Capítulo 23 – The Winter Soldier

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A sala imensa rodeada pelas quatro paredes cinza que sustentavam o lugar, aparentava ter um ambiente solitário, isolado, e com um ar bastante gélido.

Sentado em uma cama simples ao canto, estava o melhor amigo de Steve Rogers, Bucky Barnes, ou como conhecido agora, o assassino de sangue frio com vários anos em suas costas, Soldado Invernal.

O lugar sustentava o mais profundo silêncio, enquanto Barnes fitava os próprios pés, mergulhado em seus pensamentos mais distantes. Repentinamente a visão de um curto flash clareia sua mente, lhe proporcionando uma visão súbita e um tanto confusa...

“O cenário de uma floresta imensa surge diante de seus olhos, a neblina presente nela atrapalha um pouco sua visão, olhando para cima, poderia avistar os troncos das árvores que pareciam alcançar o céu...

– Bucky. – uma voz longínqua, porém audível, chega aos ouvidos do moreno, que corre os olhos a sua volta, mas não vê nada além de uma névoa esbranquiçada – Bucky. – novamente a mesma voz soa, e agora poderia notar-se que era de um homem.

– Quem está aí? – o Soldado Invernal questiona elevando um pouco o tom de sua voz, parecendo estar atordoado – O que você quer?

De repente, um barulho suspeito o faz ficar alerta, o som do galho se partindo ao meio quando pisado por pés pesados adentra seus ouvidos, e seus olhos observam atentamente tudo a sua volta.

Logo que vira seu corpo para trás, consegue avistar a silhueta de uma pessoa se aproximando, um homem alto e relativamente forte, e assim que o mesmo chega mais perto, ficando a quase um metro de distância de Barnes, o moreno pudera reconhecê-lo na hora.

– Você. – Bucky pronuncia entre dentes, segurando firme a arma em suas mãos.

– Sou seu amigo Bucky. – a voz de Steve soou tão calma quanto a mais silenciosa das noites, fazendo com que o soldado, por um momento, prendesse toda a sua atenção a ele, não se sentindo ameaçado – Consegue lembrar?

Silêncio. Nenhuma resposta, apenas o som pesado da respiração de um homem perdido, completamente confuso. A desconfiança sempre prevalecendo em seu coração, à ideia imposta a ele de que o homem a sua frente deveria ser morto ainda martelava em sua cabeça, só que mesmo tentando negar a si, Barnes sentia que uma parte dele queria esquecer isso, queria poder confiar no loiro que o fitava como se já o conhecesse há muito tempo, e de fato ele conhecia, porém Bucky ainda não sabia disso completamente, e se desconfiava, tentava de tudo para resistir à vontade de descobrir a verdade.

– Não. – a resposta pareceu afetar Steve Rogers, que o olhava com olhos aflitos, e embora Bucky tentasse camuflar com sua frieza, o fato de não se lembrar de quem ele um dia foi, o deixava abalado, desnorteando sua alma e o fazendo sentir-se perdido.

Mas algo no rosto do Capitão América lhe intrigou. Um leve sorriso compreensivo e esperançoso surgiu em seus lábios, e Barnes não entendia o que aquilo significava.

– Tudo bem, sei que vai lembrar. – Rogers garante, dando um passo à frente, despertando o sentido cauteloso e sempre desconfiado do soldado, que segurou mais firme a arma, apontando na direção de Steve. O capitão lhe lança um olhar verdadeiro, antes de se pronunciar novamente – Até o fim, estarei aqui, parceiro.

E aconteceu. A silhueta de Rogers desapareceu subitamente na densa névoa, deixando Bucky de olhos arregalados, espantado, pois aquela frase mexera com ele.

“Até o fim, estarei aqui”.

Foi isso que ele disse antes de cair do aeroporta aviões, antes de ele quase o matá-lo. Mas afinal, porque ele não o matou? Porque deixou que aquele homem caísse no mar e depois o salvou? Afinal de contas, ele não era uma missão? Ele não deveria morrer pelas mãos do Soldado Invernal? Foi aí que a ficha de Barnes caiu. No exato momento em que Steve pronunciara aquelas palavras após estar ferido e vulnerável, certamente despertara o verdadeiro Bucky Barnes, nem que fosse por míseros segundos, mas o trouxera de volta.

Fora Bucky quem salvara seu amigo, e não o soldado que agora ele se tornou.

– Espera! – o grito de Bucky fora num misto de desespero e angústia, mas já era tarde de mais, Steve havia ido embora e o deixado sozinho naquela floresta, com muitas perguntas e pensamentos duvidosos perturbando a sua mente...”

Outro flash, e a sala fria e vazia volta a aparecer diante de seus olhos. Winter Soldier levanta da cama, sentindo seu sangue frio esquentar. As veias de seu braço humano ficando um pouco mais visíveis enquanto o mesmo apertava suas mãos em punho com força, deixando o nó brando em seus dedos aparecer nitidamente.

Como num ato impulsivo, seu braço se lança involuntariamente contra a parede da sala, causando um impacto profundo contra o concreto, e uma leve dor facilmente suportável.

Toda raiva, todo ódio, era incontrolável. Aquela sensação de ser superior, de querer matar sem piedade, de ver o sangue manchar sua roupa. Ele era um assassino, um monstro, sabia disso, mas havia um lado em si escondido que queria mudar as coisas, que queria deixar de ser essa arma, uma verdadeira máquina de matar. O Soldado Invernal fora criado pra isso, não deveria ter sentimentos ou qualquer tipo de remorso por seus homicídios bem praticados, e ele não tinha. O Soldado Invernal era simplesmente uma arma criada para tirar vidas de pessoas inocentes, algo que fez durante quase setenta anos. Ele era um fantasma. Sem sentimentos. Sem coração. Era o que todos acreditavam, inclusive ele.

Porém, como uma moeda, Barnes tinha dois lados.

Havia, escondido no mais profundo de sua alma, um Bucky Barnes aprisionado pelo tempo, pelas lembranças apagadas, pelos anos de tortura e criação de algo que o escondesse por completo. E por mais que tentasse negar, Bucky realmente queria conhecer um pouco mais desse seu lado. O lado quase extinto dentro de si qual Steve Rogers bem conhecia.

O som repentino de algo faz Bucky virar-se, dando de cara com a parede cinza atrás de si, que desaparecia magicamente. A parede holográfica que camuflava o vidro resistente não demora a sumir por completo, revelando duas pessoas paradas em pé do outro lado, expressões sérias de alguém que ele bem conhecia.

Natasha e Steve permaneciam lado a lado. Ambos estavam um pouco tensos, mas o que mais demonstrava isso era Rogers, pois nunca fora difícil para a Viúva esconder suas emoções.

Ela mantinha-se neutra, um olhar sombrio carregado da mais profunda frieza, fato que despertou o sentido alerta do Soldado Invernal. Seus olhos fitavam a ruiva da mesma forma, uma verdadeira batalha de olhares sombrios entre dois assassinos criados para ser uma perfeita máquina de guerra, duas pessoas que levavam consigo a morte de outras centenas.

Steve percebeu. Ele sabia que aqueles olhares significavam alguma coisa, e embora fosse difícil para ele entender o que se passava, o mesmo sabia que aquilo não era algo bom, muito pelo contrário.

Natasha estava irreconhecível. Seus olhos verdes esmeraldas agora pareciam ter escurecido um pouco mais que o normal. Os traços de sua face sustentando uma expressão intensa, de uma frieza quase inexplicável. Seu corpo em posição ereta, demonstrando uma postura firme, de uma verdadeira assassina.

Naquele momento, Steve Rogers sabia que quem estava ao seu lado não era mais Natasha Romanoff, a ruiva atenciosa e destemida que ele tanto amava, mas sim a impiedosa Viúva Negra, a assassina de sangue frio, a mais cruel e temida mulher que muitos conheciam, mas poucos sobreviviam diante de sua fúria. A sombra da morte que levava consigo o peso de uma vida de sofrimento, de grandes horrores.

– Soldado Invernal... – o gosto amargo que essas palavras traziam a boca de Natasha foi o que lhe fizera soar desdenhosa, enquanto a mesma quebrava o silêncio presente no ambiente – Tenho certeza de que já sabe o porquê de estarmos aqui.

Barnes se mantém sério, sem pronunciar qualquer palavra ou emitir qualquer som. Para Natasha, uma resposta positiva a sua afirmação.

– Responda a todas as perguntas que fizermos, sem joguinhos ou mentiras. – ela avisa segurando em suas mãos um aparelho de formato retangular, com alguns botões digitais que emitiam um brilho azulado – Saberei quando estiver falando a verdade, e quando não estiver, com este aparelho, poderei ativar ondas de choques elétricos profundas... É melhor para nós dois que não me faça perder meu tempo.

Steve nada podia dizer, afinal, Natasha sabia fazer aquilo muito melhor do que ele, o loiro reconhecia isso, e de forma alguma poderia se intrometer. Tudo que ele queria realmente era seu melhor amigo de volta.

A Hidra não parecia importar tanto no momento, Belova era assunto de Natasha como a mesma havia dito anteriormente, a única prioridade para o Capitão agora era trazer Bucky de volta e apagar completamente qualquer resquício do Soldado Invernal.

– Diga-me, Winter Soldier, você virou um fugitivo da Hidra assim como da SHIELD. Então, o que fazia no local onde o Capitão Rogers e eu sofremos um atentado? – a voz da Viúva Negra era um tanto intensa, a frieza e rispidez presentes em toda sua totalidade.

Alguns segundos, o silêncio presente a todo tempo, enquanto Barnes insistia em manter seus olhos fixos na agente, fato que deixou Rogers bastante intrigado.

– Eu estava apenas cumprindo ordens. – o moreno enfim responde, demonstrando estar despreocupado diante da situação.

A Viúva franze a testa, o alerta de desconfiança apitando em sua cabeça sem parar. Fato que a fez segurar o aparelho em sua mão com mais força.

– Cumprindo ordens de quem? – a ruiva questiona, dura como uma pedra, dando três passos lentos a frente, aproximando-se do vidro, afastando-se um pouco de Steve.

Bucky continua a fitá-la, seus olhos azuis mais escuros que o normal, iguaiszinhos aos de Natasha, grande característica de um ser assassino.

– Eu não sei. A ordem que recebi veio de alguém que não conheço. – é tudo que a agente recebe em resposta, qual não a deixou nem um pouco satisfeita.

O dedo próximo ao botão, apenas três centímetros de distância. E ela o fez. Pressionou levemente o botão digital azulado, fazendo com que ondas de choque elétrico surgissem abaixo dos pés do Winter Soldier, invadindo todo seu corpo, fazendo com que o mesmo começasse a se contorcer violentamente.

– Natasha! – o Capitão grita, assustado com o que a agente fazia, dando um passo a frente, parando somente ao perceber que a mesma afastara o dedo do aparelho, permitindo com que Bucky despencasse sobre o chão, sentado, suas costas chocando-se com a parede atrás de si.

– Mais uma chance. – ela avisa, olhando de forma impiedosa para o soldado, que a encarou com mais raiva do que a mesma aparentava sentir.

– Eu já disse que não sei. – Barnes fala mais pausadamente, com os dentes trincados, os punhos fechados em força excessiva, seu corpo inteiro pegando fogo, enquanto ainda sentia a dor do choque que acabara de levar.

– Resposta errada. – a mesma pronuncia, novamente pressionando o mesmo botão, só que desta vez com mais intensidade, fazendo com que as ondas de choque atingissem o corpo de Bucky com grande potência.

– Natasha, pare com isso. – o Capitão grita, mas a ruiva nem dá ouvidos, apenas observa o corpo de Bucky tremer freneticamente, enquanto o mesmo parecia ficar cada vez mais irritado, gritando ora de raiva, ora também de dor.

Mais uma vez ela solta o botão ao sentir Steve se aproximar um pouco mais, só que dessa vez ele fora mais ousado, tentando retirar das mãos da Viúva o aparelho qual ela segurava.

Porém Natasha não permitiu que isso acontecesse, e com um desvio habilidoso, conseguiu fazer com que Steve despencasse sobre o chão, derrubado por uma de suas famosas e imprevisíveis rasteiras.

– E Yelena Belova? Onde está? – ela questiona, sua voz fria e alterada sobressaltando Steve, que a essa altura levantava-se do chão.

– Eu não sei onde ela está. – com certa dificuldade devido ao choque que acabara de levar, Bucky responde, a raiva tornando-se cada vez mais difícil de se controlar.

– Mentira. – Natasha vocifera, mais uma vez pressionando o aparelho em suas mãos, a mesma já não conseguia mais segurar sua ansiedade e raiva para descobrir onde sua inimiga tão odiada poderia estar, e a mesma tinha certeza de que Barnes tinha essa resposta.

Novamente, o corpo já desgastado de Bucky suportou mais ondas elétricas, que faziam gritos estridentes rasgarem sua garganta, quase arrebentando suas cordas vocais.

A Viúva Negra estava incontrolável, Steve sabia disso, e precisava pará-la antes que ela matasse seu melhor amigo. Foi então, que em um ato impulsivo, Rogers agarrou os braços de Natasha, fazendo com que o aparelho em suas mãos escapasse, caindo sobre o piso da sala, acabando por rachar-se devido ao impacto. A mesma começa a se debater tentando soltar-se, mas a força de Rogers era muito superior a dela.

– Natasha, acalme-se, pelo amor de Deus. – o Capitão suplica, segurando-a com mais firmeza, fazendo com que a mesma o fitasse nos olhos – Você tem que parar com isso! – ele grita, deixando-a um tanto sobressaltada, tendo assim sua total atenção – Por favor. – ele pede, olhando profundamente em suas íris esmeraldas.

Os batimentos cardíacos de ambos estavam descontrolados, e num desvio de olhar, Natasha avistou Bucky caído de busto no chão, mexendo-se levemente, tentando levantar-se com certa dificuldade.

– Eu quero respostas Rogers. – ela revela novamente o fitando, e Steve sabia que quem estava falando não era a sua Natasha, e sim a Viúva Negra em sua mais sombria forma – E eu vou consegui-las, nem que eu tenha que matá-lo. – a ruiva garante.

O Capitão América respira profundamente, em nenhum momento desviando seu olhar de Natasha e muito menos afrouxando o aperto em seus braços.

– Nat, por favor, me deixe conversar com ele a sós. – ele implora, arrancando uma risada irônica da mesma.

– E você acha que eu sou louca? – ela indaga, áspera, o fazendo arquear as sobrancelhas com tal atitude – Você jamais conseguiria fazer isso, não da maneira que deve ser feito. Estamos falando do Soldado Invernal. Ele não é um criminoso qualquer Rogers, é o pior de todos eles.

– Ele é meu amigo. – Steve vocifera, desta vez, assustando Natasha, que jamais imaginou ouvi-lo gritar com ela daquela forma. O loiro respira fundo, tentando controlar as emoções, acalmando-se um pouco – Por favor, Nat, me entenda, eu tenho que fazer isso sozinho.

A Viúva novamente desvia seu olhar, fitando o Winter Soldier, que agora permanecia sentado sobre o chão, olhando os dois vingadores com certa hostilidade.

Respirando profundamente, acalmando seus nervos, a ruiva concorda, fitando Rogers em seus olhos.

– Você tem dez minutos. – ela avisa, logo sentindo seus pulsos soltarem-se, e o olhar de gratidão de Steve a afetar profundamente. Para evitar parecer dominada ou fraca diante de um inimigo como Barnes, ela lhe lançou um olhar severo – Se demorar mais que isso, farei as coisas da minha maneira.

– Não se preocupe Natasha, eu consigo fazer isso. – ele responde, parecendo estar confiante, fato que não passou despercebido pela agente.

– Assim eu espero, Capitão.

Natasha faz menção de virar as costas para se retirar, mas novamente ouve a voz de Steve pedindo atenção...

– Só mais uma coisa... – ele diz recebendo um olhar intrigado da agente. Steve respira fundo antes de continuar – Quero conversar com ele na sala de interrogatório comum. Sem algemas ou paredes entre nós. – a ruiva mostrou-se indignada com tal pedido, e imediatamente pensou em protestar, mas ao fitar os olhos decididos do Capitão a sua frente, percebeu que de nada adiantaria.

Um balanceio positivo de cabeça vindo da Viúva foi à última coisa que Rogers vira antes de ser deixado para trás, com uma grande responsabilidade em suas costas... A missão de salvar o seu melhor amigo James Buchanan Barnes das garras do Soldado Invernal.