdsffg e todas as palavras ruins do mundo, estava se aproximando de Nathaniel e o boboca não fazia nada nada.
— Chantagem emocional aceita com sucesso. — ela levantou-se rapidamente e correu diante do olhar esperançoso de Alexy, mas não antes de pronunciar um "deseje-me sorte" desajeitado.
***
— Isso é um sim?
Ian sorria de forma comedida. Já estava acostumado a não receber não como resposta e era válido diante de seu sorriso de príncipe e rostinho angelical. O irmão de íris deixara o cabelo ruivo crescer nos últimos dias e vinha se aproximando cada vez mais rápido de Ayuminn, interessado na beleza exótica dela diante dos olhos bicolores e os cabelos alvos.
— Não sei, Ian. — Ayuminn apertou os dedos na pasta roxa que segurava contra o peito, tentando esconder o decote da blusa de alças que usava. — Eu nem sei se vou a esse baile, na verdade.
— Vai ser muito bom, Ayuminn. — Ian pegou sua mão e apertou levemente. A menina sentiu um aperto no peito, mas não caiu porque já havia conhecido muitos caras que não valiam a pena e não costumava ceder tão facilmente. Seu peito apertou um pouco, na verdade ela queria ser chamada por outra pessoa, mas não havia muito o que pensar, ele era uma incógnita, afinal.
— Vou deixar a resposta para depois, tudo bem? — ela puxou sua mão para si e deu um sorriso contido, sem mostrar os dentes.
— Ah, tudo bem! — ele sorriu para ela mostrando os dentes. — Não queria te deixar sem graça ou algo do tipo, eu só...
— Está tudo bem. — ela sorriu e balançou os ombros. — Eu só não sei mesmo se vou.
— Ah...
— Mas agora tenho que ir trabalhar. — ela cortou-o rapidamente, notara Lysandre vindo ao fundo, no corredor, o bloco de notas nas mãos e o olhar baixo no pequeno caderno.
— Quer que eu te leve até seu trabalho? — Ian segurou seu braço e aquilo pareceu-lhe um pouco rude, coisa de quem realmente não aceitava “não”.
— N-não, está tudo...
— Algum problema, Ayuminn?
Seus olhos congelaram em outro par de olhos bicolores.
***
— Estão nos olhando como se fôssemos um casal, ou algo do tipo. — Natsumin pronunciou enquanto andava.
— É porque você não largou minha mão nos últimos cinco minutos. — Castiel a seguia com o olhar nada convidativo.
— Oh... — ela soltou sua mão e parou de andar. — Nos corredores quase sempre vazios de Sweet Amoris, hoje havia muitos alunos, andando em grupos, sentando-se no chão dos corredores com as mochilas entre as pernas, os materiais espalhados pelo chão, os olhos nos murais nas paredes e, claro, neles.
— É esse baile idiota. — Castiel cruzou os braços. — Parece que todos resolveram perder a sanidade e andar por aí como tontos.
— Se você olhar pelo lado positivo, pelo menos agora não sou a única andando pelos corredores. — ela passeava o olhar por entre as pessoas, buscando algum refúgio, algum lugar em que pudessem ficar a sós, sem ter olhares receptivos neles.
— Preferia quando era só você. — ela voltou o rosto para o dele nesse momento, as luzes brancas do corredor destacando bem os belos traços do ruivo. Ele, porém, tinha os olhos nas pessoas ao redor.
— O porão sempre está vazio. Vamos para lá. — ela sugeriu e já começou a andar, dessa vez sem segurar a mão do ruivo.
— Está querendo me levar para um canto onde podemos fazer inúmeras coisas e acha que ninguém no caminho vai notar? — Castiel abriu um sorriso que ela conhecia e do qual sentia falta: o sorriso de coiote.
De ombros, ela engoliu em seco. Ele tinha razão.
— Vem comigo. — Castiel pronunciou às suas costas. — fizeram outra entrada para o porão, pelo jardim. Só decida o que quer fazer, porque os olhares, se não percebeu, estão em você.
Natsumin virou-se para ele e assentiu.
Não demorou para que chegassem ao jardim onde normalmente funcionava o clube de jardinagem. Estranhamente, naquele horário o garoto de cabelos verdes - bem irônico, por sinal, visto que trabalhava com plantas - não estava mais por lá e Castiel notou que estava bem vazio por ali.
— Acho que não precisamos ir para o porão. — Natsumin pronunciou para ele quando se alistaram atrás de uma redoma de vidro, onde conservavam algumas plantas.
— Isso é bizarro. — Castiel franziu os cenhos e pôs o olhar nela.
— O baile? — Natsumin passou a mão pela franja que já estava comprida demais, um pouco intimidada pelo olhar furtivo dele.
— Não, esse clube. — ele comprimiu os olhos. — Por que não deixam essas plantas morrerem em paz de uma vez?
— Acho que são material de estudo. — ela balançou os ombros.
— É. — ele trincou os dentes e pôs as mãos nos bolsos da calça. — Pode ser.
Por um momento o silêncio instaurou-se naquele ambiente vazio. Natsumin engolia em seco enquanto envolvia-se em seus próprios braços, mordendo os lábios para tomar iniciativa melhor do que ficar ali, parada diante dele. Ela bateu os pés no solo, suspirou. Olhou para cima, o pôr do sol vinha iluminando seu rosto e deixando em Castiel uma luz dourada vinda de trás dele. O ruivo aos poucos ia parecendo uma silhueta e aquela imagem era tão bonita que ela notava que nada no mundo fotografaria melhor que seus olhos naquele momento. Ela digeriu aquela sensação naquele momento, seu coração palpitou.
— O que quer de mim, Natsumin? — Castiel deu alguns passos à frente, aproximando-se demais dela.
— O que quer dizer com isso? — apesar de poder adivinhar, já que foi ela quem o chamou, ela sabia que a ironia de Castiel estava nas palavras que ele não dizia e no que ele não queria mostrar. Sabia o que ele queria dizer com aquilo e, de alguma forma, ela só queria poder dar a ele o que não só ele, mas ambos queriam. Nem que fosse só por uma noite. Havia uma tensão forte naquele jardim naquele momento. Faíscas aproximavam os dois, mais reluzentes que as chamas douradas do sol às costas do ruivo. A menina deu um longo suspiro enquanto ele apenas a encarava sério com as mãos nos bolsos, esperando uma resposta que queria saber há muito tempo. O que ela afinal queria dele? Por que não o deixava em paz? Por que não o deixava seguir com Debrah? O que diabos Natsumin queria?
E a beleza da menina diante daquelas luzes douradas naquele corpo pequeno e jovial, os olhos mais claros do que normalmente era tão estonteante que tudo o que ele queria fazer era apenas agarra-la e não deixa-la partir, m3rda. Não deixa-la partir nunca mais.
Antes que os dois pudesse fazer algo, um casal dissipou a atenção que um tinha no outro. Era um garoto e uma menina que nenhum dos dois conhecia, provavelmente eram de outras turmas. Ele tinha os cabelos negros e encaracolados na altura do queixo e ela também, mas de cor castanha. Os dois beijavam-se como loucos, mal notando a presença de Natsumin e Castiel e com medo, a menina puxou o ruivo para dentro de uma das estufas, desta vez, a de orquídeas.
— E pensar que podíamos ser nós dois... — o ruivo deu um sorriso rebelde, novamente aquele maldito sorriso de coiote enquanto cruzava os braços, lembrando o que fazia o casal anterior. Natsumin balançou a cabeça, ignorando o tipo de comentário que sabia que Castiel fazia para provocá-la por simplesmente gostar de provocá-la.
— Vou ser breve, eu juro. — ela suspirou. — Preciso conversar com você sobre algo muito sério e que envolve uma das pessoas que você mais detesta aqui em Sweet Amoris.
— Nathaniel é um idiota, mas não é pra tanto. — Castiel balançou os ombros.
— Não é sobre Nathaniel. É sobre Viktor. — ela manteve os olhos firmes nos dele.
— O que tem esse imbecil? — ele franziu o cenho.
— Preciso que venha na minha casa hoje às 19. Lá você vai entender tudo. — ela afastou-se para a porta, deixando para trás a bela visão do orquidário que não pôde contemplar pela confusão de sentimentos que já havia em si e um ruivo que aos poucos tomava por completo seu coração vazio desde a perda daqueles que mais amava.
***
— Não, mas ele vai falar comigo sim, não é Nathaniel? — Tsubaki tinha as sobrancelhas levantadas e um sorriso sarcástico no rosto em resposta à Elisa que acabara de dizer que Nathaniel não ia responder Tsubaki antes de terminar de ouvir o que ela tinha a dizer. Um abuso, por sinal. O loiro tinha o cenho franzido enquanto a notava, agora mais de perto, em sua beleza angelical diante dos cachos daquele cabelo castanho e os olhos amarelos. Ela estava tão diferente, esses dias. Menos contida, apesar de Tsubaki nunca ter sido exatamente tímida com ele, mas mais confiante, ele diria. Talvez fosse a rebeldia daquele cabelo.
— Ah... — ele mal pôde pronunciar algo, na verdade ele nem se lembrava direito do que Elisa estava falando na sua frente nos últimos minutos. Ela começara com a história de estar precisando de ajuda em matemática, mas jogava tanto o corpo para cima dele que não era difícil notar que a matemática não passava de uma desculpa. Além disso, ele perdera um pouco o interesse depois de ver Tsubaki em seu novo visual sendo tocada pelos raios belos de um fim de tarde. Ela estava próxima demais de Alexy. Não sabia explicar, mas Nathaniel sentiu um incômodo ao vê-la com ele. Era sinal de que ela não er assim só com ele, era com outras pessoas também.
— Olha, que ótimo, isso foi um sim. — ela puxou o garoto enquanto andava a passos largos e rápidos para longe daquele portão. — Vai ao baile comigo, não é? Por favor, responde antes que ela te chame. — ela apertou levemente a mão dele e apertou os dentes, forçando o maxilar e pescoço, fazendo uma careta engraçada.
— Isso é uma falta de educação! — Elisa os alcançou rapidamente. — Eu tenho dúvidas a tratar com o Nathaniel e você nos interrompeu.
Tsubaki revirou os olhos. Naquele momento, Nathaniel ainda digeria a informação, o loiro tinha de confessar que aquilo o agradava, visto que pensara justamente em convidá-la para o baile. Não que ligasse para esse tipo de coisa, mas já que era obrigado, ele não conseguia ver melhor e mais divertida companhia do que ela.
— Ela não vai me chamar para... — foi tudo o que ele conseguiu falar antes da garota ir embora rapidamente.
— Nathaniel... — Elisa se aproximou, enrolando os dedos no cabelo loiro e comprido enquanto fixava os olhos azuis nele. — Você me ajudou bastante hoje e eu queria saber se você queria ir ao baile comigo.
Nathaniel arregalou os olhos amarelos e observou Tsubaki dar uma piscadela e inclinar a cabeça para o lado como quem sabe que tem razão antes de alcançar Alexy. Como ela adivinhou?
— E então, sim ou não? — Elisa insistiu, pousando a mão no peito dele
— Sinto muito, Elisa. — ele suspirou enquanto retirava a mão dela. — Mas já fui convidado. — depois afastou-se para seguir para casa.
***
— Está tudo bem.
Ayuminn virou-se de imediato para Lysandre. Naquele momento seu coração palpitou. O rapaz então apenas assentiu e se afastou novamente pelos corredores, deixando-a ali, com Ian. Ayuminn sentiu um pouco de raiva nesse momento, não adiantava esperar por ele, se Lysandre nunca a chamaria. Ela nutria essa esperança desde que anunciarama obrigação de ter um par da sua sala para o baile e havia mais homens do que mulheres na sua, portanto alguns ficariam de for e teriam de juntar-se a pessoas de outras turmas. Ela não queria imaginar a imensidão de meninas de outras turmas que se interessavam na misteriosidade de Lysandre, como ela, pedindo para ser seu par, enquanto ela esperava como uma boba e ainda rejeitava o belo irmão de Iris.
— Ele é um cara esquisito. — Ian comentou, sorrindo.
— É, é sim. — Ayuminn assentiu com a cabeça. — Até amanhã e obrigada pelo convite. — ela beijou o rosto de Ian antes de direigir-se para o portão de saída. Talvez naquele silêncio, Lysandre estivesse avisando-a que era hora de ir para casa.
***
— Acho melhor começarmos sem ele, Natsumin.
Ela tinha a testa sobre o vidro da janela da sala. Na entrada havia duas, longas, desciam até a altura de suas canelas e punham-se uma a uma nos dois lados da porta de entrada. Era um design bonito, escolhido pela tia-madrinha e foi por ali que ele a vira na noite em que deram fim ao que não haviam sequer começado. A noite de hoje, por sua vez, estava bem clichê com o céu adornado de constelações das mais diversas, a madrinha que viajara a trabalho por algumas semanas e a casa estava vazia, as ruelas estavam às moscas e eram iluminadas apenas por luzes fracas e amareladas, como pequenos pontos solares, quentes e aconchegantes, em meio ao breu nada receptivo do calar da noite. Ela não virou-se para a voz às suas costas, apenas suspirou, esperando.
— Natsumin, está tudo bem? — ele tocou seu ombro levemente e aquele choque a fez despertar num susto.
— Sim, claro. — ela engoliu em seco, pálida, os olhos esbugalhados.
— Vou te trazer um pouco d'água. — antes que ela pudesse argumentar, Viktor já estava de volta da geladeira com o copo gelado.
— Não precisa, eu...
— Só um gole não mata, vai. — Viktor deu-lhe um sorriso doce e ela não recusou para não parecer rude. O único gole que deu desceu-lhe a garganta como farpas. Não conseguia entender porque ainda sentia-se daquela maneira. Ela não podia pensar em Castiel, ou lembrar-se das particulariddes que o envolviam, lembrar-se do seu cheiro, do tempo que passou na casa dele, do que acontecera na porta da sua. Sentia uma ansiedade repentina, um aperto que mais parecia um incômodo. Ao mesmo tempo, via Viktor e lembrava-se de sua infância, do que ele representou pra tímida e pequena Natsumin e tentava nutrir-se dessa aproximação para poder de uma vez afastar-se da tentação rubra que lhe era Castiel.
— Você deveria aprender a trancar essa porta.
Seu coração saltou ao ouvir a voz às suas costas. Viktor apenas levantou os olhos e Natsumin olhou para ele em sua expressão séria e não para o ruivo na porta.
— Você deveria aprender a bater. — ela engoliu tudo o que sentia e expeliu em orgulho.
— Ah é? Por que? Interrompo algo? — o ruivo possuía uma aura escura, os olhos estavam comprimidos , os dentes trincados, o sarcasmo na ponta da língua.
— Estávamos te esperando. — Viktor bloqueou qualquer sinal de retrucamento de Natsumin, em seguida pegou com educação o copo de vidro ainda com água que ela não conseguia mais engolir, dando de ombros para o ruivo e ela. Parecia que sentia algo entre os dois e não queria interferir. Por enquanto.
— Esse é aquele imbe...
— Não. — ela segurou a mão de Castiel para que parasse de falar. — Não. — soltou-a. — E é isso que precisamos esclarecer essa noite.
Viktor retornou da cozinha, o olhar sério no de Castiel. Natsumin estava entre os dois, sentindo a tensão aumentar à medida que Castiel passeava o olhar negro em Viktor e vice-versa.
— Viktor, esse é Castiel. — ela apontou para o ruivo com o braço estendido. — Eu pensei em buscar a ajuda dele porque ele também não se entende bem com... bem, o outro Viktor.
— Eu entendo. — Viktor, calmo como sempre, assentiu com a cabeça. Natsumin reparou naquele momento que ele era um pouco mais alto que Castiel. — Prazer, Castiel. — o rapaz estendeu o braço para o ruivo. O rapaz olhou-o por alguns segundos, ainda desconfiado em seu cenho franzido e dentes trincados.
— Isso é algum tipo de brincadeira que eu não to entendendo? — Castiel manteve as mãos nos bolsos, enquanto continuava a encarar Viktor e de vez em quando passeava o olhar por Natsumin, um olhar furtivo e arrebatador, como quem encara um traidor.
— Castiel, não é...
— Ignore, Natsumin. Ele está sendo rude. — Viktor interrompeu-a com a voz firme e ela temeu pela tensão que se espalhava pela casa. Castiel não abaixou o olhar e os dentes trincados provavam que ele se controlava o máximo possível. Por outro lado, Viktor em sua calmaria devolvia o olhar, mas de forma menos agressiva.
— Não, ele tem razão. — ela impediu que Castiel retrucasse esse comentário pela cara do ruivo não seria nada amigável. — Sente-se, Castiel que explicarei tudo, eu prometo. — ela apontou para os sofás no centro da sala, depois dirigiu-se á cozinha, retirando da geladeira algumas caixas de pizza pronta.
Castiel permaneceu ali, observando o idiota de grande porte que seguiu Natsumin até a cozinha. De fato, havia algo de diferente nele, não era o Viktor que conhecia. Este era mais alto, mais esguio. Não tinha expressões tão brutas e os olhos castanhos pareciam mais claros do que o do outro. Mas, isso de modo algum o trazia alívio, pelo contrário, foi esse o babaca que estava à noite na casa de Natsumin esses dias. Claramente suas intenções com ela não eram superficiais e pelo modo como se comunicavam, pareciam íntimos demais. M3rda, isso não o incomodava, o fato era que não gostara do cara, era isso. Sim, não gostou da forma como ele o encarou de volta, como se fosse a pessoa mais calma do mundo e pior ainda, a forma como ele olhava para Natsumin. Ao menos piscava.
Ainda com os olhos nos dois da cozinha, o ruivo jogou-se no sofá comprido, sentindo o couro em suas costas, gelado e macio. Observou o teto e a visão que tiha da porta. Preferiu não observar os dois às suas costas, toda aquela aproximação barata o incomodava. Investigou memórias e lembrou-se de quando apareceu naquela porta e encontrou a fragilidade de Natsumi naquela cozinha, levou-a àquele sofá e quase puderam entregar-se um ao outro. A imagem dela naquela noite ainda lhe era clara e diferente da garota que via hoje com o novo imbecil às suas costas. De supetão, levantou-se, não seria feito de idiota. O que Natsumin escondia, afinal? E qual poder tinha sobre ele que o impedia de verdadeiramente dizer não e virar as costas para ela? Não era isso que ela queria? Ou Castiel estava estragando seus planos com o falso garanhão lá atrás?
— Natsumin, eu não to aqui para ficar assistindo novela mexicana, então acho melhor vocês dois me explicarem o que querem pra eu poder ir embora daqui. — antes de dizer, o ruivo levantou-se num único movimento do sofá e passou a olhá-los nos poucos metros de distância sala-cozinha.
***
— Boa noite, Castiel. — da porta ela deu-lhe um pequeno sorriso esperançoso. O ruivo crispou os lábios e passeou o olhar para dentro da casa, observando o tal de Viktor Chavalier, nada além de um mauricinho filhinho de papai bem sucedido, ao fundo. Os braços cruzados sobre o peito, o olhar tranquilo, a cabeça encostada à parede.
— Ele não vai para casa? — Castiel apontou para Viktor com a cabeça.
— Minha madrinha não está em casa, ele vai dormir no meu quarto e eu no dela. — Natsumin notou que o ruivo estava preocupando-se e, não era por menos, depois de toda a história que foi esclarecida ne ssa noite.
— Esse cara pode estar sendo procurado pelo outro cara. — ele tinha a voz ríspida, apesar de baixa. — Você tem noção do perigo que pode estar correndo, ou faz questão de se fazer de idiota?
— Vou ficar bem, Castiel. — Natsumin pôs a mão no ombro dele e apertou levemente para reconfortá-lo. Apesar da rispidez, sabia que ele estava preocupado com ela de verdade.
— Ainda não confio desse cara. —o ruivo cruzou os braços.
— Eu sim. — Natsumin buscava os olhos dele com os seus, mas os do ruivo só estava na figura alta ao fundo.
— Você não pode ficar sozinha nessa casa com ele. — Castiel por um momento baixou os olhos para ela. — Pelo que você explicou, a última vez que vocês se viram era pirralhos e não sabia de nada. Você não pode ser estúpida a ponto de deixar um cara desse dormir com você.
— Eu fui estúpida quando fui morar com você, não fui? — ela sorriu, tentando descontrair, mas não funcionou nem um pouco.
— É diferente. —o ruivo crispou os lábios e deixou escapar um suspiro. Ficou em silêncio por um momento, bem como a menina que passou a vislumbrar o céu poeticamente estrelado naquela noite, a luz prateada da luz fazendo brilho no cabelo rubro de Castiel. Ela teve a sensação de dèjá vu naquele momento, mas já sabia à que remetia: o beijo que deram naquela mesma porta na última vez que Castiel esteve na sua porta. Ela sentiu um aperto no peito e a vontade de mais uma vez beijá-lo bateu forte rapidamente. Ela segurou a ansiedade e mal percebeu que o olhava diretamente e com desejo.
— Você não vai ficar sozinha com ele aqui. — Castiel entrou bruscamente na casa, inclusive esbarrando o ombro no dela e dissipando-a de todo encantamento que surgiu.
— Castiel. — ela segurou-o pelo braço, fazendo o ruivo virar-se com o rosto para ela de supetão, ficando próximos o suficiente para um beijo que não ocorreria. — Por que não confia nele?
— Por que ele é homem. — O ruivo soltou-se da mão dela e continuou a andar, deitando-se novamente no sofá da sala. Não pronunciou mais nada até a hora que foram todos dormir.
***
— Hmm...
— Meu Deus, que susto.
O ruivo estava parado como um espectro com a mão esquerda sobre a bancada da cozinha e a direita segurando um copo d'água. Ele tinha os olhos apertados, tentando acostumá-los à luz que ela acabara de acender e a cabeleira bagunçada caía em parte sobre os olhos.
— Quase me matou de susto. — ela tinha a mão sobre o peito enquanto respirava fundo.
— Obrigado. — ele levantou uma sobrancelha, sarcástico, e terminou de beber o líquido no copo e lavou-o rapidamente antes de colocar no escorredor.
— Insônia. Você sabe que tenho. — ela abriu a geladeira e pegou o copo que ele usara há pouco, preenchendo-o com água e bebendo rapidamente. O ruivo tinha ambas as mãos sobre o balcão da cozinha e estava encostado à ele, o corpo de frente para Natsumin, mas o olhar baixo. A menina notou que ele não queria conversar e por mais que tentasse puxar conversa, conseguia entender o lado dele por não querer falar com ela. As explicações foram longas mais cedo e, embora esclarecedoras, Castiel continuava com o pé atrás com Viktor e com ela pelo que acontecera entre os dois há alguns meses naquela mesma casa. Natsumin só queria fechar os olhos e voltar pra aquele instante, relembrar-se de Castiel tocando-a e beijando-a.
Ela não notava, mas ele a olhava de volta. Suas órbitas, belos ônix sob as luzes artificiais da cozinha, escondiam-se naquela franja sem corte, notando a garota que mudara tanto em tão pouco tempo. Ela pouco se importava com a história do tal de Viktor ou o risco que ele poderia estar correndo, para ser sicnero, no momento daquela conversa, tudo o que realmente importava era a vontade de Natsumin e seu empenho para conseguir desmascarar o impostor. Por fim eles fecharam um plano de conseguir provas para a polícia até o dia do baile - e faltavam poucas semanas para isso - mas o cara não era burro e já tinha uma boa coleta que incluía histórico do cara, cujo nome não era Viktor, mas Marcos alguma coisa, fotos, identidades e toda aquela burocracia documental desimportante. Agora só precisavam de uma prova concreta para acusá-lo, ter acesso aos documentos escolares dele, coisas que a diretora guardava à sete chaves e que o verdadeiro Viktor poderia conseguir facilmente se falasse diretamente com a delegacia e não com colegas policiais e detetives, mas por se tratar de um imbecil cheio da grana, não queria causar alarde ou arriscar a própria vida. Que se dane a vida dele, Castiel só queria saber da de Natsumin.
Não que isso significasse alguma coisa a mais, não, de maneira alguma.
— Acho que vou tentar dormir de novo. — Natsumin dirigiu-se à escada, mas o ruivo segurou seu braço. Nenhum dos dois falou nada por alguns segundos, até que ele finalmente quebrou o gelo.
— Acho que ainda tem muita coissa que não sei. — o ruivo a encarava com o rosto sério e ríspido.
Natsumin conteve-se e segurou a posição na defensiva. Apesar do ataque de Castiel, não sabia se era a madrugada frívola, ou a insônia que a fez levantar diversas vezes da cama, ou o par de ônix que a olhava, mas ela preferiu não retrucar como ele. Preferiu apenas aproximar-se, admirá-lo por mais alguns segundo, sabendo que ele nunca a pertenceria.
— Há muita coisa que ninguém sabe, Castiel. — apontou com os olhos para o próprio braço, que ele ainda segurava e o ruivo entendeu o recado, o suficiente para soltar.
— Porque você não diz. — ele passou a mão no cabelo por alguns segundos, suspirando.
Ela suspirou também, observando a sala escura ser iluminada pela fresta de luz que vinha da janela da sala. A visão era bonita, no meio do breu havia uma linha de luz comprida em direção ao tapete aos pés do sofá e sob a mesinha de centro. Natsumin andou a té lá e deitou-se, das janelas compridas da porta, tinha uma visão espetacular do céu estrelado.
— Olha isso. — ela sentou-se no tapete, a cabeça deitada no sofá e o corpo no chão.
Droga. Castiel xingava em sua mente, ciente de como ela conseguia desviar sua atenção.
— É bonito. — Castiel sentou-se ao seu lado no tapete, observando as estrelas que enfeitavam aquele céu.
— Eu li uma vez que quando a visão que temos das estrelas chegam até nós, significa que elas já estão mortas.
— Bem emocionante. — ele curvou os lábios para baixo.
— É triste, na verdade. — ela levantou os ombros, dando um tímido sorriso.
— Somos enganados o tempo todo. — ele alfinetou.
— Sim. — ela assentiu. — É triste.
— Então por que também faz isso? — ele voltou a encará-la diretamente.
— Castiel, eu...
— Foi ele não, foi? — o olhar dele doía de tão rude. — Esse cara foi o motivo de você ter me rejeitado e eu continuo como um idiota...
— Castiel... — Natsumin pôs a mão sobre a dele. "Fala, fala idiota". A rebelde adormecida despertou num pulo, com cartazes icnentivadores. Estava mais do que na hora. Tinha que dizer que o amava. Tinha que dizer que era uma idiota que tentava se culpar por algo que era inevitável. Tinha que... — Não tenho nada com isso. Só quero ajudar Viktor. Depois que tudo passar, ele vai embora.
— Escuta. — ele a cortou, o olhar furtivo no dela. — Você vai me prometer uma coisa. — Sabia que só precisavam de provas e Viktor - o verdadeiro - não queria abrir uma investigação oficial. Mas que raio de provas ele queria que Castiel conseguisse? Que diabos de gente ele pensava que ele era?
Natsumin nada falou, apenas continuou a observa-lo atentamente.
— Me prometa que não importa o que possa acontecer, você não vai se meter demais em nada.
— Castiel, eu não...
— Me prometa. — ele apertou a mão dela. — Não quero que você se machuque.
— Eu não vou me meter demais, Castiel. — ela não tirava os olhos dos dele.
— Me prometa. — ele insistiu.
— Eu prometo. — ela cedeu.
— Ótimo. Agora vai dormir, garota. — o ruivo pegou uma almofada do sofá e deitou-se ali no tapete mesmo. Ela o observou por um tempo antes de fazer o mesmo. Tentou por alguns minutos, fingiu estar dormindo, suspirou. Virou-se, depois virou-se de volta. Suspirou ais uma vez. Cristo, precisava dormir. Mas ele estava tão próximo. O céu estava tão lindo. Meu Deus. Precisava dormir.
— Não é tão difícil dormir. — ele resmungou, virando o rosto para ela em seguida.
— São muitas coisas. — ela virou-se para ele também, os rostos frente a frente sobre as almofadas. Havia lágrimas nos olhos dela. — Muitas coisas que não me deixam dormir. — Castiel continuou a observa-la, atento. Preferiu não comentar aquela lágrima.
— Como o que? — ele indagou.
— Culpa. — ele não esperava que ela fosse responder tão rapidamente. A menina de repente passou a acariciar o rosto dele. Sim, era culpa. Aquela maldição que a circundava e continuaria a sua vida inteira. Por que não poderia ser feliz? — Mas, às vezes a vida tem disso, não é? Temos que passar por tempestades para aprender a viver.
— "Aprender a viver". — ele sorriu. — Você só pode estar andando com o moleque da erva. — Castiel balançou a cabeça, depois ajeitou-a na almofada.
— Quem? — ela franziu o cenho e pôs as costas no chão, ficando de lado para ele.
— O moleque do clube de jardinagem. — ele bateu com o cotovelo propositalmente no braço dela. — Dizem que ele faz mais do que regar plantas lá, se você não sabe.
— Oh! — ela empurrou-o de volta e deixou escapar um leve sorriso. — Eu nem fico ali no clube de jardinagem, você que está sabendo demais.
— O que você está insinuando? — Castiel levantou o tronco, de forma que estivesse de lado, mas quase em cima dela.
— Nada, nada. — ela mordeu os lábios. — Agora, se a carapuça serviu....
Subitamente, Castiel debruçou-se sobre ela e começou a fazer cócegas em sua barriga, um dos braços o apoiavam no chão enquanto o outro movia os dedos na pele dela.
— Ah... hahhahhah.... — ela tentou retrucar fazendo cócegas no pescoço dele, mas nada adiantou. — Castie...hahahahahhahahah..... hahahahahahaha... Eu me rendo!
— Eu realmente ouvi isso? — ele parou por uns instantes.
— S-sim. — ela tinha a face rubra.
— Ótimo. Boa noite, Natsumin. — ele virou-se de costas para ela, o sorriso de coiote desfalecendo e tornando-se uma linha reta, séria.
— Boa noite, Castiel. — ela pronunciou para as suas costas e, naquela noite, dormiu melhor do que jamais poderia ter imaginado.


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